Mateus 5,13-16
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Vocês são a luz para o mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre
um monte. Ninguém acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto. Pelo
contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão
na casa. Assim também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as
coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu.
Meditação:
As leituras de hoje têm como tema central a
justiça de Deus, expressada plenamente no amor misericordioso para com o
próximo. O relato lido do profeta Isaías situa-se no contexto do jejum, onde se
realiza uma forte crítica ao povo de Israel por suas práticas religiosas
desarticuladas da fé e da justiça para com os pobres.
O profeta chama a realizar o verdadeiro culto a Javé, ligado intimamente com a
justiça e a misericórdia. As diferentes práticas religiosas devem sair do
coração e devem dar o fruto de uma verdadeira justiça social, concretizada na
partilha do pão para com o faminto, na solidariedade com os que sofrem, na
preocupação visceral com os irmãos pobres, pois neles, no abatidos, nos mal
vistos, é onde o mesmo Deus se revela; é neles que a luz de Deus se faz
presente; é neles que o Deus de Israel verdadeiramente habita.
Em relação com o anterior, Paulo expressa aos coríntios que o mistério de Deus,
anunciado por ele, não se fundamenta na sabedoria humana, mas no mesmo Senhor
crucificado, o qual significa que é Deus quem agiu em Paulo e na comunidade. É
relevante que Paulo se refira à cruz de Cristo como o elemento essencial de sua
pregação.
Com esse elemento quer tornar presente o verdadeiro rosto de Deus que se
revela, não aos sábios nem aos poderosos, mas aos que estão em situação de
risco na sociedade. Daí que o anuncio da Palavra transformadora de Deus não
pertença ao mundo da sabedoria humana, mas à força salvadora do Espírito de
Deus.
Isto significa que a fé e seu devido comportamento moral, sintetizado na
justiça e na misericórdia, seja uma iniciativa exclusiva de Deus, uma ação
libertadora que penetra no coração do ser humano e que o impele a agir de uma
maneira coerente com a Palavra escutada. Portanto, o anúncio do mistério de
Deus, realizado por Paulo à comunidade grega de Corinto, é sua própria
experiência de Cristo. O que realmente anuncia é a vivencia dessa mensagem.
O evangelho de Mateus, expressa a missão dos crentes de todos os tempos: ser
sal e luz para o mundo. Tanto o sal como a luz são elementos necessários na
vida cotidiana das famílias. O sal dá sabor aos alimentos, conserva-os,
purifica. Na antiga Palestina o sal servia para acender e manter o fogo dos
fornos de terra.
Por sua parte, como é sabido, a luz dissipa as trevas, ilumina e orienta as
pessoas. É a metáfora perfeita empregada pelo AT para referir-se a Deus. É a
tarefa dos profetas e, em especial, a do Messias: ser luz das nações (Is 42,6).
Sal e luz, então, falam da tarefa do seguidor fiel de Jesus que tem como missão
expressar a fé, sua integração ao projeto de Deus através do testemunho de vida
através das boas obras, dos bons frutos.
O sal que Jesus nos associa é para lembrar o SABOR, e este traduz toda a
SABEDORIA que há em nós e que nos pode ser aumentada quando estamos em unidade
com Deus (e na sua constante busca!).
Como luz também damos sabor ao que os olhos
podem ver, é a parte do mostrar que Deus faz-Se revelar, pois muitas vezes é
mistério, mas em nós, na nossa luz – por Ele dada – podemos conhecê-Lo e experimentá-lo,
com todo do sabor da vida!
O seguidor tem a missão de manter o sabor e
a luminosidade da Palavra de Deus em todo tempo e lugar do mundo, tarefa que
unicamente se consegue por meio de uma consciência plena da necessidade de
fomentar, na comunidade mundial, a justiça e a solidariedade entre os irmãos.
E quando a Igreja não é “luz do mundo”, mas que também manifesta sua
obscuridade, o pecado de seus fiéis e até de seus sacerdotes e bispos, e a
falta de renovação para ser sal da terra?
Também é preciso questionar-se a respeito disso. Porque a frase do evangelho
não é uma declaração dogmática que nos torne imunes ao mal. O mal e o pecado
também adentram em nossas vidas, e na do coletivo eclesial. Às vezes falta-nos
coragem para ver, para reconhecer e combater o pecado em nosso meio.
É um dever combater o mal, também quando o vemos dentro de nossa Igreja. Não
manifesta amor o que cala. Certamente que a denuncia do mal da Igreja tem que
ser por amor, porém um amor provavelmente conflitivo, que encontrará
resistências. Porém, o amor não é capaz de calar de forma cúmplice, quando se
sente na obrigação de combater o mal, precisamente por amor.
A Igreja está ciente de quão complicado
seja o coração do homem e da mulher. A celebração da luz manifestada na fragilidade
da carne de Jesus se faz uma invocação, para que ela nos acompanhe além da
festa do Natal: “Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a
claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este
mistério, possamos gozar no céu sua plenitude” (Natal- Missa da noite, Oração
do dia).
Ter os olhos fixos para Cristo, verdadeira
luz, nos proporciona a capacidade de julgar e gozar em maneira correta das
tantas luzes que hoje brilham no caminho dos homens e das mulheres, mesmo fora
do tempo das festas natalinas.
Luzes que deixam brilhar o amor de quem tem
cuidado com ternura dos que estão na dor, no abandono, no desespero, fora dos
holofotes da publicidade, escondidos nos apartamentos, nos hospitais, nas
sombras obscuras das ruas super-iluminadas da cidade.
Luzes dos escritórios e das lojas, acesas
sem interrupção, testemunhas mudas do homem que fica empenhado sem parar na
construção do próprio presente e do próprio futuro com suas próprias mãos.
Luzes que às vezes se apresentam como
alternativas definitivas na busca do sentido e da felicidade da vida, nos
brilhantes shopping-centers, as novas “catedrais” das metrópoles modernas, que
atraem multidões ao novo culto da cobiça pelas mercadorias de todo tipo,
expostas com abundância nas vitrines.
Luzes e sombras, autenticidade e
aparências, se misturam no dia a dia e parecem refletir-se umas nas outras.
Babilônia e Jerusalém se cruzam. Somente o olho dos que “vivem na luz” do
Senhor pode distinguir uma da outra e ajudar a cidade dos homens a tornar-se um
pouco mais cidade de Deus desde já, na medida em que se torna mais
autenticamente humana.
A afirmação de Jesus no evangelho de hoje,
“Vos sois a luz do mundo... assim também brilhe a vossa luz diante dos homens
para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus...”
(Mt 5,14.16), pressupõe a experiência da autêntica relação pessoal com Cristo,
a qual fundamenta o testemunho: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não
andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Essa relação transforma a pessoa e permite
ao discípulo assumir os mesmos pensamentos e as mesmas atitudes de Jesus na
própria vida. O processo da relação com Jesus, origem de luz verdadeira,
coincide com o processo de conversão ao Senhor, conversão que jamais se poderá
dizer plenamente terminada.
Se faltar esta experiência transformadora e
luminosa do Senhor, onde o discípulo poderá haurir e partilhar o “sabor do sal”
da vida cristã?
A Igreja do Concílio Vaticano II fez a
escolha de voltar a confrontar-se e a mergulhar-se novamente na relação com
Cristo, seu Senhor, “Luz dos povos”, para tornar-se mais capaz de irradiar a
boa-nova do amor do Pai, para os homens e as mulheres do mundo contemporâneo
(Constituição Lumen Gentium 1).
Convida-nos a entrar no mesmo processo.
Convida-nos a pegar nas mãos, com renovada consciência, a vela que recebemos no
batismo, acendida no círio pascal, para que nos ponhamos a caminho, nesta que é
uma vigília pascal que não acaba nunca, caminhando juntos com nossos irmãos e
irmãs. Ninguém deveria se subtrair a esta humilde e fascinante peregrinação
noturna, que nos encaminha rumo à luz plena e definitiva da Jerusalém celeste.
“Nada mais frio do que um cristão que não
se preocupa com a salvação dos outros.... Cada um de nós tem a possibilidade de
ajudar ao próximo, se quiser cumprir os seus deveres.... Se o fermento,
misturado à farinha, não fizer crescer a massa, terá tido fermento verdadeiro?
Se o perfume não espalhar sua fragrância, ainda o chamaremos perfume? Não digas
que és incapaz de influenciar os outros. Se fores cristão, é impossível que não
o faças” (São João Crisóstomo, Homilia 20,4; LH, comum dos Santos Homens).
Reflexão Apostólica:
Após a narrativa do anúncio das
bem-aventuranças por Jesus, Mateus reúne uma grande coleção de sentenças de
estilo sapiencial, associadas a Jesus. Ele reuniu, de modo didático, para
doutrinação, ditos e sentenças esparsas, originários de palavras de Jesus, que
circulavam livremente como tradição entre os cristãos.
Vários destes ditos e sentenças aparecem dispersos ao longo dos outros
evangelhos sinóticos, Marcos e Lucas. O conjunto forma o que se costuma
denominar "o Sermão da Montanha".
Mateus redige sua obra em um
momento em que o judaísmo, após a destruição do Templo de Jerusalém no ano 70,
busca sua identidade na estrita e rigorosa observância da Lei.
Sob esta decisão de estrita observância, os fariseus expulsaram das sinagogas
os judeus convertidos ao cristianismo que, embota ameaçados, perseveraram em
sua fé cristã.
Com a coletânea de sentenças do
Sermão da Montanha, Mateus procura identificar, para suas comunidades oriundas
do judaísmo, as características do Reino dos Céus, diferenciando-as dos
estreitos critérios de identidade exigidos pelos fariseus. Daí vem a freqüente
repetição da expressão: "...foi dito aos antigos... Eu, porém, vos
digo...", ao longo do Sermão.
O texto de Mateus adquire o caráter de um discurso programático interpretando o
projeto de Jesus, apresentando-o como aquele que responde às autênticas esperanças
suscitadas pela fé fundada no Primeiro Testamento.
Nele, Jesus usa as figuras do sal e da luz a fim de definir a nossa vocação
para a edificação do mundo sonhado pelo Pai dentro dos parâmetros que o Seu
Filho veio estabelecer para nós.
Assim como o sal serve para dar sabor e conservar os alimentos, nós também
temos o papel de animar, de encorajar e dar esperança à vida das pessoas.
Do mesmo modo que a luz tira as
trevas e a escuridão revelando o que está escondido, nós também, como a luz,
temos a missão de desvendar ao mundo os mistérios de Deus e tirar as pessoas da
ausência de conhecimento.
O sal é amor que anima, encoraja, ajuda, consola, acolhe, compreende. A luz é a
ciência que tira a escuridão, e revela os mistérios de Deus. Ser sal da terra é
saber temperar a nossa vida e das pessoas com o jeito de ser cristão, levando
esperança, ânimo, alegria, amor, etc. conforme o fruto do Espírito Santo.
Ser luz do mundo é clarear a mentalidade deturpada e enganadora que reina na
cabeça das pessoas desavisadas do Evangelho. É tirar da ignorância, aqueles
(as) que não se conhecem, por isso não enxergam as suas próprias dificuldades.
Não conhecem a Deus, por isso, não amam e não perdoam, visto que nunca se
sentiram amadas e nunca foram perdoados (as).
É abrir caminhos, é dar alternativas para uma vida feliz. No entanto, para
sermos tudo isto nós precisamos do poder do alto. Nunca poderemos ser sal, luz,
cidade atraente e lâmpada que brilha se não tivermos em nós a ação do Espírito
Santo de Deus.
Não podemos deixar o Espírito escondido dentro de nós, pois só a sua
manifestação nos faz produzir as obras atraentes, esclarecedoras, decididas que
para nós são fundamentais em qualquer situação.
Assim, portanto, não podemos ficar escondidos, pois brilhamos com a luz que vem
de Jesus e não podemos desanimar, porque em nós existe o amor que é como o sal
que dá gosto à nossa vida. Que a luz de Jesus brilhe através de nós e o Seu
amor se irradie nas nossas ações!
Como você tem feito brilhar a luz de Deus no mundo? Você tem sabido animar as
pessoas ou precisa delas para animar-se? Quais têm sido as obras que você tem
realizado no mundo? Você tem revelado no mundo as obras de Deus na sua vida?
No evangelho de hoje, de início, temos as duas sentenças proclamatórias que identificam
o compromisso dos discípulos: "Vocês são o sal para a humanidade...
Vocês
são a luz para o mundo...". Sal e luz, duas realidades perenes
do dia a dia, adotadas por metáfora, também pelos profetas. Porém, na Bíblia,
esta é a única passagem em que o sal é usado em uma metáfora aplicada a
pessoas. Ao sal associa-se a propriedade de preservação da corrupção que
proporciona a durabilidade.
É antiga a prática de salgar alimentos para garantir sua durabilidade. Assim o
faziam, certamente, os pescadores da Galiléia. Além do mais, é o sal que dá o
sabor aos alimentos, proporcionando mais prazer no seu consumo. A "aliança
no sal" é também uma expressão que indica a fidelidade a um compromisso. É
partilhar com outrem, pouco a pouco, o sal do alimento de cada dia, ao longo de
longos dias.
Os discípulos são chamados ao compromisso da fidelidade ao projeto de Deus,
pelo que a alegria brota nos corações. A luz é o admirável fenômeno físico que
nos revela a natureza das coisas materiais.
No âmbito das realidades
espirituais a luz identifica-se com a verdade. É pela verdade que alcançamos a
realidade dos fatos e da vida, os quais são ocultados pela falsidade e pela
mentira. Se a palavra do discípulo deve ser agradável ela também não deixará de
ser uma luz que revela a vontade de Deus denunciando a falácia dos valores e
das ofertas de um mercado globalizado a serviço do dinheiro e do lucro.
A alegria e a verdade são manifestações do amor que une os discípulos em
comunidades e que irradiam transformando o mundo. Na humildade e na confiança
em Deus (primeira leitura), os discípulos são chamados a serem a luz que
ilumina os caminhos e revela a verdade de Jesus.
Ser o sal da terra e a luz do mundo é comprometer-se com o Reino dos Céus
encarnado na história, no dia a dia. É partilhar com quem tem fome, acolher os
pobres, vestir os nus. É praticar a justiça e a paz que demovem os poderosos
injustos e violentos. "Assim, qual novo amanhecer, tua luz brilhará nas
trevas".
Propósito:
Pai, tenho diante de mim o mundo todo a ser
evangelizado. Transforma cada circunstância e cada momento da minha vida em
chance para dar testemunho do teu Reino.
Dia 10
Procure
agir com naturalidade, analisando minuciosamente cada ação praticada.
Ponha
a razão e a lógica na frente de seus impulsos inconsequentes, que, muitas
vezes, causam aborrecimentos e decepções.
Lembre-se
de que a maneira de se comportar vai determinar como será seu futuro.
Reflita
quantas vezes refez sua vida por causa de erros passados; por isso, seja o mais
sensato possível.
Peça
que Deus lhe conceda o discernimento entre o que é certo e errado.
As
experiências adquiridas com os erros cometidos são as maiores aliadas das
pessoas, para que suas atitudes sejam sensatas.
“Jesus
respondeu: ´Acaso não estais errado, por que não compreendeis as Escrituras,
nem o poder de Deus? ´” (Mc 12,24).
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