19 junho - Também nas coisas do espírito saibamos contentar-nos com o que Deus crê seja melhor conceder-nos, sem nos apegar demasiadamente ao fervor sensível ou ambicionar consolações espirituais. (S 359). São José Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 9,11-17
"E Jesus os recebeu, falou a respeito do Reino de
Deus e curou os que precisavam ser curados.
Estava anoitecendo, e por isso os doze apóstolos foram e disseram a
Jesus:
- Mande esta gente embora. Eles podem ir aos povoados e sítios que ficam
por perto daqui e lá encontrarão o que comer e onde ficar, pois este lugar é
deserto.
Mas Jesus respondeu:
- Dêem vocês mesmos comida a eles.
Os discípulos disseram:
- Só temos cinco pães e dois peixes. O senhor quer que a gente vá
comprar comida para toda esta multidão?
Estavam ali mais ou menos cinco mil homens. Jesus ordenou aos seus
discípulos:
- Mandem o povo sentar-se em grupos de mais ou menos cinqüenta
pessoas.
Os discípulos obedeceram e mandaram que todos se sentassem. Aí Jesus
pegou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu e deu graças a Deus por
eles. Depois partiu os pães e os peixes e os entregou aos discípulos para que
eles distribuíssem ao povo. Todos comeram e ficaram satisfeitos, e os
discípulos ainda encheram doze cestos com os pedaços que sobraram."
Meditação:
Nesta quinta-feira, a Igreja celebra o
Corpo e o Sangue de Cristo. É a festa do pão e da partilha. A
festa de Corpus Christi tem por objetivo celebrar solenemente o mistério da
Eucaristia - o sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo.
No Catolicismo a hóstia, torna-se literalmente em Carne e Sangue do Senhor
Jesus. Em outras denominações religiosas apenas a memória das palavras de
Cristo em Mateus 26,26 é lembrada, eles não acreditam transmutação do pão e
vinho durante a celebração.
Na celebração de Corpus Christi temos uma missa solene, procissão e
adoração ao Santíssimo Sacramento. A procissão lembra a caminhada do povo de
Deus em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado
com maná, no deserto. Hoje, ale é alimentado com o próprio corpo de Cristo.
Durante a missa o sacerdote consagra duas hóstias: uma é consumida e a outra,
apresentada aos fiéis para adoração. Essa hóstia permanece no meio da
comunidade, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua Igreja.
A primeira leitura de hoje constitui uma espécie de prefiguração
sacerdotal-eucarística na misteriosa pessoa de Melquisedeque; a segunda leitura
nos faz passar da imagem à realidade, através da catequese eucarística de Paulo
à comunidade de Corinto; finalmente, o evangelho nos recorda que a eucaristia é
e deve ser sempre expressão e fonte de caridade: nasce do amor de Cristo e se
torna fundamento do amor entre os fiéis reunidos em torno do Pão doado por
Jesus e distribuído por seus discípulos entre os irmãos.
A eucaristia sustenta toda a vida da comunidade crente. Enquanto tornamos
presente o “amor até o extremo” pelo qual Jesus ofereceu sua vida na cruz
(passado), nos comprometemos a formar um só corpo animado pela fé e a caridade
solidária (presente), “enquanto esperamos sua vinda gloriosa” (1Cor 11,26)
(futuro).
A primeira leitura (Gn 14, 18-20) é um antigo texto. Originalmente talvez, de
natureza política-militar, em que o misterioso personagem Melquisedeque, rei de
Salém, oferece a Abraão um pedaço de pão e vinho. Trata-se de um gesto de
solidariedade depois de retornar da batalha contra quatro reis (Gn 14, 17). A
passagem, sem dúvida, parece conter uma cena de caráter religioso, sendo
Melquisedeque um sacerdote segundo a práxis teológica oriental.
O gesto poderia conter um aspecto de sacrifício ou de rito de ação de graças
pela vitória. O v. 19, com efeito, conserva as palavras de uma bênção. As
palavras de Melquisedeque e seu gesto oferecem uma nova luz sobre a vida de
Abraão: seus inimigos foram derrotados e seu nome é exaltado por um
rei-sacerdote. O capítulo 7 da carta aos Hebreus construiu uma reflexão em
torno de Cristo Sacerdote à luz deste misterioso texto do Gênesis, segundo a
linha teológica já presente nas palavras que o Salmo 110, 4 dirige ao
rei-messias: “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque”.
A segunda leitura (1Cor 11,23-26) pertence à catequese que Paulo dirigiu à
comunidade de Corinto relacionada com a celebração das assembléias cristãs,
onde os mais poderosos e ricos humilhavam e desprezavam os mais pobres. Paulo
aproveita a oportunidade para recordar uma antiga tradição que recebeu na ceia
eucarística, já que o desprezo, a humilhação e a falta de atenção para com os
pobres nas assembléias estavam destruindo o sentido mais profundo da Ceia do
Senhor.
Deste modo se coloca em sintonia com os profetas do Antigo Testamento que
haviam condenado fortemente o culto hipócrita que não estava sendo acompanhado
de uma vida de caridade e justiça (cf. Am 5,21-25; Is 1,10-20), assim como fez
Jesus (cf. Mt 5,23-24; Mc 7,9-13). A Eucaristia, memorial da entrega de amor de
Jesus, deve ser vivida pelos crentes com o mesmo espírito de doação e de
caridade com que o Senhor “entregou” seu corpo e seu sangue na cruz por “vós”.
A leitura paulina nos recorda as palavras de Jesus na última ceia, com as quais
o Senhor interpretou sua futura paixão e morte como “aliança selada com seu
sangue” (1 Cor, 11, 25) e “corpo entregue por vós” (1 Cor 11, 24), mistério de
amor que se atualiza e se faz presente “toda vez que comerem deste pão e
beberem deste cálice” (1 Cor 11, 26). A fórmula do cálice eucarístico,
semelhante à fórmula da última ceia em Lucas (Mateus e Marcos apresentam uma
tradição diversa), está fundamentada no tema da nova aliança, que recorda a
célebre passagem de Jr 31, 31-33. Cristo estabelece uma verdadeira aliança que
se realiza não através do sangue de animais derramado sobre o povo (Ex 24), mas
com seu próprio sangue, instrumento perfeito de comunhão entre Deus e os
homens.
A celebração eucarística abrange e torna plena toda a história dando-lhe novo
sentido: torna presente realmente a Jesus em seu mistério de amor e de doação
na cruz (passado), a comunidade, obediente ao mandato de seu Senhor, deverá
repetir o gesto da ceia continuamente enquanto dure a história “em minha
memória” (1Cor 11, 24) (presente), e o fará sempre com a expectativa de seu
regresso glorioso, “até que ele venha” (1Cor 11, 26) (futuro). O mistério da
instituição da Eucaristia nasce do amor de Cristo que se entrega por nós, e,
portanto, deverá sempre ser vivido e celebrado no amor e na entrega generosa, à
maneira do Senhor, sem divisões nem hipocrisia.
O Evangelho (Lc 9, 10-17) relata o episódio da multiplicação dos pães, que
aparece com diversos matizes também nos outros evangelhos (duas vezes em
Marcos!), o que demonstra não só que o evento possui um alto grau de
historicidade, mas que também é fundamental para compreender a missão de Jesus.
Jesus está próximo de Betsaida e tem diante de si uma multidão de pessoas
pobres, enfermas e famintas. É a este povo marginalizado e oprimido a quem
Jesus se dirige, “falando-lhes do reino de Deus e curando aos que necessitavam”
(v. 11). A seqüência de Lucas acrescenta um dado importante no qual introduz o
diálogo entre Jesus e os Doze: começa a entardecer (v. 12). O momento recorda o
convite dos dois peregrinos que caminhavam para Emaús precisamente ao cair da
tarde: “Ficai conosco porque é tarde e está anoitecendo” (Lc 24, 29). Nos dois
textos a bênção do pão acontece no final do dia.
O diálogo entre Jesus e os Doze põe em evidência duas perspectivas. Por uma
parte os apóstolos que querem enviar as pessoas para povos vizinhos a fim de
que comprem comidas, procuram uma solução “realista”. No fundo pensam que seja
justo dar gratuitamente a pregação, mas é justo também que cada qual se
preocupe com o material. A perspectiva de Jesus, ao contrário, representa a
iniciativa do amor, a gratuidade total e a prova inquestionável de que o
anúncio do reino abrange também a solução às necessidades matérias das pessoas.
No final do v. 12 caímos na conta de que tudo está ocorrendo num lugar deserto.
Isto recorda sem dúvida o caminho do povo eleito através do deserto, saindo do
Egito e caminhando para a terra prometida, época na qual Israel experimentou a
misericórdia de Deus através de grandes prodígios, como por exemplo, o maná. A
atitude dos discípulos recorda a resistência e a incredulidade de Israel diante
do poder de Deus que se concretiza através da obra de salvação a favor do povo
(Ex 16, 3-4).
A resposta de Jesus: “dai-lhes vós de comer” (v. 13) não só é provocativa dada
a pouca quantidade de alimento, mas que, sobretudo deseja mostrar a missão dos
discípulos através do gesto misericordioso que realizará Jesus. Os discípulos,
aquela tarde próxima de Betsaida e ao longo de toda a história da Igreja, são
chamados a colaborar com Jesus se preocupando em conseguir o pão para seus
irmãos. Depois que os discípulos acomodam as pessoas, Jesus “tomou os cinco
pães e dos dois peixes, levantou os olhos para o céu, pronunciou a bênção, e os
partiu e foi dando aos discípulos para que eles distribuíssem às pessoas” (v.
16).
O gesto de “levantar os olhos ao céu” põe em evidência a atitude orante de
Jesus que vive em permanente comunhão com o Deus do reino; a bênção (a berajá
hebraica) é uma oração que ao mesmo tempo expressa gratidão e louvor pelo dom
que foi recebido ou que se está por receber. É digno de notar que Jesus não
abençoa os alimentos, pois para ele “todos os alimentos são puros” (Mc 7, 19),
mas que bendiz a Deus através deles, reconhecendo a Deus com fonte de todos os
dons e de todos os bens.O gesto de partir o pão e distribuí-lo
indiscutivelmente recorda a última ceia de Jesus, onde o Senhor dá novo sentido
ao pão e ao vinho da refeição pascal, tornando-os sinais sacramentais de sua
vida e sua morte como dinamismo de amor até ao extremo pelos seus.
No final todos ficam saciados e sobram doze cestos (v. 17). O tema da
“saciedade” é típico do tempo messiânico. A necessidade é a conseqüência da
ação poderosa de Deus no tempo messiânico (Ex 16, 12; Sl 22, 27, 78,29; Jr 31,
14). Jesus é o grande profeta dos últimos tempos, que recapitula em si as
grandes ações de Deus que alimentou seu povo no passado (Ex 16, 2 Rs 4,42-44).
Os doze cestos que sobram não só representam o excesso do dom, mas que também
põe em evidência o papel dos “doze” como mediadores na obra da salvação. Os
Doze representam o fundamento da Igreja, são como a síntese e a raiz da
comunidade cristã, chamada a colaborar ativamente a fim de que o dom de Jesus
possa atingir a todos os seres humanos.
No texto, como vimos, sobrepõem-se diversos níveis de significado. O milagre
realizado por Jesus o apresenta como o profeta dos últimos tempos. Ao mesmo
tempo em que o acontecimento antecipa o gesto realizado por Jesus na última
ceia, quando o Senhor doa à comunidade o pão e o vinho como sinal sacramental
de sua presença.
Por outro lado, o dom do pão no deserto inaugura o tempo novo da fraternidade,
que prefigura a plenitude da comunhão escatológica em plenitude. Além do mais
se coloca em evidência, como assinalamos antes, o papel essencial dos
discípulos de Jesus como mediadores do reino.
Através
daqueles que crêem no Senhor deveria chegar a todos os homens o pão do
bem-estar material que permite uma vida digna de filhos de Deus, o pão da
esperança e da gratidão, do amor, e, sobretudo o pão da Palavra e da
Eucaristia, sacramento da presença de Jesus e de seu amor misericordioso a
favor da humanidade.
Reflexão Apostólica:
No Evangelho, “as multidões” que aderiram
inicialmente a Jesus, vendo nele uma esperança de libertação, “o seguiram”.
Jesus “as acolhe” e lhes fala do Reino de Deus, ou seja, do homem novo e da
sociedade nova a que devem aspirar para sair de sua situação; curando os
enfermos, mostra-lhes que Deus deseja o homem vivendo em plenitude.
Os discípulos aconselham a Jesus para que despeça a
multidão. Não se solidarizam com ela; crêem que cada um deverá se virar como
pode para prover seu sustento. Jesus replica, mas eles não entendem sua
proposta de solidariedade (“vocês dêem-lhes de comer”) nem a alternativa do
Reino; vêem a solução somente no dinheiro, conforme as categorias da sociedade
injusta.
“Cinco pães e dois peixes” = sete, totalidade do
alimento de que dispõe a comunidade e “cinco mil” os comensais; insinua-se aqui
a comunicação do espírito através do pão partilhado e a maturidade humana que
produz “homens adultos”.
Jesus relaciona os pães com Deus criador: o pão é
dom seu e fator de vida e fecundidade. Como Dom de Deus, devem ser repartidos,
para continuar sobre a terra sua generosidade. Se a generosidade de Deus não se
tornar inválida pelo egoísmo humano, basta para satisfazer toda necessidade e
ainda mais, partilhando se saciaria a fome de todo o povo e até sobraria.
Olhando superficialmente esta festa litúrgica do Corpo e Sangue de Jesus parece
semelhante à da Quinta-feira Santa.
Entretanto, tem seu próprio matiz; na Quinta-feira
Santa celebramos a instituição da Eucaristia numa perspectiva ou conexão
imediata com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus; hoje, em troca, mesmo
sendo imprescindível esta relação essencial com a Eucaristia, se acentua a
idéia do pão repartido que nos dá a vida e reforça a fraternidade e a
solidariedade entre os cristãos. Por usa vez, nos interpela sobre a fome e a
miséria em que vivem muitos irmãos nossos por causa do egoísmo e do acúmulo de
uns quantos.
A celebração da Eucaristia está destinada a
provocar o compromisso entre os cristãos. A pessoa de Jesus, suas palavras e
ações, comprometem o verdadeiro cristão a um estilo de vida diferente, e de
modo particular, a participação e a comunhão com o corpo do Senhor.
A vida do cristão deve estar orientada para ir
construindo a comunhão dos crentes como verdadeiro corpo místico de Jesus;
corpo no qual se realize a unidade na diversidade pelos dons e carismas.
São Paulo fala de uma celebração indigna
referindo-se à comunidade dos Coríntios onde alguns cristãos fomentaram a
divisão e a discriminação pela opulência e o esbanjamento na celebração da
Eucaristia.
Hoje podemos entender como indignas aquelas
celebrações formalistas, frias, sem preparação e que não levam as pessoas e as
comunidades a nenhum compromisso. Por isso, a falta de compromisso em nossas
celebrações, faz com que as mesmas celebrações sejam, mais que sinais,
contra-sinais.
Quando termina a celebração da Eucaristia nós nos
dispersamos muito tranqüilos sem um verdadeiro compromisso ou preocupação com
aquilo que se há de fazer, com aquilo que deve provocar a mudança da realidade
de injustiça, miséria e fome em que vivem muitos cristãos.
A
celebração da Eucaristia hoje, dia do Corpo e Sangue de Jesus, não pede tanto
uma manifestação externa pública de nossa fé, mas uma celebração dos crentes
frente a um maior compromisso; mais que “ostentar” o Senhor no ostensório de
uma custódia maravilhosa, devemos manifestar o Senhor em nossas pessoas e
comunidades, na solidariedade efetiva através do partir e repartir para que
todos possamos viver em dignidade.
Nesta perspectiva deveríamos nos perguntar hoje o que significa para nós a
celebração da Eucaristia. Ela não é somente o momento de uma vivência
religiosa; é sobretudo uma convivência na recordação viva do mesmo Senhor, que
viveu e continua vivendo dentro da comunidade reunida, que proclama o mistério
salvador de sua morte e ressurreição.
Em minha
vida cristã o mistério eucarístico se manifesta como fonte de unidade e de
caridade? Como poderia me comprometer concretamente a favor das pessoas que
vivem na pobreza e passam fome de pão e de justiça?
Em nossa comunidade a celebração eucarística gera um amor maior e mais
compromisso em favor dos mais pobres ou se limita a ser um simples rito
religioso? Com quais iniciativas concretas poderíamos fazer que nossa
participação comunitária na Eucaristia seja mais ativa e dinâmica? Em que
sentido, como comunidade, podemos nos comprometer mais para levar aos demais o
pão do bem estar material, e o pão do amor e da esperança, e o pão do evangelho
do Reino?
Propósito:
Senhor Jesus, Pão Vivo de esperança e de amor,
concedei a nós que participamos da ceia eucarística, viver o mistério da comunhão
no amor e sermos testemunhas do vosso reino no mundo. Espírito
de solidariedade e partilha, fazei-me sensível à lição eucarística da partilha,
movendo-me a manifestar minha solidariedade efetiva com os pobres deste mundo.
Dia 19
Você
está doente?
Enfrenta
dificuldades financeiras?
Passa
por problemas familiares?
Tem
problemas de relacionamentos?
Está
em crise? Desanimado?
Está
tudo bem? Está feliz, alegre?
Nesses
momentos, o melhor a fazer é rezar.
Faça
de sua vida uma oração.
Os
seres humanos foram criados por Deus e para Deus; por isso, consciente ou
inconscientemente, todos têm um grande desejo dele.
Somente
nele é encontrada a verdadeira felicidade.
Por
isso, existe a necessidade de estar em comunhão com ele, para uma comunicação
mais profunda.
Tudo
pode ser transformado pela força da oração.
“Tudo
o que, na oração, pedirdes com fé, vós o recebereis”.
(Mt
21,22).
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