22 fevereiro - Rezemos e curvemo-nos resignados diante da
vontade do Deus Providência. (C 51).
São José Marello
"Jesus foi para a região que fica perto da cidade de Cesaréia de
Filipe. Ali perguntou aos discípulos:
-
Quem o povo diz que o Filho do Homem é?
Eles
responderam:
-
Alguns dizem que o senhor é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é
Jeremias ou algum outro profeta.
-
E vocês? Quem vocês dizem que eu sou? - perguntou Jesus.
Simão
Pedro respondeu:
-
O senhor é o Messias, o Filho do Deus vivo.
Jesus
afirmou:
-
Simão, filho de João, você é feliz porque esta verdade não foi revelada a você
por nenhum ser humano, mas veio diretamente do meu Pai, que está no céu.
Portanto, eu lhe digo: você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha
Igreja, e nem a morte poderá vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu;
o que você proibir na terra será proibido no céu, e o que permitir na terra
será permitido no céu. "
Reflexão para a Mateus 16,13-19 Solenidade
de São Pedro e São Paulo Mateus 16,13-19
Todos os anos, na solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo, a liturgia propõe Mateus 16,13-19 para o Evangelho, texto que contém a famosa confissão de fé de Pedro na região de Cesaréia de Filipe. Esse é um relato comum aos três Evangelhos Sinóticos (cf. Mt 16,13-19; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21), embora a versão de Mateus apresente mais elementos próprios, o que lhe rendeu uma maior valorização na reflexão teológica ao longo dos séculos, sobretudo, no cristianismo católico.
A recordação dos apóstolos é sempre importante para
a vida da Igreja, porque a ajuda a manter-se alinhada às suas origens, não
obstante os desgastes históricos. Pedro e Paulo foram imprescindíveis para o
cristianismo das origens conservar os ensinamentos de Jesus e, ao mesmo tempo,
para se espalhar e crescer, extrapolando os limites culturais e geográficos do
judaísmo e da Palestina. Olhando para o exemplo dos dois, a Igreja, de hoje e
de sempre, é interpelada, cada vez mais, a renovar-se e edificar-se somente
pela fé em Jesus Cristo, sem tomar como parâmetro nenhuma instituição terrena.
Antes de entrarmos na reflexão do texto em si, é
necessário fazer algumas considerações a respeito do contexto do relato no
conjunto do Evangelho. Esse trecho abre uma série de acontecimentos importantes
da vida de Jesus e dos seus seguidores, como a transfiguração (cf. 17,1-7) e os
dois primeiros anúncios da paixão (cf. 16,21-23; 17,22). Na verdade, podemos
dizer que tais acontecimentos são consequência do episódio narrado no Evangelho
de hoje, pois tanto a transfiguração quanto os anúncios da paixão são
tentativas de Jesus revelar a sua verdadeira identidade, tendo em vista que os
discípulos ainda não tinham tanta clareza dessa.
Recordamos o que sucede ao nosso texto no conjunto
do Evangelho, mas também não podemos deixar de recordar o que lhe antecede: uma
controvérsia com os fariseus, os quais pediam sinais a Jesus (cf. 16,1-4), e
uma séria advertência aos discípulos para não se deixarem contaminar pelo
fermento dos fariseus e saduceus (cf. 16,5-12). Esse fermento era a mentalidade
equivocada sobre Deus e o futuro messias e, principalmente, a hipocrisia em que
viviam. Mateus recorda tudo isso porque, certamente, a sua comunidade passava
por uma crise de identidade: por falta de clareza da identidade de Jesus e falta
de experiência autêntica com o Crucificado-Ressuscitado, o “fermento dos
fariseus”, quer dizer a influência da sinagoga, estava atrapalhando a vivência
das bem-aventuranças, e impedindo a realização do Reino dos céus naquela
comunidade.
Agora podemos, portanto, direcionar nosso olhar
para o texto que a liturgia nos oferece: “Jesus foi à região de
Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: ‘Quem dizem os homens
ser o Filho do homem?’” (v. 13). O texto começa com um indicativo
espacial: Cesaréia de Filipe estava localizada no extremo norte de Israel,
portanto, muito longe de Jerusalém. Como o próprio nome indica (homenagem a
César), era um centro do poder imperial e, portanto, lugar de culto ao
imperador romano. Certamente o evangelista e sua comunidade tinham um propósito
muito claro ao narrar esse episódio e recordar a sua localização.
Longe de Jerusalém, os discípulos estariam isentos
de qualquer influência da tradição religiosa judaica, ou seja, livres do
fermento dos fariseus e, portanto, aptos a confessarem e professarem livremente
a fé em Jesus, fora dos esquemas tradicionais da religião. Ao mesmo tempo,
estando em uma região de culto ao imperador, a confissão da fé em Jesus seria
um sinal de convicção e adesão ao projeto do Reino dos céus e uma demonstração
da coragem que deve marcar a vida da comunidade cristã, chamada a testemunhar a
Boa Nova e continuar a obra de Jesus, mesmo em meio às hostilidades impostas
pelo poder imperial. Podemos dizer que professar a fé em Jesus é distanciar-se
dos esquemas religiosos do judaísmo e, ao mesmo tempo, desafiar qualquer
sistema que não coloque a vida e o bem do ser humano em primeiro lugar, como o
império romano.
A pergunta de Jesus sobre o que dizem a respeito de
si, ou seja, do Filho do Homem, não é demonstração de preocupação com sua
imagem pessoal, mas com a eficácia do anúncio da comunidade. Até então, Jesus
já tinha realizado muitos sinais entre o povo e ensinado bastante, mas pouca
gente o conhecia verdadeiramente. Muitos o seguiam pela novidade que Ele
trazia, uns pelo seu jeito diferente de acolher os mais necessitados e
excluídos, outros para aproveitarem-se dos sinais que Ele realizava. Ele
percebia tudo isso e, por causa disso, fez essa pergunta: “Que dizem os
homens ser o Filho do Homem?” (v. 13b).
A resposta dos discípulos à pergunta de Jesus
revela a falta de clareza que se tinha a respeito da sua identidade e, ao mesmo
tempo, a boa reputação da qual ele já gozava diante do povo, certamente o povo
simples, com quem Ele interagia e por quem lutava. Eis a resposta: “alguns
dizem que é João Batista; outros, que é Elias, outros, ainda, que é Jeremias ou
algum dos profetas” (v. 14). Sem dúvidas, Jesus estava bem-conceituado
pelo povo, pois era reconhecido como um grande profeta. Mas Jesus é muito mais.
Embora continuem sempre atuais, os profetas de Israel são personagens do
passado. A comunidade cristã não pode ver Jesus como um personagem do passado
que deixou um grande legado a ser lembrado. Isso impede a comunidade de fazer
sua experiência com o Ressuscitado, presente e atuante na história.
A pergunta sobre o que as outras pessoas diziam a
seu respeito foi apenas um pretexto. Na verdade, Jesus queria saber mesmo era o
que seus discípulos pensavam de si. Por isso, lhes perguntou: “E vós,
quem dizeis que eu sou?” (v. 15), uma vez que longe do “fermento dos
fariseus”, os discípulos poderiam dar uma resposta sincera, isenta e livre. O
texto afirma que“Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do
Deus vivo” (v. 16). Não resta dúvida que os demais discípulos
componentes do grupo dos doze também responderam. O evangelista enfatiza a
resposta de Pedro por ser uma síntese do pensamento dos doze. Essa é a resposta
do grupo e, portanto, da comunidade.
A resposta é complexa e profunda: Jesus é Messias e
Filho e do Deus vivo. É muito significativo que Ele seja reconhecido e acolhido
como o Messias esperado, ou seja, o Cristo, o enviado de Deus para libertar o
seu povo e a humanidade inteira. Como circulavam muitas imagens de messias
entre o povo, principalmente a de um messias guerreiro e glorioso, o segundo
elemento da resposta de Pedro é de extrema profundidade e importância: “o
Filho do Deus vivo” (em grego: ό υίόςτούΘεούτούζώντος– hóhióstúTheútúzontos).
Além de definir a qualidade e especificidade do
messianismo de Jesus, essa expressão serve também para denunciar a falsidade do
culto ao imperador romano, o qual exigia ser reverenciado como filho de uma
divindade.
Com a resposta de Pedro, a comunidade cristã é
chamada a proclamar que Jesus é, de fato, o Cristo (termo mais fiel ao texto
grego do que Messias), é o Filho do Deus vivo, ou seja, seu Deus é o Deus da
vida, enquanto os deuses pagãos cultuados no império romano e até mesmo o Deus
oferecido pelo templo de Jerusalém eram privados de vida, eram agentes de
morte, sobretudo para o povo simples e excluído. A convicção de que Jesus é o
Filho do Deus vivo compromete a comunidade a denunciar e desafiar todos os
sistemas religiosos e políticos que não favoreçam a promoção da liberdade e da
vida plena e abundante para todos.
Jesus se alegra com a resposta de Pedro e o
proclama bem-aventurado: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque
não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (v.
17). Não se trata de um elogio por um mérito particular de Pedro,
até porque o conhecimento não é dele, mas do Pai que lhe revelou. O que Jesus
faz é uma constatação: as coisas começam a funcionar na comunidade, pois a voz
do Pai está sendo ouvida; como o Pai só revela seus desígnios aos pequeninos
(cf. 10,21), e Pedro está falando a partir do que o Pai lhe sugere, ele está
demonstrando adesão plena ao projeto do Reino, inserindo-se no mundo dos
pequeninos! O Reino de Deus ou dos céus, como Mateus prefere, é um projeto
alternativo de mundo que só tem espaço para quem aceita a condição pertencer ao
mundo dos pequeninos. A bem-aventurança de Pedro consiste em abrir-se à vontade
do Pai e deixar-se conduzir por essa.
Na continuidade, Jesus declara: “Por isso
eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (v.
18a). Jesus está declarando que Pedro está apto a participar da construção da
sua comunidade, por estar aberto às intuições do Pai. Ao contrário da antiga
religião judaica que precisava de um templo de pedras, a comunidade cristã é
uma construção sim, mas pela sua coesão e unidade, por isso, na sua construção
são necessárias pedras vivas. Pedro é uma destas pedras escolhidas por Jesus, a
primeira, sem dúvidas. A pedra fundamental da construção é a fé da comunidade.
A força, o equilíbrio e a perseverança da comunidade dependem da solidez da sua
fé. Por isso, é necessário que essa fé seja forte como uma rocha, comparável a
fé que Pedro tinha acabado de professar.
É importante esclarecer que Mateus usa duas
palavras gregas muito parecidas para designar Pedro e pedra: Πέτρος– Petros e πέτρα- petra.
Embora muito próximas, é possível distingui-las: “Petros”, que
foi transformada no nome próprio Pedro, designa pedra, pedregulho ou tijolo,
uma pedra pequena e removível, uma pedra de construção; “petra”,
por sua vez, designa a superfície rochosa, base ideal para os fundamentos
de uma construção segura. São estas as bases necessárias para a edificação da
Igreja enquanto comunidade do Reino. Portanto, Jesus diz que Pedro (petros) é
uma pedra-tijolo da construção, e a pedra-rocha (petra) é a fé que ele
professou, a superfície rochosa sobre a qual a Igreja é edificada.
Ao contrário do templo de Jerusalém e dos templos
pagãos que haviam na região de Cesaréia de Filipe, construídos sobre pedras
concretas e visíveis e, portanto, passíveis de destruição, a comunidade cristã
não correrá esse risco se for edificada conforme Jesus pensou, ou seja, tendo a
fé por fundamento. Por isso, Ele declara: “e o poder do inferno nunca
poderá vencê-la” (v. 18b). Aqui Ele se refere às hostilidades que a
comunidade irá enfrentar em seu longo percurso até a realização plena do Reino
aqui na terra. São as forças de morte manifestadas nos diversos sistemas de
dominação, tanto políticos quanto religiosos. A comunidade precisa de uma fé
muito consistente para resistir a tudo isso.
No último versículo temos mais uma declaração
significativa de Jesus a Pedro e à comunidade dos discípulos: “Eu te
darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será desligado
nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (v.
19). Mais que delegando poderes, Jesus está responsabilizando a comunidade para
fazer o Reino dos céus acontecer já aqui na terra. A comunidade recebe “as
chaves do Reino dos céus” porque é nela que se faz a experiência da fé
e da comunhão profunda com Deus, através da prática das bem-aventuranças (cf.
5,1-12), e é isso que torna alguém apto para entrar nos céus. Qualquer um que
professa convictamente a fé em Jesus e vive seu programa de vida expresso nas
bem-aventuranças tem a chave de acesso ao Reino. “Ligar e desligar” é,
portanto, responsabilidade, e não poder.
Com essas imagens tão fortes (chaves – ligar –
desligar) Jesus convida a sua Igreja, comunidade do Reino, a viver sempre em
perfeita sintonia com Ele mesmo e com o Pai, de modo que tudo aquilo que a
comunidade experimentar será referendado pelos céus! Ele dá as chaves para a
sua comunidade abrir a todos o Reino que os escribas e fariseus tinham trancado
(cf. 23,13). Todo cristão e cristã possui as chaves do Reino, porque o seu
testemunho pode abrir ou fechar o Reino para alguém! Que a memória dos
apóstolos Pedro e Paulo renove na Igreja a fé autêntica no
Crucificado-Ressuscitado, e a sua índole missionária.
É preciso
conquistar a felicidade dia a dia, minuto a minuto, meã a mês, ano a ano;
enfim, por toda a vida.
Esse
sentimento é encontrado principalmente na paz de coração.
Mas, para
chegar à felicidade, é preciso lutar muito, transpor obstáculos, possuir
obstinação, vencer barreiras e, em especial, ter paciência.
Esperar
sempre, com fé e perseverança, contando com dias melhores.
Cabe a
você conquistar a felicidade passo a passo.
“O
instruído na palavra encontrará a felicidade; quem espera no Senhor, esse é
feliz.” (Pr 16,20).
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