21/10 – Santa Úrsula e companheiras
Úrsula nasceu no ano 362,
filha dos reis da Cornúbia, na Inglaterra. Era uma linda menina, meiga,
inteligente e caridosa. Cresceu muito ligada à religião, seguindo os princípios
da fé e amor em Cristo. A fama de sua beleza espalhou-se e logo os pedidos de
casamento surgiram. Mas por motivos políticos seu pai aceitou a proposta feita
pelo duque Conanus, pagão, oficial de um grande exército amigo.
Quando soube que o pretendente não era cristão, Úrsula primeiro
recusou, mas depois, devendo obediência a seu pai e rei, aceitou, com a
condição de esperar três anos, período que achou suficiente para o duque
converter-se ou desistir da aliança. Para isso rezava muito junto com suas
damas da Corte. Mas parecia ser um matrimônio inevitável. Na época acertada,
uma expedição, com dois navios, partiu levando Úrsula e suas damas. Eram jovens
virgens como ela e se casariam, também, com guerreiros escolhidos pelo duque
Conanus.
As lendas e tradições falam em onze mil virgens, mas, depois,
outros escritos da época e pesquisas arqueológicas revelaram que eram onze
meninas. O fato real e trágico foi que, navegando pelo rio Reno, quando
chegaram a Colônia, na Alemanha, a cidade estava sob o domínio do exército de
Átila, rei dos hunos, povo bárbaro e pagão.
Logo os soldados hunos mataram todos da comitiva e, das virgens,
apenas Úrsula escapou, pois Átila ficou maravilhado com a beleza e juventude da
nobre princesa. Ele tentou seduzi-la e propôs-lhe casamento. A custo da própria
vida, Úrsula recusou-o, dizendo que era já era esposa do mais poderoso de todos
os reis da Terra, Jesus Cristo. Cego de ódio, ele mesmo a degolou. Tudo
aconteceu em 21 de outubro de 383. Em Colônia, uma linda igreja guarda o túmulo
de santa Úrsula e suas companheiras.
Na Idade Média a italiana Ângela de Mérici, leiga e terciária
franciscana, fundou uma Congregação de religiosas chamada Companhia de Santa
Úrsula, destinada à formação cristã das famílias através da educação das
meninas, futuras mães em potencial. Um avanço para as mulheres, pois até então
só os homens eram contemplados com a instrução. A fundadora escolheu santa
Úrsula como padroeira após uma visão que teve.
Atualmente, as irmãs ursulinas, como são chamadas as filhas de santa
Ângela, celebrada em 27 de janeiro, estão presentes nos cinco continentes. Com
isso, a festa de santa Úrsula, no dia 21 de outubro, mantém-se sedimentada e
muito robusta em todo o mundo católico.
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 12,13-21
"Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”.
Jesus respondeu: “Homem,
quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” E disse-lhes:
“Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém
tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
E contou-lhes uma
parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava
consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então
resolveu: ‘Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir
maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então
poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos.
Descansa, come, bebe, aproveita!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta
noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’
Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de
Deus”."
Meditação:
Neste Evangelho de denúncia da acumulação da riqueza, exclusivo de
Lucas, Jesus rejeita o papel de árbitro em uma disputa de partilha de herança.
Contudo aproveita a ocasião para fazer a crítica sobre aqueles ambiciosos
sedentos de enriquecimento, que, explorando trabalhadores humildes e
empobrecidos, acumulam riquezas sobre riquezas.
Contando uma parábola, Jesus chama de tolo o homem rico que buscava a segurança
nas riquezas. Esta é uma falsa segurança que não protege da morte.
“A acumulação de riquezas e a ostentação estão deturpando os valores das coisas
e das pessoas. Em um mundo no qual o dinheiro é mais valorizado que os
sentimentos, a aparência também acaba sendo mais importante que a essência”. (Roberto
Shinyashiki in
“Heróis de Verdade”.
Neste livro, ele esclarece que o mundo de hoje deu um passo mais
adiante: antes, as pessoas procuravam a todo custo ter, mas “como a cada dia
está mais difícil ter, muitas pessoas passaram a buscar maneiras de parecer
ter”.
Esta cobrança para obter sucesso a todo custo criou uma multidão que
se sente perdedora, mas que, apesar disto, prefere seguir adiante levando uma
vida mergulhada na aparência.
Estas pessoas “cobram-se ser bem-sucedidas financeiramente, mas,
como nem sempre conseguem isso, começam a comprar coisas que demonstrem ser pessoas
de sucesso”, fazendo dívidas impagáveis e se sentindo cada vez mais vazias.
A meditação de hoje, faz-nos refletir acerca da atitude que
assumimos face aos bens deste mundo: o ter, o poder, o parecer.
Indica que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida;
e convida-nos a descobrir e a amar outros bens, as coisas do alto, que dão
verdadeiro sentido à nossa existência e que nos garantem a vida em plenitude.
Tem razão o livro do Eclesiastes quando diz: “vaidade das
vaidades, tudo é vaidade”; onde a palavra hebraica para vaidade seria bem
melhor traduzida por fugacidade, efemeridade.
Toda riqueza, luxo, excessiva segurança depositada nos bens
materiais não só passa, mas enquanto dura não nos garante de jeito nenhum uma
vida com sentido. Sem contar o fato de que quem gasta a vida acumulando
riquezas é uma pessoa sem paz em ter que defender a cada momento os seus bens
dos mal intencionados e de amizades interesseiras. “Nem mesmo de noite repousa
seu coração”.
O Eclesiastes tem toda a razão. Entretanto, também é verdade que o
dinheiro e os bens de consumo, pelo fato mesmo que existem, têm uma certa
importância na nossa vida: como poderíamos viver o cotidiano, comer, vestir-se,
se não os tivéssemos? Eles têm a sua utilidade, não devem descartados. A
questão, então, é qual o papel que eles têm na nossa vida.
Paulo, escrevendo aos colossenses, nos convida à
identificação com Cristo: isso significa deixarmos os “deuses” que nos
escravizam e nos revestirmos do Homem Novo e nos comportarmos como tal:
“irmãos, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo.
Afeiçoai-vos às coisas celestes e nãos às terrestres”. Não tanto o dinheiro em
si, mas este o acúmulo deste já é resultado de uma série de vícios que devem
ser evitados: “imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é
idolatria”.
Mesmo sendo tão forte hoje a ideologia do capitalismo selvagem
neoliberal que promete todos os paraísos possíveis, Lucas, no Evangelho de
hoje, com a parábola do rico insensato nos assegura que a riqueza não garante a
segurança da pessoa humana nem a sua felicidade.
O ensinamento de Jesus parte de uma desavença entre dois irmãos
por causa de uma herança. Talvez se tratasse do irmão mais jovem que quisesse a
sua parte para usá-la de modo independente.
Em tais situações, se recorria logo a um rabino que devia
esclarecer o problema. Jesus rejeita totalmente realizar esta função, já que seu
ponto de vista é totalmente diferente do daquele jovem. Ele aproveita a ocasião
para ensinar sobre a justa relação que o homem deve ter para com os bens
materiais.
Ainda hoje na nossa sociedade as brigas por herança mostram um
forte desejo de possuir, e muitas vezes conduzem a inimizades que duram toda a
vida.
Talvez seja por isso que Jesus adverte fortemente contra a
ganância. “Atenção! Cuidado contra todo tipo de ganância, porque mesmo que
alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de
bens”. O ter não é o valor mais alto, pelo qual tudo deva ser sacrificado.
Com a parábola, Jesus quer mostrar o quanto pequeno seja o valor
dos bens terrenos e como o apegar-se a eles se demonstre um cálculo errado. Tão
errado que Jesus chega a chamar quem age assim de “louco”. Esqueceu o que
realmente dá sentido à existência. De que adiantou tanto esforço daquele homem
se naquela noite morreu?
O sentido da vida não é o comodismo, mas o amor; não é acúmulo de
coisas, mas partilha. Sem dúvida, a vida terrena depende dos bens materiais,
mas não pode ser assegurada nem conseguir o seu cumprimento por meio deles.
Para sermos ricos diante de Deus, temos de ter estima pelas coisas
do alto, onde está a nossa meta e onde queremos chegar.
A acumulação de riquezas por alguns gera os empobrecidos, com o
escândalo da divisão da sociedade em ricos e pobres.
É a solidariedade e a partilha com os mais necessitados que nos levam à
comunhão de vida eterna com Jesus e com o Pai.
Reflexão Apostólica:
Intrigantemente algumas pessoas passaram a
filtrar a Reflexão e a Meditação do dia. Uns dizem que sua leitura é longa
(como a de hoje); outros que é dura demais; outros até colocaram como e-mail
bloqueado; outros apenas lêem o que interessa; outros meditam pensando em quem
se aplica aquilo que esta escrito; outros que não tem tempo (essa é ótima);
algumas pessoas acreditam que o que esta escrito foi direcionado de forma
indireta para ela (estranho não?)…
A bem da verdade, ninguém é obrigado a lê-la,
mas como fico feliz ao receber emails, de pessoas que nunca nos viram, dizendo
que tem o aproveitado ao máximo como oportunidade de crescimento. Pessoas
simples que procuram respostas simples.
Ficamos indagando o sentimento de Cristo
quando se fez homem e se pôs a ensinar. Diferente do que pensamos, os erros de
antigamente, das pessoas da época de Jesus, são ainda os mesmos nossos.
Jesus lutava diariamente contra a soberba de
quem não gostava de ouvir a verdade. Pessoas que se importavam muito com o que
era exteriorizado e muito pouco com o crescimento interno; pessoas que
valorizavam cargos, pois eram repletos de status, paparicações e sobre tudo, de
atenção.
O próprio rei Herodes é visto pelos
estudiosos como um rei limitado, mas extremamente hábil em usar as situações ao
seu redor. Era um legítimo exemplo de “puxa saco”, pois chegou aonde chegou através
da subserviência aos que tinham o poder. Jesus era contra esse tipo de atitude
(fama pela fama, riqueza pela riqueza). Clamava as pessoas a construir e juntar
tesouros no céu e não na terra. Exortava-os a procurar o que não perece com o
tempo.
Uma vez, perguntamos a uma amiga quantas
vezes sua mesa (do escritório que trabalha) a visitou quando adoeceu; perguntei
a quantos aniversários sua cadeira foi ou lhe mandou um cartão; perguntei a ela
se no céu aceita VISA
ou MASTERCARD;
(…) as perguntas soam como idiotices, mas o que VOCÊ me responderia?
Através de Jesus, Deus instaurou uma nova
realidade em nossas vidas. Deus é chamado de PAI de todos; aquele que não
amaria um mais que outro.
Nós como ainda vivemos uma eterna
adolescência. Preferimos as coisas que são efêmeras (transitórias). Trocamos o
toque, o afago, o carinho, a atenção por status, reconhecimento, valorização,
“tapinhas nas costas”… “(…) Mas Deus lhe disse: “Seu tolo! Esta noite você vai
morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?”.
“(…) Duro seria responder a Deus que nada
tenho pra deixar, pois passei boa parte da minha vida buscando ter. Que
refletindo duramente, temos cada vez menos amigos, pessoas do peito, inquilinos
do nosso coração, (…).
Fomos pouco aos happy-hours com a turma
do serviço (estar com eles não quer dizer que precisamos beber), que não
sabemos contar piadas, tão pouco rir; que sábado a noite passa Zorra Total,
depois Supercine, depois Altas horas (…); ai mudamos pra BAND e esperamos a
noite acabar…
Imaginemos alguém respondendo assim (o pior é
que respondem):
“(…) Vou à Missa, ao Culto, ao trabalho, (…)
não consigo entender por que algumas pessoas são tão alegres lá. Indago-me por
que aquele rapaz (ou moça) do grupo de jovens é tão alegre, sabendo que seus
pais trabalham o dia inteiro para mantê-lo; descubro que sou feliz apenas na
frente dos outros; abraço somente quem me bajula, sou duro com garçons,
empregados, caixa de mercados, (…); descubro que os trinta e tantos músculos
contraídos no meu sorriso amarelo começam a cansar… Caio na real, mas não desço
do salto, pois anos e anos de orgulho não se perdem assim (risos). “(…) E agora
tenho certeza que esse comentário ele (no caso eu) escreveu para me ofender;
quem ele pensa que é pra julgar (risos); sou uma pessoa de oração e fé…
É triste, mas muitos se comportam assim ao se
defrontar com a verdade que preferem não ouvir. Nenhum de nós é modelo ainda de
perfeição, mas o primeiro passo é a humildade, pois com ela adquirimos
um terreno no céu. E como devem ter reparado, lá não passa VISA ou MASTERCARD.
Propósito:
Ajudai-me,
Senhor, no desapego das coisas materiais, para que eu possa, ver a realidade
tal como ela é. Para que eu possa, Senhor, ver quem as vias de fato, eu sou.
Para que eu possa, Senhor, procurar caminhos mais felizes. Para que eu possa,
Senhor, procurar algo que me realize. Para que eu possa, Senhor, ser uma alma
melhor, em maior comunhão com o Senhor.
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