03 agosto - Conformidade total com a vontade de Deus: eis o grande meio para progredir no caminho da perfeição; mas, por sua vez, esse meio torna-se o fim (em) com relação aos meios que devemos utilizar para obtê-la. (L 52). São José Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 12,13-21
"Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”.
Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de
julgar ou de dividir vossos bens?” E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra
todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de
um homem não consiste na abundância de bens”.
E contou-lhes uma parábola: “A terra de um
homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer?
Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que vou
fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o
meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro,
tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ Mas
Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para
quem ficará o que tu acumulaste?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para
si mesmo, mas não é rico diante de Deus”."
O evangelho proposto para este décimo oitavo
domingo do tempo comum é Lc 12,13-21, um texto que faz parte do contexto do
longo caminho de Jesus com seus discípulos para Jerusalém, onde viverá a
consumação da sua missão, com os eventos da paixão, morte e ressurreição. Como
temos enfatizado há alguns domingos, esse caminho constitui a seção narrativa
mais longa de todo o Evangelho segundo Lucas, totalizando dez capítulos (cc. 9
– 19); inclusive, do décimo terceiro ao trigésimo primeiro domingo do tempo
comum, neste ano C, o evangelho é tirado dessa seção. É importante recordar
também que, mais do que um percurso físico/geográfico, esse caminho é, acima de
tudo, um itinerário formativo, teológico e catequético, através do qual Jesus
apresenta os principais elementos do seu ensinamento aos discípulos/a. Podemos
dizer que Lucas juntou os principais ensinamentos de toda a vida de Jesus e
distribui-os na seção do caminho, mesclando textos exclusivos seus com outros
comuns aos demais evangelhos sinóticos (Mateus e Marcos). Mesmo que entrem em
cena outros personagens durante o caminho, como no episódio de hoje, os
destinatários principais da mensagem são sempre os discípulos. Assim, neste
itinerário são abordados os temas fundamentais para a formação do discipulado: a
partilha, a importância da oração, o universalismo da salvação e da missão, a
misericórdia para com os pecadores, a necessidade de fazer renúncias e o perigo
do apego aos bens materiais, tema do evangelho de hoje.
Uma
vez contextualizados, olhemos para o evangelho de hoje, um texto exclusivo de
Lucas, que compreende um pedido de intervenção de Jesus por um homem
desconhecido (v. 13), cuja resposta (vv. 14-15) é seguida de uma parábola que
denuncia o perigo do apego aos bens e a confiança nas riquezas (vv. 16-21). Eis
o texto: “Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu
irmão que reparta a herança comigo” (v. 13). Esse pedido reflete um costume da
época. Provavelmente, Jesus estava passando por um povoado, onde as opiniões
dos rabinos – como Jesus era considerado – eram bastante requisitadas,
sobretudo para ajudar a resolver questões que envolvessem a interpretação da
Lei, como casos de herança, por exemplo. Inclusive, os rabinos eram muito
interessados por questões desse tipo e se sentiam honrados quando solicitados,
pois, além de ser uma oportunidade para exibir conhecimento, ainda recebiam uma
recompensa financeira quando conseguiam promover o acordo. Provavelmente, o
homem que pede a intervenção de Jesus era um filho mais novo, já que era o mais
velho quem tinha controle sobre toda a herança da família, de acordo com a Lei.
Enquanto o primogênito tinha direito a dois terços da herança, o outro terço
era distribuído com os demais filhos (cf. Dt 21,16-17). Em compensação, o
primogênito tinha também o dever de cuidar da viúva e das irmãs solteiras.
Geralmente,
quando um filho mais novo pedia a divisão dos bens havia conflitos, sendo
necessária a intervenção de rabinos, os quais exerciam papel de advogado e
juiz, sobretudo, nos pequenos povoados, onde quase ninguém conhecia a Lei em
profundidade. Por isso, na passagem de um rabino por um povoado, era comum
aparecer questões desse tipo. Ao pedido de intervenção, “Jesus respondeu:
“Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” (v. 14). Antes
de tudo, Jesus se nega a agir como os rabinos do seu tempo. A princípio, parece
estranha a recusa, uma vez que, segundo a Lei, alguém estava sendo injustiçado
naquele caso. Como promotor da fraternidade, é claro que Ele tinha interesse na
resolução de conflitos entre irmãos; portanto, Ele não está lavando as mãos,
como aparenta. Seria lógico que Jesus intervisse e ajudasse na resolução do
problema, deixando cada um com o percentual justo da herança, conforme a Lei.
A
parábola vai sendo preparada aos poucos. Do caso específico do homem que lhe
pede intervenção, Jesus aproveita para chamar a atenção dos discípulos: “E
disse-lhes: Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém
tenha muitas coisas, a vida do homem não consiste na abundância de bens” (v.
15). A expressão “disse-lhes” sinaliza que não é mais a um indivíduo, mas ao
grupo dos discípulos que Ele está direcionando o ensinamento. É uma dura
advertência. Certamente, Ele sentia muita resistência nos seus seguidores no
processo de assimilação de seus ensinamentos. Assim, Ele vai de encontro à
mentalidade hebraica que via no acúmulo de bens, ou seja, na riqueza, um sinal
da bênção de Deus. Jesus contraria esse princípio. O acúmulo de bens é, na
verdade, a prova maior da falta de sentido para a vida e, inclusive, causa de
discórdias. Portanto, é urgente para seus seguidores e seguidoras libertarem-se
dos bens que aprisionam e escravizam. Provavelmente, os discípulos ainda não
tinham aprendido a rezar como Ele e estavam pedindo, ainda, mais que o pão
necessário para cada dia (cf. Lc 11,2-4).
Seja
sempre transparente em suas atitudes.
Quando for
auxiliar um irmão necessitado, pratique gestos espontâneos de caridade.
Evite
superficialidades e esteja sempre pronto a ajudar quem mais precisa.
A
solidariedade é uma das maiores riquezas da vida.
“Eu vos
dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros.
Como eu
vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.
(Jo
13,34).
Nenhum comentário:
Postar um comentário