20/10 –
Santa Maria Bertilla Boscardin
Santa Maria Bertilla
Boscardin foi exemplo de fé e pureza cristã, um verdadeiro modelo de
recolhimento e de oração. Tinha grande conexão com Deus em todos os momentos de
sua vida, sempre voltada ao silêncio e à oração.
Nasceu com o nome de Ana Francisca na província de Vicência. Ainda muito jovem
ingressou no convento de Santa Doroteia.
Estudou
e diplomou-se como enfermeira, de modo que pôde tratar os doentes com ciência e
fé, assistindo-os com carinho de irmã e mãe.Teve uma existência de união com
Deus no silêncio, no trabalho, na oração e na obediência. Isso se refletia na
caridade com que se relacionava com todos: doentes, médicos e superiores. Mas
era submetida a constantes humilhações por parte de uma superiora.
Tinha
apenas vinte e dois anos de idade quando, além de enfrentar a doença no
próximo, teve que enfrentá-la em si mesma também. Logo foi operada de um tumor
e, antes que pudesse recuperar-se totalmente, já estava aos pés dos seus
doentes outra vez. As humilhações pessoais continuavam, agora associadas às
dores físicas.
Na
época, estourou a Primeira Guerra Mundial: a cidade de Treviso ocupava uma
posição militar estratégica, estando mais sujeita a bombardeios. Era uma
situação que exigia dedicação em dobro de todos no hospital. Irmã Maria
Bertilla surpreendeu com sua incansável disposição e solidariedade de religiosa
e enfermeira no tratamento dos feridos de guerra.
Porém
seu mal se agravou e, aos trinta e quatro anos, sofreu a segunda cirurgia, mas
não resistiu e morreu, no dia 20 de outubro de 1922, no hospital de Treviso.
O
papa João XXIII canonizou-a em 1961. O culto em sua homenagem ocorre no dia de
sua morte. Junto à sua sepultura, na Casa-mãe da Congregação em Vicenza, há
sempre alguém rezando porque precisa da santa enfermeira para tratar de males
diversos, e a ajuda, pela graça de Deus, sempre chega.
Santa
Maria Bertilla Boscardin tinha grande afeição pelos mais enfermos e serviu
durante a Primeira Grande Guerra. Em seu caderninho sempre anotava:
“Trabalhar
e sofres em silêncio e deixar aos outros as satisfações.”
20 outubro - Benditas sejam até as
trevas quando as adensa a mão do Senhor. Caminharemos cheios de confiança no
escuro, pensando que os anjos cuidam de nós para não deixar que tropecemos. (L 272). São Jose Marello
Evangelho segundo Marcos
10,35-45
Tiago e João, filhos de Zebedeu,
foram a Jesus e lhe disseram:
«Mestre, queremos que faças por nós o
que vamos te pedir.»
Jesus perguntou: «O que vocês querem
que eu lhes conceda?».
Eles responderam: «Quando estiveres
na glória, deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda.»
Jesus então lhes disse: «Vocês não
sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou
beber? Podem ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?».
Eles responderam: «Podemos.»
Jesus então lhes disse: «Vocês vão
beber o cálice que eu vou beber, e vão ser batizados com o batismo com que eu
vou ser batizado. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita
ou esquerda. É Deus quem dará esses lugares àqueles, para os quais ele preparou».
Quando os outros dez discípulos
ouviram isso, começaram a ficar com raiva de Tiago e João. Jesus chamou-os e
disse:
«Vocês sabem: aqueles que se dizem
governadores das nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes têm
autoridade sobre elas. Mas, entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês
quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês, e quem de vocês quiser
ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos, porque o Filho do Homem não
veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate
em favor de muitos».
XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM –
MARCOS 10,35-45 20 out 2024
O evangelho deste vigésimo nono domingo do tempo comum –
Marcos 10,35-45 – continua mostrando a incompreensão e incoerência dos
discípulos de Jesus em relação ao seu programa de vida com as respectivas
exigências. Jesus está caminhando para Jerusalém e, desde o início do caminho,
alertou os discípulos sobre o destino desse caminho: o sofrimento, a paixão e a
morte. Após alertá-los pela primeira vez (cf. Mc 8,31-33), Jesus ainda repetiu
mais duas vezes (cf. Mc 9,30-32; 10,32-34), no entanto, os discípulos
continuavam sem entender ou, pelo menos, sem aceitar esse destino, pois estavam
contagiados pela ideologia nacionalista que aspirava um messias glorioso que
restaurasse o reino de Israel nos moldes de Davi e Salomão, os maiores reis da
sua história. Por isso, a cada vez que Jesus anunciava o seu destino doloroso,
os discípulos distorciam o anúncio, alimentando a falsa ilusão de um reino
glorioso, nos moldes dos reinos deste mundo.
O episódio narrado no evangelho de hoje segue de imediato ao terceiro
anúncio da paixão, o mais claro e profundo dos três anúncios. Por incrível que
pareça, a reação dos discípulos a esse terceiro anúncio foi a mais absurda de
todas, demonstrando ambição e sede de poder, aspirações totalmente
incompatíveis com a mensagem de Jesus. Ao primeiro anúncio, Pedro o repreendeu,
em nome do grupo dos Doze (cf. Mc 8,32); ao segundo anúncio, os discípulos
reagiram discutindo quem era o maior entre eles (cf. Mc 9,33-34); ao terceiro,
a reação é a busca por posições de honra e poder, como vemos no evangelho de
hoje. Ao projeto que Jesus apresenta, os discípulos não apenas respondem com
uma coisa diferente, mas com algo totalmente oposto à proposta do mestre,
distorcendo completamente a sua mensagem.
Olhemos para o texto: “Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a
Jesus e lhe disseram: ‘Mestre, queremos que faças por nós o que vamos
pedir” (v. 35). É importante recordar que Tiago e João, juntamente com
Pedro, são os discípulos mais evidenciados nos três evangelhos sinóticos, não
por méritos, mas pelo contrário. Por isso, é importante recordar que no momento
da constituição do grupo dos Doze, Tiago e João receberam o nome de Boanerges,
que significa que significa “filhos do trovão” (cf. Mc 3,17), em alusão ao
temperamento explosivo, arrogante, intolerante e ambicioso dos dois. Além do
texto de hoje, os evangelhos registram mais duas ocasiões em que as
características negativas deles dois são evidenciadas: quando querem monopolizar
Jesus, proibindo um homem de fazer o bem em seu nome pelo simples fato de não
pertencer ao grupo (cf. Mc 9,38-39), e quando queriam eliminar com fogo os
samaritanos, somente porque não os acolheram, no início do caminho para
Jerusalém (cf. Lc 9,51-55). Portanto, juntamente com Pedro, João e Tiago são os
discípulos mais difíceis de lidar no grupo; por isso, quando Jesus fica somente
com eles, como no episódio da transfiguração (cf. Mc 9,2-8; Mt 17,1-8; Lc
9,28-36), não se trata de privilégio, mas de necessidade. Pelo comportamento e
temperamento, ambos necessitavam de uma catequese mais intensa.
Antes mesmo que os discípulos façam diretamente o pedido, o evangelista
já os denuncia: “Queremos que faças por nós o que vamos pedir”; aqui,
há praticamente uma ordem, se trata de uma exigência. Além do conteúdo do
pedido, a forma como esse é feito é uma afronta ao projeto de Jesus, o que
torna o texto bastante polêmico. Por isso, Lucas preferiu omiti-lo do seu
Evangelho, e Mateus o modificou, colocando a mãe dos discípulos como a autora
do pedido (cf. Mt 20,20-23), reforçando, assim, a sua visão negativa da mulher.
Marcos, pelo contrário, faz questão de revelar também as debilidades dos
discípulos, por isso seu Evangelho é o mais autêntico e original, inclusive, é
o que mais revela também os traços humanos de Jesus (cf. Mc 3,5; 7,34; 9,36;
10,14.16).
À “quase ordem” dos discípulos, Jesus pergunta: “o que quereis
que eu vos faça?” (v. 36). É típico de Jesus responder com uma nova
pergunta, o que revela uma certa ironia da sua parte. Se os discípulos ainda
não tinham aprendido nada com os três anúncios da paixão, pouco importava para
eles uma pergunta irônica de Jesus. Por isso, sem nenhum escrúpulo, eles fazem
um pedido absurdo: “Deixa-nos sentar um à tua direito e outro à tua
esquerda, quando estiveres na tua glória!” (v. 37). Temos aqui uma
verdadeira afronta a tudo o que Jesus já tinha ensinado a respeito de si e do
seu projeto de Reino de Deus. Esse pedido revela uma busca ambiciosa por poder
e privilégios, decorrente de uma visão totalmente equivocada da messianidade de
Jesus. Eles Imaginavam Jesus como um messias segundo as expectativas políticas
de Israel, alimentada ao longo dos séculos: um messias guerreiro que combateria
contra os dominadores (romanos), até expulsá-los do território e, finalmente,
restabeleceria o antigo reino dravídico em Jerusalém. Jesus já tinha descartado
essa possibilidade por diversas vezes, mas os discípulos continuavam fechados e
presos à antiga mentalidade. Sentar à esquerda e à direita, equivale às
posições de honra, como se fossem os primeiros ministros do rei.
Ao pedido absurdo dos discípulos, Jesus responde com uma repreensão
irônica e, como de costume, com novas perguntas: “Vós não sabeis o que
pedis. Por acaso, podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados
com o batismo com que vou ser batizado?” (v. 38). Com razão, Jesus os
trata como ignorantes; ora, depois de três anúncios explícitos da paixão, e de
toda uma trajetória de oposição e combate aos poderes constituídos, é
inadmissível que os discípulos ainda quisessem espelhar-se nessas formas de
poder, alimentando pretensões de glória e privilégios. Segue à repreensão, duas
perguntas provocatórias que resumem todo o ministério de Jesus, do início na
Galileia à consumação em Jerusalém, evocando duas imagens simbólicas dessa
trajetória: o cálice e o batismo. O batismo remonta ao início de tudo (cf. Mc
1,8-11), enquanto o cálice antecipa o fim dramático (cf. Mc 14,23.36). Embora
essas sejam imagens de grande significado ao longo de toda a Bíblia, o mais
certo é que Marcos se referiu, com elas, apenas à vida pública de Jesus do
começo ao fim, do batismo à cruz; em outras palavras, é como se Jesus
perguntasse: “Vocês estão dispostos a viver do meu jeito, do começo ao
fim de vossas vidas?”.
Os irmãos respondem com muita prontidão, mas Jesus parece não levar
muito a sério, provavelmente por perceber uma certa presunção nos dois: “Eles
responderam: ‘Podemos!’ E ele lhes disse: ‘Vós bebereis o cálice que eu devo
beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado. Mas não
depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para
aqueles a quem foi reservado” (vv. 39-40). A disposição para abraçar e
assumir as consequências de um seguimento sério e radical não pode ser em
função de recompensas futuras. Por isso, Jesus confirma que, de fato, eles
participarão de seu destino doloroso, mas abraçar o seu projeto em vista de
recompensa é sinal incompreensão. A disposição de lugares na glória futura é um
dom gratuito do Pai, e não uma conquista por méritos.
O resultado do ambicioso pedido dos dois irmãos é a divisão da
comunidade: “Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com
Tiago e João” (v. 41). À medida que os projetos individuais são
evidenciados, a unidade é quebrada. A reação de indignação dos outros dez não
significa que eles tivessem compreendendo melhor a dinâmica do projeto de
Jesus; pelo contrário, demonstra que eles também pensavam como os dois irmãos e
revoltam-se por rivalidade, ou seja, eles também queriam os dois lugares de
destaque pretendido pelos filhos de Zebedeu. Essa reação afirma que o espírito
de concorrência contagiava o grupo dos discípulos. A comunidade, afetada pela
ambição, estava completamente ameaçada, marcada pela rivalidade e espírito de
competição. Por isso, Jesus chama a atenção: “E Jesus convocando-os,
lhes diz: “sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e
os grandes as tiranizam” (v. 42). Jesus vê a ambição dos discípulos
com muita preocupação, a ponto de convocar uma reunião e expor o seu projeto
com mais clareza ainda, procurando mostrar o quanto o seu projeto é diferente
de qualquer projeto humano de obtenção e exercício do poder. Tendo
negligenciado os três anúncios da paixão, os discípulos têm como parâmetro os
modelos vigentes de poder, marcados pelo domínio e a tirania.
Considerando o versículo anterior, no qual Jesus, de modo muito
objetivo, mostrou o modelo de exercício de poder almejado pelos discípulos, eis
que agora ele apresenta sua reação e proposta: “Porém, entre vós não é
assim, mas aquele que quiser tornar-se grande entre vós, será vosso
servidor. E aquele que quiser ser o primeiro entre vós, será escravo
de todos!” (vv. 43-44). Na comunidade cristã não pode haver espaço
para carreirismo, ambição e posições de privilégio. Qualquer imitação dos
sistemas vigentes de poder, da sinagoga ao império romano, deve ser abolida da
comunidade. A expressão “entre vós não é assim” é carregada de uma certa ironia
da parte de Jesus, uma vez que, de fato, estava sendo daquele jeito entre os
discípulos; ao mesmo tempo, é uma forte chamada de atenção: não é mais possível
adiar a tomada decisiva de posição a respeito dos valores do Reino. Daí ele
apresenta qual é o modelo a ser seguido pela comunidade: o serviço. É
necessário passar de um modelo baseado na imposição para um novo paradigma
baseado no serviço, tendo em vista a igualdade e o bem de todos.
O referencial para a comunidade cristão não pode ser outro senão o
próprio Jesus: “Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a vida dele em resgate de muitos” (v. 45). Ele
próprio é o exemplo de que a autoridade autêntica deve ser exercida através do
serviço incondicional, contemplando a capacidade de dar a própria vida.
Qualquer tentativa ou experiência na comunidade que tenha como parâmetro “os
reinos deste mundo”, faz essa comunidade deixar de ser cristã.
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