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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Evangelho do dia 22 de outubro 2023 - 29º Domingo do tempo comum

 


22 de outubro - Podemos suspirar pela luz como suspiramos pela aurora matinal, mas tal como esta, não podemos adiantá-la de um instante sequer. Devemos, todavia, ficar de olhos abertos para o Oriente, exatamente para o ponto onde a luz do dia costuma aparecer; que não nos aconteça de confundi-la com a aurora boreal, que engana o peregrino. (L 272). São Jose Marello



Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 22,15-21

 "Os fariseus saíram e fizeram um plano para conseguir alguma prova contra Jesus. Então mandaram que alguns dos seus seguidores e alguns membros do partido de Herodes fossem dizer a Jesus:

- Mestre, sabemos que o senhor é honesto, ensina a verdade sobre a maneira de viver que Deus exige e não se importa com a opinião dos outros, nem julga pela aparência. Então o que o senhor acha: é ou não é contra a nossa Lei pagar impostos ao Imperador romano?
Mas Jesus percebeu a malícia deles e respondeu:
- Hipócritas! Por que é que vocês estão procurando uma prova contra mim? Tragam a moeda com que se paga o imposto!
Trouxeram a moeda, e ele perguntou:
- De quem são o nome e a cara que estão gravados nesta moeda?
Eles responderam:
- São do Imperador.
Então Jesus disse:
- Dêem ao Imperador o que é do Imperador e dêem a Deus o que é de Deus.
"
  

Meditação:

 A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum convida-nos a refletir acerca da forma como devemos equacionar a relação entre as realidades de Deus e as realidades do mundo.

 Diz-nos que Deus é a nossa prioridade e que é a Ele que devemos subordinar toda a nossa existência; mas avisa-nos também que Deus nos convoca a um compromisso efetivo com a construção do mundo.

O evangelho de Mateus, com sua força eclesiológica renovadora, nos impulsiona a trabalhar incansavelmente por uma igreja mais próxima da proposta de Jesus, mais centrada nas pessoas, nas relações entre irmãos e menos pendente da norma e da estrutura, cuja atenção não pode ser colocada acima da justiça e da defesa dos pequenos, os prediletos de Deus.

O evangelho de hoje, o mais comentado na história da igreja e também o evangelho do qual se tem as interpretações mais dogmáticas e espiritualizante. É o marco de um texto polêmico em um contexto social no qual se divinizava o Imperador.

O evangelho de Mateus é a primeira síntese da tradição judaica e cristã depois da destruição do templo de Jerusalém na guerra de 66-74 dC.

 O texto lido faz parte de uma série de controvérsias entre Jesus e os fariseus (e outros grupos) sobre temas como o tributo, a ressurreição dos mortos, o mandamento maior, o filho de Davi... Todas essas controvérsias têm, como pano de fundo, o confronto de Jesus com a lei romana.

 Sob o tema do tributo, encontramos uma realidade sofrida das comunidades cristãs (nas quais o evangelho foi escrito), sob o domínio do império romano.

 O povo de Israel, que séculos antes havia sonhado uma sociedade como confederação de tribos, na qual o único Senhor fosse Deus, o Deus da libertação, vive agora as consequências de uma monarquia que explora o pobre para sustentar sua estrutura.

Os mais pobres são os mais afetados pela política fiscal, pois a taxação recaia diretamente sobre os trabalhadores do campo, lavradores ou arrendatários. Porém, indo um pouco mais além do tributo, fixemo-nos na figura do Imperador.

Roma carregava sobre si a influência do mundo religioso do Egito e da Grécia. A relação dos romanos com estes deuses faz parte da estrutura ordinária e cotidiana da vida social: entendia-se o Imperador como um deus, Roma era uma teocracia.

As comunidades cristãs, que haviam optado por outra forma de entender a relação com Deus, com o Deus de Jesus, com o Abba, não podiam entender como o imperador podia se apresentar como um deus, e se enfrentam com a religião oficial optando pelo caminho alternativo, que neste caso é a proposta de vida em pequenas comunidades de irmãos e irmãs.

Diante dessa realidade, a comunidade cristã busca, na experiência vivida com o mestre, e diante desse cenário, a frase: "Dar a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus".

Portanto, já nos albores da reflexão da Comunidade, está a consciência de que o imperador não é Deus e nunca o será, porque Deus é amor, justiça, igualdade… valores ausentes em qualquer império, de qualquer época.

 Com o correr do tempo, o que é alternativo se transforma em oficial e se faz necessário compreender o caminho da criatividade, da renovação, do alternativo.

Na atualidade não há imperadores que se apresentem como deuses, porém nos encontramos com certas estruturas religiosas monárquicas e imperiais que, longe de refletir a vivencia da comunhão entre irmãos e irmãs, pretendem impor a exploração dos pobres no melhor estilo do Império.

Por isso, ao meditar este texto a partir da mentalidade de hoje, temos que dizer com voz profética: "À estrutura oficial religiosa o que é dela" e "a Deus o que é de Deus", ou seja, "a Deus Pai e ao seu Reino toda a nossa entrega e fidelidade.

 Reflexão Apostólica:

Na abordagem de Jesus, a questão deixa de ser uma simples discussão acerca do pagamento ou do não pagamento de um imposto, para se tornar um apelo a que o homem reconheça Deus como o seu senhor e realize a sua vocação essencial de entrega a Deus (ele foi criado por Deus, pertence a Deus e transporta consigo a imagem do seu senhor e seu criador). 

 "Dá-me, filho meu, o teu coração e os teus olhos observem os meus caminhos" (Pv 23,25). É isto que Deus quer. Não umas moedas, não uns bens terrestres, não um pouco de nós ou do nosso tempo, mas tudo o que temos e somos a Ele deve ser consagrado. "Rogo-vos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos (vidas) em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, pois isto é o vosso culto racional.…" (Rm 12,1-2).

Jesus não está preocupado em afirmar que o homem deve repartir equitativamente as suas obrigações entre o poder político e o poder religioso; mas está, sobretudo, preocupado em deixar claro que o homem só pertence a Deus e deve entregar toda a sua existência nas mãos de Deus. Tudo o resto deve ser relativizado, inclusive a submissão ao poder político.

Não adianta negar a soberania de Deus sobre as nossas vidas. Nós existimos por Ele e para Ele, que nos criou e sustenta diariamente.

Submetamo-nos ao Seu domínio, que é um domínio de justiça e amor. Ele nos remiu para glória do Seu Santo Nome, por isso pagou tão alto preço.

Propósito:

Ó Deus, nosso Pai, por reconhecer-te como centro de nossas vidas, ensina-nos a submeter tudo a ti, e a rejeitar o que pretende polarizar nossas atenções. Pai, ajuda-nos a entregar-nos a ti, de todo coração, e servir-te com fidelidade no próximo, de modo que vivamos como verdadeiros filhos teus e como irmãos de todas as pessoas.



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