05 outubro - No silêncio se cristalizam as grandes personalidades, assim como na concha humilde endurece a gota de orvalho que, transformada em pedra preciosa, ornará a fronte das filhas do rei. (L 23). São Jose Marello
EVANGELHO DO DIA
Lucas 17, 5-10 05 OUT 2025
5.Os apóstolos disseram ao Senhor:
“Aumenta-nos a fé!”.
6.Disse o Senhor: “Se tiverdes fé como um
grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e
ela vos obedecerá”.
7.“Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar
ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: Vem depressa sentar-te à
mesa?
8.E não lhe dirá ao contrário: Prepara-me a
ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disso comerás e
beberás tu?
9.E, se o servo tiver feito tudo o que lhe
ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação?
10.Assim também vós, depois de terdes feito
tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos como
quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer.” *
Reflexão para o 27º domingo do Tempo
Comum - Lucas 17, 5-10 (Ano C) 05 out 2025
O texto evangélico que a liturgia deste vigésimo
sétimo domingo do Tempo Comum nos apresenta continua a nos situar no longo
caminho de Jesus para Jerusalém, com os seus discípulos. É certo que nesse
longo caminho muitos obstáculos são encontrados, enfrentados e superados. Como
esse caminho é, sobretudo, um itinerário formativo para o discipulado de todos
os tempos, os obstáculos se estendem também aos leitores e leitoras do
Evangelho de Lucas, tanto no que diz respeito às exigências para o seguimento
de Jesus, quanto à compreensão daquilo que o texto quer dizer. Diante disso,
podemos afirmar que o texto de hoje – Lc 17,5-10 – pode ser considerado um
destes obstáculos, tendo em vista as dificuldades de interpretação que o mesmo
apresenta.
Uma vez que estamos diante de um texto considerado
difícil, a melhor forma de ir superando as dificuldades de compreensão é
olhando para o seu contexto. Ora, o capítulo dezessete de Lucas apresenta a
retomada das exigências de Jesus aos seus discípulos. À medida em que avança no
caminho e se aproxima de Jerusalém, Jesus vai deixando cada vez mais claro o
que é necessário para os discípulos continuarem com Ele. Muitas exigências já
tinham sido apresentadas até então: a renúncia a todos os bens (cf. Lc 14,33),
a coragem para enfrentar a cruz como consequência do discipulado (cf. 14,27) e
até mesmo a ruptura nas relações familiares (cf. Lc 14,26). Até então, parece
que a fé dos discípulos estava sendo suficiente para suportar tantas exigências.
Pelo menos, não tinham reclamado ainda, embora nem tudo fosse claro para eles.
Porém, surge uma nova fase com obstáculos mais difíceis.
A situação se complica quando Jesus exige dos
discípulos a disponibilidade para perdoar constantemente e ilimitadamente ao
irmão que tiver ofendido (cf. 17,3-4). Portanto, para compreendermos bem o
evangelho de hoje, é necessário partirmos do seu contexto imediato, recordando
a mensagem apresentada nos versículos iniciais deste capítulo dezessete (vv.
1-4). A primeira recomendação feita por Jesus foi o cuidado com o “escândalo”
(cf. Lc 17,1-2), recomendando que seus discípulos não escandalizassem a nenhum
dos pequeninos, os destinatários principais do Reino de Deus (os pobres; as
mulheres; as pessoas marginalizadas de modo geral). É importante ressaltar que
“escândalo” (em grego: σκάνδαλον = skandalon) na linguagem do Novo
Testamento não significa propriamente um comportamento moral
inadequado, e sim um obstáculo
para o Reino, tudo o que é
capaz de atrapalhar uma adesão
completa a Jesus, como o apego aos bens materiais, o orgulho, a inveja, a
incapacidade de perdoar, e tantos outros.
Dentro da advertência sobre os “escândalos”, Jesus
apresentou a maior de todas as exigências até então: a necessidade e a
disponibilidade para perdoar de modo ilimitado, até sete vezes num único dia,
sinal de totalidade, ao irmão que tiver ofendido (vv. 3-4). Foi essa exigência
que deixou os apóstolos em crise, a ponto de perceberem que não tinham, ainda,
uma fé suficiente para tal. Deixar a família, abrir mão dos bens, abraçar a
cruz e romper com tantos laços tradicionais parecia mais fácil do que perdoar.
E, para Jesus, o maior escândalo que pode existir entre os seus seguidores é a
falta de perdão. Sem dúvidas, essa foi a maior exigência feita até aqui.
Desconcertados pela exigência de perdoar
ilimitadamente, diz o evangelista que “Os apóstolos disseram ao Senhor:
‘Aumenta a nossa fé!’” (v. 5). O emprego do termo “apóstolos” aqui, ao invés de
“discípulos” reflete a necessidade de o evangelista mostrar às suas comunidades
que até mesmo o grupo dos primeiros seguidores de Jesus tiveram a sinceridade
de se reconhecerem necessitados da ajuda de Jesus, ou seja, não foram
autossuficientes. trata-se de uma reação ao que lhes fora anteriormente
exigido. Ora, na época da redação do evangelho já não havia mais nenhum dos
apóstolos vivos e, por terem convivido pessoalmente com Jesus, o que o
evangelista transmitisse como palavras deles tinha muito peso para as
comunidades. Ao pedido dos apóstolos, Jesus responde até de modo irônico,
dizendo, antes de tudo, que a fé não se mede quantitativamente. Os apóstolos
consideravam que já tinham fé, mas não em quantidade suficiente para abraçarem
a exigência do perdão. Porém, essa exigência não era tão nova, pois já estava
contida no Pai-nosso: “Perdoa os nossos pecados como também nós perdoamos aos
nossos devedores” (cf. Lc 11,4); assim, a oração ensinada por Jesus, também em
resposta a um pedido deles, “Senhor, ensina-nos a orar” (cf. Lc 11,1-4), não
estava sendo levada a sério. Por isso, a resposta de Jesus soa irônica.
Se os apóstolos concebiam a fé como algo mensurável
quantitativamente, imaginavam que já possuíam em pequena quantidade e,
portanto, necessitavam de algumas “porções” a mais. Daí a ironia de Jesus com o
exemplo parabólico do grão de mostarda: “O Senhor respondeu: ‘Se vós tivésseis
fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira:
‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria” (v. 6). Em outras
palavras Jesus disse que ou se tem fé ou simplesmente não se tem, ou seja,
basta que seja autêntica, qualitativa e não quantitativa. O grão de mostarda
era considerado o menor dos grãos conhecidos na época, inclusive já utilizado
pela tradição sinótica em uma parábola sobre o Reino de Deus (cf. Mt 13,31-32;
Mc 4,30-32; Lc 13,18-19). Para deixar os apóstolos ainda mais desconcertados,
Jesus usa o exemplo oposto da amoreira, a árvore conhecida na sua época como a possuidora
das raízes mais profundas e de maior tempo de sobrevivência e, portanto, a mais
difícil de ser arrancada; e se o simples fato de uma amoreira ser arrancada já
parecia impossível para a mentalidade da época, menos possível ainda seria a
sua sobrevivência no mar.
É importante também recordar aqui a criatividade de
Lucas, o qual modifica e enriquece a tradição recebida: em Mateus e Marcos essa
demonstração da força da fé é feita com a imagem do mover-se de uma montanha
(cf. Mt 17,20; Mc 11,23), enquanto Lucas a substitui por uma árvore. A resposta
é simbólica e irônica. Jesus não promete dar algumas porções a mais de fé aos
apóstolos, porque isso não é possível. A fé não pode ser medida e muito menos
ofertada por Ele. A fé é a resposta incondicional ao seu amor, é a adesão plena
ao Reino, e isso é pessoal. O exemplo da fé com poder de fazer uma árvore
arrancar-se sozinha e plantar-se no mar é apenas um modo de dizer que a fé
transforma realidades, quando autêntica. No caso dos apóstolos, era a mentalidade
deles que necessitava de uma transformação. Portanto, Ele não promete o poder
de fazer e ver milagres extraordinários a quem tem fé; pede uma transformação
interior e radical, a começar pela vivência do perdão sem medidas. O grande
milagre da fé é arrancar pela raiz tudo o que obstaculiza o advento pleno do
Reino de Deus: o egoísmo, a injustiça, a falta de amor e de solidariedade, o
apego aos bens materiais, a dureza de coração; é tudo isso que, movidos pela
fé, os cristãos devem “jogar no mar”, recordando que na mentalidade bíblica o
‘mar’ tem um sentido muito negativo, pois era considerado também o lugar onde
habitavam as forças do mal. Inclusive, no início do capítulo em questão, como
destino de quem escandalizar um pequenino, Jesus sugere “ser jogado no mar”
(cf. Lc 17,1-2).
Na continuação, Jesus conta-lhes uma pequena
parábola (vv. 7-10), aparentemente sem nexo com a discussão sobre a fé, porém
intrinsecamente relacionada: “Se algum de vós tem um empregado que trabalha a
terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo:
‘Vem depressa para a mesa?’ Pelo contrário, não vai dizer ao empregado:
‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois
disso tu poderás comer e bebe?’. Será que vai agradecer ao empregado, porque
fez o que lhe havia mandado?” (vv. 7-9). Trata-se de mais uma parábola
exclusiva de Lucas. Com ela, Jesus quer mostrar aos discípulos a melhor maneira
de cultivar e viver uma fé autêntica e verdadeira: colocando-se como servos,
completamente disponíveis e despretensiosos. Ora, vigorava na época, sobretudo
em ambientes farisaicos, uma mentalidade meritocrática.
Os fariseus observavam fielmente a Torá pensando na
retribuição, vivendo uma relação contratual com Deus: observavam a Lei porque
eram justos e, portanto, seriam mais merecedores dos dons de Deus.
Infelizmente, essa mentalidade contaminava também os discípulos de Jesus. O
evangelista Lucas observou isso em suas comunidades. Havia uma reivindicação de
privilégios entre as lideranças das comunidades; por isso, ele quis mostrar que
o verdadeiro discípulo é aquele que, movido por uma fé autêntica, não
reivindica direitos nem privilégios para si. Tudo o que faz é para a edificação
do Reino, até porque, desde o início Jesus deixou muito claro o seu projeto,
exigindo dos discípulos que fossem capazes de “renunciar a si mesmo” (cf. Lc
9,23). Logo, era completamente descabida a tendência à exigência de
reconhecimento da parte deles. Portanto, ou serve ou não é servo.
No último versículo, há um exagero na tradução. A
expressão mais adequada, ao invés de “servos inúteis” seria “simples servos” ou
“apenas servos”, pois o servo não é inútil, pelo contrário, é necessário para a
edificação do Reino. De fato, se não fossem úteis, Jesus não teria chamado
discípulos para o seu seguimento. Porém, é necessário que o servo não esqueça a
sua condição e, portanto, tudo o que venha fazer pelo Reino não pode ser motivo
de mérito nem de reconhecimento, pois é essa a sua missão: servir de modo
incondicional e movido pela fé. Podemos dizer, então, que o Evangelho de hoje
nos convida a viver e cultivar uma fé autêntica, que nos leve a cortar pela
raiz tudo o que se opõe ao Reino, dentro de nós, de modo incondicional e livre,
e a assumirmos a nossa condição de simples servos, porque nossa missão é servir
sempre!
05
Cada ser é
único, pois foi criado à imagem e semelhança do Criador.
Lembre-se
de que todas as pessoas possuem dons, qualidades, talentos e limitações.
Por isso,
respeite as diferenças e evite moldar os outros segundo seu padrão de
pensamento.
Peça que
Deus lhe conceda o dom da sabedoria e do discernimento, para respeitar as
diferenças entre as pessoas.
“Todas
essas coisas as realizam um e o mesmo Espírito, que distribui a cada um
conforme quer.
Como o
corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo,
embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo”. (1Cor
12,11-12).
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