09 março - Pediremos a Santa Teresa, a predileta de São José, que faça também de nós os seus prediletos. (L 163). São José Marello
Lucas 4:1-13 09 fev 2025
1Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou
do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto,
2onde, durante quarenta dias, foi
tentado pelo Diabo. Não comeu nada durante esses dias e, ao fim deles, teve
fome.
3O Diabo lhe disse: "Se és o Filho
de Deus, manda esta pedra transformar-se em pão".
4Jesus respondeu: "Está escrito:
'Nem só de pão viverá o homem'".
5O Diabo o levou a um lugar alto e
mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo.
6E lhe disse: "Eu te darei toda a
autoridade sobre eles e todo o seu esplendor, porque me foram dados e posso
dá-los a quem eu quiser.
7Então, se me adorares, tudo será
teu".
8Jesus respondeu: "Está escrito:
'Adore o Senhor, o seu Deus, e só a ele preste culto'".
9O Diabo o levou a Jerusalém, colocou-o
na parte mais alta do templo e lhe disse: "Se és o Filho de Deus, joga-te
daqui para baixo.
10Pois está escrito:
" 'Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito,
para o guardarem;
11com as mãos eles o segurarão,
para que você não tropece
em alguma pedra'".
12Jesus respondeu: "Dito está: 'Não
ponha à prova o Senhor, o seu Deus'".
13Tendo terminado todas essas tentações,
o Diabo o deixou até ocasião oportuna.
Após
uma sequência de oito domingos, a liturgia interrompe o tempo comum para viver
e celebrar um de seus tempos mais fortes, a quaresma, iniciada na
quarta-feira de cinzas, em preparação à Páscoa do Senhor. Hoje, celebramos o
primeiro domingo deste tempo especial. Como acontece todos os anos, o
evangelho do primeiro domingo da quaresma compreende a narrativa das tentações
pelas quais passou Jesus no deserto, após ser batizado. Esse é um episódio
presente nos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), um dado que
confirma a sua grande importância para as comunidades primitivas. Neste ano,
especificamente, nós lemos a versão do Evangelho segundo Lucas: 4,1-13; se
trata de um texto bastante rico, muito bem elaborado tanto do ponto de vista
literário quanto teológico, com uso abundante de linguagem simbólica.
Marcado
por forte simbologia, o relato evangélico de hoje corre o sério risco de ser
mal compreendido, devido a nossa tendência equivocada de considerar os
evangelhos como livros de crônicas da vida de Jesus, esquecendo o aspecto
simbólico que predomina neste tipo de relato. Por isso, é necessário, a nível
de introdução, fazer algumas considerações importantes para uma adequada
compreensão. A fonte original deste relato, o Evangelho segundo Marcos, não dá
nenhum detalhe sobre o nível e a modalidade das tentações; apenas diz que “Jesus
esteve no deserto durante quarenta dias sendo tentado por Satanás” (Mc
1,13); dessa informação simples e obscura, Lucas, com muita criatividade e
atendendo às necessidades da sua comunidade, “criou” a história que lemos hoje
na liturgia, como fez também Mateus (cf. Mt 4,1-11).
A
nível de contexto, é imprescindível recordar que o relato das tentações segue,
imediatamente, o relato do batismo – cf. Lc 3,21-22 – e, por isso, ambos estão
intrinsecamente relacionados. Ainda antes do batismo, João tinha anunciado
Jesus como o Messias, em sua pregação. Ora, no batismo o Espírito Santo desceu
sobre Jesus e, do céu, o próprio Pai o declarou como o seu “Filho Amado”. O
principal objetivo do evangelista com esse episódio é apresentar Jesus como o
enviado de Deus, ou seja, o “Filho amado do Pai”, conforme a revelação no
batismo, cena anterior ao texto de hoje (cf. Mt 3,16), o qual permanecerá fiel
aos propósitos do Pai, rejeitando todas as propostas que não condizem com os
valores do Reino, sintetizadas aqui pelas três tentações apresentadas pelo
diabo. Portanto, esse é um texto programático para a comunidade cristã.
O
primeiro versículo já apresenta a principal chave de leitura de todo o
texto: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e, no
deserto, ele era guiado pelo Espírito” (v. 1). Ora, o mesmo Espírito Santo
que desceu em forma (cf. Lc 3,22) no batismo, acompanhará Jesus em todos os
seus passos e ações; com o batismo, foi inaugurada sua vida pública, e essa, do
início ao fim, será marcada pela presença do Espírito Santo, e não apenas
quando Ele vai ao deserto. Aqui, o deserto não é um indicativo geográfico, mas
teológico.
A
ida de Jesus ao deserto, antes de tudo, indica que Jesus está inserido na
história do povo de Israel, fazendo parte desse e, portanto, estará sujeito aos
mesmos riscos pelos quais Israel passou, desde a saída do Egito até a conquista
da terra. Logo, também o caminho de Jesus, do nascimento à ressurreição, será
marcado por riscos, perigos e provas, uma vez que Ele, mesmo sendo o “Filho
Amado” de Deus, é verdadeiramente homem. Embora o deserto evoque a provação, é
também o lugar ideal para o bom relacionamento com Deus, por isso, quando o
povo demonstrava infidelidade, os profetas apresentavam a necessidade de
retornar ao deserto para voltar a viver o ideal da aliança (cf. Os 2,14; 9,10;
13,5; Am 2,10; 5,25).
Uma
vez que o deserto é sinônimo de provação e perigo, o evangelista quer dizer que
aquele que tem a sua vida conduzida pelo Espírito, não está imune aos perigos
da vida, não é uma pessoa blindada. Por isso, “Ali foi tentado pelo
diabo durante quarenta dias. Não comeu nada naqueles dias e, depois disso,
sentiu fome” (v. 2). O protagonista da tentação é o diabo (διαβολος – diábolos), palavra grega que literalmente significa
aquele que divide e atrapalha, como é
tudo o que se opõe à concretização do
Reino de Deus e ao caminho de Jesus. Logo, o diabo não é uma
pessoa ou um ser específico,
mas todo percalço posto diante do projeto de Deus; muitas vezes é a própria
estrutura das comunidades que teimam em ofuscar o Evangelho.
Se o
deserto não é um dado geográfico, assim também os “quarenta dias e quarenta
noites” em que Jesus jejuou não podem ser considerados como um dado
cronológico. Mais uma vez, trata-se de um dado teológico, e de grande
relevância. São muitas as ocorrências do número quarenta relacionado ao tempo
no Antigo Testamento: a duração do dilúvio foi de quarenta dias e quarenta
noites (cf. Gn 7,4.12.17); Moisés passou quarenta dias sobre a montanha, antes
de receber a Lei (cf. Ex 32,28); a caminhada do povo de Deus no deserto durou quarenta
anos, sendo esse um tempo de fidelidade, idolatria e prova (Ex 44,28); e o
profeta Elias caminhou durante quarenta dias rumo ao monte Horeb (cf. 1 Rs
19,8). Além de evocar acontecimentos e personagens importantes da história de
Israel, esse número quer dizer uma etapa completa, ou seja, uma vida inteira.
Portanto, significa que toda a vida de Jesus foi marcada pela prova e, assim, é
também a vida da comunidade cristã. Isso deve levar os cristãos e cristãs a uma
vida vigilante sem, jamais, cair nos comodismos que podem surgir. Quer dizer
que a Igreja não pode, em momento algum da história, aceitar qualquer sinal de
conforto, principalmente quando ofertado pelos detentores do poder. A fome de
Jesus (v.2b) é mais uma evidência da sua humanidade.
As
três tentações ou provas (cf. Mt 4,3-4; 5-7; 8-10) são propostas e
contrapropostas de como o ser humano deve relacionar-se com as coisas, com o
próximo e com Deus. O diabo apresenta a lógica da ordem vigente, seja religiosa
ou política, e Jesus propõe um caminho alternativo, o que vai caracterizar o
Reino de Deus como uma sociedade alternativa a todas formas de organização
social até então experimentadas pela humanidade, amparadas ou não pela
religião. Diante disso, parece haver um debate ou disputa de conhecimento da
Escritura entre o diabo e Jesus. É uma nítida antecipação do que ocorrerá em
toda a vida de Jesus, sobretudo quando terá de enfrentar os líderes religiosos
do seu tempo. É um alerta de que o mal age na história camuflado de diversas
aparências, inclusive de pessoas muito religiosas.
A primeira tentação (vv.3-4)
diz respeito à maneira de relacionar-se com as coisas: a lógica do império
incentiva ao consumo e satisfação dos desejos. Embora faminto, Jesus percebe
que não é suficiente saciar-se de pão naquele momento, pois a vida pede muito
mais que pão. Por isso, com base na Escritura, Ele não dispensa o pão, mas diz
que o homem não pode viver “somente” dele. A vida digna e plena não depende
somente do alimento, mas de todos os valores do Reino contidos na “Palavra que
sai da boca de Deus”, que será explicitada no capítulo seguinte, com as
bem-aventuranças.
A segunda tentação chama
a atenção (vv.5-7) para a relação com Deus: na “cidade santa”, onde Deus
morava, o que mais se podia esperar era milagres! Jesus resiste à tentação do
milagre fácil, rejeitando o Deus vendido pelo templo; o seu Deus não é aquele
que distribui anjos por todas as partes para guiar e proteger os seus ‘filhos
bons’ apenas, como afirmava a religião da época, não é o Deus das visões e
aparições nem dos espetaculares prodígios, mas é o Deus da simplicidade, das
coisas pequenas, porque age a partir de dentro do ser humano.
A terceira tentação (vv.8-10)
diz respeito à relação com o próximo. A lógica religiosa-imperial incentivava a
busca constante de poder e, consequentemente, de domínio sobre o outro. Cada
vez mais alimentavam-se as expectativas de um messias glorioso e poderoso,
capaz de julgar e condenar todos os ‘inimigos’ de Israel. Para decepção de
muitos, Jesus apresentou-se como messias servo e sofredor. Por isso, rejeita
toda e qualquer forma de poder, pois, mesmo que esse seja exercido em nome de
Deus, será sempre de origem diabólica, uma vez que impede a concretização de
uma fraternidade universal. Ao invés de poder, Jesus escolherá o serviço como
meio de exercício de sua autoridade. Ele não quis e nem quer o domínio do
universo; quis e quer apenas que o seu amor chegue, através da Igreja, em todos
os confins da terra e, assim, que a humanidade seja transformada.
“O
diabo deixou Jesus” (v. porque não encontrou nele um aliado: nem Caifás e nem
César aceitaram a “rebeldia” de Jesus, por isso, continuaram tramando contra
Ele até a cruz! Embora tenha usado citações do Antigo Testamento como autodefesa,
Jesus vai, aos poucos, elaborando seu próprio programa alternativo àquilo que o
poder vigente na época lhe tinha proposto. Seu programa é a sua própria vida
com suas opções e consequências, explicitado no amplo discurso da montanha (cf.
Mt 5 – 7).
Dia 09
Viva de
maneira que, no fim do dia, você possa rever suas atitudes e sentir-se feliz,
muito feliz.
Não fique
se perguntando se obteve vitórias sobre os demais,
Mas
observe se conseguiu vencer o egoísmo, se soube fazer os outros felizes, se
semeou a boa semente do amor,
se foi luz
para quem andava nas trevas e consolo para quem estava triste, e se proferiu a
palavra certa a quem precisou.
Lembre-se
de que cada um colhe o que semeia.
Se semear
amor, paz e felicidade, essa será sua farta colheita.
“Não vos
iludais, de Deus não se zomba; o que alguém tiver semeado, é isso que vai
colher.
Quem
semeia na sua própria carne, da carne colherá corrupção.
Quem
semeia no Espírito, do espírito colherá a vida eterna”.
(Gl
6,7-8).