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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

EVANGELHO DO DIA 03 DE OUTUBRO 2021 - 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 


27º Domingo do Tempo Comum - Ano B

3 Outubro 2021

Tema do 27º Domingo do Tempo Comum

As leituras do 27º Domingo do Tempo Comum apresentam, como tema principal, o projeto ideal de Deus para o homem e para a mulher: formar uma comunidade de amor, estável e indissolúvel, que os ajude mutuamente a realizarem-se e a serem felizes. Esse amor, feito doação e entrega, será para o mundo um reflexo do amor de Deus.
A primeira leitura diz-nos que Deus criou o homem e a mulher para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher formarão "uma só carne". Ser "uma só carne" implica viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo.
No Evangelho, Jesus, confrontado com a Lei judaica do divórcio, reafirma o projeto ideal de Deus para o homem e para a mulher: eles foram chamados a formar uma comunidade estável e indissolúvel de amor, de partilha e de doação. A separação não está prevista no projeto ideal de Deus, pois Deus não considera um amor que não seja total e duradouro. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher.
A segunda leitura lembra-nos a "qualidade" do amor de Deus pelos homens... Deus amou de tal forma os homens que enviou ao mundo o seu Filho único "em proveito de todos". Jesus, o Filho, solidarizou-Se com os homens, partilhou a debilidade dos homens e, cumprindo o projeto do Pai, aceitou morrer na cruz para dizer aos homens que a vida verdadeira está no amor que se dá até às últimas consequências. Ligando o texto da Carta aos Hebreus com o tema principal da liturgia deste domingo, podemos dizer que o casal cristão deve testemunhar, com a sua doação sem limites e com a sua entrega total, o amor de Deus pela humanidade.
LEITURA I - Gn 2,18-24

Leitura do Livro do Génesis

Disse o Senhor Deus:
«Não é bom que o homem esteja só:
vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele».
Então o Senhor Deus, depois de ter formado da terra
todos os animais do campo e todas as aves do céu,
conduziu-os até junto do homem,
para ver como ele os chamaria,
a fim de que todos os seres vivos fossem conhecidos
pelo nome que o homem lhes desse.
O homem chamou pelos seus nomes
todos os animais domésticos, todas as aves do céu
e todos os animais do campo.
Mas não encontrou uma auxiliar semelhante a ele.
Então o Senhor Deus fez descer sobre o homem
um sono profundo
e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela,
fazendo crescer a carne em seu lugar.
Da costela do homem o Senhor Deus formou a mulher
e apresentou-a ao homem.
Ao vê-la, o homem exclamou:
«Esta é realmente osso dos meus ossos e a minha carne.
Chamar-se-á mulher, porque foi tirada do homem».
Por isso, o homem deixará pai e mãe,
para se unir à sua esposa,
e os dois serão uma só carne.

AMBIENTE

O texto de Gn 2,4b-3,24 - conhecido como relato jahwista da criação - é, de acordo com a maioria dos comentadores, um texto do séc. X a.C., que deve ter aparecido em Judá na época do rei Salomão. Apresenta-se num estilo exuberante, colorido, pitoresco. Parece ser obra de um catequista popular, que ensina recorrendo a imagens sugestivas, coloridas e fortes. Não podemos, de forma nenhuma, ver neste texto uma reportagem jornalística de acontecimentos passados na aurora da humanidade. A finalidade do autor não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh. Trata-se, portanto, de uma página de catequese e não de um tratado destinado a explicar cientificamente as origens do mundo e da vida.
Para apresentar essa catequese aos homens do séc. X a.C., os teólogos jahwistas utilizaram elementos simbólicos e literários das cosmogonias mesopotâmicas (por exemplo, a formação do homem "do pó da terra" é um elemento que aparece sempre nos mitos de origem mesopotâmicos); no entanto, transformaram e adaptaram os símbolos retirados das narrações lendárias de outros povos, dando-lhes um novo enquadramento, uma nova interpretação e pondo-os ao serviço da catequese e da fé de Israel. Ou seja: a linguagem e a apresentação literária das narrações bíblicas da criação apresentam paralelos significativos com os mitos de origem dos povos da zona do Crescente Fértil; mas as conclusões teológicas - sobretudo o ensinamento sobre Deus e sobre o lugar que o homem ocupa no projeto de Deus - são muito diferentes.
O texto que nos é hoje proposto como primeira leitura situa-nos no "jardim do Éden", um espaço ideal onde Deus colocou o homem que criou, um ambiente de felicidade material onde todas as exigências da vida humana estavam satisfeitas. É um lugar de água abundante e com muitas árvores (para quem sentia pesar sobre si a ameaça do deserto árido, o ideia de felicidade seria um lugar com muita água, um clima de frescura, um ambiente de árvores e de verdura abundante). O homem tinha, então, tudo para ser feliz? Ainda não. Na perspectiva do catequista jahwista, o homem não estava plenamente realizado, pois faltava-lhe alguém com quem compartilhar a vida e a felicidade. O homem não foi criado para viver sozinho, mas para viver em relação. É esse problema que Deus, com solicitude e amor, vai resolver...

MENSAGEM

Depois de criar o homem e de o colocar no "jardim" da felicidade, Deus constatou a solidão do homem e quis dar-lhe solução. Como?
Num primeiro momento, Deus fez desfilar diante do homem "todos os animais do campo e todas as aves do céu", a fim de que o homem os chamasse "pelos seus nomes" (vers. 19). Segundo as ideias vigentes no Médio Oriente antigo, o facto de "dar um nome" era, antes de mais, um ato de domínio e de posse. Por outro lado, o facto de Deus ter trazido os animais para que o homem lhes desse um nome era, na perspectiva do catequista jahwista, o reconhecimento por parte de Deus da autonomia do homem e a associação do homem à obra criadora e ordenadora de Deus. A autoridade sobre os outros seres criados e a associação do homem à obra criadora de Deus responderá ao desejo de felicidade completa que o homem sente e resolverá o problema da sua solidão? Não. O homem não encontrou, nesse mundo animal que Deus lhe confiou, "uma auxiliar semelhante a ele" (vers. 20). Por muito rico e desafiador que fosse esse mundo novo que lhe foi apresentado, o homem não encontrou aí a ajuda e o complemento que esperava. Para que o homem se realize completamente, Deus vai intervir de novo.
A nova ação de Deus começa com um "sono profundo" do homem. Depois, Deus, atuando como um hábil cirurgião, tirou parte do corpo do homem (o texto fala da "zela'", que se tem traduzido como "costela"; contudo, a palavra pode significar "lado" ou "costado") e com ela fez a mulher (vers. 21-22). Porquê o "sono profundo" do homem"? Porque, de acordo com a concepção do autor jahwista, criar era segredo de Deus e o homem não podia testemunhar esse momento solene e misterioso; restava-lhe admirar a criação de Deus e adorá-lo pelas suas obras admiráveis... Depois de ter "construído" a mulher, Jahwéh acompanha-a à presença do homem. A mulher é aqui apresentada como uma noiva conduzida à presença do noivo e Deus como o "padrinho" desse noivado. O homem, desperto do "sono profundo", acolhe a mulher com um grito de alegria e reconhece-a como a companhia que lhe fazia falta, o seu complemento, o seu outro eu: "Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne" (vers. 23a). O homem (vers. 23b) dá à sua companheira o nome de "mulher" (em hebraico: 'ishah) porque foi tirada do homem (em hebraico: 'ish). A proximidade das duas palavras sugere a proximidade entre o homem e a mulher, a sua igualdade fundamental em dignidade, a sua complementaridade, o seu parentesco.
O nosso texto termina com um comentário que não é de Deus, nem do homem, nem da mulher, mas do catequista jahwista: "por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne" (vers. 24). Este comentário pretende ser a resposta a uma questão bem concreta: de onde vem essa força poderosa que é o amor e que é mais forte do que o vínculo que nos liga aos próprios pais? Para o catequista jahwista, o amor vem de Deus, que fez o homem e a mulher de uma só carne; por isso, homem e mulher buscam essa unidade e estão destinados, fatalmente, a viver em comunhão um com o outro.

ATUALIZAÇÃO

• "Não é bom que o homem esteja só". Estas palavras, postas pelo autor jahwista na boca de Deus, sugerem que a realização plena do homem acontece na relação e não na solidão. O homem que vive fechado em si próprio, que escolhe percorrer caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, que recusa o diálogo e a comunhão com aqueles que caminham a seu lado, que tem o coração fechado ao amor e à partilha, é um homem profundamente infeliz, que nunca conhecerá a felicidade plena. Por vezes a preocupação com o dinheiro, com a realização profissional, com o estatuto social, com o êxito levam os homens a prescindir do amor, a renunciar à família, a não ter tempo para os amigos... E um dia, depois de terem acumulado muito dinheiro ou de terem chegado à presidência da empresa, constatam que estão sozinhos e que a sua vida é estéril e vazia. A Palavra de Deus que nos é hoje proposta deixa um aviso claro: a vocação do homem é o amor; a solidão, mesmo quando compensada pela abundância de bens materiais, é um caminho de infelicidade.

• Por vezes, certos círculos religiosos mais fechados desvalorizam o amor humano, consideram o casamento como um estado inferior de realização da vocação cristã e vêm na sexualidade algo de pecaminoso. Não é esta a perspectiva que a Palavra de Deus nos apresenta... No nosso texto, o amor aparece como algo que está, desde sempre, inscrito no projeto de Deus e que é querido por Deus. Deus criou o homem e a mulher para se ajudarem mutuamente e para partilharem, no amor, as suas vidas. É no amor e não na solidão que o homem encontra a sua realização plena e o sentido para a sua existência.

• Homem e mulher são, de acordo com o nosso texto, iguais em dignidade. Eles são "da mesma carne", em igualdade de ser, partícipes do mesmo destino; completam-se um ao outro e ajudam-se mutuamente a atingir a realização. São, portanto, iguais em dignidade. Esta realidade exige que homem e mulher se respeitem absolutamente um ao outro; e exclui, naturalmente, qualquer atitude que signifique dominação, escravidão, prepotência, uso egoísta do outro.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 127 (128)

Refrão: O Senhor nos abençoe em toda a nossa vida.

Feliz de ti que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda
no íntimo do teu lar;
teus filhos como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião o Senhor te abençoe:
vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida;
e possas ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel.
LEITURA II - Heb 2,9-11

Leitura da Epístola aos hebreus

Irmãos:
Jesus, que, por um pouco, foi inferior aos Anjos,
vemos agora coroado de glória e de honra
por causa da morte que sofreu,
pois era necessário que, pela graça de Deus,
experimentasse a morte em proveito de todos.
Convinha, na verdade, que Deus,
origem e fim de todas as coisas,
querendo conduzir muitos filhos para a sua glória,
levasse à glória perfeita, pelo sofrimento,
o Autor da salvação.
Pois Aquele que santifica e os que são santificados
procedam todos de um só.
Por isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos.

AMBIENTE

A Carta aos Hebreus é um sermão de um autor cristão anónimo, provavelmente elaborado nos anos que antecederam a destruição do Templo de Jerusalém (ano 70). Destina-se a comunidades cristãs não identificadas (o título "aos hebreus" foi-lhe colado posteriormente e provém das múltiplas referências ao Antigo Testamento e ao ritual dos "sacrifícios" que a obra apresenta). Trata-se, em qualquer caso, de comunidades cristãs em situação difícil, expostas a perseguições e que vivem num ambiente hostil à fé... Os membros dessas comunidades perderam já o fervor inicial pelo Evangelho, deixaram-se contaminar pelo desânimo e começam a ceder à sedução de certas doutrinas não muito coerentes com a fé recebida dos apóstolos... O objetivo do autor deste "discurso" é estimular a vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé.
A Carta aos Hebreus apresenta - recorrendo à linguagem da teologia judaica - o mistério de Cristo, o sacerdote por excelência - através de quem os homens têm acesso livre a Deus e são inseridos na comunhão real e definitiva com Deus. O autor aproveita, na sequência, para refletir nas implicações desse facto: postos em relação com o Pai por Cristo/sacerdote, os crentes são inseridos nesse Povo sacerdotal que é a comunidade cristã e devem fazer da sua vida um contínuo sacrifício de louvor, de entrega e de amor. Desta forma, o autor oferece aos cristãos um aprofundamento e uma ampliação da fé primitiva, capaz de revitalizar a sua experiência de fé, enfraquecida pela acomodação e pela perseguição.
O texto que nos é proposto está incluído na primeira parte da Carta (cf. Heb 1,5-2,18). Aí, o autor recolhe e repete aquilo que a catequese primitiva afirmava sobre o mistério de Cristo: a sua encarnação, a sua paixão e morte, a sua glorificação pela ressurreição. Ao longo destes dois capítulos, o autor vai afirmando a superioridade de Jesus em relação a todas as criaturas, nomeadamente em relação aos anjos.

MENSAGEM

Jesus aceitou despojar-se das suas prerrogativas divinas e fazer-se "por um pouco, inferior aos anjos" a fim de que, pelo dom da sua vida até à morte, se cumprisse o projeto salvador do Pai para os homens (vers. 9).
Depois desta afirmação de princípio, o autor da Carta aos Hebreus vai aprofundar a sua reflexão e explicar porque é que Jesus teve que passar pela humilhação da cruz (a explicação é bem mais longa do que a leitura que nos é proposta e vai do versículo 10 ao versículo 18).
A questão da paixão e morte de Cristo era uma "conveniência" do projeto de salvação que Deus tinha para o homem ("convinha" - vers. 10). O que é que isso significa? O objetivo de Deus é que o homem cresça até chegar à vida plena. Ora, para fazer com que a humanidade atinja esse fim, Deus deu-lhe um guia - Jesus Cristo. Ele devia mostrar, com a sua vida e o seu exemplo, que se chega à plenitude da vida cumprindo integralmente a vontade do Pai e fazendo da existência um dom de amor aos irmãos. A cruz foi a expressão máxima e total dessa vida de entrega aos desígnios de Deus e de doação aos irmãos. Morrendo por amor, Jesus ensinou aos homens como é que eles devem viver, qual o caminho que eles devem percorrer, a fim de chegarem à plenitude da vida, à felicidade sem fim; morrendo por amor e ressuscitando logo a seguir para a vida plena, Jesus libertou os homens do medo paralisante da morte e mostrou-lhes que a morte não é o fim da linha para quem vive na entrega a Deus e na doação aos irmãos.
Ao assumir a natureza humana, ao fazer-Se solidário com os homens, ao fazer-Se irmão dos homens, Cristo (Aquele que santifica) inseriu os homens (os que são santificados) na órbita de Deus e mostrou-lhes o caminho a seguir para integrar a família de Deus (vers. 11).

ATUALIZAÇÃO

• A encarnação, paixão e morte de Jesus atestam, antes de mais, o incrível amor de Deus pelos homens. É o amor de alguém que enviou o próprio Filho para fazer da sua vida um dom, até à morte na cruz, a fim de mostrar aos homens o caminho da vida plena e definitiva. Trata-se de uma realidade que a Palavra de Deus nos recorda cada domingo; e trata-se de uma realidade que não deve cessar de nos espantar e de nos levar à gratidão e ao amor.

• A atitude de aceitação incondicional do projeto do Pai assumida por Cristo contrasta com o egoísmo e a auto-suficiência de Adão face às propostas de Deus. A obediência de Cristo trouxe vida plena ao homem; a desobediência de Adão trouxe sofrimento e morte à humanidade. O exemplo de Cristo convida-nos a viver na escuta atenta e na obediência radical às propostas de Deus: esse caminho é gerador de vida verdadeira. Quando o homem prescinde de Deus e das suas propostas e decide que é ele quem define o caminho a seguir, fatalmente resvala para projetos de ambição, de orgulho, de injustiça, de morte; quando o homem escuta e acolhe os desafios de Deus, aprende a amar, a partilhar, a servir, a perdoar e torna-se uma fonte de bênção para todos aqueles que caminham ao seu lado.

• Jesus fez-Se homem, enfrentou a condição de debilidade dos homens e morreu na cruz. No entanto, a sua glorificação mostrou que a morte não é o final do caminho para quem faz da vida uma escuta atenta dos planos de Deus e uma doação de amor aos irmãos. Dessa forma, Ele libertou os homens do medo da morte. Agora, podemos enfrentar a injustiça, a opressão, as forças do mal que oprimem os homens, sem medo de morrer: sabemos que quem vive como Jesus não fica prisioneiro da morte, mas está destinado à vida verdadeira e eterna.
ALELUIA - 1 Jo 4,12

Aleluia. Aleluia.

Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós
e o seu amor em nós é perfeito.


EVANGELHO - Mc 10,2-16

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova
e perguntaram-Lhe:
«Pode um homem repudiar a sua mulher?»
Jesus disse-lhes:
«Que vos ordenou Moisés?»
Eles responderam:
«Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio,
para se repudiar a mulher».
Jesus disse-lhes:
«Foi por causa da dureza do vosso coração
que ele vos deixou essa lei.
Mas, no princípio da criação, 'Deus fê-los homem e mulher.
Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa,
e os dois serão uma só carne'.
Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu».
Em casa, os discípulos interrogaram-no de novo
sobre este assunto.
Jesus disse-lhes então:
«Quem repudiar a sua mulher e casar com outra,
comete adultério contra a primeira.
E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro,
comete adultério».

Apresentaram a Jesus umas crianças
para que Ele lhes tocasse,
mas os discípulos afastavam-nas.
Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes:
«Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis:
dos que são como elas é o reino de Deus.
Em verdade vos digo:
Quem não acolher o reino de Deus como uma criança,
não entrará nele».
E, abraçando-as, começou a abençoá-las,
impondo a mão sobre elas.

AMBIENTE

Despedindo-se definitivamente da Galileia, Jesus continua o seu caminho para Jerusalém, ao encontro do seu destino final. O episódio de hoje situa-nos "na região da Judeia, para além do Jordão" (vers. 1) - isto é, no território trans jordânico da Pereia, território governado por Herodes Antipas, o mesmo que havia assassinado João Baptista quando este o criticou por haver abandonado a sua esposa legítima. Aí, Jesus volta a confrontar-Se com as multidões e a dirigir-lhes os seus ensinamentos. Os discípulos, contudo, continuam a rodear Jesus e a beneficiar de uma instrução especial.
Entram de novo em cena os fariseus, não para escutar as suas propostas, mas para O experimentar e para Lhe apanhar uma declaração comprometedora. São esses fanáticos da Lei que vão proporcionar a Jesus a oportunidade de Se pronunciar sobre uma questão delicada e comprometedora: o matrimónio e o divórcio.
Tratava-se, na realidade, de uma questão "quente" e não totalmente consensual nas discussões dos "mestres" de Israel. A Lei de Israel permitia o divórcio ("quando um homem tomar uma mulher e a desposar, se depois ela deixar de lhe agradar, por ter descoberto nela algo de inconveniente, escrever-lhe-á um documento de divórcio, entregar-lho-á em mão e despedi-la-á de sua casa" - Dt 24,1); mas não era totalmente clara acerca das razões que poderiam fundamentar a rejeição da mulher pelo marido. Na época de Jesus, as duas grandes escolas teológicas do tempo divergiam na interpretação da Lei do divórcio. A escola de Hillel ensinava que qualquer motivo, mesmo o mais fútil (porque a esposa cozinhava mal ou porque o marido gostava mais de outra), servia para o homem despedir a mulher; a escola de Shammai, mais rigorosa, defendia que só uma razão muito grave (o adultério ou a má conduta da mulher) dava ao marido o direito de repudiar a sua esposa. A mulher, por sua vez, era autorizada a obter o divórcio em tribunal somente no caso de o marido estar afetado pela lepra ou exercer um ofício repugnante.
É nesta discussão de contornos pouco claros que os fariseus procuram envolver Jesus. Uma resposta negativa por parte de Jesus seria, certamente, interpretada como uma condenação do matrimónio de Herodes Antipas com Herodíades, a sua cunhada. A pergunta dos fariseus insere-se, provavelmente, na tentativa de encontrar razões para eliminar Jesus.

MENSAGEM

Diante da questão posta pelos fariseus ("pode um homem repudiar a sua mulher?" - vers. 2), Jesus começa por recordar-lhes o estado da questão na perspectiva da Lei ("que vos ordenou Moisés?" - vers. 3). Tal não significa, contudo, que Jesus Se identifique com o posicionamento da Lei a propósito da questão do divórcio.
Efetivamente, a Lei permite o divórcio ("Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio para se repudiar a mulher" - vers. 4); contudo, essa condescendência da Lei não resulta do projeto de Deus para o homem e para a mulher, mas é o resultado da "dureza do coração" dos homens. As prescrições de Moisés não definem o quadro ideal do amor do homem e da mulher, mas apenas regulam o compromisso matrimonial, tendo em conta a mediocridade humana.
Em contraste com a permissividade da Lei, Jesus vai apresentar o projeto primordial de Deus para o amor do homem e da mulher. Citando livremente Gn 1,27 e Gn 2,24, Jesus explica que, no projeto original de Deus, o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher formarão "uma só carne". Ser "uma só carne" implica viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo. A separação será sempre o fracasso do amor; não está prevista no projeto ideal de Deus, pois Deus não considera um amor que não seja total e duradouro. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher.
A perspectiva de Jesus acerca da questão é a seguinte: nessa nova realidade que Deus quer propor ao homem (o Reino de Deus), chegou o momento de abandonar a facilidade, a mesquinhez, as meias-tintas e de apontar para um patamar mais alto. Ora, no que diz respeito ao matrimónio, o patamar mais alto é o projeto inicial de Deus para o homem e para a mulher, que previa um compromisso de amor estável, duradouro, indissolúvel.
Para os discípulos (que anteriormente, em diversas situações, tiveram dificuldade em passar da lógica do mundo para a lógica de Deus), contudo, o discurso de Jesus é difícil de entender; por isso, quando chegam a casa, pedem a Jesus explicações suplementares (vers. 10). Jesus reitera que a relação entre o homem e a mulher se deve enquadrar no projeto inicial de Deus e não nas facilidades concedidas pela Lei de Moisés. A perspectiva de Deus é que marido e mulher, unidos pelo amor, formem uma comunidade de vida estável e indissolúvel. O divórcio não entra nesse projeto. Marido e esposa, em igualdade de circunstâncias, são responsáveis pela edificação da comunidade familiar e por evitar o fracasso do amor (vers. 11-12).
O texto que nos é proposto termina com uma cena em que Jesus acolhe as crianças, defende-as e abençoa-as (vers. 13-16). As crianças são, aqui, uma espécie de contraponto ao orgulho e arrogância com que os fariseus se apresentam a Jesus, bem como à dificuldade que os discípulos revelaram, nas cenas precedentes, para acolher a lógica do Reino... As crianças são simples, transparentes, sem calculismos; não têm prestígio ou privilégios a defender; entregam-se confiadamente nos braços do pai e dele esperam tudo, com amor. Por isso, as crianças são o modelo do discípulo. O Reino de Deus é daqueles que, como as crianças, vivem com sinceridade e verdade, sem se preocuparem com a defesa dos seus interesses egoístas ou dos seus privilégios, acolhendo as propostas de Deus com simplicidade e amor. Quem não é "criança", isto é, quem percorre caminhos tortuosos e calculistas, quem não renuncia ao orgulho e auto-suficiência, quem despreza a lógica de Deus e só conta com a lógica do mundo (também na questão do casamento e do divórcio), quem conduz a própria vida ao sabor de interesses e valores efémeros, quem não aceita questionar os próprios raciocínios e preconceitos, não pode integrar a comunidade do Reino.

ATUALIZAÇÃO

• O Evangelho deste domingo apresenta-nos o projeto ideal de Deus para o homem e para a mulher que se amam: eles são convidados a viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo. O fracasso dessa relação não está previsto nesse projeto ideal de Deus. O amor de um homem e de uma mulher que se comprometem diante de Deus e da sociedade deve ser um amor eterno e indestrutível, que é reflexo desse amor que Deus tem pelos homens. Este projeto de Deus não é uma realidade inatingível e impossível: há muitos casais que, dia a dia, no meio das dificuldades, lutam pelo seu amor e dão testemunho de um amor eterno e que nada consegue abalar.

• As telenovelas, os valores da moda, a opinião pública, têm-se esforçado por apresentar o fracasso do amor como uma realidade normal, banal, que pode acontecer a qualquer instante e que resolve facilmente as dificuldades que duas pessoas têm em partilhar o seu projeto de amor. Para os casais cristãos, o fracasso do amor não é uma normalidade, mas uma situação extrema, uma realidade excepcional. Para os casais cristãos, o divórcio não deve ser um remédio simples e sempre à mão para resolver as pequenas dificuldades que a vida todos os dias apresenta. À partida, o compromisso de amor não deve ser uma realidade efémera, sujeito a projetos egoístas e a planos superficiais, que terminam quando surgem dificuldades ou quando um dos dois é confrontado com outras propostas. Para o casal que quer viver na dinâmica do Reino, a separação não deve ser uma proposta sempre em cima da mesa. Marido e esposa têm que esforçar-se por realizar a sua vocação de amor, apesar das dificuldades, das crises, das divergências e dos problemas que, dia a dia, a vida lhes vai colocando. A Igreja é chamada a ser no mundo, mesmo contra a corrente, testemunha do projeto ideal de Deus.

• Apesar de tudo, a vida dos homens e das mulheres é marcada pela debilidade própria da condição humana. Nem sempre as pessoas, apesar do seu esforço e da sua boa vontade, conseguem ser fiéis aos ideais que Deus propõe. A vida de todos nós está cheia de fracassos, de infidelidades, de falhas. Nessas circunstâncias, a comunidade cristã deve usar de muita compreensão para aqueles que falharam (muitas vezes sem culpa) na vivência do seu projeto de amor. Em nenhuma circunstância as pessoas divorciadas devem ser marginalizadas ou afastadas da vida da comunidade cristã. A comunidade deve, em todos os instantes, acolher, integrar, compreender, ajudar aqueles a quem as circunstâncias da vida impediram de viver o tal projeto ideal de Deus. Não se trata de renunciar ao "ideal" que Deus propõe; trata-se de testemunhar a bondade e a misericórdia de Deus para com todos aqueles a quem a partilha de um projeto comum fez sofrer e que, por diversas razões, não puderam realizar esse ideal que um dia, diante de Deus e da comunidade, se comprometeram a viver.

• As crianças que Jesus nos apresenta no Evangelho deste domingo como modelos do discípulo convidam-nos à simplicidade, à humildade, à sinceridade, ao acolhimento humilde dos dons de Deus. De acordo com as palavras de Jesus, não pode integrar o Reino quem se coloca numa atitude de orgulho, de auto-suficiência, de autoritarismo, de superioridade sobre os irmãos. A dinâmica do Reino exige pessoas dispostas a acolher e a escutar as propostas de Deus e dispostas a servir os irmãos com humildade e simplicidade.

 

Evangelho do dia 02 de outubro sábado 2021

 


02 - SANTOS ANJOS DA GUARDA.
Cada hora que soa é um passo a menos que temos de dar. Coragem! O nosso bom anjo será o nosso guia. (L 42). São Jose Marello



Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 18,1-5.10

 "Naquele momento os discípulos chegaram perto de Jesus e perguntaram:
- Quem é o mais importante no Reino do Céu?
Jesus chamou uma criança, colocou-a na frente deles e disse:
- Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não mudarem de vida e não ficarem iguais às crianças, nunca entrarão no Reino do Céu. A pessoa mais importante no Reino do Céu é aquela que se humilha e fica igual a esta criança. E aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará recebendo a mim.
- Cuidado, não desprezem nenhum destes pequeninos! Eu afirmo a vocês que os anjos deles estão sempre na presença do meu Pai, que está no céu.

Meditação:

 Os discípulos de Jesus que estavam sob a influência da doutrina do judaísmo não conseguiam se libertar da ideologia tradicional do messias glorioso, e viam Jesus como tal.

 Mais de uma vez os evangelistas narram a aspiração deles por serem os maiores ou assumirem posições de poder. Tal postura é comum nas sociedades competitivas e individualistas, onde se busca a ascensão para junto dos poderosos. Jesus tenta de várias maneiras demovê-los de tal compreensão.

Mateus, no capítulo dezoito de seu evangelho, apresenta um conjunto de textos que orientam os discípulos para assumirem disposições e práticas de bom convívio comunitário e eclesial.
O conjunto é introduzido pelo debate dos discípulos sobre quem seria o maior. Removendo a ideologia de poder que os inspira, Jesus apresenta-lhes o modelo a ser seguido: uma criança.

Quem é o mais importante no Reino do Céu? Ante a pergunta do discípulo, em três partes Jesus divide o seu discurso. Primeira: Desmonta as grandezas dos pensamentos dos seus discípulos.

 O Evangelho conclui falando ainda que Deus se agrada mais de um pequenino que é resgatado, do que de 99 que não precisaram ser resgatados. Eis uma boa pista para quem quer agradar a Deus e garantir um bom lugar no Reino dos Céus. Ir ao encontro do irmão, da irmã, do filho, da filha, do marido ou esposa que qual ovelha perdida anda longe do rebanho e até mesmo fora de si mesmo.

Jesus dividiu o seu discurso em três partes bem claras. Primeiramente Ele tira a vontade dos discípulos serem grandes.

 A razão é simples. É que o Reino dos Céus é daqueles que se fazem pequeninos. Assim, todo o atentado contra eles não se deixará impune, ao ofensor. 

 Deus manifesta a grande alegria que sente ao reencontrar um pequenino que estava perdido, um filho que estava morto e que agora ressuscitou, vive. Esta mensagem é para mim e para ti que somos os discípulos de hoje.

Temos de nos mover dos conceitos que formamos sobre nós mesmos criados pelas posições que ocupamos dentro da Igreja, que muitas vezes nos leva a nos considerarmos os melhores de todos e por isso merecedores de um lugar de destaque e consequentemente superiores, para uma posição de igualdade aos pequeninos. Ao invés de valorizarmos o poder, a vaidade, Jesus leva a nos colocarmos à disposição como servidores dos outros.

Portanto, a lição prática que podemos levar conosco para a nossa vida hoje e sempre:

1) A humildade e simplicidade, ingenuidade no pecado e pureza do coração representados pela criança símbolo dos órfãos, excluídos, pobres e marginalizados pela sociedade;

2) A acolhida que se deve dar a estes excluídos condenados à comer o pão que o diabo amassou ou seja acolhida aos pequeninos;

3) Não só acolher mas (e sobretudo) sair em busca dos pequeninos que se perderam e resgatá-los.

Reflexão Apostólica:

 Dizem que quando envelhecemos nos tornamos crianças. De certa forma, sim. Dificuldade de locomoção que nos dificulta tomar um banho, dependência dos outros para quase tudo, fraqueza da memória, acaba a sexualidade, ouvimos, entendemos, e escutamos mal. Em certos aspectos até que parecemos uma criança, mais em outros, nem pensar.

Na inocência, não. Carregamos conosco o peso de todas as nossas aventuras da juventude, o peso dos pecados os quais não nos arrependemos, pelo contrário, até nos vangloriamos quando estamos entre amigos e nos esquecemos que somos cristãos. 

Mas Jesus hoje está nos dizendo que "se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus."

Isso é o mesmo que dizer: Temos que nos tornar humildes, Inocentes, de coração puro sem mágoas e sem rancores, sem desejos de vingança, sem apego aos bens materiais, sem nenhuma maldade para com o próximo, sem pecar contra a castidade, em fim, como uma criança.  Será que vamos conseguir este estado de espírito? Talvez fosse melhor a gente começar agora uma espécie de preparação, de treinamento, de conversão, mesmo porque não sabemos a hora que vamos dessa vida para a última fase da nossa existência. 

Começar neste exato momento a mudar o nosso esquema mental, convencidos de que não somos deste mundo.

Estamos aqui de passagem, somos como que acampados em um lugar qualquer deste mundo, e um dia sem menos esperar, partiremos, sem estar preparados para a outra fase da nossa existência, que é o Reino dos céus.

Vamos por a mão consciência. Cedo ou tarde teremos de enfrentar a realidade da outra vida. E é bom estarmos preparados para ela.

Na verdade não a merecemos. Pela graça de Deus, poderemos estar salvos, e fazer parte das maravilhas eternas. Portanto, vamos fazer de tudo para estar menos indignos de receber o perdão de Deus.

ORAÇÃO
Pai, poupa-me de cair na tentação de querer fazer-me grande aos olhos do mundo, pois a verdadeira grandeza consiste em fazer-me amigo e servidor do meu próximo.

 

EVANGELHO DO DIA 01 DE OUTUBRO SEXTA FEIRA 2021

 


01 outubro - Reze, reze muito. Estes dias são de recolhimento: preparemo-nos em silêncio, esperando o sinal de Deus. (L 25). São Jose Marello

 


Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 10,13-16

 "Jesus continuou:

- Ai de você, cidade de Corazim! Ai de você, cidade de Betsaida! Porque, se os milagres que foram feitos em vocês tivessem sido feitos nas cidades de Tiro e de Sidom, os seus moradores já teriam abandonado os seus pecados há muito tempo. E, para mostrarem que estavam arrependidos, teriam se assentado no chão, vestidos com roupa feita de pano grosseiro, e teriam jogado cinzas na cabeça. No Dia do Juízo, Deus terá mais pena de Tiro e de Sidom do que de vocês, Corazim e Betsaida! E você, cidade de Cafarnaum, acha que vai subir até o céu? Pois será jogada no mundo dos mortos!
Então disse aos discípulos:
- Quem ouve vocês está me ouvindo; quem rejeita vocês está me rejeitando; e quem me rejeita está rejeitando aquele que me enviou.
"
  

Meditação:

 No Evangelho de hoje, Jesus conclui o discurso em que Ele deu as recomendações aos 72 discípulos que iriam preparar a Sua chegada nas cidades que Ele pretendia visitar.

A irritação que Jesus demonstra hoje é com as cidades que não acolheram bem os discípulos de Jesus. Corazim e Betsaida eram cidades em que viviam judeus, ou seja, o povo a quem Jesus deu a prioridade de receber a Boa Nova em primeiro lugar. 

 Este texto, praticamente com as mesmas palavras, está também no evangelho de Mateus. Lucas inseriu-o no fim das orientações para a missão dos setenta e dois discípulos, na Samaria.

Temos aqui um contundente texto de imprecação. É um estilo característico do Antigo Testamento, sendo também encontrado na literatura grega.

 Existe uma profunda ligação dessa passagem com algo que ocorreu com Jonas e os Ninivitas (Jn 3,4-10). Deus, em muitas narrativas do antigo testamento, é apenas mencionado pela dureza da sua justiça aos que preferem o mal; no novo testamento, Jesus esforça-se em apresentar o Deus amoroso e compassivo. O Evangelho de hoje reafirma a presença soberana do Deus justo.

O evangelho de Lucas narra três “ais” de Jesus contra três cidades da Galiléia: Betsaida, Corozaim e Cafarnaum. Jesus constatou que nos lugares onde caberia esperar uma pronta aceitação de sua mensagem, foi onde encontrou maior resistência e dureza de coração; pelo contrário, donde não se esperava nada encontrou maior abertura e aceitação.

 Àquelas três cidades opõe a atitude de Tiro e de Sidônia. Lucas ignora a contraposição que faz Mateus de Cafarnaum com Sodoma (Mt 11, 23).

É a constatação que faz Lucas do efeito produzido pelo Evangelho dentro e fora do povo de Jesus. Lucas está consciente da universalidade da mensagem de Jesus, mas não deixa de fazer notar a obstinação do povo judeu aos desígnios de Deus.

 Nesse mesmo sentido, nossas atitudes não estão muito distantes de se parecerem com as de Betsaida, Corozaim e Cafarnaum.

 Cremos que já sabemos tudo, que não há nada de novo que nos possa tornar melhores, e disso decorre que existem ao nosso redor tantas pessoas, tantas coisas, tantas situações que permanentemente nos estão chamando à mudança, à retificação de nosso modo de ver, sentir, pensar, e nós nem nos damos conta disso.

E o que acontece no plano pastoral também acontece no institucional. Não podemos deixar de reconhecer que pertencemos a instituições que na maior parte do tempo estão fechadas à ação sempre nova do Espírito; fechamento que se traduz no apego a posições tomadas para guardar o status quo, posições dogmáticas que empobrecem cada vez mais as possibilidades de enriquecimento da mensagem, quase com desprezo pelo novo, como se houvesse autoridade para deter as novas ações do Espírito.

 Há quem se creia possuidor de uma dada verdade, fora da qual ninguém tem nada que dizer, nem acrescentar, contribuir proporcionar.

Essa foi a realidade que Jesus enfrentou e constatou também o primeiro grupo de discípulos e discípulas; Paulo a experimentou em sua própria carne e é a mesma situação que vivemos ainda hoje entre nós.

 Seremos premiados por ter guardado zelosamente algumas verdades de que o tempo e a realidade cotidiana vão exigindo reformulações, adaptações na linha da fidelidade ao Espírito? Muito provavelmente não, talvez sejamos julgados, isso sim, por não nos termos aventurado a deixar agir mais o Espírito.

 Jesus declara a íntima relação entre ele e seu Pai que o enviou. Não é possível admitir que Deus seja grande, maravilhoso, misericordioso, e tudo o mais que queiramos, e deixar de lado a proposta de Jesus.

 Rechaçar, com a sutileza que o fazemos, qualquer aspecto do Evangelho é rejeitar Jesus, e rejeitar a ele é repelir o Pai que o enviou.

 Talvez seja difícil escutar entre nós uma rejeição verbal contra Jesus, mas o que de fato vemos com toda a clareza é a repulsa prática, o deixar de lado por mil justificativas os aspectos mais comprometedores e de maior exigência do Evangelho.

 Infelizmente, nós passamos a vida teorizando, inventando planos e projetos de evangelização que muitas vezes ficam somente em mera teoria; não é esta uma das muitas maneiras de deixar escapar o próprio Evangelho e por onde se vai Jesus, ou por outras palavras, um modo de rejeitá-lo?

Como vimos. Jesus dá o veredicto negativo de toda uma cidade pelo mau acolhimento que alguns deram aos seus discípulos. Talvez houvessem, naquelas cidades, pessoas que acolheriam bem os discípulos...

 Pela falta de hospitalidade e acolhimento de alguns, todos pagaram! Jesus sabia que a brutalidade e arrogância dos maus gritam mais alto que a boa vontade e acolhimento dos bons... como aconteceu em Jerusalém, durante a Sexta-Feira Santa.

 A mensagem de hoje vai para os formadores de opinião pública! Vocês têm um grande poder e uma enorme responsabilidade nas mãos! Usem da sua influência para tornar as pessoas melhores: mais acolhedoras, mais educadas, mais hospitaleiras... mais humanas!...

 Quando os discípulos de Jesus chegarem na nossa cidade, que eles encontrem boa acolhida, para que não entremos todos na lista onde está Corazim, Betsaida, Cafarnaum...

 Reflexão Apostólica:

 Quando acontecem as fatalidades do dia-a-dia clamamos ardentemente pela justiça divina, mas quando somos nós os grandes opressores, pedimos a Sua misericórdia.

 Deus nunca, nem no novo e nem no antigo testamento deixou de olhar com justiça sendo assim compreensível a idéia que realmente precisamos TAMBÉM mudar.

 Às vezes pensamos: Será que somente rezar é suficiente? Trazer essa reflexão é importante, pois nos trás de volta ao compromisso que temos com a minha própria salvação e com a dos que me cercam sendo assim, inconcebível a idéia de salvação sem a cruz.

O mais engraçado é que todos sabem o que é certo e o que é errado, mas por que então não fazemos somente o correto?

 Passamos boa parte de o nosso tempo a justificar, para nós mesmos e para os outros, os atos e gestos (erros) que  desde o começo sabíamos que não era para serem feitos.

Sabemos que é errado, mas não conseguimos deixar de fazer “(…) Ai de você, cidade de Corazim! Ai de você, cidade de Betsaida! Porque, se os milagres que foram feitos em vocês tivessem sido feitos nas cidades de Tiro e de Sidom, os seus moradores já teriam abandonado os seus pecados há muito tempo.”.

Iniciamos amanhã o mês missionário  e com ele a reflexão que precisamos antes de tudo começar pela conversão daquele (a) que vemos no espelho todos os dias. Talvez se conseguirmos convertê-lo (a) ou pelo menos fazê-lo (a) cair menos vezes, conseguiremos ter um mundo melhor.

Precisamos muito que isso aconteça, pois Deus é Justo e também será justo com nossa luta em buscarmos sermos alguém melhor do que já somos hoje.

 Uma possível conclusão: Se sei o que é errado e tenho convicção disso devo começar minha caminhada de dentro pra fora. Sendo assim

 Propósito:

Pai, move-me à conversão e à penitência diante do testemunho de Jesus, de modo que eu não incorra em castigo por minha incapacidade de reconhecer o apelo da salvação.

domingo, 26 de setembro de 2021

Evangelho do dia 30 de setembro quinta feira 2021 - São Jeronimo



 30 setembro - Tudo sempre para a maior glória de Deus Nosso Senhor. (L 18)  São Jose Marello



 Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 10,1-12

 "Depois disso o Senhor escolheu mais setenta e dois dos seus seguidores e os enviou de dois em dois a fim de que fossem adiante dele para cada cidade e lugar aonde ele tinha de ir. Antes de os enviar, ele disse:
- A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao dono da plantação que mande trabalhadores para fazerem a colheita. Vão! Eu estou mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos. Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias. E não parem no caminho para cumprimentar ninguém. Quando entrarem numa casa, façam primeiro esta saudação: "Que a paz esteja nesta casa!" Se um homem de paz morar ali, deixem a saudação com ele; mas, se o homem não for de paz, retirem a saudação. Fiquem na mesma casa e comam e bebam o que lhes oferecerem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de uma casa para outra.
- Quando entrarem numa cidade e forem bem recebidos, comam a comida que derem a vocês. Curem os doentes daquela cidade e digam ao povo dali: "O Reino de Deus chegou até vocês." Porém, quando entrarem numa cidade e não forem bem recebidos, vão pelas ruas, dizendo: "Até a poeira desta cidade que grudou nos nossos pés nós sacudimos contra vocês! Mas lembrem disto: o Reino de Deus chegou até vocês."
E Jesus disse mais isto:
- Eu afirmo a vocês que, no Dia do Juízo, Deus terá mais pena de Sodoma do que daquela cidade!

Meditação: 

 Com este texto, Lucas desenvolve um pouco mais as instruções para os missionários que já foram apresentadas no envio dos doze (Lc 9,1-6).

 Agora se trata do envio dos setenta e dois em missão nos territórios dos gentios. Está aumentando o número de trabalhadores para a colheita. Lucas é o único a mencionar este envio dos setenta e dois.

 Como Lucas tem uma perspectiva universalista, percebe-se que ele quer registrar a abrangência maior do movimento de Jesus, não restrito ao universo do judaísmo.

 Lucas narra que Jesus envia um novo grupo: o dos 72 discípulos. Eles são enviados “na frente” do Senhor, como precursores, como preparadores da chegada do reino de Deus.
O número 72 é simbólico e indica a universalidade da missão: o número 72 é múltiplo de 12 para representar a totalidade do povo de Deus.

A missão, portanto, não é uma tarefa somente de alguns, do grupo dos doze, mas uma obra também dos leigos, ou seja, de todos os cristãos. Assim, a missão é universal desde a sua origem e compreende todos.

O texto especifica que Jesus envia “dois a dois”, pois o anúncio do Evangelho não é uma tarefa pessoal, mas de uma comunidade.

O fato de serem enviados de dois a dois também quer mostrar a credibilidade do testemunho, além do fato do encorajamento que um pode dar ao outro no caso de desânimo diante das dificuldades.

Jesus, depois de ter falado em semente e em arado, fala agora de colheita. Esta última, por sua vez, é imensa, mas os trabalhadores disponíveis são poucos.

Ontem e hoje vivemos a mesma situação! É um trabalho gigantesco, e nunca haverá trabalhadores suficientes; só o Pai pode chamá-los e enviá-los.

É necessário rezar a Ele, pedindo que chame mais pessoas. É justamente por causa da extensão da missão que Jesus chama mais este grupo de ajudantes, e, mesmo assim, são poucos diante da imensidão da missão que Ele tem pela frente e da qual nos torna participantes.

Jesus faz o envio: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. É a imagem clássica da fraqueza diante da violência. A missão é uma obra difícil e perigosa.

Aqueles que Ele enviou devem cumprir fielmente o seu trabalho, mas não devem exigir demasiado de si mesmos nem entrar em pânico diante da grandeza da missão. Devem, sim, ter consciência que não será uma tarefa fácil e que nem sempre serão recebidos de braços abertos. Devem fazer sua parte, com competência e perseverança, pois, em último caso, a responsabilidade é de Deus, e Ele não vai deixar cair em ruínas a sua messe, mandando trabalhadores necessários para isto.

A mensagem a ser levada é o dom da paz, no sentido mais completo, para as pessoas e às famílias, e, sobretudo, a mensagem de que “o Reino de Deus está próximo de vós”. O reino de Deus é, antes de tudo, uma pessoa: Jesus. Quem O acolhe encontra a vida, a alegria, a missão de anunciá-Lo.

O gesto de bater, sacudir a poeira dos pés, era um gesto simbólico dos israelitas que, ao ingressar de novo no próprio país, depois de terem estado em terra pagã, não queriam ter nada em comum com o modo de vida deles. Libertar-se da poeira que se grudou aos pés enquanto estavam em território pagão significava ruptura total com aquele sistema de vida.

Fazendo isso, os discípulos transferem toda  a responsabilidade pela rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e rejeitaram o anúncio do Evangelho. E a paz oferecida não se perde, mas volta a quem oferece.

O estilo da missão de Jesus e dos discípulos é o oposto daquele dos poderosos que o mundo de hoje idolatra. Não se baseia sobre a vontade de dominar, a arrogância ou a ambição, mas sobre a proposta humilde, respeitosa, atenta aos mais fracos, oferecida na gratuidade, sem buscar outras recompensas.

O Evangelho de Jesus é uma mensagem de vida verdadeira para quem confia somente em Deus, que é Pai e também Mãe: “como uma mãe que acaricia o filho, assim eu vos consolarei” e em Cristo crucificado e ressuscitado.

Os 72 tinham uma tarefa nova e difícil. Mas, estes voltam para Jesus muito contentes porque ficaram impressionados pelos prodígios que puderam ver. Jesus freia um pouco esta alegria e diz: “antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”.

Como podemos, nós, discípulos de Jesus, seguir nossa missão em meio aos lobos do tempo atual? A missão é mais forte do que o medo. Às vezes, somos tomados por pensamentos negativos, tipo “o que vão pensar?” ou “o que vão dizer?”. É humano sentir medo, mas a missão deve superar os nossos temores.

Nenhum profissional tem medo de falar de sua profissão. Então, por que deveríamos, nós cristãos, ter medo de falar de Cristo, da sua pessoa, da sua verdade, da sua vida, do seu amor, do seu mistério?

 A fé e a missão começam no coração e devem terminar nos lábios e nas ações. Não podemos deixar que o receio atrapalhe a nossa missão cristã.

Reflexão Apostólica:

 Vamos abordar três pontos…

 Muitas pessoas associam esse evangelho a diferenças religiosas. Imaginam aquele irmão que passa de porta em porta a anunciar sua fé e se mal recebido declara aos ventos que nem a poeira das sandálias ficará. Se certo ou errado aquela pessoa queria apenas dizer que “(…) O Reino de Deus chegou até vocês”.

 Mesmo nos batendo à porta nos horários mais inconvenientes, bastaria para nós dizer: “Sim irmão, ele já chegou! Vá em paz”! Como é que normalmente respondemos? Não estou aqui dizendo que devemos ouvir e acatar tudo falam ou nos entregam nas portas, nas ruas, nas praças, mas pelo menos não sermos mal educados com quem leva uma mensagem positiva de casa em casa. Filtremos bem os proselitistas!

Outro ponto…

 Os judeus possuíam muitos rituais particulares, hoje talvez déssemos o nome de costume, hábitos, crendices, (…). Era, portanto um ritual particular, onde todos ao saíssem da sua região para outra sendo esta pagã ou descrente, ao retornarem não trouxessem (simbolicamente) nada daquele lugar onde não aceitavam a Deus. O gesto era sacudir as sandálias como que dissessem: “não trago nem o pó dessa terra”!

 A sabedoria do povo judeu não se limitava a costumes. Talvez dissessem hoje: “QUANDO VOLTAR PARA CASA, À NOITE, VINDO DO TRABALHO, NÃO DESCONTE SEU CANSAÇO E SUAS INSATISFAÇÕES NA SUA FAMÍLIA”!

 A nossa vida nem sempre é aquela que sonhamos ou idealizamos. Ela é cheia de altos e baixos, coisas boas e não tão boas. Padre Léo dizia que temos a grata mania de olhar NOSSOS problemas com lentes de aumento, os tornado assim maiores do que são. Passamos, talvez inconscientemente, a responder a insatisfação ou a frustração com desamor, rancor, ranzinzes, (…). Essa poeira não deve voltar para casa!

 Um terceiro ponto…

 Pensem num homem que tinha tamanha inteligência que preferiu viver no isolamento por acha difícil que as pessoas pudessem conviver com ele. Herdou com a morte do pai uma boa fortuna que transformou em estudo. Ficou responsável pela tradução da Bíblia para o Latim que quando concluída fora chamada de Vulgata.

 Suas palavras e reflexões duras não “perdoavam” nem mesmo santo Agostinho, doutor da igreja, mas se resignava a reconhecer que fazia isso pelo bem da igreja, e por isso preferia ficar longe a magoar. Mesmo tão contundente em suas afirmações preferiu o silencio.

 O seu “eu” impetuoso se rendia ao amor de Jesus. Essa situação casa-se bem com uma frase de Santa Terezinha:  “(…) No lugar do medo do “Deus duro e vingador”, ela coloca o amor puro e total a Jesus como um fim em si mesmo para toda a existência eterna”.

 Duro ter a convicção de estar certo e ter que se refugiar no Senhor.

Católicos ou evangélicos (mesmo sem aceitar isso) agradecem a são Jerônimo por seu investimento, seu tempo, disposição e sabedoria em traduzir a Bíblia para que mais que 72 pudessem ir de porta em porta, de casa em casa e dizer: “Que a paz esteja nesta casa!
 

Propósito: Estar sempre pronto para o serviço do Reino, em que pesem todas as dificuldades. "Nada é difícil para quem ama". (São Bernardo de Claraval).