20 DE MARÇO - Pede ao nosso grande Patriarca São José que te obtenha de Deus o que te convém, ou melhor, o que mais convém. (L 86). SÃO JOSE MARELLO
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: 19“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias.
20Um
pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21Ele
queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso,
vinham os cachorros lamber suas feridas.
22Quando o
pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e
foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico
levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então
gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para
me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’.
25Mas
Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante a vida e
Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és
atormentado. 26E, além disso, há grande abismo entre nós: por mais
que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí
poderiam atravessar até nós’.
27O rico
insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque
eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para
este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e
os profetas, que os escutem!’
30O rico
insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão
se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem
aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”’.
Tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro os males; agora ele encontra aqui consolo e tu és atormentado.
O tempo santo da quaresma é tempo
de conversão. Quando falamos de conversão, precisamos pensar antes de tudo nas
suas motivações, pois delas depende a sua perseverança. O Evangelho de hoje nos
mostra um dos principais elementos que devemos levar em consideração no que diz
respeito à motivação para a conversão que é a questão dos valores. Para o homem
rico, os valores fundamentais eram a quantidade de bens materiais e os prazeres
do mundo. De nada lhe adiantaram Moisés e os Profetas porque, como não havia
comunhão de valores, estes se tornaram discursos vazios e a religião foi
reduzida a ritualismos. Nesta quaresma, precisamos assumir como próprios de
todos nós os valores do Evangelho para que de fato nos convertamos. (CNBB)
O POBRE LÁZARO, E O RICO.
A liturgia de hoje propõe-nos, de novo, a
reflexão sobre a nossa relação com os bens deste mundo… Convida-nos a vê-los,
não como algo que nos pertence de forma exclusiva, mas como dons que Deus
colocou em nossas mãos, para que os administremos e partilhemos, com gratuidade
e amor.
O Evangelho apresenta-nos, através da parábola do rico e do pobre Lázaro, uma
catequese sobre a posse dos bens… Na perspectiva de Lucas, a riqueza é sempre
um pecado, pois supõe a apropriação, em benefício próprio, de dons de Deus que
se destinam a todos os homens… Por isso, o rico é condenado e Lázaro
recompensado.
Subindo para Jerusalém, quando seu caminho estava para se concluir, Jesus
ensinou uma vez mais a suas discípulas e discípulos sobre um perigosíssimo
ídolo: o deus da riqueza, que conta com muitos amigos. Diz-nos o evangelista
Lucas que Jesus dirigiu uma parábola (a do rico epulón - homem que come e bebe
muito -, o pobre Lázaro e o patriarca Abraão) a uns fariseos que o estavam
escutando, "que eram amigos do dinheiro, e se burlavam dele"
Quando o dinheiro se converte em ídolo
Os amigos/as do dinheiro e quem herdam culto, estão muito bem descritos na
figura do rico epulón:
Têm de tudo; |
Encontram-se numa
posição social alta; |
Se vestem com luxo
(púrpura e linho), |
Organizam banquetes
sem cessar; |
Fazem ostentação do
que têm. |
No entanto, não têm
identidade, nem nome. Suas riquezas vão convertê-los dentro de muito pouco
nos mais pobres dos pobres, nos mais necessitados dos necessitados. Ver-se-ão
absolutamente vazios, somente serão recordados pelo seu egoísmo! |
Enquanto põem seu
dinheiro ao serviço de si mesmo, "não se doem do desastre", da
situação de milhões de seres humanos (Amós). |
O
pobre da parábola tem nome! Tem identidade! Chama-se Eleazar, Lázaro, isto
é, "Deus ajuda, socorre". O rico não lhe olha a cara, ainda que esteja
doente e necessitado. Os cães se aproximam dele. É a única vida que bate junto
a uma vida humana tão desgastada… Jaz, débil, à porta do rico. Quer
saciar-se das migalhas, que caem da mesa do rico. Porém, ainda que não tenha
bens, tem uma reserva impressionante dentro do coração: num dia próximo será levado ao Paraíso.
A miséria da prosperidade
Uma boa re-tradução desta parábola encontrei num livro, publicado faz poucos
anos por Pascal Bruckner e o qual tem o título: "Miséria
da prosperidade". Nele o autor nos faz ver como o ser humano que
põe toda sua vida ao serviço da economia, do dinheiro, põem em perigo os
valores que lhe dão identidade: saúde, cultura, educação, enriquecimento moral,
espiritualidade. Quando a economia se converte em religião, no único poder que
controla todo o resto começa a tremer! Esta religião tem seus templos, seus
sacerdotes, seus missionários. Mas produz e reproduz uma grande miséria moral.
O coração encolhe-se, torna-se pedra, a inteligência perde sua capacidade da
verdade, a fantasia torna-se obsessiva e renúncia a sua criatividade.
O dinheiro, a economia - convertidos em religião - são ao mesmo tempo ídolos
indecentes - diz Bruckner - porque os ricos precisam cada vez menos dos pobres
para enriquecer-se. Então ficam os pobres Lázaros que nem recebem as migalhas,
que não parecem rentáveis nem como trabalhadores. Por isso, se reduzem os
empregos; deixam os Lázaros vagar à sua sorte. Busca-se uma racionalização do
trabalho, a automação, para assim compartilhar menos e ganhar mais. Depois da
desgraça da exploração dos pobres, chegou outra desgraça muito pior: o pobre
deixou de ser explorável! Por isso se pressente que a pobreza nunca será
vencida nos países desenvolvidos. Se antes se esperava que a economia livrasse
da necessidade o ser humano, agora nos perguntamos: quem poderá livrar o ser humano da economia? Supõe-se
que o dinheiro nos livra de nossas preocupações, mas sem nos dar conta, se
transforma em nossa máxima preocupação. Para ter dinheiro temos que pagar um
altíssimo preço, que nos torna demasiadamente vulneráveis.
Então temos países da África, da América, da Ásia, convertidos nos espaços de
Lázaro, mal visitados, apenas contemplados, não são levados em conta. Onde não
há alianças, nem ajuda. Onde a palavra "crescimento econômico" parece
ridícula.
O que o dinheiro não pode comprar
O dinheiro só serve para uma parte da vida. Nela se pode desfrutar. Mas chega
outra, na qual o dinheiro já não serve de nada. E é, então, quando um pode-se
encontrar na maior miséria. Talvez, nem sequer faça falta morrer fisicamente.
São outras mortes que acontecem antes da morte final: o dinheiro não compra o amor, não compra a espiritualidade,
nem a saúde do corpo… O sistema econômico conseguido com muitíssimo
esforço e dedicação pode desmoronar como um castelo de cartas, num instante e a
pessoa que confiou no dinheiro, se descobrirá vazia, pavorosamente vazia. O
poder econômico, não salva! E isto deve ser dito aos nossos políticos, tão
preocupados pelo crescimento econômico, e tão despreocupados pelo crescimento
espiritual de nossa gente.
E se isto sucede aqui, nesta vida, de que servirá
o dinheiro para a outra vida? O abismo que aqui se abre entre
pobres e ricos, se torna muito mais abismal no misterioso futuro que nos
espera. Isto significa que o egoísmo não tem futuro. Só o amor permanece.
E como convencer as pessoas disto? Aqui o
Mestre Jesus mostra-se muito cauteloso. As pessoas gostam de espetáculos,
sobretudo, se são milagrosos. Queima-lhes a curiosidade e o entretenimento. Mas
que não lhe falem de conversão, de transformação de vida. Não crêem na
ressurreição de Jesus, vão crer na ressurreição de Lázaro? Aí está a Palavra da
Sabedoria: a Palavra de Deus que nos acompanha permanentemente. Façamos-lhe
caso! O Mestre sempre se remete à Sagrada Escritura, dado que em sua
ressurreição não crêem, nem creriam ainda que Lázaro ressuscitasse. Não bastam
os milagres para suscitar a fé. A palavra anunciada, a boa e bela notícia
proclamada é a que conduz à confiança, à fé.
Há aqui as conseqüências da avareza, da vida e do luxo desenfreado, de quem faz
crescer seu patrimônio, a custa dos mais pobres, sem acolher nunca nos
necessitados.
Profeta do essencial
Quero concluir minha reflexão, referindo-me a um homem que me recorda Lázaro e
que já se encontra no seio de Deus. Refiro-me a Jesus Burgaleta, presbítero,
professor de Teologia no Instituto Superior de Pastoral da Universidade
Pontifícia de Salamanca, com sede em Madri. Faz poucos dias e ele se foi e
deixou seu vazio nas classes que já estavam programadas. Para mim foi Jesus
Burgaleta, profeta do essencial. Tinha tudo
em absoluta precariedade, menos o essencial. Era como o pobre Lázaro, cheio de
chagas, precisado de sangue para viver. Mas era capaz de denunciar esse abismo
que nos separa uns dos outros, que nos impede sermos irmãos, de viver em
comunhão. Ele era feliz com "o essencial". Tinha a liberdade de quem
vive com o único necessário e, por isso, não se submetia a ninguém, não fazia
pactos interessados, era livre. Só ante seu Senhor e sua Páscoa se inclinava!
Não queria homenagens, nem reconhecimentos, nem se vestia luxuosamente, nem
andava de braços dados com os poderosos.
Tenho-me recordado de Lázaro nestes dias. O grande Joaquim Jeremías, exegeta
protestante, comentando a parábola do rico epulón dizia que é provável que por
trás desta tivesse um relato popular sobre o qual o Senhor elaborou sua
parábola: tratava-se da história do rico Bar Mayam e o pobre escriba, temeroso
de Deus. Ambos morreram. Ao Bar Mayam fizeram-lhe um grande funeral com todas
as autoridades e honras fúnebres. Ao pobre escriba, enterraram-no quase na
clandestinidade, sem fazer-lhe a menor homenagem. Perguntavam-se então as
pessoas: isto é justo? Que um rico opressor receba
tantas honras e o pobre escriba, temeroso de Deus, nenhuma? A
resposta estava na ressurreição dos mortos: o pobre escriba entraria no paraíso
e ao rico fechar-se-lhe-iam as portas. A homenagem póstuma, seria para
recompensar-lhe as poucas obras boas que fez, mas que não lhe bastaram para que
se lhe abrissem as portas do céu. Deus é justo! - diria o relato popular.
Jesus Burgaleta recorda-me o pobre escriba, um homem de Deus, que pegou o fogo
do Espírito é o transmitia, como poema, como aula acendida, como uma dor
prolongada, dor de parto, advento do Nascimento esperado. Jesus Burgaleta não
nós aparecerá, mas nos remete à Palavra de Deus, à celebração Eucarística, para
que nela encontremos a sabedoria para viver desde o essencial, e no amor para
sermos solidários até o fim.
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