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quarta-feira, 29 de maio de 2013

EVANGELHO QUINTA FEIRA * CORPO E SANGUE DE CRISTO*

Evangelho:

Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 9,11-17

"E Jesus os recebeu, falou a respeito do Reino de Deus e curou os que precisavam ser curados. 
Estava anoitecendo, e por isso os doze apóstolos foram e disseram a Jesus: 
- Mande esta gente embora. Eles podem ir aos povoados e sítios que ficam por perto daqui e lá encontrarão o que comer e onde ficar, pois este lugar é deserto. 
Mas Jesus respondeu: 
- Dêem vocês mesmos comida a eles. 
Os discípulos disseram: 
- Só temos cinco pães e dois peixes. O senhor quer que a gente vá comprar comida para toda esta multidão? 
Estavam ali mais ou menos cinco mil homens. Jesus ordenou aos seus discípulos: 
- Mandem o povo sentar-se em grupos de mais ou menos cinqüenta pessoas. 
Os discípulos obedeceram e mandaram que todos se sentassem. Aí Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu e deu graças a Deus por eles. Depois partiu os pães e os peixes e os entregou aos discípulos para que eles distribuíssem ao povo. Todos comeram e ficaram satisfeitos, e os discípulos ainda encheram doze cestos com os pedaços que sobraram.
" 
Meditação:
Nesta quinta-feira, a Igreja celebra o Corpo e o Sangue de Cristo. É a festa do pão e da partilha. A festa de Corpus Christi tem por objetivo celebrar solenemente o mistério da Eucaristia - o sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. 

No Catolicismo a hóstia, torna-se literalmente em Carne e Sangue do Senhor Jesus. Em outra denominações religiosas apenas a memória das palavras de Cristo em Mateus 26,26 é lembrada, eles não acreditam transmutação do pão e vinho durante a celebração.

Na celebração de Corpus Christi temos uma missa solene, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento. A procissão lembra a caminhada do povo de Deus em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ale é alimentado com o próprio corpo de Cristo. 

Durante a missa o sacerdote consagra duas hóstias: uma é consumida e a outra, apresentada aos fiéis para adoração. Essa hóstia permanece no meio da comunidade, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua Igreja.

A primeira leitura de hoje constitui uma espécie de prefiguração sacerdotal-eucarística na misteriosa pessoa de Melquisedeque; a segunda leitura nos faz passar da imagem à realidade, através da catequese eucarística de Paulo à comunidade de Corinto; finalmente, o evangelho nos recorda que a eucaristia é e deve ser sempre expressão e fonte de caridade: nasce do amor de Cristo e se torna fundamento do amor entre os fiéis reunidos em torno do Pão doado por Jesus e distribuído por seus discípulos entre os irmãos.

A eucaristia sustenta toda a vida da comunidade crente. Enquanto tornamos presente o “amor até o extremo” pelo qual Jesus ofereceu sua vida na cruz (passado), nos comprometemos a formar um só corpo animado pela fé e a caridade solidária (presente), “enquanto esperamos sua vinda gloriosa” (1Cor 11,26) (futuro).
 

A primeira leitura (Gn 14, 18-20) é um antigo texto. Originalmente talvez, de natureza política-militar, em que o misterioso personagem Melquisedeque, rei de Salém, oferece a Abraão um pedaço de pão e vinho. Trata-se de um gesto de solidariedade depois de retornar da batalha contra quatro reis (Gn 14, 17). A passagem, sem dúvida, parece conter uma cena de caráter religioso, sendo Melquisedeque um sacerdote segundo a práxis teológica oriental.

O gesto poderia conter um aspecto de sacrifício ou de rito de ação de graças pela vitória. O v. 19, com efeito, conserva as palavras de uma bênção. As palavras de Melquisedeque e seu gesto oferecem uma nova luz sobre a vida de Abraão: seus inimigos foram derrotados e seu nome é exaltado por um rei-sacerdote. O capítulo 7 da carta aos Hebreus construiu uma reflexão em torno de Cristo Sacerdote à luz deste misterioso texto do Gênesis, segundo a linha teológica já presente nas palavras que o Salmo 110, 4 dirige ao rei-messias: “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque”.

A segunda leitura (1Cor 11,23-26) pertence à catequese que Paulo dirigiu à comunidade de Corinto relacionada com a celebração das assembléias cristãs, onde os mais poderosos e ricos humilhavam e desprezavam os mais pobres. Paulo aproveita a oportunidade para recordar uma antiga tradição que recebeu na ceia eucarística, já que o desprezo, a humilhação e a falta de atenção para com os pobres nas assembléias estavam destruindo o sentido mais profundo da Ceia do Senhor.

Deste modo se coloca em sintonia com os profetas do Antigo Testamento que haviam condenado fortemente o culto hipócrita que não estava sendo acompanhado de uma vida de caridade e justiça (cf. Am 5,21-25; Is 1,10-20), assim como fez Jesus (cf. Mt 5,23-24; Mc 7,9-13). A Eucaristia, memorial da entrega de amor de Jesus, deve ser vivida pelos crentes com o mesmo espírito de doação e de caridade com que o Senhor “entregou” seu corpo e seu sangue na cruz por “vós”.

A leitura paulina nos recorda as palavras de Jesus na última ceia, com as quais o Senhor interpretou sua futura paixão e morte como “aliança selada com seu sangue” (1 Cor, 11, 25) e “corpo entregue por vós” (1 Cor 11, 24), mistério de amor que se atualiza e se faz presente “toda vez que comerem deste pão e beberem deste cálice” (1 Cor 11, 26). A fórmula do cálice eucarístico, semelhante à fórmula da última ceia em Lucas (Mateus e Marcos apresentam uma tradição diversa), está fundamentada no tema da nova aliança, que recorda a célebre passagem de Jr 31, 31-33. Cristo estabelece uma verdadeira aliança que se realiza não através do sangue de animais derramado sobre o povo (Ex 24), mas com seu próprio sangue, instrumento perfeito de comunhão entre Deus e os homens.

A celebração eucarística abrange e torna plena toda a história dando-lhe novo sentido: torna presente realmente a Jesus em seu mistério de amor e de doação na cruz (passado), a comunidade, obediente ao mandato de seu Senhor, deverá repetir o gesto da ceia continuamente enquanto dure a história “em minha memória” (1Cor 11, 24) (presente), e o fará sempre com a expectativa de seu regresso glorioso, “até que ele venha” (1Cor 11, 26) (futuro). O mistério da instituição da Eucaristia nasce do amor de Cristo que se entrega por nós, e, portanto, deverá sempre ser vivido e celebrado no amor e na entrega generosa, à maneira do Senhor, sem divisões nem hipocrisia.
 

O Evangelho (Lc 9, 10-17) relata o episódio da multiplicação dos pães, que aparece com diversos matizes também nos outros evangelhos (duas vezes em Marcos!), o que demonstra não só que o evento possui um alto grau de historicidade, mas que também é fundamental para compreender a missão de Jesus.

Jesus está próximo de Betsaida e tem diante de si uma multidão de pessoas pobres, enfermas e famintas. É a este povo marginalizado e oprimido a quem Jesus se dirige, “falando-lhes do reino de Deus e curando aos que necessitavam” (v. 11). A seqüência de Lucas acrescenta um dado importante no qual introduz o diálogo entre Jesus e os Doze: começa a entardecer (v. 12). O momento recorda o convite dos dois peregrinos que caminhavam para Emaús precisamente ao cair da tarde: “Ficai conosco porque é tarde e está anoitecendo” (Lc 24, 29). Nos dois textos a bênção do pão acontece no final do dia.

O diálogo entre Jesus e os Doze põe em evidência duas perspectivas. Por uma parte os apóstolos que querem enviar as pessoas para povos vizinhos a fim de que comprem comidas, procuram uma solução “realista”. No fundo pensam que seja justo dar gratuitamente a pregação, mas é justo também que cada qual se preocupe com o material. A perspectiva de Jesus, ao contrário, representa a iniciativa do amor, a gratuidade total e a prova inquestionável de que o anúncio do reino abrange também a solução às necessidades matérias das pessoas.

No final do v. 12 caímos na conta de que tudo está ocorrendo num lugar deserto. Isto recorda sem dúvida o caminho do povo eleito através do deserto, saindo do Egito e caminhando para a terra prometida, época na qual Israel experimentou a misericórdia de Deus através de grandes prodígios, como por exemplo, o maná. A atitude dos discípulos recorda a resistência e a incredulidade de Israel diante do poder de Deus que se concretiza através da obra de salvação a favor do povo (Ex 16, 3-4).

A resposta de Jesus: “dai-lhes vós de comer” (v. 13) não só é provocativa dada a pouca quantidade de alimento, mas que, sobretudo deseja mostrar a missão dos discípulos através do gesto misericordioso que realizará Jesus. Os discípulos, aquela tarde próximos de Betsaida e ao longo de toda a história da Igreja, são chamados a colaborar com Jesus se preocupando em conseguir o pão para seus irmãos. Depois que os discípulos acomodam as pessoas, Jesus “tomou os cinco pães e dos dois peixes, levantou os olhos para o céu, pronunciou a bênção, e os partiu e foi dando aos discípulos para que eles distribuíssem às pessoas” (v. 16).

O gesto de “levantar os olhos ao céu” põe em evidência a atitude orante de Jesus que vive em permanente comunhão com o Deus do reino; a bênção (a berajá hebraica) é uma oração que ao mesmo tempo expressa gratidão e louvor pelo dom que foi recebido ou que se está por receber. É digno de notar que Jesus não abençoa os alimentos, pois para ele “todos os alimentos são puros” (Mc 7, 19), mas que bendiz a Deus através deles, reconhecendo a Deus com fonte de todos os dons e de todos os bens.O gesto de partir o pão e distribuí-lo indiscutivelmente recorda a última ceia de Jesus, onde o Senhor dá novo sentido ao pão e ao vinho da refeição pascal, tornando-os sinais sacramentais de sua vida e sua morte como dinamismo de amor até ao extremo pelos seus.

No final todos ficam saciados e sobram doze cestos (v. 17). O tema da “saciedade” é típico do tempo messiânico. A necessidade é a conseqüência da ação poderosa de Deus no tempo messiânico (Ex 16, 12; Sl 22, 27, 78,29; Jr 31, 14). Jesus é o grande profeta dos últimos tempos, que recapitula em si as grandes ações de Deus que alimentou seu povo no passado (Ex 16, 2 Rs 4,42-44). Os doze cestos que sobram não só representam o excesso do dom, mas que também põe em evidência o papel dos “doze” como mediadores na obra da salvação. Os Doze representam o fundamento da Igreja, são como a síntese e a raiz da comunidade cristã, chamada a colaborar ativamente a fim de que o dom de Jesus possa atingir a todos os seres humanos.

No texto, como vimos, sobrepõem-se diversos níveis de significado. O milagre realizado por Jesus o apresenta como o profeta dos últimos tempos. Ao mesmo tempo em que o acontecimento antecipa o gesto realizado por Jesus na última ceia, quando o Senhor doa à comunidade o pão e o vinho como sinal sacramental de sua presença.
 

Por outro lado, o dom do pão no deserto inaugura o tempo novo da fraternidade, que prefigura a plenitude da comunhão escatológica em plenitude. Além do mais se coloca em evidência, como assinalamos antes, o papel essencial dos discípulos de Jesus como mediadores do reino.

Através daqueles que crêem no Senhor deveria chegar a todos os homens o pão do bem-estar material que permite uma vida digna de filhos de Deus, o pão da esperança e da gratidão, do amor, e, sobretudo o pão da Palavra e da Eucaristia, sacramento da presença de Jesus e de seu amor misericordioso a favor da humanidade.

Reflexão Apostólica:

No Evangelho, “as multidões” que aderiram inicialmente a Jesus, vendo nele uma esperança de libertação, “o seguiram”. Jesus “as acolhe” e lhes fala do Reino de Deus, ou seja, do homem novo e da sociedade nova a que devem aspirar para sair de sua situação; curando os enfermos, mostra-lhes que Deus deseja o homem vivendo em plenitude.

Os discípulos aconselham a Jesus para que despeça a multidão. Não se solidarizam com ela; crêem que cada um deverá se virar como pode para prover seu sustento. Jesus replica, mas eles não entendem sua proposta de solidariedade (“vocês dêem-lhes de comer”) nem a alternativa do Reino; vêem a solução somente no dinheiro, conforme as categorias da sociedade injusta.

“Cinco pães e dois peixes” = sete, totalidade do alimento de que dispõe a comunidade e “cinco mil” os comensais; insinua-se aqui a comunicação do espírito através do pão partilhado e a maturidade humana que produz “homens adultos”. 
Jesus relaciona os pães com Deus criador: o pão é dom seu e fator de vida e fecundidade. Como Dom de Deus, devem ser repartidos, para continuar sobre a terra sua generosidade. Se a generosidade de Deus não se tornar inválida pelo egoísmo humano, basta para satisfazer toda necessidade e ainda mais, partilhando se saciaria a fome de todo o povo e até sobraria. 

Olhando superficialmente esta festa litúrgica do Corpo e Sangue de Jesus parece semelhante à da Quinta-feira Santa.

Entretanto, tem seu próprio matiz; na Quinta-feira Santa celebramos a instituição da Eucaristia numa perspectiva ou conexão imediata com a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus; hoje, em troca, mesmo sendo imprescindível esta relação essencial com a Eucaristia, se acentua a idéia do pão repartido que nos dá a vida e reforça a fraternidade e a solidariedade entre os cristãos. Por usa vez, nos interpela sobre a fome e a miséria em que vivem muitos irmãos nossos por causa do egoísmo e do acúmulo de uns quantos.

A celebração da Eucaristia está destinada a provocar o compromisso entre os cristãos. A pessoa de Jesus, suas palavras e ações, comprometem o verdadeiro cristão a um estilo de vida diferente, e de modo particular, a participação e a comunhão com o corpo do Senhor.

A vida do cristão deve estar orientada para ir construindo a comunhão dos crentes como verdadeiro corpo místico de Jesus; corpo no qual se realize a unidade na diversidade pelos dons e carismas. 

São Paulo fala de uma celebração indigna referindo-se à comunidade dos Coríntios onde alguns cristãos fomentaram a divisão e a discriminação pela opulência e o esbanjamento na celebração da Eucaristia.

Hoje podemos entender como indignas aquelas celebrações formalistas, frias, sem preparação e que não levam as pessoas e as comunidades a nenhum compromisso. Por isso, a falta de compromisso em nossas celebrações, faz com que as mesmas celebrações sejam, mais que sinais, contra-sinais.

Quando termina a celebração da Eucaristia nós nos dispersamos muito tranqüilos sem um verdadeiro compromisso ou preocupação com aquilo que se há de fazer, com aquilo que deve provocar a mudança da realidade de injustiça, miséria e fome em que vivem muitos cristãos. 
A celebração da Eucaristia hoje, dia do Corpo e Sangue de Jesus, não pede tanto uma manifestação externa pública de nossa fé, mas uma celebração dos crentes frente a um maior compromisso; mais que “ostentar” o Senhor no ostensório de uma custódia maravilhosa, devemos manifestar o Senhor em nossas pessoas e comunidades, na solidariedade efetiva através do partir e repartir para que todos possamos viver em dignidade.

Nesta perspectiva deveríamos nos perguntar hoje o que significa para nós a celebração da Eucaristia. Ela não é somente o momento de uma vivência religiosa; é sobretudo uma convivência na recordação viva do mesmo Senhor, que viveu e continua vivendo dentro da comunidade reunida, que proclama o mistério salvador de sua morte e ressurreição.

Em minha vida cristã o mistério eucarístico se manifesta como fonte de unidade e de caridade? Como poderia me comprometer concretamente a favor das pessoas que vivem na pobreza e passam fome de pão e de justiça?

Em nossa comunidade a celebração eucarística gera um amor maior e mais compromisso em favor dos mais pobres ou se limita a ser um simples rito religioso? Com quais iniciativas concretas poderíamos fazer que nossa participação comunitária na Eucaristia seja mais ativa e dinâmica? Em que sentido, como comunidade, podemos nos comprometer mais para levar aos demais o pão do bem estar material, e o pão do amor e da esperança, e o pão do evangelho do Reino?

 Propósito:

Senhor Jesus, Pão Vivo de esperança e de amor, concedei a nós que participamos da ceia eucarística, viver o mistério da comunhão no amor e sermos testemunhas do vosso reino no mundo. Espírito de solidariedade e partilha, fazei-me sensível à lição eucarística da partilha, movendo-me a manifestar minha solidariedade efetiva com os pobres deste mundo.

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