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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

QUARESMA: TEMPO DE CONVERSÃO

 Quaresma: tempo de conversão

Conheça a origem do período da Quaresma, por que é dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.

Autor: Redação MBC

Conheça a origem do período da Quaresma, por que é dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.

Cada tempo litúrgico da Igreja convida-nos a dirigir nosso olhar para Cristo e para a história da nossa redenção. É fundamental recordar constantemente a presença de Deus em nossas vidas e o imenso amor que Ele nos dedica. No entanto, responder ao chamado divino demanda conhecimento e esforço; embora o desejo de eternidade tenha sido inscrito em nós pelo próprio Deus, o pecado original trouxe desordem, tornando desafiador alinhar esse anseio ao que é bom.

A Quaresma, como tempo de conversão, representa a oportunidade de mudar de rumo. Enquanto o Batismo marca o primeiro momento dessa conversão, o pecado desvia-nos, tornando a conversão um processo contínuo para toda a Igreja, “que contém pecadores no seu seio.” 1 Neste artigo, exploraremos o significado da Quaresma para os católicos, suas raízes bíblicas e as práticas que orientam esse tempo litúrgico.

O que é a Quaresma?

O que é a quaresma para os católicos?

A Igreja, por meio do tempo litúrgico, guia os fiéis pelo caminho de santidade, oferecendo a pedagogia necessária para que o seu coração alcance o céu. Sendo assim, a Quaresma, para os católicos, é um período de quarenta dias de preparação espiritual que antecede a celebração da Páscoa — o ápice da nossa fé. O termo “Quaresma” deriva do latim quadragesima dies, indicando o período de quarenta dias.

Este tempo sagrado é dedicado a práticas de penitência, oração e caridade, possibilitando que os fiéis se aproximem mais de Deus. O ideal é que nos dediquemos neste período a meditar ainda mais sobre a Paixão de Nosso Senhor. Assim, por meio das práticas próprias deste tempo, buscamos a morte do nosso homem velho. Isso quer dizer que lutamos para livrar a nossa alma da desordem, do domínio do pecado. É, em resumo, o tempo oportuno para a conversão.

Qual é a origem da quaresma?

A Quaresma teve seu início por volta do ano 350 d.C., quando a Igreja decidiu prolongar o período de preparação para a Páscoa, originalmente de três dias, que permaneceram como o Tríduo da Semana Santa. Reconhecendo a insuficiência desse curto tempo para a devida preparação, os cristãos estenderam o período para 40 dias, inspirados por eventos significativos nas Sagradas Escrituras associados ao número 40.

O povo hebreu vagou pelo deserto por 40 anos antes de chegar à terra prometida. Nínive fez penitência por 40 dias antes de obter o perdão divino. Tanto Elias quanto Jesus jejuaram por 40 dias, destacando a importância desse período como uma intensa preparação para eventos marcantes na História da Salvação. Assim, a Quaresma se fundamenta na tradição bíblica, sendo um tempo especial de reflexão e conversão.

Quando começa a Quaresma?

A Quaresma começa oficialmente na Quarta-feira de Cinzas, que ocorre 46 dias antes da Páscoa (40 dias de preparação mais os seis domingos). Neste dia, os católicos participam da Santa Missa, e a imposição das cinzas durante a liturgia serve como um sinal visível de humildade e arrependimento. Além disso, este sinal recorda-nos da transitoriedade da vida e da necessidade de voltarmos nossos corações para Deus.

Quando termina a Quaresma?

A Quaresma atinge seu ápice durante a Semana Santa, que começa no Domingo de Ramos e culmina no Domingo de Páscoa. O Tríduo Pascal, que compreende a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira Santa (Paixão do Senhor) e o Sábado Santo (Vigília Pascal), é o coração desse período, enfatizando a paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Quaresma conclui-se oficialmente no Sábado Santo, dando lugar à alegria da Páscoa, celebrando a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.

Onde está a Quaresma na Bíblia?

Embora o termo “Quaresma” não seja explicitamente mencionado na Bíblia, o período de 40 dias em preparação para a Páscoa tem raízes bíblicas.

Antigo Testamento

No Antigo Testamento, encontramos uma prefiguração da Quaresma nos 40 anos que o povo hebreu passou no deserto antes de entrar na terra prometida. Este período simboliza não apenas uma caminhada física, mas também uma jornada espiritual de purificação e preparação.

Os israelitas comeram o maná durante quarenta anos, até a sua chegada a uma terra habi­tada. Comeram o maná até que chegaram aos confins da terra de Canaã. 2

Durante os 40 anos no deserto, o povo hebreu, conforme descrito nos livros de Êxodo e Números, enfrentou desafios marcados por murmurações 3 e desconfiança da liderança de Moisés e das promessas de Deus. 4 Suas queixas resultaram algumas vezes em punições da parte de Deus, a fim de que o povo se convertesse.

Mesmo diante da abundância do maná, a ingratidão persistiu, revelando a importância de fazer penitência e retornar ao Senhor. 5 Essas experiências moldaram a caminhada espiritual do povo, destacando a necessidade constante de confiar em Deus e se reconciliar com Ele.

O profeta Joel, também no Antigo Testamento, faz referência à prática do rasgar o coração e não as vestes como um sinal de arrependimento genuíno

 “Rasgai os vossos corações, e não as vossas vestes; voltai ao Senhor vosso Deus…” (Joel 2,13)

Esse gesto simboliza uma transformação interior sincera, enfatizando que a verdadeira penitência vai além de atos exteriores. Assim, no Antigo Testamento, vemos raízes profundas da Quaresma, onde a peregrinação no deserto e o chamado à penitência se tornam lições valiosas para os fiéis que, ao longo dos séculos, seguirão o caminho quaresmal em preparação para a Páscoa.

Novo Testamento

No Novo Testamento, a Quaresma encontra sua expressão máxima na narrativa da tentação de Jesus no deserto. 6 Após seu batismo por João Batista, Jesus retirou-se para o deserto, onde jejuou por 40 dias e 40 noites. Durante esse tempo, Satanás tentou desviá-lo do caminho da obediência ao Pai.

Nessa ocasião, o demônio tenta o Cristo em três ocasiões distintas. Primeiro, instiga Jesus a transformar pedras em pão para satisfazer sua fome. Em seguida, sugere que Ele se lance do ponto mais alto do templo, desafiando a proteção divina. Por fim, oferece a Jesus todos os reinos do mundo em troca de adoração.

Estas tentações representam desafios fundamentais: a busca por poder, a confiança em Deus e a resistência à sedução do mal. No entanto, “Jesus repele esses ataques, que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto.” 7

Essa experiência simboliza a luta espiritual e a renúncia característica da Quaresma. A resistência de Jesus à tentação destaca sua vitória sobre o mal e serve como um modelo para nós durante este tempo. Ao citar as Escrituras em resposta a cada tentação, Cristo revela a importância de uma vida centrada na Palavra de Deus, indicando que a obediência e a confiança nas Escrituras são fundamentais para resistir às tentações.

Assim, no Novo Testamento, encontramos não apenas a origem, mas a exemplificação do propósito da Quaresma na preparação espiritual e na vitória sobre as forças contrárias ao plano divino. Por isso, “Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto.” 8

Práticas espirituais durante a Quaresma

A penitência interior do cristão pode se manifestar de diversas maneiras, com ênfase especial em três formas, de acordo com as Escrituras e os Padres da Igreja: o jejum, a oração e a esmola, expressando a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. 9

Jejum

O jejum durante a Quaresma é um ato de renúncia voluntária, fortalecendo a disciplina espiritual. Jejuar não é apenas abster-se de alimentos, mas uma oportunidade para direcionar o foco para Deus, alimentando a nossa alma. Jesus, ao jejuar por 40 dias no deserto, ensina sobre a importância de “adquirir domínio sobre os nossos instintos e a liberdade do coração.” 10

Além disso, a oração torna-se mais eficaz quando acompanhada do jejum, pois esta prática contraria a nossa vontade e a educa, contribuindo para fazer morrer o egoísta que há dentro de nós.

Esmola

Outra prática de caridade durante a Quaresma é a esmola. Ela tem como base o princípio de ajudar os pobres e necessitados; é uma das principais expressões de caridade fraterna e uma prática de justiça que agrada a Deus. 11 No livro de Tobias, lemos que a esmola livra da morte, apaga pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna. 12

Apesar de haver outros tipos de esmola, ela é sobretudo material, podemos dar dinheiro, comida, roupa etc. Ela está ligada ao jejum e à oração — próxima prática da qual falaremos. A esmola requer a renúncia que obtemos pelo jejum e o desapego que vem da entrega a Deus na oração. Além de ajudar o próximo, ela combate o pecado da avareza e fortalece as virtudes teologais.

Oração

A oração, nosso elo direto com Deus, é uma prática vital na vida cristã. Permanecer habitualmente na presença do Senhor é fundamental. 13. Além de ser nosso guia, a oração eleva a alma a Deus, buscando seu auxílio. 14 Todos os santos, cada um de maneira única, cultivaram uma vida íntima com Deus por meio da oração.

A oração é ainda o alimento da alma, porque assim como o corpo não pode sustentar sem alimento, assim, sem a oração, diz Santo Agostinho, não se pode conservar a vida da alma. Como o corpo, pela comida, assim a alma do homem é conservada pela oração. 15

Imaginar chegar ao céu sem uma vida de oração é inconcebível, pois

quem reza, certamente se salva e quem não reza, certamente será condenado. 16

Conclusão

Por fim, as práticas da oração, da esmola e do jejum na Quaresma formam um elo inseparável, trazendo consigo grande crescimento espiritual. Essas três práticas, quando caminham de mãos dadas, tornam-se armas poderosas, orientando-nos não apenas durante a Quaresma, mas ao longo de toda uma vida rumo à santidade.

Boa coisa é a oração com o jejum, e melhor é a esmola com a justiça do que a riqueza com iniquidade. 17

Que, ao adotarmos essas armas poderosas, nossa vida espiritual seja marcada pela busca contínua da santidade e pela manifestação prática do amor e da generosidade cristã.

 

domingo, 28 de janeiro de 2024

EVANGELHO DO DIA 04 FEVEREIRO 2024 - 5º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 


4 fevereiro - Os músculos se retesam, o coração pulsa, o espírito se (eleva) expande nas asas da oração, no horizonte do futuro; combateremos, arrastando esta pobre carne na luta sanguinolenta, sem que a boca pronuncie palavras de lamúria ou o pé se arrede minimamente do caminho do martírio! (L 23). SÃO JOSE MARELLO

 


Marcos 1,29-39 (ANO B)

Naquele tempo, 29Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. 30A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. 31E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los.
32À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. 33A cidade inteira se reuniu em frente da casa. 34Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era.
35De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. 36Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. 37Quando o encontraram, disseram: “Todos estão te procurando”. 38Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. 39E andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios.

 O evangelho deste quinto domingo do tempo comum, Mc 1,29-39, é a continuação e conclusão da chamada “jornada de Cafarnaum” (cf. 1,21-31), cuja leitura foi iniciada no domingo passado (cf. Mc 1,21-28) e, ao mesmo tempo, o início de uma nova etapa da missão de Jesus em outros lugares da Galileia. Ora, tendo chamado os quatro primeiros discípulos (cf. 1,16-20), designando-os como “pescadores de homens”, Jesus inaugurou seu ministério em conformidade com as tradições litúrgicas de Israel: em uma sinagoga num dia de sábado. No espaço sacro, a sinagoga, Jesus apresentou a novidade do Reino em palavras e atos (ensinamento com autoridade e expulsão de espírito impuro), causando admiração e surpresa em todos os presentes, fazendo espalhar sua fama rapidamente (cf. 1,27-28).

 Se no domingo passado o evangelho iniciava com a entrada de Jesus na sinagoga, hoje inicia com a sua saída: “Jesus saiu da sinagoga” (v. 29a). Aqui, o evangelista emprega um verbo que recorda o êxodo: evxerkomai – ecserkomai, cujo significado mais exato é escapar, fugir ou libertar-se. Com isso, Marcos ensina que a sinagoga não é o lugar do discipulado; pelo contrário, como símbolo das estruturas de poder e dominação vigentes, a sinagoga é uma realidade da qual as pessoas devem ser libertadas. As instituições, de um modo geral, são espaços hostis para o discipulado de Jesus porque impedem a realização do ser humano em sua liberdade e dignidade plenas.

 Saindo da sinagoga, “Jesus foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André” (v. 29b). A casa (em grego: oivki,a – oikia) é a alternativa proposta por Jesus para a realização do seu projeto em sua dimensão espacial primeira. No âmbito do poder instituído, aqui representado pela sinagoga, não há espaço nem condições para a realização do Reino de Deus; é necessário buscar novas formas viáveis de organização que permitam a plena realização do ser humano. Compreender esse deslocamento da sinagoga para a casa é fundamental para a compreensão de todo o projeto de Reino proposto por Jesus. A casa é o espaço eclesial por excelência; é na casa onde Jesus fala abertamente com seus discípulos. A Igreja primitiva adotou a casa como o lugar da liturgia, da catequese, do encontro. Se é na casa onde acontece a vida, deve ser na casa o culto ao Deus da vida; um culto não ritual, mas serviçal. Do púlpito da sinagoga não era possível conhecer as necessidades reais das pessoas; isso só é possível indo ao encontro delas, ou seja, indo à casa.

 Ao chegar na casa com dois dos discípulos, João e Tiago, Jesus encontra uma situação desconfortável, caótica: “A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus” (v. 30). Embora se tratasse apenas de uma febre, de acordo com o texto, esse tinha paralisado a mulher, impedindo-a de exercer suas funções. Se a mulher em pleno estado de saúde já valia muito pouco naquela sociedade, muito menos seria enquanto enferma. O ato de deixar Jesus a par da situação evidencia confiança nele; é sinal de que ele já estava sendo reconhecido como doador de vida e de sentido para a vida. É também sinal de que naquela comunidade embrionária a mulher deve ter um papel relevante e até essencial.

 Estando ciente da situação, Jesus não se omite, como não se conforma com o domínio do mal na vida das pessoas. Por isso, “ele se aproximou, segurou sua mão, e ajudou-a a levantar-se” (v. 31a). O texto não menciona uma única palavra de Jesus, mas apenas gestos. Por sinal, gestos sacrílegos, considerando que era dia de sábado e, portanto, nenhuma atividade manual era permitida naquele dia. Certamente, o evangelista pensou na sua e nas comunidades cristãs de todos os tempos: os gestos de libertação falam mais que longas e muitas palavras. Sem nenhum temor Jesus se aproxima de uma pessoa com a vida ameaçada; ele não teme nem foge das situações concretas de dor e sofrimento, mesmo que tal atitude fosse proibida pela religião. Pelo contrário, ele enfrenta toda situação em que a vida se encontra ameaçada. O gesto de segurar pela mão significa o cumprimento de uma ação salvífica por excelência: é Deus doando sua força em benefício do seu povo, tirando-o da opressão, de acordo com a linguagem do Antigo Testamento (cf. Ex 13,16; Is 41,13; Sl 136,12; etc.); é prova do amor e cuidado de Deus para com a humanidade.

 Com um cuidado incomparável, Jesus manifesta sua opção incondicional pela vida e o bem do ser humano. O evangelista diz que ele ajudou a mulher a levantar-se empregando o verbo grego h;geirw – egheiro, o mesmo usado para falar da ressurreição do próprio Jesus (cf. 16,6). Com isso, ele quer dizer que Jesus restituiu a vida para aquela mulher. A ressurreição é, por excelência, o triunfo da vida sobre a morte e suas causas. Eis, portanto, as consequências da ação de Jesus: “Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los” (v. 31b). O mal, representado no texto pela febre, não resiste à presença amorosa e cuidadosa de Jesus. Sendo o mal banido da comunidade, as atitudes de serviço se evidenciam. O serviço é a atitude imediata de quem se encontra com o amor restaurador de Jesus e o critério para perceber se esse amor está sendo vivido na comunidade cristã. Jesus é doador de vida, e quem recebe essa vida se torna servo e serva de todos.

 Na sequência, diz o evangelista que “À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio” (v. 32). Com esse versículo, percebemos que as pessoas continuavam escravas da religião, colocando o preceito acima do bem. Ora, a expressão “depois do pôr-do-sol” (em grego:  e;du o` h[lioj – edi hó hélios) significa o início do novo dia. Portanto, as pessoas tinham esperado terminar o sábado, por preceito, para levarem seus doentes até Jesus. Estavam literalmente sob a escravidão da lei. Como a fama de Jesus tinha se espalhado rapidamente (cf. 1,28), era grande a procura pela sua ação libertadora. Tanto é que “A cidade inteira se reuniu em frente da casa” (v. 33). Ao dizer que a cidade se reuniu, o evangelista emprega o verbo grego evpisunagw – epíssinago, cujo significado é reunir, recolher, do qual deriva a palavra sinagoga. Com isso, o evangelista insiste ainda mais com a ideia da casa como alternativa à sinagoga. Se Jesus está na casa, é ali onde as pessoas devem reunir-se; e se as pessoas estão reunidas na casa, é ali onde Jesus está presente. É claro que há exagero do evangelista ao dizer que a cidade inteira se reuniu; a expressão quer enfatizar a adesão e, principalmente, a curiosidade que a presença de Jesus despertava. É perceptível também a intenção de anunciar a falência da religião instituída: as pessoas já não se sentem mais presas à estrutura rígida e fixa da sinagoga. A reunião “em frente da casa” é sinal de liberdade, acolhida e fraternidade.

 É importante recordar que, embora tenham levado todos os doentes, “Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios” (v. 34), ou seja, não curou a todos. Nas multidões sempre há incompreensão, falso entusiasmo, risco de dispersão. Estar no meio da multidão não significa necessariamente estar em comunhão. Não basta ir fisicamente ao encontro de Jesus ou participar de momentos de reunião comunidade; é necessário, antes de tudo, ter disposição interior e disponibilidade para viver os valores do Reino. A comunidade não deve entusiasmar-se simplesmente por juntar multidões; é necessário muito mais para ser, realmente, uma comunidade de discípulos e discípulas.

 Terminada a chamada “jornada de Cafarnaum”, Jesus iniciou uma nova fase do seu ministério. Como comunicador do Reino de Deus, ele precisava nutrir sua intimidade com o Pai através da oração, como atesta o evangelista: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (v. 35). Ele não se deixou levar pelo aparente sucesso do dia anterior. Sentia necessidade de comunicar-se com o Pai para permanecer fiel em sua missão. A oração capacita para o discernimento, fortalece as convicções. Muitas vezes o ativismo das comunidades deixa essa dimensão importante da vida cristã passar despercebida. Aqui o evangelista deixa um recado muito claro para a sua comunidade e para as demais.

 Enquanto rezava, “Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. Quando o encontraram, disseram: “Todos estão te procurando” (vv. 36-37). Os discípulos, ainda principiantes no seguimento, queriam certamente que Jesus repetisse os feitos da jornada anterior, refazendo o mesmo percurso. É a tentação do comodismo e do poder. Alimentado pela oração e, portanto, cada vez mais convicto de sua missão, “Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim” (v. 38). Aqui o aspecto dinâmico e itinerante do movimento de Jesus é evidenciado, bem como o universalismo do seu alcance é pré-anunciado. Mesmo sendo desenvolvida inicialmente na Galileia, a itinerância da missão de Jesus antecipa o universalismo que deve marcar o cristianismo de todos os tempos. Não à religião do templo, do comodismo e da conivência com os poderes instalados! Ir a outros lugares é uma necessidade de quem vive a Boa Nova e os valores do Reino.

 Na conclusão, temos a atestação do caráter itinerante da missão de Jesus: “E andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios” (v. 39)A atividade de “pescar seres humanos” continuava em evidência, ao priorizar os ambientes onde as pessoas corriam mais perigo: os espaços de domínio da religião; por isso, ele pregava nas sinagogas, inicialmente. Certamente, por onde passava ele fazia a passagem da sinagoga para a casa, libertando do peso da lei para o bem da vida, em espírito de serviço e gratuidade.

 


Evangelho do dia 3 fevereiro sábado 2024

 

03 fevereiro - Armemo-nos e armemo-nos logo! A oração, o desapego das coisas passageiras, o zelo pela glória do Senhor, a fome e a sede de justiça, o ardor em socorrer os necessitados, o espírito de sacrifício, de mortificação e de penitência. Estas são as armas que devemos afiar, abraçando todos a mesma bandeira, prontos para a mesma
convocação. Este é o exército permanente da Igreja, que nos chamou a defendê-la contra os poderosos e numerosos inimigos. (L 26) São Jose Marello

 


São Marcos 6,30-34

Os apóstolos voltaram e contaram a Jesus tudo o que tinham feito e ensinado. Havia ali tanta gente, chegando e saindo, que Jesus e os apóstolos não tinham tempo nem para comer. Então ele lhes disse:
- Venham! Vamos sozinhos para um lugar deserto a fim de descansarmos um pouco.
Então foram sozinhos de barco para um lugar deserto. Porém muitas pessoas os viram sair e os reconheceram. De todos os povoados, muitos correram pela margem e chegaram lá antes deles. Quando Jesus desceu do barco, viu a multidão e teve pena daquela gente porque pareciam ovelhas sem pastor. E começou a ensinar muitas coisas.

Meditação:

Todos nós, cada qual a sua maneira, somos chamados a dar uma resposta frente a uma pergunta fundamental: Quem é Jesus? Marcos também se depara com este questionamento. Sua comunidade, que vivia um momento difícil e conturbado da história de Israel - o período anterior à grande guerra de 70 - esperava um Jesus glorioso, revestido de poder. Acreditavam que Ele logo viria e acabaria com as suas dificuldades. Para isto, era necessário que apenas orassem.

O evangelho de hoje nos dá uma boa pista de como respondermos à inquietação apresentada. Vamos ao texto:

Lembremo-nos de que esta narração deve estar ligada aos textos anteriores e posteriores, para que possamos compreender melhor seu sentido. Antes dela, Mc 6,6-13, já se diz que Jesus havia enviado os discípulos à missão para fazer o que Ele faz, trazendo vida e esperança aos pobres e marginalizados.

A ação dos discípulos faz com que aqueles que viviam afastados da sociedade, discriminados e excluídos por esta, devido a uma lógica de poder e de pureza, sejam novamente trazidos ao centro (curam enfermos).

Para aqueles que se encontram divididos ou em situação de divisão, eles trazem a unidade possibilitadora de voltar a ser criativo (expulsam demônios), fazendo-os o centro do projeto de Deus, tornando-se eles também discípulos e profetas do mestre, que denunciam estas mesmas situações de corrupção, injustiça e marginalização. Devolvesse-lhes o direito a ser gente, ter esperanças e serem protagonistas da história (Mc 6,13).

Em contraste a este panorama Mc 6,14-29, apresenta um banquete do poder. Este banquete, que alimenta alguns sobre a fome de muitos, traz a morte e a injustiça. Mata-se um dos líderes do povo tentando matar sua esperança: João Batista. E agora, quem será o novo líder?

A pericote seguinte começa a delimitar o modelo da liderança de Jesus e a maneira como podemos identificá-lo. O versículo 30 começa nos informando que os discípulos contam a Jesus o que haviam realizado (Mc 6,13).

Pegando a frase do Evangelho: "viu a multidão e teve pena daquela gente porque pareciam ovelhas sem pastor", Jesus atrai para si o título de pastor. Este atributo a Jesus, recebe a sua justificação na observação do evangelista ao interpretar os sentimentos do coração do Senhor vendo as multidões que O seguiam, Jesus se compadeceu delas, teve pena.

Mestre desde o início da Sua missão convida os discípulos, a todos manifestarem aos homens o amor de Deus por eles. E, em poucas linhas, podemos ter o quadro da vida de Jesus com os Apóstolos e a multidão do povo: a intimidade do Senhor com o grupo dos Doze em ordem à formação dos mesmos, a atividade intensa da vida pública de Jesus e dos Apóstolos, o entusiasmo do povo pelo Senhor, a sua disponibilidade apesar da fadiga, por fim, os sentimentos profundos de Jesus perante esse povo, errante e faminto.

É assim que Deus olha para mim e para ti bem como para toda a tua família e os homens no mundo inteiro. Deus deseja e quer que todos O procuremos: Havia ali tanta gente, chegando e saindo.

Embora com o desejo e a vontade de atender a todos, Jesus com os apóstolos ele ressalta a sua necessidade de descanso, depois as tarefas apostólicas. Para dize que também o missionário precisa de descanso.

Um tempo de retiro, de recuperação das energias, de intimidade com Deus. Foi por isso que quando voltam empolgados com os resultados da missão, a primeira reação do Mestre é convidá-los para uma retirada, para que possam refazer as forças. Jesus tem critérios que não correspondem com o grande critério da sociedade nossa – o da eficácia!

Para ele, os apóstolos não eram máquinas, mas em primeiro lugar pessoas humanas, que necessitavam de ser tratados como tais. O trabalho – mesmo o trabalho missionário – não é o absoluto. Jesus reconhece a necessidade dum equilíbrio entre todos os aspectos da vivência humana.

Aqui há uma lição para muitos cristãos engajados hoje – embora devamos nos dedicar ao máximo pelo apostolado, não devemos descuidar das nossas vidas particulares, da nossa saúde, do cultivo de valores espirituais, da saúde e do relacionamento afetivo com os outros.

Caso contrário, estaremos esgotados em pouco tempo, meras máquinas ou funcionários do sagrado, que não mostram ao mundo o rosto compassivo do Pai, mas que por dentro seremos ocos.

A missão de Jesus deve ser continuada nos discípulos. A primeira impressão que se tem é a de que se findou a missão. Faz-se necessário, agora, descansar. Porém, diante de um povo necessitado e marginalizado pelas autoridades, que estão mais interessadas e preocupadas com suas leis injustas e ineficazes, com seus rituais sem vida, do que com a miséria deste povo. Jesus utiliza justamente esta necessidade do povo como critério de julgamento para o que "pode" ou "não pode" ser feito. Jesus assume a tarefa de acolhê-los e alimentá-los.

Frente à situação latente de um deserto em que não se pode viver ou estar só, por estar repleto das necessidades do povo, Jesus muda de atitude: tem compaixão. Aproxima-se e sente com este povo sua miséria e desejo. Compreende e rechaça a lógica que o explora e sacrifica, fazendo abrir os olhos para uma nova possibilidade: a partilha que advém da nova organização social (Mc 6,35-44).

Fazendo isso Jesus, se mostra como pastor para um povo sem líder e sem rumo. Esta perspectiva tem valor fundamental para Marcos: o pastor é aquele que defende a vida de suas ovelhas, está com elas e as dá identidade própria. Frente a um povo sofrido, oprimido e marginalizado por falsas lideranças, Jesus se mostra como o verdadeiro líder: aquele que tem por projeto a igualdade. Como Deus é o bom pastor de Israel, Jesus é o Deus que caminha conosco.

Nota-se, ainda, que Marcos diz que Jesus ensina (v. 34), porém não nos relata tais ensinamentos. Isto parece indicar que descobriremos os ensinamentos de Jesus ao olharmos para sua prática: ensinou a partilhar o pão, para que todos sejam saciados e possa sobrar.... A lógica atual do mercado prega o comprar, guardar para saciar. A lógica cristã do Reino deve basear-se justamente no contrário: doar para sobrar.

O banquete da vida é aprendido no encontro com o mais necessitado, tirando-o desta situação rumo à fraternidade. Não mais exclusão, injustiça ou marginalização, mas a justiça de Deus: a cada um conforme a sua necessidade.

Quem come o banquete com Jesus jamais vai querer sentar-se à mesa com Herodes... Em qual mesa estamos?

Reflexão Apostólica:

Os discípulos de Jesus voltaram da missão para a qual haviam sido enviados e reuniram-se com Ele para contar tudo que lhes havia acontecido. Com certeza deviam estar cansados, pois Jesus convidou-os a descansar com Ele em um lugar deserto. No entanto, a multidão sedenta os seguia em busca de ajuda.

Jesus teve compaixão deles pois eram como “ovelhas sem pastor e começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.” Apesar de todo cansaço e da hora avançada Jesus motivava os Seus discípulos a perceberem a necessidade daquele povo que buscava cura, libertação e paz

Hoje também, a multidão precisa de ajuda e, mesmo sem saber, ela busca alguma coisa que possa preencher o vazio do seu coração. Somos chamados a enxergar as necessidades dessa multidão e para isso, Jesus também nos forma.

Assim como fez com os Seus discípulos Ele também nos atrai a um lugar deserto a fim de nos preparar para que sejamos pastores (as) das pessoas desanimadas e sem esperança que estão ao nosso redor.

Com Jesus nós encontramos refrigério para a nossa alma e aprendemos muitas coisas que nos são úteis, tanto para a nossa felicidade pessoal como também, comunitária e familiar. Ele nos ensina a arte de viver melhor em qualquer circunstância enfrentando todas as dificuldades.

Desse modo nós poderemos ajudar aquelas pessoas que ainda não O conhecem e não têm ainda intimidade para ficarem a sós com Ele. Os melhores ensinamentos da nossa vida nós os recebemos quando passamos por experiências de dor e de sofrimento, com Jesus!

Ser pastor é saber dar testemunho de fé, de confiança no plano de Deus e, assim, ser luz para o irmão que também passa por necessidade. Jesus também, hoje, nos leva a descansar, refrigera as nossas dores e nos consola para que também, possamos ser pastores que aliviam e que amparam as ovelhas transviadas. 

Você se sente pastor (a) de alguém ou espera que alguém venha pastoreá-lo (a)? Você tem testemunhado as suas experiências de dor para ajudar a alguém? Jesus já o (a) levou para o deserto? O que você tem aprendido com Jesus?

 Todos os momentos são bons para evangelizar, Jesus não os desperdiça e inclusive muda o programado para ensinar, tudo porque se deixa interpelar pela condição das pessoas e por saber o motivo pelo qual veio. Serve-nos como modelo. O pastoreio era para o povo de Israel um tema muito importante. Desde Abraão até o rei Davi, muitos dos grandes personagens tinham sido pastores.
E a imagem do bom pastor estava introduzida na mentalidade do povo. O próprio Deus era considerado o "pastor de Israel". Pelo descuido de muitos sacerdotes do templo, de falsos profetas e de mestres que só exploravam o povo e viviam às custas dos pobres, Deus promete enviar um pastor, como Davi, que apascentará o povo segundo o coração de Deus.
Esse é Jesus! Como bom pastor, é toda ternura para com seus cordeiros e suas ovelhas (não tem tempo nem para comer ou descansar), e vai até o extremo quando se trata de defender o rebanho, pelo qual entrega sua vida. Ser como Jesus, ter seu perfil e atitudes fez muitas pessoas serem generosas e valentes a ponto de se lançaram ao mundo para trabalhar pelos que estavam sozinhos, tristes e abandonados, imitando Jesus e os apóstolos, não tendo tempo sequer para comer ou descansar. Somos assim?

Como vimos, o texto ressalta a compaixão de Jesus para com o povo com uma característica específica: era um povo muito sofrido, rejeitado e desprezado pelos chefes político-religiosos de então, que nem tinha tempo para comer. E quando ele se retirava, o povo ia atrás dele. O que atraía tanta gente?

Com certeza não foi em primeiro lugar a doutrina, nem os milagres, mas o fato de irradiar compaixão, de demonstrar duma maneira concreta o amor compassivo de Deus. Jesus não teve “pena” do povo, não teve “dó” dos sofridos. Teve “compaixão”, literalmente, sofria junto, e tinha uma empatia com os sofredores, que se transformava numa solidariedade afetiva e efetiva.

Este traço da personalidade de Jesus desafia as Igrejas e os seus ministros hoje, para que não sejam burocratas do sagrado, mas irradiadores da compaixão do Pai.

Infelizmente, muitas vezes as nossas igrejas mais parecem repartições públicas do que lugares do encontro com a comunidade que acredita no amor misericordioso de Deus e na compaixão de Jesus!

A frieza humana freqüentemente marca as nossas atitudes, pregações e cuidado pastoral. Num mundo que exclui que marginaliza e que só valoriza quem consome e produz o texto de hoje nos desafia para que nos assemelhemos cada vez mais a Jesus, irradiando compaixão diante das multidões que hoje como nunca estão como ovelhas sem pastor.

Propósito:

Pai, dá-me as disposições necessárias para eu realizar bem a missão recebida de Jesus, tendo-o sempre como modelo.

Evangelho dia 02 fevereiro sexta feira 2024

 


02 fev - Apresentação do Senhor.

Aprendamos a nos desprender inteiramente de nós mesmos, de nossos gostos, de nossa vontade, de nosso ponto de vista. Em todas as nossas ações não visemos senão fazer a santa vontade de Deus do modo mais perfeito possível. (S 359). São Jose Marello

 

Lucas 2,22-40

"Chegou o dia de Maria e José cumprirem a cerimônia da purificação, conforme manda a Lei de Moisés. Então eles levaram a criança para Jerusalém a fim de apresentá-la ao Senhor. Pois está escrito na Lei do Senhor: "Todo primeiro filho será separado e dedicado ao Senhor." Eles foram lá também para oferecer em sacrifício duas rolinhas ou dois pombinhos, como a Lei do Senhor manda.
Em Jerusalém morava um homem chamado Simeão. Ele era bom e piedoso e esperava a salvação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele, e o próprio Espírito lhe tinha prometido que, antes de morrer, ele iria ver o Messias enviado pelo Senhor. Guiado pelo Espírito, Simeão foi ao Templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao Templo para fazer o que a Lei manda, Simeão pegou o menino no colo e louvou a Deus. Ele disse:
- Agora, Senhor, cumpriste a promessa que fizeste e já podes deixar este teu servo partir em paz.
Pois
eu já vi com os meus próprios olhos a tua salvação, que preparaste na presença de todos os povos: uma luz para mostrar o teu caminho a todos os que não são judeus e para dar glória ao teu povo de Israel.

O pai e a mãe do menino ficaram admirados com o que Simeão disse a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus:
- Este menino foi escolhido por Deus tanto para a destruição como para a salvação de muita gente em Israel. Ele vai ser um sinal de Deus; muitas pessoas falarão contra ele, e assim os pensamentos secretos delas serão conhecidos. E a tristeza, como uma espada afiada, cortará o seu coração, Maria.
Havia ali também uma profetisa chamada Ana, que era viúva e muito idosa. Ela era filha de Fanuel, da tribo de Aser. Sete anos depois que ela havia casado, o seu marido morreu. Agora ela estava com oitenta e quatro anos de idade. Nunca saía do pátio do Templo e adorava a Deus dia e noite, jejuando e fazendo orações. Naquele momento ela chegou e começou a louvar a Deus e a falar a respeito do menino para todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
Quando terminaram de fazer tudo o que a Lei do Senhor manda, José e Maria voltaram para a Galiléia, para a casa deles na cidade de Nazaré.
O menino crescia e ficava forte; tinha muita sabedoria e era abençoado por Deus."

 Meditação:

Na festa da Apresentação de Jesus no Templo, o texto de Lucas repete quatro vezes que as ações de José e Maria eram "de acordo com a Lei" ou "para cumprir a Lei".

Tudo isso é uma maneira muito sutil de mostrar a condição humana e a inserção plena de Jesus na vida de seu povo Israel. Porém, a vida desse menino, que hoje é apresentado, terminará sendo um projeto de salvação para todo o povo e transcenderá "todas as nações".

 Os pastores, os magos do Oriente, Simeão e Ana são parte do ciclo das apresentações de Jesus a distintos grupos de seu tempo, que podemos confrontar também com o nosso tempo.

Nesse menino se manifesta a grandeza de Deus, sua misericórdia e sua aliança, que transcendeu todos os povos. Não esqueçamos que esse menino também é "sinal de contradição" porque acaba desmascarando as intenções distorcidas como o egoísmo e a violência que habitam os corações. Pode-se dizer que hoje também se apresenta a nós a salvação.

Na festa de hoje se concentra todo o mistério messiânico de Jesus. Já veremos esse menino crescendo em estatura, sabedoria e graça, pregando sua mensagem de salvação por toda a terra.

Seremos capazes de nos maravilhar por todas as coisas que dizem dele? Percebemos Jesus como Luz que ilumina? Hoje é o Dia da Vida Religiosa na Igreja
Lucas relata a apresentação de Jesus no Templo, e, com isso, quer expressar a novidade de Deus. Lucas mostra o profundo significado da vida e da missão desse pequeno Deus-menino. Essa novidade representa a plenitude das esperanças messiânicas, vindas da tradição judaica, como está escrito no Antigo Testamento.

Por isso Simeão e Ana bendizem e agradecem a Deus, pois foram as testemunhas da salvação de Deus através da presença de Jesus. Entretanto, a salvação plena é mediada por um caminho de entrega e de sofrimento, de cruz e de morte: o caminho da vida de Jesus.
A novidade de Jesus como Messias é apresentada por Simeão que, movido pelo Espírito Santo, compreende que a salvação rompe os limites do povo judaico e se estende por toda a criação, promove a vida, e resgata todos seres humanos da morte.
Resta saber, como pessoas que crêem em Jesus, se estamos assumindo realmente a novidade de Deus, que age em nossa vida e salva os mais debilitados. Assumir a novidade de Deus é agir com os critérios de Jesus: quer dizer, se estamos vivendo na fidelidade a entrega da vida.

 Esta passagem evangélica agrupa dois episódios diferentes: a apresentação de Jesus no Templo, e sua vida oculta em família. A liturgia reúne ambos os textos com a finalidade de apresentar uma vida de família com simplicidade, mas com referência explícita a Deus.

A lição sobre a vida oculta de Jesus é muito importante. Embora sendo Deus, ele segue as leis naturais do crescimento humano, tanto no plano físico como no da sabedoria e do conhecimento. Passando pela infância, a puberdade, a adolescência, vive uma Kénosis ou “abaixamento” em que assume a humanidade no ocultamento simultâneo de sua Divindade.

 Sendo filho de Deus, como o é, aceita não conhecer, a não ser progressivamente, a orientação de sua vida e não descobrir a vontade de seu Pai, a não ser através do plano de relação e educação que lhe oferece o meio familiar e o povo de onde não podia sair nada bom (Jo 1,46).

A partir de sua consciência de criança ainda balbuciante, e até de sua consciência de mortal terrivelmente assustado na hora do sacrifício, Jesus inscreveu realmente em sua vida humana a Palavra do Pai, e estabeleceu pela primeira vez uma adequação total entre uma vontade de homem e a vontade de Deus.

Reflexão Apostólica

Os evangelhos diários geralmente seguem uma seqüência de acontecimentos cronológicos e quando por ventura mudam, podem significar um dia especifico, festivo ou crucial da história de Jesus. Hoje, lembramos a apresentação do Senhor.

 Repare o encanto no louvor feito por Simeão: “(…) Agora, Senhor, cumpriste a promessa que fizeste e já podes deixar este teu servo partir em paz. Pois eu já vi com os meus próprios olhos a tua salvação”.

Hoje, neste evangelho, nos braços de Maria, Deus apresenta Jesus a um servo fiel e também o liberta das dúvidas que o acorrentavam.

Quantos travam batalhas ha muitos anos para que aconteça a libertação de suas famílias, dos medos, dos preceitos… A paciência e a fé do servo foram vistas por Deus e no momento mais oportuno, foi contemplada.

 A psicologia define que temos três esferas ou estruturas psíquicas – o Id, o ego e o superego. A grosso modo, o ID é nosso estado mais inconsciente, é o que representa nossas vontades de realização imediata. O superego é apresentado pelos nossos valores pessoais, crenças… Ele nos apresenta a razão. O Ego, que avalia nosso querer mediante o que o superego o subsidia tomando assim a decisão. Quanto mais tempo pensamos, mais usamos a razão, os valores, … Respostas imediatas geralmente têm mais influencia do ID. Quando compro um carro, sem pensar como pagá-lo; quando respondo a uma ofensa com outra ainda maior, quando leio ou escuto algo já procurando os erros para rebater (…)

 Muitos de nós como o apóstolo Paulo, precisamos cair do cavalo para termos a primeira apresentação do Senhor. Quebrar a cara, tropeçar, cair, as vezes nos trazem ao real que não posso viver refém do ID de nossas vontades que as vezes são intempestivas. Jesus não abandonou Paulo após o episodio de Damasco, espera seu servo amadurecer pelo caminho para novamente se apresentar a ele e confirmar sua missão.

O evangelho não fala por quantos anos Simeão esperou por essa apresentação, mas deixa claro, que possivelmente como nós, a “trancos e barrancos” tentamos nos manter fieis e esperar. Sim, é duro ir para um lado e ver entes queridos preferirem ir para outro, mas o Deus que é fiel ouvirá nossos clamores e Jesus também atravessará qualquer mar para nos libertar.

 Não sejamos reféns do ID e nem inertes justificados pelo superego.

 Tenhamos fé!

Que o Senhor! Se apresente a nós!

 

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