27 julho - De nossa parte, façamos sempre a balança pender para o lado da autoridade, e poderemos esperar que Deus, autoridade suprema, de mil modos e em coisas de ordem mais elevada, fará com que a mesma balança penda em favor da nossa causa, sem que outros percebam e, às vezes, até a seu contragosto. (L 225). São José Marello
EVANGELHO DO DIA
Lucas 11,1-13
- Senhor, nos ensine a orar, como João ensinou os discípulos dele.
Jesus respondeu:
- Quando vocês orarem, digam:
"Pai, que todos reconheçam
que o teu nome é santo.
Venha o teu Reino.
Dá-nos cada dia o alimento
que precisamos.
Perdoa os nossos pecados,
pois nós também perdoamos
todos os que nos ofendem.
E não deixes que sejamos tentados."
Então Jesus disse aos seus discípulos:
- Imaginem que um de vocês vá à casa de um amigo, à meia-noite, e lhe
diga: "Amigo, me empreste três pães. É que um amigo meu acaba de chegar de
viagem, e eu não tenho nada para lhe oferecer."
- E imaginem que o amigo responda lá de dentro: "Não me amole! A
porta já está trancada, e eu e os meus filhos estamos deitados. Não posso me
levantar para lhe dar os pães."
Jesus disse:
- Eu afirmo a vocês que pode ser que ele não se levante porque é amigo
dele, mas certamente se levantará por causa da insistência dele e lhe dará tudo
o que ele precisar. Por isso eu digo: peçam e vocês receberão; procurem e vocês
acharão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todos aqueles que
pedem recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem
bate. Por acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho, quando
ele pede um peixe?"
Reflexão para o 17º Domingo do Tempo Comum - Lucas 11, 1-13 27 julho 2025
Após a acolhida de Jesus na casa das irmãs Marta e
Maria, evangelho do domingo passado, o evangelista Lucas nos apresenta uma
verdadeira catequese sobre a oração, ainda no contexto do longo caminho para
Jerusalém. O texto evangélico que a liturgia deste décimo sétimo domingo do
tempo Comum nos oferece é, exatamente, essa catequese: Lc 11,1-13. É muito
importante recordar que o caminho proposto por Jesus e evidenciado por Lucas,
não se resume a um movimento físico, mas é uma metáfora da própria vida e,
especialmente, da vida cristã. Por isso, além do movimento, o evangelista faz
questão de mostrar momentos estáveis de paradas, nas quais Jesus ensina, visita
pessoas e pára para rezar.
Convém mencionar que, além de Lucas, também Mateus
apresenta a oração ensinada por Jesus aos seus discípulos, transmitida pelas
tradições cristãs com o título de “Pai Nosso”. Há uma pequena diferença entre
as duas versões, como são diferentes também os contextos em que cada um a
apresenta. Porém, a essência é a mesma em ambas as versões. A de Lucas é um
pouco mais breve, por isso, considerada pela maioria dos estudiosos, a que
corresponde melhor às palavras de Jesus. Supõe-se que Mateus adaptou-a às
necessidades de suas comunidades, enquanto Lucas a conservou em sua forma mais
original.
Iniciamos a nossa reflexão com uma constatação
simples, mas muito significativa: Lucas faz referência a Jesus rezando/orando
sete vezes, do batismo à paixão, o que corresponde exatamente à totalidade do
seu ministério (cf. 3,21; 5,16; 6,12; 9,18; 9,28-29; 11,1; 22,41). Obviamente,
o evangelista quer mostrar que a oração foi o grande alimento de Jesus em sua
vida pública. Foi pela força da oração que Ele levou a cumprimento o projeto do
Pai em sua vida. Outro dado, não menos importante, é o fato de ser Lucas aquele
que mais apresenta Jesus em relação de acolhida e atenção para com os pobres,
as mulheres e os pecadores; é por excelência, o Evangelho da misericórdia.
Certamente, a explicação para tudo isso está no fato de Jesus rezar constantemente,
e claro, a oração era determinante para o seu agir, como deve ser para cada
cristão e cristã. Podemos dizer, então, que Lucas apresenta com o exemplo de
Jesus, a oração conjugada às suas implicações concretas, principalmente à
atenção aos mais necessitados.
É comum, portanto, Lucas afirmar que “Jesus estava
rezando num certo lugar” (v. 1a). Independente das circunstâncias, Jesus
reservava sempre uma parte do seu tempo para a oração, seu colóquio com o Pai.
Sabemos que o contexto em questão é o da viagem para Jerusalém. É muito
interessante que “Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: Senhor,
ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (v. 1b).
Certamente, era bonito seu jeito de rezar. Pelas entrelinhas do texto, podemos
afirmar que os discípulos estavam olhando-o, admirados. Tanto que não ousaram
interrompê-lo, mas esperaram que terminasse. Impressionados, tiveram vontade de
fazer o mesmo. Talvez, e muito provavelmente, estavam angustiados porque
conviviam com Ele há tanto tempo e ainda não tinham aprendido muita coisa, nem
mesmo a rezar como Ele. E, o discípulo tem o dever de tornar-se parecido com o
mestre, portanto, deve agir como ele, inclusive no jeito de rezar.
Todo mestre ou rabino tinha um jeito próprio de
conduzir o seu grupo, com seus ensinamentos e fórmulas, inclusive, de oração.
Geralmente, essas orações eram síntese da espiritualidade do grupo. Parece que
Jesus tinha deixado seu grupo muito à vontade, nesse sentido, o que poderia
deixar seus discípulos até inseguros, pois não tinham regras estabelecidas a
cumprir. A regra de Jesus era apenas o seu jeito de viver. Diante disso, os
discípulos de Jesus usam o exemplo de João Batista, o que mais se identificava
com o movimento de Jesus, dos tantos movimentos existentes na época. Assim como
outros mestres, João Batista tinha ensinado seus seguidores a rezar. A
particularidade do jeito de Jesus exercer sua liderança era, exatamente, pelo
exemplo. Por isso, não tinha preocupação de ensinar fórmulas para serem
repetidas.
Do jeito pessoal de Jesus rezar, nasce a
curiosidade e, da curiosidade, a necessidade nos seus discípulos. Por isso,
pediram que lhes ensinasse. Ao pedido dos discípulos, Jesus responde. Mas, não
dá uma fórmula, como davam os rabinos do seu tempo. Pelo contrário, dá-lhes uma
“anti-fórmula”, pois as primeiras palavras da verdadeira oração sugerem
exatamente uma quebra de protocolos e paradigmas. Os judeus, ao rezar, faziam
longas introduções, exaltando a grandeza de Deus, antes de fazer as suas
súplicas. Utilizam termos como “Altíssimo, Todo-Poderoso, Onipotente, Senhor,
Santo dos Santos”; esses termos ajudam a reconhecer a grandeza de Deus, mas
como alguém distante, em um grau infinitamente superior e alheio à realidade
das pessoas. Jesus quer abolir essa mentalidade, e ensina seus discípulos a
fazer o mesmo. Por isso, introduz a sua oração ensinando a chamar Deus de Pai,
ou seja, como uma pessoa íntima e próxima de quem o invoca. Seu jeito de rezar
causa impacto, sobretudo porque ele ensina na oração a chamar a Deus de Pai.
Para nós, hoje, parece não ser algo impactante. Mas, para a sua época foi, de
fato, algo revolucionário.
Com o imperativo “Quando rezardes, dizei: Pai,
santificado seja o teu nome” (v. 2), Jesus quer dizer, antes de tudo, que o
primeiro elemento necessário para uma oração autêntica é ter clareza do
destinatário da oração. É claro que é a Deus que deve ser direcionada toda
oração. E, esse Deus é, antes de tudo, um Pai! Logo, Jesus não apenas inaugura
uma nova fórmula de oração, mas propõe um novo jeito de se relacionar com Deus.
Dessa maneira nova de se relacionar com Deus, emerge a certeza de que Ele está
próximo de nós, como se fosse um amigo e, portanto, pode ser invocado a qualquer
hora e em qualquer lugar. A “santificação do nome de Deus” (v. 2) e o “advento
de seu Reino” (v. 2) estão intrinsecamente relacionados, a ponto de
confundirem-se. Ora, o nome de Deus já é santificado, porque Ele é,
essencialmente, santo. O pedido diz respeito ao reconhecimento dessa santidade.
Reconhecer a santidade de Deus é saber que Ele é Pai, aceitar a condição de
filhos e filhas e, portanto, viver como irmãos e irmãs. Isso é permitir que o
seu Reino seja instaurado entre nós. O Reino que já fora inaugurado por Jesus
(cf. Lc 4,16-22), precisa ser difundido pelos discípulos até chegar a todos os
lugares e épocas. A construção do Reino é, pois, a constatação se o nome de
Deus está sendo santificado ou não, ou seja, se Ele está sendo reconhecido como
realmente é: um Pai.
Na sequência da oração, Jesus vai recomendando o
que é necessário pedir, ou seja, quais são as reais necessidades do ser humano.
O pedido pelo “pão necessário para cada dia” (v. 3), além de expressar uma
necessidade concreta, a alimentação, exprime, sobretudo, a condição existencial
do ser humano: ele não pode ser autossuficiente por um dia sequer, mas em tudo
depende de Deus, até mesmo no que é mais básico, como o alimento de cada dia.
Um elemento indispensável para que uma comunidade viva efetivamente segundo as
características do Reino, é a confiança e a solidariedade. Obviamente, Jesus
alude ao antigo maná (cf. Ex 16) com essa petição. Há, aqui, um verdadeiro
combate à cultura do acúmulo, tema que será desenvolvido na sequência da viagem,
principalmente com as parábolas do rico insensato (cf. 12,13-21) e do rico
avarento e o pobre Lázaro (cf. 16,19-31).
A menção ao perdão não poderia faltar na oração que
deve caracterizar a comunidade cristã. Por isso, Jesus recomenda que este
pedido não pode faltar na oração autêntica: “Perdoa-nos os nossos pecados, pois
nós perdoamos também a todos os nossos devedores” (v. 4). O pedido de perdão a
Deus era comum nas orações dos diversos movimentos religiosos, daquela época e
de todos os tempos. Realmente, é somente Deus quem pode perdoar pecados. Assim
como o pedido do pão cotidiano, também esse visa conscientizar o ser humano de
sua necessidade diante de Deus. A grande novidade apresentada por Jesus é a
condição para buscar o perdão de Deus: “nós também perdoamos aos nossos
devedores” (v. 4). Com isso, Ele ensina que o perdão de Deus deve ser mediado
pelo perdão fraterno; não porque a misericórdia de Deus esteja condicionada ao
agir humano, mas porque a relação com Deus exige uma coerência de vida. A abertura
total a Deus deve traduzir-se em uma relação nova com o próximo, tema tão caro
a Lucas. Isso implica que, mais que ser perdoado, é necessário viver
reconciliado. Por isso, o perdão deve ser mútuo.
A última das petições da oração verdadeira é “não
nos deixes cair em tentação” (v. 4). A palavra tentação (em grego: πειρασμός –
peirasmós), quando aplicada em relação aos discípulos,
e aos cristãos em geral, significa desistir, abandonar. Assim,
a comunidade é convidada a pedir ao Pai o dom da perseverança. Em outras palavras, é um pedido de coragem para
levar adiante um projeto tão audacioso como o de Jesus. É necessário
resistência para lutar pelo Reino, contentar-se apenas com o necessário para
cada dia e perdoar aos devedores. Por isso, deve-se pedir constantemente para
não abandonar essa proposta de vida tão revolucionária. Isso significa ainda
que a nossa continuação no seguimento de Jesus não depende apenas da nossa
força ou vontade, mas da graça de Deus, pois é Ele quem dá a força da
perseverança.
Na mentalidade hebraica, o filho é aquele que é
parecido com o pai. Portanto, chamar a Deus de Pai era bastante comprometedor,
pois exigia muitas implicações concretas. Era muito mais cômodo chamá-lo de
Altíssimo, Onipotente ou Santíssimo, pois estas expressões evocam a alguém
distante e inacessível, aquele não está presente no cotidiano da comunidade
para relacionar-se com ela. O Deus de Jesus, que é Pai, está presente. Os
discípulos deveriam, assim como Jesus, viver como filhos. Diante das
exigências, a tendência à desistência era muito comum. Por isso, Jesus pede que
eles peçam, constantemente, a graça de não abandonarem o seu projeto.
Como explicação para o conteúdo da oração ensinada,
Jesus conta duas pequenas parábolas: a do amigo inoportuno (vv. 5-8) e a do pai
(v. 11). Ambas têm a função didática de explicitar a proximidade do Deus-Pai e
a necessidade da perseverança da comunidade na oração. Esse Deus é muito mais
disponível que um amigo, e muito melhor que um pai terreno. Desse modo, Ele
ressalta que a qualquer momento se pode invocar esse Deus-Pai e, pedindo o que
é justo, jamais Ele deixará de atender.
Mas, qual o critério para fazer o pedido justo? É
exatamente pedindo, antes de tudo, o elemento imprescindível da oração, e este
só pode ser dado pelo Pai: O Espírito Santo! (v.13). A comunidade que se deixa
guiar pelo Espírito Santo, saberá discernir para pedir ao Pai o que é, de fato,
essencial. E, pedindo o essencial, é claro que o Pai concederá, desde que em
consonância com a sua vontade.
Pelo modo
como reage diante das situações, você pode aliviar ou agravar as dificuldades.
Quando
está livre do medo e da ansiedade,
consegue
receber as orientações que lhe são dadas por Deus.
Nesses
momentos, sentimos sua proteção e bondade.
Substitua
o medo pela fé, reafirmando sua confiança em Deus.
“Na sua
aflição, clamaram ao Senhor e ele os livrou de suas angústias.
Conduziu-os
pelo caminho reto, para chegarem a uma cidade habitada”.
(Sl
107[106],6-7).
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