06 - Um filho de São José não precisa tanto exibir uma linguagem sofisticada quanto aprender o linguajar dos Santos. (L 225). SÃO JOSÉ MARELLO
Lucas 9,22-25
E Jesus explicou: "É
necessário o Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos
sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar". Depois,
Jesus começou a dizer a todos: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si
mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá,
e quem perder sua vida por causa de mim a salvará. Com efeito, de que adianta a
alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se e a arruinar a si mesmo?
Os
evangelistas, cada um a sua maneira, se referem à questão da identidade de
Jesus. A interpretação dominante, entre os discípulos vindos do judaísmo, era
que Jesus seria o messias davídico esperado conforme a tradição antiga do
Primeiro Testamento.
Jesus
rejeita ser identificado com este messias (” cristo”) restaurador do reinado de
Davi. É o momento de deixar isto claro. A partir da interrogação sobre quem Ele
é, Jesus identifica-se como o “Filho do Homem”. Esta expressão, muito freqüente
no livro de Ezequiel, refere-se a comum condição humana, humilde e frágil.
Enquanto
“humano” Jesus é vulnerável ao sofrimento e à morte. A “necessidade” deste
sofrimento não significa um determinismo, mas as implicações inevitáveis
decorrentes do compromisso libertador assumido por Jesus.
Os
poderes constituídos necessariamente vão reagir contra a prática libertadora de
Jesus e de seus discípulos, e procurarão destruí-los. Porém, Jesus revela que
ao “humano” foi dada, por Deus, a vida eterna. Perder a vida de sucesso
oferecida por este mundo e consagrar-se ao seguimento de Jesus significa a
comunhão com o Pai em sua vida divina e eterna.
Para
Lucas, o que conta é a ressurreição, não a morte. Mesmo ao descrever a morte
com traços vivos, destacando a inocência de Jesus, seu caráter de mártir, Lucas
não lhe dá o sentido salvífico.
Se,
de fato, Lucas é um grego, então se pode ver nisto um motivo para não apelar
para a morte expiatória e vicária, pois esta era teologia judaica. No contexto
grego de Lucas é muito mais importante ressaltar a ressurreição, pois a morte
para os gregos é loucura (1Cor 1,23).
-
O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus,
pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, no terceiro
dia, será ressuscitado.
A
morte de Jesus como vitória sobre o sofrimento e, sobretudo sobre os poderes da
morte, e a de descer aos infernos e lutar com a morte, era uma idéia bem
conhecida no oriente e no ocidente. Faz parte da mitologia de muitos povos que
a aplicavam aos seus heróis.
Esta
ideia penetrou no judaísmo tardio e dali passou para o Novo Testamento. Nesta
mesma perspectiva, também Cristo tem vencido os poderes da perdição. Ele
conquistou a salvação descendo ao reino dos mortos, libertando os que aí
estavam presos, desde Adão até o último homem.
“A
concepção é de que Cristo, na hora de sua morte, desce até ali e derrota – numa
luta – o príncipe dos demônios. No Novo Testamento encontram-se vestígios desta
visão mítica.
Em
Mt 27,51-53 se narra que no momento da morte de Jesus a terra tremeu e se
abriu, muitos mortos saíram de suas sepulturas e entraram na cidade.
Assim
Jesus, pela sua morte liberta os mortos que lá estavam presos. Com esta visão
mítica, personifica-se o poder que age sobre a morte. O diabo, a morte e as
forças do mal se confundem.
A
morte de Jesus assim é vista como resgate e a destruição deste poder. Pela sua
morte Jesus destruiu a morte (1Cor 15,24.26; 2Ts 2,8; 2Tm 1,10; Hb 2,14).
“Assim, pois, já que os filhos têm em comum o sangue e a carne, também Ele
participou igualmente da mesma condição, a fim de, por sua morte, reduzir à
impotência daquele que detinha o poder da morte, isto é, o diabo” (Hb 2,14).
Através
de sua morte, Jesus destruiu o poder da morte, deixando o ser humano livre.
Mas, antes da Ressurreição existe a cruz. E Ele quer advertir os seus para que
fiquem preparados para ela.
Como
aos apóstolos, também, cada um de nós está sendo convidado a segui-lo, passando
por tudo o que Ele passou, a fim de que no final possamos ressuscitar com Ele
para a eternidade.
Reflexão
Apostólica:
Esta passagem, intimamente ligada ao anúncio da Paixão, contém o
enunciado das condições para seguir a Jesus pelo novo caminho que ele se propõe
percorrer.
O Mestre não se limitou a mostrar a necessidade salvadora de seus
próprios sofrimentos; preparou também os discípulos para aceitar da mesma forma
uma vida de provas. Para ilustrar este ensinamento, Lucas compôs em volta deste
tema uma espécie de antologia, um tanto artificial, de sentenças de Jesus.
Os verbos: renunciar, carregar a cruz, seguir a Jesus são sinônimos.
Designam cada um, à sua maneira, em que consiste o essencial da vida cristã.
Jesus é destinado ao escárnio da cruz, e adverte aos seus que não poderão
subtrair-se a essa mesma sorte se continuarem sendo fiéis a seu ensinamento.
Por conseguinte, é preciso renunciar a toda a segurança pessoal e aceitar os
conselhos do Mestre.
Neste sentido, salvar sua vida equivale a abandonar o grupo de
Jesus, considerado demasiado perigoso para se ficar seguro; perder sua vida é
arriscá-la, conservando-se pertencente ao grupo dos discípulos. Mas esse risco
não pode ser enfrentado a não ser em completa solidariedade com a pessoa de
Jesus: “por causa de mim”.
Assim termina para todo discípulo o mistério pascal: o que Jesus
vivencia, morrendo e ressuscitando, torna-se condição de todos os seus discípulos.
Temos de carregar nossa cruz para morrer e viver com ele.
Nos evangelhos de Marcos e Mateus, após esta fala de Jesus sobre o
sofrimento que o espera em Jerusalém, da parte dos chefes do judaísmo, Pedro,
sob a ideologia do messias poderoso, censura Jesus por se dispor a tal. Jesus
retribui a censura de Pedro com outra mais contundente: a proposta messiânica
que domina Pedro é de satanás, é uma pedra de tropeço, e é fruto de puros
interesses humanos.
Lucas, em seu evangelho, omite este conflito entre Pedro e Jesus. Jesus insiste
em fazer seus discípulos compreenderem que sua missão é libertar os cativos e
restaurar a vida dos excluídos, sem restrições de caráter religioso ou racial.
Jesus adverte os discípulos de que, em Jerusalém, sofrerá a repressão dos
representantes do poder religioso da Judéia, os anciãos, sumo-sacerdotes e
escribas. O poder, quando se sente ameaçado, reage perseguindo e matando
aqueles que promovem a libertação dos oprimidos.
Pelo evangelho de hoje, nota-se que começamos a Quaresma, porque desde já nos
convida a carregar a cruz e seguir Jesus. O convite é que olhemos seriamente as
implicações que essa cruz tem em nossas vidas; que não a vejamos como um sinal,
algo que tenhamos que padecer como condição sine qua non, mas tenhamos na cruz
um elemento que nos enaltece e faz crescer, que nos configura com Cristo.
Jesus, com sua lógica do Reino, nos mostra como perder a vida para ganhá-la.
Isto acontece quando não há resistência ao projeto de Deus, quando há mudanças,
quando se coloca a confiança no Senhor, quando se caminha com esperança.
Bem disse o livro do Deuteronômio: temos hoje diante de nós a vida
e o bem, ou a morte e o mal. Cabe a nós decidir: viver mediocremente ou viver a
plenitude, viver a sós e isolados ou viver com Deus e com irmãos, viver esta
Quaresma amarrados, tristes e solitários ou vivê-la livres, alegres e
solidários.
Neste tempo de Quaresma o evangelho nos lembra que seguir Jesus é renunciar aos
projetos de sucesso econômico oferecido aos incluídos no sistema neo-liberal e
colocar sua vida a serviço dos excluídos, na construção de um mundo novo,
fraterno e partilhado.
Cabe a cada um de nós decidir! Temos ainda toda a Quaresma pela frente
para nos preparar para a Páscoa, centro da liturgia. Nestes quarenta dias podemos
alcançar a "estatura de Deus". É questão de escolha. Não percamos
oportunidade. O evangelho é um programa magnífico para nossa vida cristã: negar
a nós mesmos e ganhar a vida, tomar a cruz e seguir Jesus.
Propósito:
Pai, dá-me a firme disposição de renunciar a todos os
meus projetos pessoais, para abraçar unicamente o projeto de Jesus, mesmo
devendo passar por sofrimentos
Dia 06
Certamente,
você já ouviu estas palavras: “É perdoando que se é perdoado”.
O perdão é
a chave que liberta a humanidade das mágoas e dos ressentimentos.
É
fundamental libertar-se e perdoar a quem lhe fez sofrer ou causou mal.
Jamais
guarde amarguras nem rancor no coração.
Seja livre
como as aves, que voam até o horizonte infinito, pois nele mora a paz.
Quando
concede o perdão, você também se liberta.
“Suportai-vos
uns aos outros e, se um tiver motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos
mutuamente.
Como o
Senhor vos perdoou, fazei assim também vós”. (Cl 3,13).
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