terça-feira, 8 de outubro de 2024

EVANGELHO DO DIA 13 OUTUBRO 2024 - 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

13/10 – Alexandrina Maria Balazar

 No dia 30 de março de 1904, nasceu Alexandrina Maria da Costa na pequena cidade de Balazar, em Póvoa de Varzim, Braga, Portugal. De família camponesa muito pobre, tinha apenas uma irmã mais velha, chamada Deolinda. Ambas foram educadas com amor pela mãe, Ana Maria e dentro da doutrina cristã.

Alexandrina cresceu forte, inteligente, alegre e vivaz, teve uma infância feliz dentro da sua realidade. Em 1911, recebeu a primeira eucaristia e, como em Balazar não havia escola, foi com a irmã Deolinda estudar em Póvoa de Varzim. Não chegaram a completar o estudo primário, um ano e meio depois estavam de volta. Nessa ocasião, as duas irmãs receberam a crisma pelo bispo do Porto, depois foram para um local chamado “Calvário”, onde se fixaram.

Elas viviam felizes, trabalhavam nos campos e se dedicavam à costura. Eram estimadas e queridas pelas famílias e colegas. Aos doze anos, porém, Alexandrina quase morreu por uma grave infecção. A doença foi superada, mas a sua saúde ficou abalada.

Em 1918, Alexandrina e sua irmã Deolinda e mais uma amiga aprendiz estavam na sala de costura, situada no piso superior da casa, quando três homens invadiram o local para molestá-las sexualmente. Alexandrina, para salvar a sua pureza, atirou-se pela janela, de uma altura de quatro metros. Assustados, os homens fugiram sem concluir suas intenções. Mas as conseqüências foram terríveis, embora não imediatas.

Alexandrina sofreu dores terríveis num processo longo, gradual e irreversível que a deixou paralítica. A partir do dia 14 de abril de 1925, Alexandrina nunca mais levantou da cama. Assim, paralisada, passou trinta anos de sua vida, embora nos três anos seguintes ela ainda pedisse a Deus, por intercessão de Nossa Senhora, a graça da cura. Depois entendeu que a sua vocação era o sofrimento. Desde então teve uma vida repleta de fenômenos místicos, de grande união com Cristo nos tabernáculos, por meio de Nossa Senhora.

Quanto mais clara se tornava a sua vocação de vítima, mais crescia nela o amor ao sofrimento. Atingiu tal grau de espiritualidade que às sextas-feiras vivia os sofrimentos da Paixão de Cristo. Nesses dias, superando o estado habitual de paralisia, descia da cama e, com movimentos e gestos, acompanhados de angustiantes dores, repetia, por três horas e meia, os diversos momentos da “via crucis”.

Desde 1934, orientada espiritualmente por um padre jesuíta, passou a escrever tudo quanto lhe dizia Jesus durante seus êxtases contemplativos. Em 1936, segundo ela por ordem de Jesus, pediu ao Papa a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. O pedido foi renovado várias vezes até 1941, quando, então, Alexandrina parou de escrever ao Papa e também seu diário. A partir de 27 de março de 1942, deixou de alimentar-se, vivendo exclusivamente da Sagrada Eucaristia. No ano seguinte, passou a ser estudada por uma junta médica.

Em 1944, seu novo diretor espiritual, um padre salesiano, após constatar a profundidade espiritual a que tinha chegado, animou Alexandrina a voltar a ditar o seu diário; o que ela fez até a morte. No mesmo ano ela se inscreveu na União dos Cooperadores Salesianos, querendo colaborar com o seu sofrimento e as suas orações para a salvação das almas, sobretudo os jovens. Atraídas pela fama de santidade, muitas pessoas vindas de longe buscavam os conselhos da “rosa branca de Jesus”, como era também chamada pelos fiéis, que já veneravam em vida a “santinha de Balazar”.

No dia 13 de outubro de 1955, Alexandrina morreu dizendo: “Sou feliz porque vou para o céu”. A 25 de abril de 2004 foi proclamada Bem-aventurada pelo papa João Paulo II, que a propôs como modelo dos que sofrem.

 Beata Alexandrina, rogai por nós!

 


 XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM –

Evangelho - Marcos 10,17-30

Naquele tempo: Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele, e perguntou:

'Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?'

Jesus disse: 'Por que me chamas de bom?'

Só Deus é bom, e mais ninguém.

Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém;

honra teu pai e tua mãe!'

Ele respondeu: 'Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude'.

Jesus olhou para ele com amor, e disse:

'Só uma coisa te falta:

vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres,

e terás um tesouro no céu.

Depois vem e segue-me!'

Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico.

Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos:

'Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!'

Os discípulos se admiravam com estas palavras,

mas ele disse de novo:

'Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus!

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha

do que um rico entrar no Reino de Deus!'

Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso,

e perguntavam uns aos outros:

'Então, quem pode ser salvo?'

Jesus olhou para eles e disse:

'Para os homens isso é impossível, mas não para Deus.

Para Deus tudo é possível'.

Pedro então começou a dizer-lhe:

'Eis que nós deixamos tudo e te seguimos'.

Respondeu Jesus:

'Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa,

irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida

- casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos,

com perseguições - e, no mundo futuro, a vida eterna.

Palavra da Salvação.

 Neste vigésimo oitavo domingo do tempo comum, continuamos a leitura do décimo capítulo do Evangelho segundo Marcos. O texto proposto pela liturgia – Marcos 10,17-30 – compreende mais uma etapa do caminho empreendido por Jesus e seus discípulos rumo à cidade de Jerusalém, que culminará com os eventos da sua paixão, morte e ressurreição. Esse caminho é muito mais teológico do que geográfico; é o aprofundamento da catequese e da formação dos discípulos. Por isso, nele, Jesus é interrompido diversas vezes, por várias categorias de interlocutores, que lhe fazem perguntas relevantes sobre a natureza e as condições para o discipulado, e sobre as características do Reino de Deus e os critérios para desse fazer parte. Jesus é questionado, tanto por personagens externos quanto pelos discípulos.

 A extensão do Evangelho de hoje – treze versículos – dificulta uma análise versículo por versículo; por isso, buscaremos a mensagem principal do texto em seu conjunto, destacando apenas alguns versículos em particular. No domingo passado, Jesus tinha sido interrompido por alguns fariseus, que lhe interrogaram sobre a legitimidade do divórcio (cf. Mc 10,2-16); após respondê-los, Jesus aprofundou o ensinamento para os discípulos, em casa, que também lhe fizeram perguntas sobre tal tema. No texto de hoje, embora o tema seja diferente, o esquema é o mesmo: Jesus é questionado por um personagem externo, com quem interage e, em seguida, pelos próprios discípulos. É um texto comum aos três evangélicos sinóticos (cf. Mt ; Mc ; Lc ), sendo que a versão de Marcos é a mais rica, embora a de Mateus tenha se tornado mais conhecida.

O texto inicia afirmando que “Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (v. 17). Após uma pausa, o caminho foi retomado. É importante recordar que a estrada (ou o caminho) é um espaço privilegiado para o ensinamento, em uma comunidade itinerante como a de Jesus e seus discípulos. Além de expressar a carência de estruturas fixas, expressa também o aspecto dinâmico, aberto e missionário da comunidade. No caminho, Jesus e a comunidade estão expostos, qualquer pessoa pode interagir e questionar, como fez “alguém” que, veio correndo ao seu encontro ajoelhou-se diante dele. Esse personagem é totalmente desconhecido, anônimo. O texto revela se tratar de alguém muito necessitado de sentido para a vida e, de certo modo, reconhecedor de que Jesus é fonte de sentido. Essa necessidade e reconhecimento se expressam no seu gesto: ajoelhou-se diante de Jesus. Até então, somente um personagem tinha se ajoelhado aos pés de Jesus: um leproso, ao suplicar-lhe a cura (cf. Mc 1,40). Com isso, insinua o evangelista que a riqueza em excesso pode ser um mal tão grave quanto a pior das enfermidades, a lepra. A pergunta feita pelo homem, deixa claro que ele sentia necessidade de algo; ainda não era alguém realizado. A vida eterna, aqui, mais do que uma vida pós-morte, significa o sentido desta vida terrena. Quem encontra sentido para a vida aqui, eterniza a sua existência: essa vida se torna indestrutível, mesmo com a morte.

Conhecedor do Pai, Jesus responde que somente Ele é bom, e mais ninguém (cf. v. 18). Jesus não se deixa levar por elogios, e recorda o que era exigido pelo judaísmo para viver bem: “Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe” (v. 19). Para o judeu, o sentido da vida consistia na observância da lei. Jesus e o evangelista mostram que essa visão está superada; já não basta observar e cumprir os mandamentos, mas é necessário algo a mais. No entanto, é importante observar quais os mandamentos que Jesus recorda: aqueles que dizem respeito ao modo de relacionar-se com o próximo. O primeiro mandamento – amar a Deus sobre todas as coisas – nem sequer é mencionado por Jesus, porque ele compreende que se não há respeito à dignidade do próximo e o reconhecimento dos direitos humanos, o amor e o culto a Deus são falsos, não passa de demagogia. Não há culto agradável a Deus se o ser humano não é respeitado em sua condição e dignidade. O amor a Deus é incompatível com o ódio e com a violência para com o próximo.

 Com a resposta do homem a Jesus – “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude” (v. 20) – percebemos tratar-se já de uma pessoa madura, e não mais de um jovem, como aparece na versão de Mateus. Portanto, para as versões de Marcos e de Lucas é incorreto chamar o episódio do “jovem rico”. É importante observar a atitude de Jesus e a sua proposta: “Jesus olhou para ele com amor, e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (v. 21). Essa é a única vez que o Evangelho segundo Marcos afirma que Jesus amou uma pessoa em particular. É claro que Ele ama sempre, mas somente aqui o evangelista enfatizou; e amou olhando-o profundamente, olho no olho. O amor gera relações fraternas e sinceras. É amando que Jesus revela a incompletude do ser humano, ao dizer que faltava algo, uma coisa que, na verdade, era tudo: livrar-se do seu mal – equivalente à uma lepra – vender, dar aos pobres e segui-lo. Dizer “uma só coisa te falta”, é dizer que não falta uma coisa a mais, mas falta o que é essencial. A lógica do Reino contraria à lógica humana: o homem foi a Jesus para pedir, para ter, Jesus diz que ele deve dar; foi pedir sentido para a vida, Jesus pede para livrar-se do que estava lhe tirando esse sentido: a riqueza, a posse dos bens e o apego a esses. Isso mostra a insuficiência e o superamento da ética dos mandamentos.

Como era muito rico, a reação do homem foi de tristeza, saiu abatido (cf. v. 22), porque não estava preparado para assimilar a lógica do Reino. Do confronto com um personagem externo, Jesus se volta para o interno da comunidade (cf. v. 23), ou seja, para os discípulos que também necessitavam assimilar, ainda mais, a lógica do Reino: “Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: ‘Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus!’” (v. 24). Da admiração dos discípulos, Jesus se aproveita para aprofundar a catequese. A insistência sobre um mesmo argumento, revela a sua importância. Entrar no Reino de Deus é difícil, realmente, porque não há como critérios méritos pessoais, mas uma adesão incondicional; é mais difícil para os ricos (v. 23), mas também não é fácil para ninguém (v. 24). Também os discípulos, ao longo do caminho, mostravam dificuldades em aderir plenamente, à medida em que alimentavam expectativas de poder e praticavam atos que distorciam o que Jesus lhes ensinava: praticavam proselitismo (cf. Mc 9,38-40), alimentavam rivalidades entre si (cf. Mc 9,33-37), impediam as crianças de se aproximarem de Jesus (cf. Mc 10,13-16), desejavam sucesso (cf. Mc 10,35-40), etc.

Com um provérbio hiperbólico, Jesus enfatiza a dificuldade para os ricos assimilarem a lógica do Reino: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” (v. 25). Muitas tentativas de explicação já surgiram para suavizar a dureza dessa afirmação: algumas afirmavam que o “camelo”, aqui, é um tipo de corda grossa, outras que o “buraco da agulha” era uma porta estreita num muro de Jerusalém. Aceitar e alimentar tais interpretações é ignorar a radicalidade do Evangelho. Se trata de uma hipérbole, algo bem característico de Jesus e do evangelista Marcos. O camelo é mesmo o animal, e o buraco é de uma agulha normal. É claro que, com uma afirmação dessa, os discípulos ficaram ainda mais perplexos (cf. v. 26). Por isso, Jesus os tranquiliza, dizendo: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (v. 27). De fato, a história da salvação é marcada por diversos acontecimentos impossíveis, aparentemente, que se tornaram possíveis com a graça de Deus: a gravidez de Sara, já estéril (cf. Gn 18,14), a gravidez de Isabel, também estéril (cf. Lc 1,37) e de Maria, virgem (cf. Lc 1,37). A dificuldade da salvação para os ricos consiste na dificuldade que esses tem de assimilar a lógica do Reino, abrindo mão do que possuem e distribuindo aos mais necessitados; isso é difícil sim, mas não impossível.

Mais uma vez, Pedro fala em nome do grupo, inquieto com as exigências do Reino e com as renúncias que já tinha feito: “Pedro então começou a dizer-lhe: ‘Eis que nós deixamos tudo e te seguimos’” (v. 28). Parece oportunismo dos discípulos, expresso nas palavras de Pedro. Jesus sabia e conhecia o que eles já tinham deixado. Porém, responde de modo solene, afim de encorajá-los a continuar no seguimento: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no futuro, a vida eterna” (vv. 29-30). À medida em que as exigências aumentavam, havia na comunidade uma tendência ao desânimo e, até, à desistência. Jesus não promete prêmios, nem recompensa, mas garante sentido para a existência. Não obstante as perseguições, para os seguidores e seguidoras de Jesus é assegurada uma vida fraterna, uma vida comunitária real, desde que aceitem a lógica do Reino, com as renúncias devidas. Aqui, Jesus faz um convite à confiança na providência: quem deixa tudo por causa do Evangelho, não sente falta de nada. Por isso, Ele repete as mesmas coisas que devem ser deixadas como as mesmas que são conquistadas.

Para quem entrar na dinâmica do Reino, tudo é ressignificado. “Casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos”, como recompensa, não são posses, mas sinais de uma comunidade unida e perseverante, e frutos da partilha. É um ideal de vida que renasce. A comunidade que vive, de fato, o espírito da partilha, tem tudo o que é necessário, sem supérfluos, e se sustenta em relações fraternas. Porém, só recebe quem, antes, dá, quem deixa para trás o que tem e se aventura na dinâmica do Reino para herdar, com perseguição, o que dá sentido à vida. Quem aceita essa dinâmica, tem a sua vida eternizada.

 


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