07 setembro – Quando pudermos fazer resplandecer um raio das alegrias que veem do céu em meio às alegrias terrenas, então o nosso coração ficará mais satisfeito, a nossa felicidade será mais completa. (L 3). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 14,25-33
Naquele tempo, 25grandes
multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse: 26“Se alguém vem
a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus
irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. 27Quem não
carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.
28Com efeito: qual de vós, querendo construir uma
torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente
para terminar? Caso contrário, 29ele vai
lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso
começarão a caçoar, dizendo: 30‘Este homem começou a construir e não foi capaz
de acabar!’
31Ou ainda: Qual rei que, ao sair para guerrear
com outro, não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá
enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? 32Se ele vê que não pode, enquanto o outro rei ainda está longe,
envia mensageiros para negociar as condições de paz. 33Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a
tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!”
À medida em que avança em seu percurso rumo à
Jerusalém, Jesus aprofunda o conteúdo da sua catequese, deixando cada vez mais
claras quais são as exigências para o seu discipulado. O evangelho de hoje
mostra Ele apresentando três condições indispensáveis para quem pretende ser
seu discípulo ou discípula, formuladas por Lucas a partir de elementos comuns a
outros evangelhos (Mateus, Marcos e alguns apócrifos), mas ilustradas por duas
pequenas parábolas que são exclusivas do seu evangelho, o que confere a todo o
texto um caráter de originalidade lucana. Conforme veremos na continuidade da
reflexão, as condições que Jesus apresenta no evangelho de hoje não são meras
sugestões, mas exigências indispensáveis ao discipulado, o que fica claro pela
fórmula com a qual cada uma é concluída: “não pode ser meu discípulo” (vv.
26.27.33).
O primeiro versículo funciona como introdução, ao
mesmo tempo em que recorda o contexto do caminho: “Grandes multidões
acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse:” (25). É importante esse dado,
pois mostra que tanto a mensagem quanto os atos de Jesus eram interpelantes, a
ponto de atrair multidões. Ele impressionava a todos, tanto positivamente
quanto negativamente. Porém, muita gente que o acompanhava não tinha clareza
das exigências que o seu seguimento implicava, e Ele tinha consciência disso.
Ora, ainda no início do caminho, Ele tinha chamado o seu grupo de “pequeno
rebanho” (cf. Lc 12,32), sabendo que suas exigências eram complexas e não
seriam assimiladas com facilidade. Por isso, ao ver muita gente perto de si,
Jesus desconfia que houvesse equívoco de interpretação da sua mensagem, e
procura esclarecer o que é necessário para alguém, não apenas caminhar consigo,
mas tornar-se seu discípulo.
Como o discipulado tem suas exigências, e é
necessário conhecê-las bem, para não tomar uma decisão precipitada e
equivocada, Jesus esclarece quais são as principais. Eis a primeira: “Se alguém
vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos,
seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo”
(v. 26). Essa era uma das exigências mais sérias do discipulado de Jesus,
considerando a importância e a sacralidade do clã para o mundo semita. Romper
com os laços familiares era um grande desafio. Aqui, a tradução do texto
litúrgico procura suavizar as palavras de Jesus, pois no texto original o
evangelista emprega um verbo que corresponde a odiar – em grego: μισέω = missêo –, ao invés de
desapegar, sendo que odiar na cultura semita significa também “amar menos”, e é
esse o sentido atribuído pelo evangelista nesta passagem. É claro que Jesus não
estimula a disseminação do ódio; o que Ele diz aqui, portanto, significa que
para alguém entrar no seu discipulado é preciso amar menos do que a Ele até mesmo
as pessoas mais caras que temos, como os familiares. A opção pelo Reino torna
todo o restante relativo, inclusive a própria vida pessoal e familiar. A
fórmula conclusiva da exigência, “não pode ser meu discípulo”, mostra que essa
é uma condição indispensável: ou faz isso ou não entra no discipulado!
A
segunda exigência é consequência da primeira, que já determinava a renúncia à
própria vida, sendo ainda mais impactante, considerando o sentido da cruz aqui
empregado: “Quem não carrega a sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode
ser meu discípulo” (v. 27). Ora, tanto no tempo de Jesus quanto na época da
redação dos evangelhos, a cruz não era um sinal sagrado como hoje, mas um sinal
de condenação e maldição, aplicada às pessoas subversivas que ousavam contestar
a “pax romana”. No contexto específico deste texto, a cruz significa perigo
iminente de morte, e não a capacidade de suportar as provações e dificuldades
do dia-a-dia com paciência e aceitação passiva, como algumas interpretações
fundamentalistas pregam, transformando o Evangelho num discurso de resignação,
quando na verdade é um manifesto de contestação ao(s) sistema(s). A
disponibilidade para carregar a cruz significa, portanto, a disposição para
entregar a vida por causa do Reino, e quem não tem essa disposição não pode ser
discípulo ou discípula de Jesus. A cruz era o destino das pessoas inquietas,
inconformadas e subversivas, e Jesus exige que seus discípulos sejam assim.
Intercalando as duas primeiras com a terceira
exigência para o discipulado, Jesus conta duas pequenas parábolas para motivar
os seus interlocutores à reflexão; ambas, visam ensinar que o discipulado, ou
seja, a vida cristã, exige seriedade e não pode ser motivada por decisões
repentinas ou emoções passageiras. Eis a primeira parábola: “Com efeito, qual
de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os
gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, Ele vai
lançar o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso
começarão a caçoar, dizendo: Este homem começou a construir e não foi capaz de
acabar!” (vv. 28-30). A opção pelo Reino, ou seja, pelo discipulado de Jesus,
exige uma séria reflexão, sobretudo, no que diz respeito às consequências. O
cálculo minucioso dos gastos que um construtor deve fazer antes de iniciar um
empreendimento significa a consciência das exigências que o discipulado
implica. É claro que o Reino não pode ser experimentado a partir de cálculos
minimalistas, mas quem pretende ser discípulo ou discípula deve estar ciente,
com clareza, do que condiz ou não com o seguimento de Jesus.
A segunda parábola tem o mesmo sentido da primeira:
“Ou ainda: qual o rei que ao sair para guerrear com outro, não se senta
primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que
marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, enquanto o outro rei
ainda está longe, envia mensageiros para negociar condições de paz” (vv.
31-32). Obviamente, o objetivo de Jesus com esse exemplo não é convocar os
discípulos à promoção de guerra, tampouco compará-los a um rei. Assim como na
primeira, o que Ele quer ensinar com essa parábola é a necessidade da reflexão
antes de qualquer escolha. Independente da instância da vida, uma decisão
equivocada traz, inevitavelmente, consequências danosas. Acompanhar Jesus sem
ter clareza das exigências concretas que isso implica terminará em decepção,
constrangimento e frustração pessoal.
Por fim, Ele apresenta a terceira condição: “Do
mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem,
não pode ser meu discípulo!” (v. 33). Jesus quer pessoas completamente livres
no seu seguimento. O apego aos bens sempre foi um dos grandes obstáculos para
isso; o fato por último entre as três condições, sendo preparado pelas duas
parábolas, significa que era uma exigência mais desafiadora até mesmo do que o
desapego à família. Ora, se trata de uma exigência que pressupõe uma confiança
ilimitada na providência de Deus. As exigências anteriores, desapego à família
e disponibilidade para a cruz, poderiam ser observadas até de maneira fingida,
com meios termos, sendo possível voltar atrás, em caso de arrependimento. A
renúncia aos bens, pelo contrário, não poderia ser remediada; uma vez
renunciando-os, seria para sempre, já que essa atitude consistia em vender tudo
o que possuía e distribuir aos pobres. Portanto, essa condição exige uma
decisão irrevogável, sendo necessária uma reflexão mais aprofundada e séria,
por isso, a necessidade das duas parábolas como introdução preparatória.
Como acenamos no início, pela fórmula conclusiva de
cada uma das exigências – “não pode ser meu discípulo” – Jesus não está
propondo sugestões, mas apresentando condições indispensáveis e inegociáveis
para alguém fazer parte do seu discipulado. Diante disso, devemos refletir
pessoalmente e comunitariamente se, na situação em que nos encontramos, com o
que temos e o que somos, estamos sendo, de fato, discípulos ou discípulas de
Jesus? A positividade ou negatividade da nossa resposta depende das renúncias e
opções que fazemos.
Hoje e
sempre, aprenda a escolher o melhor para sua vida.
Saiba que
a verdadeira beleza está no interior de cada pessoa.
Portanto,
jamais se aproxime de alguém por sua beleza física.
Lembre-se
de que Deus criou os seres humanos para amarem, não para viverem isolados.
Todos
foram criados por amor e para o amor. A verdadeira beleza está no coração.
“Filhinhos,
não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18).
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