08 junho - Quando se deve corrigir alguém, é preciso antes
invocar o Espírito Santo, em seguida dizer com fineza a coisa, de maneira que
se saiba que não é o amor próprio que nos motiva, e sim o desejo de que todos
sirvam fielmente a Deus. (S 196).
São José Marello
"Ao
anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos,
com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio
deles. Disse: "A paz esteja convosco". Dito isso, mostrou-lhes as
mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus
disse, de novo: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos
envio". Então, soprou sobre eles e falou: "Recebei o Espírito Santo.
A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão
retidos"."
Reflexão para a João 20,19-23 - Solenidade de Pentecostes
O evangelho proposto pela liturgia na solenidade de
Pentecostes é João 20,19-23, texto que relata a primeira manifestação do
Senhor Ressuscitado aos discípulos, ao anoitecer do primeiro dia da semana, ou
seja, o domingo mesmo da páscoa. Esse texto já foi lido na liturgia dominical
deste tempo pascal, como parte do evangelho do segundo domingo: João 20,19-31.
Embora estejamos de fato há cinquenta dias da páscoa, o evangelho de hoje nos
remete ao dia mesmo da ressurreição.
Pentecostes era uma das três maiores festas do
calendário litúrgico judaico, juntamente com as festas da páscoa e das tendas.
Era celebrada cinquenta dias após a páscoa. Na Bíblia hebraica é chamada de
“festa das semanas”, pois contavam-se sete semanas após a páscoa, mais um dia,
o que totalizava cinquenta dias. Por isso, ganhou o nome de “pentecostes” (em
grego: πεντηκοστή –
pentecoste) a partir da dominação
grega, cujo significado é
simplesmente quinquagésimo
dia (cf. Tb 2,1; 2Mc 12,32). Como todas as festas judaicas, também pentecostes tem suas origens ligadas à vida
agrícola do povo; era a festa da colheita. Os peregrinos iam a Jerusalém
agradecer pela colheita, levando os melhores grãos e frutos da terra como
oferta, em gratidão a Deus.
Com o passar do tempo, essa festa foi perdendo sua
relação com a agricultura, e foi ganhando um novo significado, com uma
conotação mais religiosa. O motivo da celebração passou, então, a ser o
agradecimento a Deus pelo dom da Lei ao seu povo. Na época de Jesus e dos
apóstolos, esse novo sentido já estava consolidado: os judeus de todas as
partes do mundo, conforme as condições, iam a Jerusalém, para agradecer a Deus
pelo dom da Lei dada através de Moisés. Lucas, autor dos Atos dos Apóstolos, se
serve desse contexto e faz coincidir o envio do Espírito Santo com a festa
judaica de pentecostes, como artifício literário e teológico, para ensinar às
suas comunidades que a nova lei é o Espírito Santo. Para permanecer fiel a
Jesus e ao seu Evangelho, a comunidade cristã já não necessita das prescrições
da Lei de Moisés, deve apenas estar sensível e aberta aos dons do Espírito
Santo.
Ao contrário de Lucas, João faz de tudo para que os
referenciais da sua comunidade não coincidam com os esquemas litúrgicos
judaicos. Para João, inclusive, as festas dos judeus em Jerusalém sempre foram
muito conflituosas para Jesus; eram sempre momentos de confronto e ameaça (cf.
2,13ss; 5,1.18; 7,1ss; 10,31; 11,56). Por isso, João situa a transmissão do
Espírito Santo por Jesus aos discípulos, no dia mesmo da ressurreição. Embora a
Igreja tenha adotado o esquema de Lucas, a perspectiva da comunidade joanina
tem mais sentido e responde melhor às necessidades dos discípulos, como mostra
o Evangelho de hoje: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando
fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se
encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: A paz esteja
convosco!” (v. 19). Ora, amedrontada e sem poder de ação, essa comunidade não
teria condições de esperar cinquenta dias para receber o Espírito Santo. É
somente pela força do Espírito Santo que as portas são abertas e os dons
comunicados pelo Ressuscitado podem ser experimentados por todos.
A comunidade dos discípulos estava em crise,
profundamente abalada. Até aquele momento, somente Maria Madalena e o Discípulo
Amado tinham convicção da ressurreição (cf. Jo 20,8.16-18). A morte de Jesus na
cruz foi um alerta para os discípulos: quem continuasse propagando ideias como
as dele, poderia terminar da mesma forma. Por isso, estavam as portas
trancadas, devido ao medo. Por “medo dos judeus” entende-se o medo das
autoridades, e não de todo o povo; é típico de João usar o termo “judeus”
referindo-se às autoridades de Jerusalém (cf. Jo 9,22; 12,42; 16,16). Apesar do
medo, o fato de estarem reunidos é um sinal de esperança. Porém, não poderiam
continuar naquela situação. O medo impede a missão, as portas fechadas
bloqueiam o anúncio da Boa Nova.
Ao medo dos discípulos, o Ressuscitado responde com
o dom da sua paz, não como mera saudação, mas como plenitude de vida e
equilíbrio, o bem-estar da pessoa em todas as suas dimensões, condição
indispensável para a felicidade. Jesus comunica a sua paz estando no meio, quer
dizer, no centro da comunidade. Para que os dons do Ressuscitado sejam realmente
acolhidos, é necessário que a sua centralidade na comunidade seja respeitada;
isso vale para todos os tempos e lugares. Para uma comunidade viver realmente
os propósitos do Evangelho é necessário, antes de tudo, que no centro do seu
existir esteja o Ressuscitado e somente Ele, pois é Ele o único ponto de
referência e fator de unidade. Por isso, ao se manifestar, o Ressuscitado
aparece sempre no meio.
Na continuidade da experiência, diz o texto que
Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado” (v. 20a). Ao mostrar as mãos e o lado,
Jesus mostra a continuidade entre o Ressuscitado e o Crucificado; se trata da
mesma pessoa. O Ressuscitado traz as marcas do Crucificado, porque cruz e
glória não se separam. Nas mãos e no lado de Jesus está a sua identidade de quem
viveu para servir e amar. As mãos são símbolo e recordação do serviço e de todo
o bem que Jesus fez: são as mãos que tocaram em leprosos, mesmo sendo proibido
(cf. Mc 1,40), mãos que acariciaram crianças, gerando revolta nos discípulos
(cf. Lc 18,15-16; Mt 19,13-15), mãos que abriram olhos de cegos (cf. Jo 9,6),
mãos que curaram enfermos e expulsaram demônios (cf. Lc 4,40; 13,13), mãos que
lavaram os pés dos discípulos (cf. Jo 13,1-12); enfim, são mãos que promoveram
a vida e combateram o mal.
As marcas da cruz não apagaram a força das mãos de
Jesus. Essas mãos continuam à disposição da comunidade, e a comunidade, por sua
vez, tem a missão de fazer no mundo o mesmo que aquelas mãos do Ressuscitado
fizeram, ou seja, servir infinitamente e sem distinção. Também o lado, ou seja,
o peito aberto, tem o mesmo significado de continuidade: é o mesmo coração com
o qual Ele amou-os infinitamente (cf. Jo 13,1), e continua amando da mesma
forma. As mãos e o lado de Jesus são a síntese da sua vida, da sua mensagem e
da sua práxis. Ele doa o Espírito Santo aos discípulos para que suas mãos e o
seu coração continuem presentes no mundo servindo e amando de modo ainda mais
eficaz. Por isso, “os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (v. 20b).
Como fruto da paz transmitida pelo Ressuscitado, a alegria deve ser também uma
das características da comunidade que deve viver para amar e servir.
A paz como bem-estar do ser humano é novamente
oferecida: “novamente Jesus disse: A paz esteja convosco” (v. 21a) A passagem
do medo à alegria poderia tornar-se uma simples euforia, por isso a paz é doada
novamente para equilibrar a comunidade. Aqui, a paz não significa alívio ou
tranquilidade, mas sinal de liberdade e vida plena; é a capacidade de assumir
livremente as consequências das opções feitas. Tendo plenamente comunicado a
paz como seu primeiro dom, o Ressuscitado os envia, como fora ele mesmo enviado
pelo Pai: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (v. 21b). Ao contrário de
Mateus e Lucas que determinam as nações e até os confins da terra como destinos
da missão (cf. Mt 28,19; Lc 24,47; At 1,8), em João isso não é determinado.
Jesus simplesmente envia. Sem diminuir a importância da missão em sua dimensão
universal, o mais importante para o Quarto Evangelho é a comunidade. É essa a
primeira instância da missão, porque é nessa onde estão as situações de medo,
de desconfiança, de falta de entusiasmo, por isso é a primeira a necessitar da
paz e do Espírito do Ressuscitado.
Jesus tinha prometido o Espírito Santo aos
discípulos na última ceia (cf. Jo 14,16.26; 15,26). Agora, a promessa é
cumprida: “E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o
Espírito Santo” (v. 22). Aqui, o evangelista usa o mesmo verbo empregado no
relato da primeira criação do ser humano: “O Senhor modelou o ser humano com a
argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o ser humano
tornou-se vivente” (Gn 2,7). Com isso, o evangelista quer dizer que está sendo
realizada uma nova criação. O verbo soprar (em grego: έμφυσάω –
emfysáo) significa doação de
vida. Assim, podemos dizer que Jesus recria a comunidade e, nessa, a humanidade
inteira. Ao receber o Espírito,
a comunidade se torna também
comunicadora dessa força de
vida. É o Espírito
quem mantém a comunidade alinhada ao projeto de Jesus, porque
é Ele quem faz a comunidade sentir, viver e prolongar a presença do
Ressuscitado como seu único centro e fundamento, colocando à disposição da
humanidade mãos e coração para servir e amar continuamente.
O Espírito Santo garante responsabilidade à
comunidade, e não propriamente poder: “A quem perdoardes os pecados eles lhes
serão perdoados; a quem não perdoardes, eles lhes serão retidos” (v. 23). A
responsabilidade da comunidade cristã é reconciliar o mundo com Deus, levar a
paz e o amor do Ressuscitado a todas as pessoas, de todos os lugares e em todos
os tempos, fazendo o bem como Ele mesmo fez. A comunidade cristã tem essa
grande missão: fazer-se presente em todas as situações para, assim, tornar
presente também o Ressuscitado com a sua paz, suas mãos e seu coração; e é o
Espírito Santo quem a habilita a fazer isso. Não se trata, portanto, de poder
para determinar se um pecado pode ou não pode ser perdoado. É a
responsabilidade da obrigatoriedade da presença cristã para que, de fato, o
mundo seja reconciliado com Deus.
Movida pelo Espírito Santo, a comunidade tem a
responsabilidade de levar misericórdia de Deus a todas as realidades, para que
toda a humanidade seja recriada e, assim, o pecado seja definitivamente tirado
do mundo (cf. Jo 1,29). João, o batista, apontou para Jesus como o responsável
por fazer o pecado desaparecer do mundo. Agora, é Jesus quem confia à sua
comunidade de discípulos essa responsabilidade. Os pecados são perdoados à
medida em que o amor de Jesus vai se espalhando pelo mundo, quando seus
discípulos se deixam conduzir pelo Espírito Santo. O que perdoa mesmo os
pecados é o amor; logo, ficam pecados sem perdão quando os discípulos e
discípulas de Jesus deixam de comunicar esse amor. Em outras palavras, os
pecados ficarão retidos quando houver omissão da comunidade.
Deixando-se conduzir pelo Espírito Santo, a
comunidade atualiza e prolonga, no tempo e no espaço, a missão única de Jesus
de revelar o amor de Deus a todas as pessoas. O Espírito Santo torna as mãos e
o coração de Jesus sempre presentes no mundo, através dos seus seguidores.
Dia 08
Você
já reparou que existem pessoas que falam muito em doenças, dores, tragédias e
morte?
Evite
abordar esses assuntos, para não atrair energias negativas.
Em
vez disso, cultive a saúde, a alegria, uma vida mais saudável.
Confie
sempre no Senhor, que está com você em todas as circunstâncias da vida.
Diariamente,
ouça com amor a Palavra de Deus.
A
despeito de qualquer circunstância que lhe ocorrer, considere somente o lado
bom da vida.
“Por
outro lado, precisais renovar-vos, pela transformação espiritual de vossa
mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, na verdadeira
justiça e santidade”. (Ef 4,23-24).
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