08/10 – São Luis Beltran
Luis Beltran nasceu em Valência (Espanha) em 1526, e foi o
tipo de jovem aventureiro, aberto aos desafios. Obediente a voz do Senhor,
venceu a oposição do pai e ingressou na Ordem Dominicana para ser sacerdote.
Com apenas 23 anos quando recebeu a ordenação sacerdotal, assumiu a importante
função de mestre dos noviços, até que decidiu aventurar-se na evangelização. Na
Colômbia, Luis Beltran muito se ocupou com a salvação das almas, sem descuidar
de profetizar e denunciar as injustiças cometidas contra os indígenas e posteriormente
contra os negros escravos.
O preço da conversão de milhares de indígenas espalhados por toda
Colômbia foi o sofrimento promovido por exploradores espanhóis. Por duas vezes
procuraram envenená-lo e em outras quatro ocasiões o assaltaram ameaçando-o de
morte. São Luis não se deixou amedrontar e só voltou para a Espanha pela
obediência aos superiores e com a intenção de melhor recrutar e formar
apóstolos para a evangelização da América.
Assumiu cargos de direção na Ordem Dominicana, exerceu com grande
eficácia o ministério da pregação, chegando a operar inúmeras conversões e
alcançar milagres. No ano de 1569 São Luis, já na Espanha como formador de
futuros missionários, pôde partilhar com palavras o que viveu nas inúmeras
missões. Ensinava que a arma mais eficaz na conversão das almas é uma intensa
vida de oração e de muito sacrifício, e que a pregação necessita de ser
acompanhada pelas boas obras, caso contrário, o mau exemplo destruiria de
maneira fatal a proclamação da Boa Nova.
São Luis Beltran faleceu em Valência no ano de 1581, com 56 anos
de idade. A tal ponto enriqueceu o povo e a Igreja com sua vivência missionária
que o próprio pai, antes de morrer, declarou-lhe: “Meu filho, uma das
coisas que mais me afligiu na vida foi ver-te frade, mas hoje, o que me consola
é saber-te frade!”
São Luis Beltran, rogai por nós!
Lucas 10,38-42
- O senhor não se importa que a minha irmã me deixe
sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me ajudar.
Aí o Senhor respondeu:
- Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas
coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta
ninguém vai tomar dela."
Meditação:
Paulo
se dirige aos fiéis da Galácia (Gl 1,13-24) para fazer uma espécie de
apologia pessoal. A atitude dos gálatas provocou no apóstolo a necessidade de
lhes esclarecer o seguinte:
Primeiro,
que todo judeu era zeloso de sua religião e das tradições de seus pais, mas
intolerante com todo aquele que tentasse sequer desfazer-se daquelas tradições
até o extremo de persegui-los.
Chamado,
contudo, por aquele mesmo a quem perseguia fora enviado a pregar o Evangelho da
graça, primeiro a seus correligionários e logo aos gentios. Paulo esclarece que
ao ter recebido diretamente a revelação de Jesus Cristo não considerou
necessária a autoridade dos outros apóstolos para dar início a seu trabalho
evangelizador.
Somente
depois de três anos sobe a Jerusalém para conhecer a Cefas com quem permaneceu
por quinze dias. Para Paulo, a autoridade de seu Evangelho e de sua missão
estava, pois no mesmo Jesus que teve por bem chamá-lo pessoalmente.
O
Evangelho nos apresenta a conhecida cena de Marta e Maria que recebem a visita
de Jesus durante sua ida a Jerusalém. Qual poderia ser a intenção de Lucas
quando nos apresenta este quadro? Poderíamos propor várias possíveis intenções.
Para
Lucas, Jesus é o homem livre e libertador. Um homem comum daquela época não
teria entrado na casa dessas mulheres a não ser que estivesse em companhia de
um homem. É que não era comum que a mulher recebesse a visita de um varão.
Quando
um amigo chegava de visita, o varão da casa o recebia enquanto que a mulher
desaparecia, a fim de ir para a cozinha preparar algo para que seu marido, não
ela, oferecesse a seu amigo. Marta e Maria – no relato – estão sozinhas e não
obstante recebem a visita de Jesus. É o primeiro elemento “anormal” que Lucas
apresenta para traçar outra feição da atitude livre e libertadora do Mestre.
Em
casa, Maria assume o papel que concretamente era desempenhado pelo homem:
receber o visitante. Maria descobre facilmente que aquela visita não é comum,
que o hóspede à sua frente vai modificando e até, se se quiser, passando por
cima de uma série de coisas que até então eram obstáculo para a vivência da
verdadeira liberdade interior (e isso não lhe será tirado).
O
alcance de Jesus com aquela visita era fazer que Maria que, como mulher, não
devia ficar na “sala de recepção” e menos ainda, permanecer aos pés de um
mestre (!) desse-lhe atenção e o escutasse, deixando para trás preconceitos e
práticas sociais que somente conseguiam manter a distância entre homens e
mulheres com o agravante de manter a mulher sempre reduzida à mínima expressão.
Com
Jesus, o Evangelho começa pelo mais humilde, pelo mais marginalizado, mas isso
não é compreendido por todos. Marta não consegue entender as coisas desse modo;
para ela, a novidade do reino, a verdade que Jesus vai propagando ao longo de
seu caminho ainda não ganhou forma em sua vida, talvez Jesus lhe cause muito
boa impressão, fale muito bonito, relacione-se com todo mundo, a ponto de
visitá-las em sua casa, mas nada mais além disso.
As
coisas continuam iguais para ela, seu papel de mulher conhecedora do que tem de
fazer quando há hospede em casa, não muda. Não pode entender o que acontece com
Maria. Seu apego ao que é mandado, ao que está estabelecido não lhe permite
ver, e menos ainda experimentar, a novidade do reino trazida por Jesus que se
deu ao trabalho de a levar até sua própria casa.
Razão
de sobra tem para reclamar com sua irmã, apelando para a autoridade do amigo
Jesus. O desassossego de Marta é bem disfarçado com a desculpa dos afazeres
domésticos da casa. Não são, porém, os cuidados domésticos, é puro dissabor.
Marta não percebe que o reino do amor, da liberdade e da libertação é também
para ela. Uma vez que se descobre esta experiência da chegada do reino ao plano
pessoal, o resto é o resto. Assim o entendeu Maria e isso não lhe seria
“tirado”.
Na
prática, a resposta de Jesus a Marta é esta: “trata de quebrar tantas barreiras
para que possas experimentar a mesma alegria, o mesmo sentimento de Maria”.
Esse
mesmo convite vale também para nós. Talvez o ritmo e o estilo de nossa vida, o
que está determinado, não nos permita descobrir a novidade do reino que está
diante de nossos olhos, está em nossa própria casa, mas nos dá medo experimentar.
Jesus,
que vai subindo para Jerusalém, detectou, ao longo de seu ministério na
Galiléia e pelo caminho, estas duas atitudes: captação da novidade do reino e
“abandono”, relativização em tudo mais. Resistência, não tanto rejeição, mas
resistência. Lucas condensa esta constatação no relato da visita a Marta e
Maria.
Reflexão
Apostólica:
Esta narrativa foi tardiamente interpretada na Igreja
como se a opção pela vida contemplativa fosse melhor do que a vida ativa.
Com certeza, se consideramos superficialmente e fora do
contexto algumas ações aqui narradas, podem-nos parecer injustas como, por
exemplo, a atitude de Maria que não ajuda Marta nas tarefas domésticas. Mas se
olharmos para além do ato mesmo e nos perguntarmos pelos motivos que levaram
Maria a subtrair-se dos afazeres de casa, entenderemos que não é por preguiça,
mesquinhez ou falta de solidariedade.
Ela deseja ocupar-se com algo de suma importância,
aproveitar uma ocasião única, levando-se ainda em conta sua condição feminina:
“ouvir os ensinamentos de Jesus”.
O que poderia ter maior importância que aprender as
palavras de Jesus de seus próprios lábios, aprofundar seu significado,
encontrar-se entre os privilegiados que podiam ouvi-lo diretamente, entre
aqueles que podiam perguntar-lhe por sua correta interpretação?
O próprio Jesus nos orienta acerca de ficarmos atentos “a
coisas melhores”, às únicas que são realmente importantes. Quantas vezes nos
deixamos imbuir pelos afazeres cotidianos, pelos cuidados do dia-a-dia? Quantas
vezes, ficamos soterrados por montanhas de trabalho, de tarefas importantes,
sim, mas não substanciais? Quantas vezes privilegiamos o atendimento do urgente
em detrimento do que realmente é importante?
As palavras de Jesus nos convidam a fazer uma parada em
nossos frenéticos trabalhos cotidianos para refletir sobre o transcendental;
para aprender sobre seus próprios ensinamentos.
Costumamos pensar que os que se dedicam à vida
contemplativa, quer dizer, consagram-se a Deus para viver num convento ou
mosteiro de clausura, assumiram o papel de Maria de Betânia, enquanto os
demais, que nos dedicamos à luta pela sobrevivência, à atividade pastoral e a
enfrentar os problemas do dia a dia, optamos pela parte de Marta. Contudo esta
divisão severa de papéis corresponde à mensagem do Evangelho.
Lucas nos convida a ‘escolhermos a melhor parte’, quer
dizer, a de nos convertermos em ouvintes e servidores de Jesus; para que,
reconhecendo quando ele se manifesta em nossa vida, nos disponhamos a escutá-lo
sem titubeios.
Certamente, como cristãos, não podemos renunciar à
dimensão contemplativa da relação com Deus, porque é o fundamento de nossa
identidade discipular.
Se não nos fizermos ouvintes dos ensinamentos do Mestre,
o que iremos anunciar? Se não formos servidores de sua Palavra, em que vamos
crer?
Temos de vencer os pudores e vergonhas do cristianismo
convencional, e nos pormos em contato com os pés do Mestre para descobrir neles
o caminho que nos conduz para o Reino.
Devemos nos aproximar dessa humanidade simples do Mestre
de Nazaré, para descobrir em seus ensinamentos o mistério de sua divindade
escondida pelos séculos.
A maior parte de nós – e de modo primordial os
leigos – é chamada a testemunhar Cristo, vivendo no mundo, para procurar sua
transformação de acordo com o Evangelho como perfeito “fermento na massa”.
Compatibilizar os dois papéis implica uma sabedoria que temos de pedir a Deus
com humildade e constância.
Vivemos num mundo apressado hoje. Corre para aqui corre
para lá! Mas nos esquecemos que correr não quer dizer crescer. Na fúria
consumista, o homem perde os valores da contemplação e da prece.
O Senhor pede para parar um pouco e ouvir. Escute Deus
falar-lhe das coisas do céu! Não tenha pressa de sair quando está na
missa. Ou na oração. Esqueça o tempo do mundo e viva o tempo da graça de Deus e
com Deus.
Você escuta voluntariamente a Palavra de Deus? Na missa,
o sermão não se torna enjoativo? O povo prefere estar parado na frente da
televisão. O jornal e o rádio têm preferência à palavra divina proclamada na
igreja.
Existem muitas “Santas Martas” que convivem em nosso
meio: mães, avós, tias, vizinhas, amigas, que nos acolhem tão bem em suas
casas, por mais ingratos que sejamos. Elas apenas oferecem o que têm de melhor.
E, às vezes, precisam ser lembradas que ainda mais importante do que deixar a
casa impecável para recebê-lo, é preciso abrir a porta do coração para receber
Jesus.
Portanto, o importante é ouvir. Jesus certamente
apreciava o trabalho de Marta, mas não aprovava que ela pensasse só no trabalho.
Hoje devemos juntar as duas coisas: o trabalho e a escuta
da Palavra, porque a melhor parte não é aquela que multiplica as coisas; a
melhor parte é aquela que torna Deus presente em nós; então, o silêncio é mais
eloqüente do que todas as palavras. No meio da escuridão do mundo de hoje, a
escuta se torna difícil.
Propósito:
Pai, que o meu agir não seja movido por um ativismo insensível
à palavra de Jesus. Antes, seja toda a minha ação decorrência da escuta atenta
desta palavra.
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