16º Domingo do Tempo Comum (ano c)
20 julho - A caridade é o vínculo da unidade e a obediência é a
sua salvaguarda. (L 76).São José Marello
Lucas 10,38-42 20 julho 2025
- O senhor não se importa que a
minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me
ajudar.
Aí o Senhor respondeu:
- Marta, Marta, você está agitada e
preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a
melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela."
Reflexão para o 16º Domingo do Tempo Comum - Lucas 10, 38-42 (Ano C)
O Evangelho deste décimo sexto domingo do tempo
comum continua a nos situar no longo caminho de Jesus para Jerusalém. Como
temos afirmado nos últimos domingos, o caminho que Lucas apresenta é, mais do
que um percurso físico, um itinerário teológico e catequético, no qual Jesus
revela sua identidade messiânica e forma o seu discipulado, ao mesmo tempo em
que antecipa a natureza missionária da comunidade cristã. O texto proposto para
hoje é exclusivo de Lucas (Lc 10,38-42). Trata-se do relato da visita de Jesus
às irmãs Marta e Maria. Embora simples do ponto de vista narrativo, esse texto
é altamente rico e revolucionário, no qual diversos paradigmas são quebrados.
Como já estamos bastante familiarizados com o contexto do caminho, ao invés de
contextualizar o texto, recordaremos inicialmente alguns aspectos relacionados
à sua interpretação ao longo da história.
Por muito tempo, esse texto foi usado simplesmente
para fundamentar a distinção entre duas formas de vida caras ao cristianismo: a
vida ativa e a contemplativa, com uma clara superioridade da vida
contemplativa, reservada a pessoas criteriosamente escolhidas por Deus para
viver separadas do mundo, preservadas em mosteiros e conventos. Nessa linha, a
personagem Marta representa a vida ativa, enquanto Maria é o ícone da vida
contemplativa. Manter o texto nesta perspectiva é aprisioná-lo e deixar de
perceber a sua riqueza ímpar no conjunto da obra de Lucas, o autor do Novo
Testamento que mais valoriza a participação das mulheres na vida de Jesus e das
comunidades cristãs. Por sinal, uma outra recomendação importante para uma
compreensão adequada deste relato é mantê-lo separado da passagem do Evangelho
segundo João (cf. Jo 11,1-43) em que Jesus também aparece em relação com as
mesmas irmãs Marta e Maria, por ocasião da morte e reanimação de Lázaro, também
irmão das duas. Há uma tendência quase automática de relacionar os dois
relatos, o que prejudica a compreensão da perspectiva de Lucas que, para
evidenciar a importância do encontro de Jesus com as duas mulheres, faz de
conta que Lázaro não existe. É nessa linha que devemos fazer a leitura.
Olhemos, portanto, atentamente para o texto, para
perceber as novidades que Lucas apresenta nele: “Jesus entrou num povoado, e
certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa” (v. 38). Naquele contexto,
a mulher não tinha autonomia para receber um homem em casa. Esse era papel do
homem. Enquanto o homem dava atenção ao hóspede, as mulheres da casa
permaneciam na cozinha, preparando o alimento e não ousavam, sequer, saudar o
hóspede. Por isso, trata-se de algo novo. A atitude de Marta foi
revolucionária. Ao acolher Jesus, ela rompeu barreiras. Revolucionária também
foi a atitude de Jesus: no seu tempo, não era conveniente para um homem aceitar
a acolhida de mulheres. Temos logo no primeiro versículo, portanto, uma dupla
transgressão: de Marta e de Jesus; ambos fizeram o que era proibido. Com isso,
o evangelista ensina que homem e mulher possuem a mesma dignidade e,
consequentemente, os mesmos direitos. Por onde Jesus passa, Ele quebra
barreiras, rompe condicionamentos e promove libertação.
Na sequência, o evangelista introduz mais uma
personagem, e com uma atitude ainda mais revolucionária que a de Marta: “Sua
irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra” (v.
39). A posição de Maria é muito importante e significativa, pois é a posição do
discípulo, de acordo com o método rabínico de ensinamento. O gesto de sentar
aos pés não quer dizer adoração nem devoção, como muitas interpretações
afirmavam. Sentar aos pés para escutar quer dizer ser discípulo ou discípula; é
aceitar o outro como mestre, como recordou Paulo em relação a Gamaliel, o seu
mestre, ao defender-se dos judeus de Jerusalém: “Eu sou judeu, nascido em Tarso
da Cilícia, mas criei-me nesta cidade. Fui educado aos pés de Gamaliel” (At
22,3). Portanto, Maria se torna discípula com essa atitude. Assim, também ela
rompe muitas barreiras. Esse papel não era permitido às mulheres. Temos aqui,
novamente, uma dupla transgressão: a de Maria, que exerce um papel inconcebível
para uma mulher da sua época, e a de Jesus que, ao aceitar mulheres no seu
discipulado, põe cada vez mais em xeque a sua condição de mestre. Inclusive, na
época circulava o seguinte ditado: “é melhor queimar a Torá do que colocá-la
nas mãos de uma mulher”. Com isso, Jesus rompe com todos os padrões de mestre
da sua época. Rabino algum do seu tempo aceitava mulheres no discipulado.
Apesar de ter recebido um homem em casa, atitude
revolucionária para uma mulher da sua época, Marta ainda estava condicionada,
pelo menos em partes, aos padrões e normas do seu tempo, imaginando que a
mulher não poderia fazer outra além dos cuidados do lar: “Marta, porém, estava
ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: ‘Senhor, não te importas
que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha
ajudar!” (v. 40). Temos aqui a descrição de uma situação normal para uma dona
de casa, principalmente tendo que preparar refeição para uma visita importante.
É a imagem da dona de casa disciplinada que não perde tempo para manter a casa
em ordem e servir da melhor maneira possível aos hóspedes. Por isso, ela pede
que Jesus intervenha, pois, fazendo tudo sozinha, talvez, não conseguisse
preparar a refeição a tempo. Embora normal para uma dona de casa, o pedido de
Marta é absurdo para Jesus: tirar Maria dos seus pés seria fazê-la renunciar à
condição de discípula e privá-la de um direito conquistado, um ato de
emancipação feminina.
Com serenidade, Jesus responde à solicitação de
Marta, sem, no entanto, atender ao seu pleito, ou seja, sem tirar Maria dos
seus pés: “O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e
andas agitada por muitas coisas” (v. 41). Antes de tudo, é necessário recordar
que Jesus não está repreendendo Marta, como tem sido interpretado esse
versículo. De fato, ver essa passagem como uma repreensão é um dos maiores
equívocos das interpretações tradicionais. É inegável que Jesus vê o ativismo
desenfreado, no qual Marta estava envolvida, como um empecilho à escuta da sua
Palavra. Diante disso Ele não repreende, mas dá uma oportunidade, faz um
convite ao discipulado. Na linguagem bíblica, a dupla invocação de um nome por
Deus ou por um mensageiro seu, como aqui – “Marta, Marta!” – é sinal de um
chamado vocacional; recordemos alguns casos: “E Deus o chamou do meio da sarça,
dizendo: ‘Moisés, Moisés!’ Este respondeu: ‘Eis-me aqui!” (Ex 3,4); “Veio o
Senhor e chamou como das outras vezes: ‘Samuel, Samuel!’ e Samuel respondeu:
“Fala, pois teu servo te escuta” (1Sm 3,10); “Saulo, Saulo, porque me
persegues?” (At 9,4b). Como Maria já tinha abraçado o discipulado, o que foi
demonstrado pelo gesto de sentar-se aos seus pés, Jesus chama também Marta a
essa condição, ao invés de repreendê-la pelas suas preocupações. Esse chamado
pode ser visto também como uma maneira de equilibrar a comunidade, pois já havia
duas duplas de irmãos entre os discípulos: Simão e André, João e Tiago (cf. Lc
5,1-11; 6,14); é chegado também o momento de ter uma dupla de irmãs: Marta e
Maria.
Assim como os discípulos pescadores foram chamados
a deixar as redes para segui-lo, Marta é chamada a deixar certas preocupações
e, assim como sua irmã, optar pela “parte boa”: “Porém, uma só coisa é
necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (v. 42).
Embora a tradução litúrgica use a expressão “a melhor parte”, o correto é “a
parte boa” (em grego: τήν άγαθήν μερίδα), pois é a única que realmente importa, e é incomparável.
Essa “parte boa” é o Evangelho, o conjunto do ensinamento de Jesus e a sua
própria pessoa. É escolhendo a “parte boa” que o ser humano encontra vida em
plenitude e, por isso, se torna uma pessoa livre.
Ser discípulo ou discípula de Jesus é optar pela
liberdade, abrir mão de todas as formas de prisão existentes. Esse chamado é
aberto a todos e todas. Foi compreendido por Maria e Jesus o estende também à
sua irmã. A própria Marta já tinha dado um grande passo de emancipação ao
atrever-se a acolher um homem em sua casa. Faltava mais um, sentar-se aos pés
do mestre para ouvi-lo. Fazendo isso, ela estaria escolhendo a “parte boa” e,
logo, conquistando a liberdade plena. Esse chamado é dirigido a todas as
pessoas, de todos os tempos e lugares. Com isso, Jesus declara que mulher não
foi criada simplesmente para os cuidados do lar, mas para ser o que ela quiser
ser, e estar onde quiser, inclusive discípula de um nazareno pobre e mal
afamado, um mestre ao revés, como era Ele.
A cada
dia, a natureza se renova.
Isso
ocorre em vários aspectos: cores, formas, flores, frutos, enfim, tudo se renova
totalmente.
Você
também pode renovar seus pensamentos, sentimentos e atitudes.
Para isso,
todos os dias, peça que o Espírito Santo venha e restaure, cure e liberte todas
as áreas de sua vida.
Fale a
Jesus sobre seus desejos e necessidades mais íntimos, para que ele seja o
centro de sua existência.
Renove-se
a cada dia.
Entregue-se
a Jesus.
“Da mesma
forma, o Espírito vem em socorro de nossa fraqueza.
Pois não
sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso
favor, com gemidos inefáveis”. (Rm 8,26).
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