16 OUTUBRO - Tudo se vai
desenvolvendo pela corrente do tempo, e o tempo está nas mãos de Deus. (L 25). São Jose
Marello
Evangelho Lucas 11,42-46
Naquele tempo, o
Senhor disse: «Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da
arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de
Deus. Isto é que deveríeis praticar, sem negligenciar aquilo. Ai de vós,
fariseus, porque gostais do primeiro assento nas sinagogas e de serdes
cumprimentados nas praças. Ai de vós, porque sois como túmulos que não se vêem,
sobre os quais as pessoas andam sem saber». Um doutor da Lei tomou a palavra e
disse: «Mestre, falando assim, insultas também a nós!». Jesus respondeu: «Ai de
vós igualmente, doutores da Lei, porque carregais as pessoas com fardos
insuportáveis, e vós mesmos, nem com um só dedo, não tocais nesses fardos!».
Comentário
O trecho do evangelho de hoje é bastante duro. Podemos perceber Jesus
carregando no tom de sua voz para alertar os fariseus e os mestres da Lei sobre
seus equívocos na vida de serviço a Deus.
Vez por outra, precisamos ser chacoalhados para prestarmos mais atenção
à nossa coerência, ou melhor, à nossa incoerência.
Faz-nos muito bem pensar o quanto cada um dos “ais” proferidos por Jesus
serve para nós.
Precisamos buscar sempre o equilíbrio entre nosso crescimento espiritual
e nossa prática fraterna. Orar com a palavra todos os dias, ser um praticante
da lectio divina, mas ser injusto com os outros, mostra que algo não está
funcionando bem. Jesus é muito claro ao dizer: “são exatamente estas coisas que
vocês devem fazer sem deixar de lado as outras”. A nossa fé precisa ser
praticada. Não dá para ter fé em Jesus Cristo e não se comprometer. Dizer que
temos fé, mas não a traduzirmos em práticas coerentes com os valores do
evangelho, é agir exatamente como os fariseus e mestres da lei, aos quais Jesus
dirigiu essas palavras.
Jesus foi saudado por ser um Mestre que ensinava com autoridade. Sua
autoridade não era imposta, antes, porém, nascia da coerência de sua vida, de
seu modo de ser. Jesus pregava aquilo que vivia e vivia de acordo com o que
pregava.
Quando Jesus nos ensina chamar a Deus de Pai, Ele não quer somente
tornar nossa relação com Deus mais próxima, mas que assumamos todas as
consequências de sermos filhos de um mesmo Pai.
Esta é a coerência que precisamos buscar e que o trecho do evangelho de
hoje nos ensina.
No final do texto, Jesus se dirige aos mestres da Lei, alertando-os para
o fato de colocarem fardos muito pesados sobre os outros, mas não moverem um
único dedo para ajudar a carregá-los.
Quanta diferença! Jesus se coloca no meio, assume para si as dores dos
outros, coloca-se a caminho para encontrar os mais humildes e os sofredores.
Busca todos os que estão cansados para lhes oferecer o descanso: “Venham a mim,
todos vocês que estão cansados de carregar pesadas cargas, e eu lhes darei
descanso” (Mt 11,28).
Hoje, somos chamados a refletir sobre nossa coerência de vida cristã.
Pode ser duro. Difícil admitir nossos tropeços, nossas dificuldades e nossas
sombras, mas é necessário para nosso crescimento. Façamos este exame com a
confiança de que aquele que nos ouve não aumentará nosso fardo, pelo contrário,
nele encontraremos a paz que tanto buscamos.
Senhor, receba em suas mãos todos os nossos fracassos. Receba em seu
coração santo nosso humilde desejo de segui-lo e nos conduza à vida plena.
Amém!
2
Os fariseus eram completamente “do contra”, pois davam muita importância
às coisas secundárias, enquanto às essenciais, eles não davam merecida atenção.
O pagamento do dízimo, por exemplo, era uma exigência irrecusável, e cumprida
ao pé da letra, à risca com todo rigor mesmo em relação às insignificantes
hortaliças. Porém, os fariseus não levavam a sério o amor ao próximo, chegando mesmo a serem injustos e,
quanto a pureza do seu relacionamento com Deus, deixavam muito a desejar.
Será que alguns de nós somos iguais aos fariseus? Pagamos
o dízimo como uma obrigação e lideramos movimentos comunitários, fazemos
campanha do agasalho, arrecadamos alimentos para os pobres, mas na verdade,
estamos passando uma falsa imagem de caridosos e não passamos de políticos
querendo atrair sobre nossa pessoa a atenção dos fiéis, porque quanto ao
próximo e a Deus, não damos lá muita importância?
Do que adiantava os fariseus pagarem o dízimo rigorosamente se cometiam
injustiças contra o próximo? Eles se vangloriavam por isso, mas no fundo não
passavam de hipócritas. E Jesus sabia muito bem disso porque os conhecia por
dentro e por fora. Os escribas e fariseus se
cobriam, por assim dizer, com uma linda capa de
piedade e de santidade, dando uma falsa aparência de homens justos, mas nada
disso, evidentemente, agradava a Deus.
Eles eram uns verdadeiros enganadores. Suas práticas eram atitudes
enganosas, que revelavam exteriormente apenas uma piedade aparente. Era como uma máscara que
encobria a hipocrisia e a maldade que traziam por
dentro.
Já os discípulos de Jesus eram pessoas que possuíam uma escala de
valores totalmente ao contrário. Fé, amor ao próximo, justiça, caridade, eram
os valores principais que norteavam o seu comportamento. Eram autênticos porque praticavam o amor e a justiça, como
nós, seus seguidores, ou melhor, seus continuadores, devemos fazer. Praticar em
primeiro lugar, a justiça e o amor. Assim, as outras práticas de piedade terão
mais sentido de amor a Deus e ao próximo. Porque nós sabemos que Deus que vê
tudo vai um dia nos julgar.
Tomando essa palavra nós também podemos fazer uma avaliação das nossas
atitudes e perceber se o que Jesus falava ontem é adequado para nós, hoje. Se
nossas atitudes tiverem como parâmetro a justiça e o amor de Deus, com certeza
Jesus não estará falando para nós, porque tudo o que nós praticamos por amor a
Deus terá a Sua aprovação.
Porém, mesmo que estejamos pagando dízimo sobre tudo quanto nós
ganhamos, se estamos presentes em todas as celebrações, em todos os retiros,
participando de ministérios ativamente, mas o nosso coração não acompanha as
nossas ações, somos também dignos de censura.
Ai de vós, diz o Senhor quando nós estamos exigindo do outro
aquilo que nós mesmos não fazemos nem um pouco; quando nós queremos atrair a
atenção das outras pessoas para nossas boas ações; quando nós
hipocritamente não fazemos o que pregamos, quando enganamos as pessoas, mesmo
que sejamos, pais, professores e coordenadores cheios de autoridade.
Será que as ações dos fariseus e mestres da Lei têm alguma coisa a ver
com as suas ações? Diante do que você vivencia o que Jesus poderá estar dizendo
para você? Você age como prega? Você é uma pessoa transparente? Faça uma
reflexão sobre essa Palavra na sua vida.
Pai, coloca-me em sintonia com Jesus para quem a justiça e o amor a ti
valem mais que o legalismo dos que são incapazes de descobrir o teu verdadeiro
desígnio.
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