28 setembro - Sede extraordinários nas coisas ordinárias. (M 9/94/17; cfr. S 268). São José Marello
EVANGELHO DO DIA
Lucas 16,19-31 28 set 2025(Ano C)
Naquele tempo,
disse Jesus aos fariseus: 19“Havia um homem rico, que se vestia com
roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias.
20Um
pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21Ele
queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso,
vinham os cachorros lamber suas feridas.
22Quando o
pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e
foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico
levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então
gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo
para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’.
25Mas
Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante a vida e
Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és
atormentado. 26E, além disso, há grande abismo entre nós: por mais
que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí
poderiam atravessar até nós’.
27O rico
insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque
eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para
este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e
os profetas, que os escutem!’
30O rico
insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão
se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem
aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”’.
Neste vigésimo sexto domingo do tempo
comum, a
liturgia propõe a continuidade e a conclusão da leitura do capítulo dezesseis
de Lucas. Esse capítulo é todo dedicado a um dos temas mais caros a Lucas, a
saber, o uso das riquezas e dos bens materiais em geral, e contém duas ricas
parábolas, exclusivas deste evangelista: a do “administrador acusado de
desonestidade”, lida e refletida no domingo passado (vv. 16,1-8), e a do “rico
indiferente e o pobre Lázaro” (vv. 19-31), texto proposto para hoje.
Intercalando as duas parábolas, temos um conjunto de sentenças de estilo
sapiencial (vv. 9-13), também lidas no domingo passado, e uma pequena
controvérsia com os fariseus (vv. 14-16). Esta parábola do “rico indiferente e
o pobre Lázaro” é uma das mais conhecidas de todo o Novo Testamento, ocupando a
terceira posição entre as mais lidas, das parábolas exclusivas de Lucas,
ficando atrás apenas daquela do “pai misericordioso e os dois filhos” ou do
“filho pródigo” – 15,11-32 (a primeira), e daquela do “bom samaritano” –
10,25-37 (a segunda).
O contexto geral do texto de hoje continua sendo o
do caminho de Jesus para Jerusalém, junto com seus discípulos e discípulas.
Como temos enfatizado no decorrer dos últimos domingos, mais que um percurso
físico-geográfico, esse caminho é um itinerário catequético-espiritual de
formação para o discipulado de Jesus. Lucas, como refinado escritor e bom
catequista, reuniu os principais ensinamentos de Jesus e os distribuiu nesse
itinerário. Como sabemos, Lucas é também o evangelista que mais valoriza os pobres,
dando-lhes vez e voz; desde o início do Evangelho (cf. 1,51-52; 6,20-26), ele
aponta para uma nova história, construída a partir dos pequenos e desvalidos.
Para isso, é necessário combater a concentração de riquezas em poucas mãos, o
que gera grandes desigualdades e abismos entre as pessoas.
Os destinatários principais dos ensinamentos ao
longo do caminho são sempre os discípulos, mesmo quando os interlocutores
diretos de Jesus são outros personagens; inclusive, neste capítulo dezesseis há
dois grupos de interlocutores: os discípulos, conforme iniciava o texto do
domingo passado: “Jesus dizia aos discípulos...” (cf. 16,1a), e os fariseus, a
quem é dirigida de maneira mais direta a parábola de hoje. Ora, a parábola do
“administrador acusado de desonestidade” (vv. 1-8) fora seguida de algumas
sentenças proverbiais (vv. 9-13), sendo a última “não podeis servir a Deus e ao
dinheiro” (v. 13). Diz o evangelista que “os fariseus, amigos do dinheiro,
ouviam tudo isso e zombavam de Jesus” (16,14). As reações negativas dos
fariseus aos ensinamentos de Jesus são muito comuns, sobretudo no evangelho de
Lucas: eles reagiam com murmúrio (cf. Lc 5,9; 15,2), com perguntas (cf. Lc 6,2)
e até com perseguição (cf. Lc 11,53). Porém, como a catequese de Jesus sobre o
uso do dinheiro e das riquezas fora muito radical, dessa vez os fariseus
reagiram zombando, ou seja, ridicularizando. Foi, portanto, da reação
sarcástica dos fariseus a Jesus que nasceu a parábola de hoje. Logo, essa
parábola se torna uma advertência a todos os “amigos do dinheiro” como eram os
fariseus.
Iniciemos a leitura do texto: “Havia um homem rico,
que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os
dias” (v. 19). É típico de Lucas introduzir as parábolas com descrições dos
personagens, como ele faz nesta parábola. A descrição do rico é impressionante:
um homem que se vestia elegantemente e festejava todos os dias. Numa sociedade
em que a maioria da população era pobre e explorada, como era a Palestina no
tempo de Jesus, essa descrição foi impactante, e o objetivo do autor era mesmo
causar impacto nos ouvintes/leitores. Também é típico de Lucas apresentar
personagens com características opostas em paralelo, através da técnica
retórica do paradoxo, aplicada aqui; por isso, a descrição do segundo
personagem da parábola também é impressionante, embora suas características
sejam completamente opostas às do rico: “Um pobre chamado Lázaro, cheio de
feridas, estava no chão, à porta do rico. Ele queria matar a fome com as sobras
que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas
feridas” (vv. 21-22). Como se vê, o autor não se contenta em dizer que havia um
homem rico e outro pobre, mas faz questão de enfatizar as diferenças extremas
entre os dois personagens: um é rico demais, e o outro é pobre demais. É
interessante perceber que o autor faz uma descrição minuciosa dos personagens,
mas não faz referência à conduta ética de nenhum deles: não diz se o rico era
bom ou mau, justo ou injusto, mas apenas diz que era rico; o mesmo acontece com
Lázaro.
Embora seja típico de Lucas, como já afirmamos,
apresentar personagens com características opostas em paralelo, em nenhuma
outra ocasião ele fez isso com tanto exagero quanto nesta parábola. Recordemos
as diferenças de atitude entre Zacarias e Maria, ao receberem os respectivos
anúncios (cf. Lc 1,5-38), entre Marta e Maria (cf. Lc 10,38-42), entre os dois
filhos da parábola do pai misericordioso (cf. Lc 15,11-32) e entre o fariseu e
o publicano (cf. Lc 18,9-14); em nenhuma dessas ocasiões as diferenças são tão
abissais quanto entre o rico e Lázaro desta parábola. Embora próximos
fisicamente, pois o pobre jazia à porta do rico, havia um verdadeiro abismo
entre os dois. A primeira e talvez a mais significativa das diferenças é o
nome: somente o pobre tem nome e, por sinal, é um nome carregado de esperança:
Lázaro significa “Deus ajuda”. Por sinal, esse é o único personagem de uma
parábola a receber um nome próprio; o nome, na Bíblia, indica a identidade e a
dignidade da pessoa. Contrastando com as roupas finas do rico, o corpo de
Lázaro era coberto de feridas; isso significa que, além da exclusão social, ele
era também excluído da vida religiosa, já que uma pessoa com feridas expostas
era considerada impura; além disso, como os cachorros eram animais impuros para
os judeus, isso aumentava ainda mais a marginalização de Lázaro.
Das descrições iniciais que evidenciam o abismo
entre os dois personagens, o autor passa a um dado comum e igual para todos os
seres humanos, a morte: “Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto
de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado” (v. 22). A morte é inevitável;
ricos e pobres passam por ela, indistintamente. Como a parábola tem uma função
didática muito forte, Jesus acaba usando uma linguagem até apocalíptica, ao
aplicar as imagens do destino final dos dois personagens, embora não seja sua
intenção descrever as realidades futuras, ou seja, céu, inferno e purgatório,
como a parábola tem sido equivocadamente interpretada. Há uma inversão de destinos,
como se vê: “Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão.
Morreu também o rico e foi enterrado. Na região dos mortos, no meio dos
tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu
lado” (vv. 22-23). Não temos aqui uma descrição das realidades futuras, mas um
alerta para que o ser humano procure dar sentido à sua existência enquanto há
tempo. O fechamento em si, o egoísmo desenfreado, não é causa de condenação,
mas já é a condenação em si mesma. Os abismos entre as pessoas só podem ser
superados durante a vida terrena. A situação pós-morte descrita na parábola
mostra apenas a perpetuação dos abismos, quando não há empenho para superá-los
enquanto é possível, ou seja, enquanto se vive neste mundo (cf. v. 26).
Percebendo as consequências desastrosas de suas
escolhas em vida, o rico inicia um diálogo com Abraão, a quem chama de “pai”.
Com isso, o autor revela que se trata de uma pessoa religiosa, um judeu devoto:
“Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do
dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. Mas Abraão
respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e
Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és
atormentado” (vv. 24-25). De fato, reconhecer Abraão como pai era um traço
característico de todo bom judeu. Porém, esse homem devoto viveu uma fé
equivocada, pois não soube traduzi-la em frutos de justiça em favor do pobre
que jazia à sua porta. As respostas de Abraão reforçam as consequências do
abismo construído pela indiferença do rico ainda em vida. Ao dar a sua causa
por perdida, o rico pensa, embora tarde, nos seus familiares: “O rico insistiu:
‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, porque eu tenho cinco
irmãos. Manda preveni-los, para que não venham eles para este lugar de
tormento” (vv. 27-28). Com esse pedido, o rico só reforça a sua mentalidade
egoísta e mesquinha, pois pensa somente nos seus; não pensa na coletividade,
mas apenas no seu pequeno mundo, naqueles que com ele se banqueteavam,
provavelmente.
A resposta de Abraão às novas súplicas do rico é
muito clara: “Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os
escutem!” (v. 29). A expressão “Moisés e os Profetas” significava as Sagradas
Escrituras, a Bíblia. E desde Moisés – a Lei (cf. Ex 5,6; 23,10; Lv 19,10) até
os profetas (cf. Am 4,1; 8,4), a Palavra de Deus adverte para a necessidade do
cuidado com os pobres, mostrando a predileção de Deus por eles; negligenciar os
pobres, portanto, é negligenciar o próprio Deus. Com essa mesma expressão, o
evangelista também chama a atenção da sua comunidade para a eficácia da Palavra
e que, diante dessa, não há necessidade de fenômenos sobrenaturais como
milagres e visões. Assim, o evangelista ensina que uma fé autêntica e
comprometida se fundamenta na Palavra de Deus, e não em visões ou aparições.
Para viver autenticamente a fé, a necessidade
básica é a atenção à Palavra de Deus e a adesão às exigências que essa contém,
sobretudo a atenção especial aos mais necessitados. Quem tem “Moisés e os
Profetas”, ou seja, o conjunto das Sagradas Escrituras (v. 31), incluindo o
Novo Testamento, o texto cristão por excelência, tem tudo o que é necessário
para viver e dar sentido à vida. Ler Moisés e os Profetas, ou seja, a Sagrada
Escritura, e não lutar para que os abismos criados entre as pessoas e as
desigualdades sociais sejam abolidas é simplesmente ignorar os apelos de Deus.
Dia 28
Procure
descobrir suas capacidades e habilidades, que são um presente de Deus em sua
vida.
Corresponda
à confiança que o Senhor depositou quando lhe entregou as capacidades e
habilidades de que dispõe, para que as desenvolvesse e colocasse a serviço das
pessoas.
Por isso,
todos os dias, agradeça a Deus tudo o que a vida lhe oferece.
Caminhe sempre para a frente, sem temer os
obstáculos.
“Jesus
disse: ´Se podes...? Tudo é possível para quem crê´”.(Mc 9,23).
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