02 março - São José é sempre o “Dirigente de coro” que dá os
tons; embora, às vezes, permite alguma nota desafinada. Neste seu querido mês,
porém, quer que todos os acordes fluam certos e melodiosos, de modo que
arrebatem o nosso espírito para o alto, onde tudo é harmonia. (L 206). São José
Marello
EVANGELHO: Lucas 6,39-45
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós!
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, 39Jesus
contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão
os dois num buraco? 40Um
discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o
mestre.
41Por que vês o cisco no olho do teu irmão, e
não percebes a trave que há no teu próprio olho? 42Como podes dizer a teu irmão:
irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu
próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás
enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
43Não existe árvore boa que dê frutos ruins,
nem árvore ruim que dê frutos bons. 44Toda
árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem
uvas de plantas espinhosas.
45O homem bom tira coisas boas do bom tesouro
do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua
boca fala do que o coração está cheio”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Reflexão para o 8º domingo do Tempo
Comum Lucas 6,39-45 02 mar 2025
No último domingo da primeira fase do tempo comum,
antes da pausa para o ciclo pascal, a liturgia conclui a leitura do discurso da
planície, iniciada há dois domingos, mesmo ainda restando alguns versículos
(cf. Lc 6,46-49). O texto proposto para hoje é Lucas 6,39-45, um conjunto de
sentenças proverbiais usadas como advertências e incentivo para a comunidade
cristã manter-se coerente e fiel aos ensinamentos de Jesus. O discurso, desde o
seu início com a proclamação dos pobres como bem-aventurados, propõe uma
verdadeira revolução no jeito de viver dos seguidores e seguidoras de Jesus,
cuja expressão mais comprometedora é a exigência de amor até pelos inimigos
(cf. Lc 6,27.35), e a regra de ouro é “fazer aos outros o que deseja para si”
(cf. Lc 6,31). Se trata de um programa de vida revolucionário, movido pelo
amor, cujo sucesso ou fracasso depende da adesão e coerência dos discípulos,
foco do evangelho de hoje.
Embora Jesus se encontrasse diante de um auditório
numeroso e heterogêneo, pois além dos discípulos havia uma grande multidão
composta por pessoas de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e
Sidônia (cf. Lc 6,17), os principais destinatários são os discípulos. São eles,
portanto, os que devem viver primeiro e de modo incondicional o programa de
vida proposto por Jesus. Por isso, diz o evangelista que “Jesus contou
uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois
num buraco?” (v. 39). Provavelmente o evangelista empregou o termo
parábola (em grego: παραβολή – parabolê) aqui para dar ênfase
ao ensinamento, mas o conteúdo,
formalmente, não pertence a esse gênero
literário, exceto os últimos
versículos que comparam o agir humano aos frutos de uma árvore, e o coração a
um tesouro. Com um provérbio bastante claro, Jesus chama a atenção dos seus
seguidores e seguidoras a viverem como pessoas iluminadas e lúcidas e,
sobretudo, abertas aos seus ensinamentos. A cegueira, em linguagem bíblica,
significa ausência de Deus e dos seus mandamentos; na comunidade de Jesus, significa
fechamento ao Evangelho. Se os cristãos são chamados a ser luz, logo devem
esforçar-se para evitar a cegueira. Isso se faz vivendo e praticando o que
ensina o Evangelho. Só pode ser luz para os outros quem já é portador de luz,
ou seja, quem se deixa iluminar pelo Evangelho de Jesus.
O segundo provérbio é uma denúncia aos sinais de
divisão e prepotência que podem surgir na comunidade e, consequentemente, um
convite à humildade: “Um discípulo não é maior do que o mestre; todo
discípulo bem formado será como o mestre” (v. 40). Provavelmente, esse
versículo reflete mais a situação da comunidade de Lucas do que o grupo inicial
dos discípulos. Havia uma tendência de hierarquização, e isso comprometia
bastante a vida comunitária, pois feria o princípio de uma comunidade
igualitária, como propôs Jesus. Para manter o princípio da igualdade é
necessário que estejam todos numa mesma condição e ninguém se atreva a ocupar o
lugar de mestre que pertence somente a Jesus. Ao invés de ocupar o seu lugar,
os discípulos devem esforçar-se somente para ser como ele, vivendo como ele
viveu, sobretudo, no jeito de amar.
Do risco de alguém na comunidade ocupar o lugar do
mestre, emanam diversos outros riscos, como a arrogância e a prepotência,
inclusive falsos ideais de perfeição. Por isso, a séria advertência de
Jesus: “Por que vês o circo que está no olho do teu irmão, e não
percebes a trave que há no teu próprio olho?” (v. 41). Mais do que um
risco, esse parece ser um problema já enraizado na comunidade, e combatido pelo
evangelista. Existiam e existem pessoas que se consideram irrepreensíveis,
atribuindo para si a capacidade e o direito de julgar os outros. Esse tipo de
comportamento é totalmente alheio ao ensinamento de Jesus e, por isso,
inadequado à sua comunidade.
O próprio Jesus reforça o combate a essa tendência
tão prejudicial ao seu projeto: “Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão,
deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando não percebes a trave no teu próprio
olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar
bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (v. 42). Essa é a
primeira vez que Lucas emprega a palavra hipócrita no seu evangelho; esse termo
(em grego: υποκριτική Parte superior do formulário
– hipocritês) significa literalmente “aquele que
põe a máscara”, o ator ou intérprete no teatro grego. Enquanto Mateus, por
exemplo, reserva essa palavra aos fariseus e mestres da lei (cf. Mt 6,2.5.16;
15,7;22,18), Lucas reconhece o perigo da hipocrisia também no seio da
comunidade e, por isso, denuncia. Geralmente, quem mais vê defeitos no outro,
quem se considera irrepreensível diante de Deus, quem tem facilidade em julgar
o próximo, são as pessoas mais distantes dos verdadeiros valores do Evangelho.
Essa tendência deve ser combatida e denunciada constantemente, pois fere o
ideal de vida proposto por Jesus.
A imagem da árvore com os frutos tem a finalidade
de animar os cristãos a traduzir na vida concreta a relação com Cristo: “Não
existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda
árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem
uvas de plantas espinhosas” (vv. 43-44). A pertença de alguém a Cristo
e a coerência aos seus ensinamentos serão reveladas naturalmente pelos frutos.
De quem se alimenta do Evangelho, não podem brotar frutos que não sejam amor,
justiça e solidariedade. Ao invés de julgar o próximo, conforme a advertência
anterior (cf. vv. 41-42), os seguidores e seguidoras de Jesus devem
preocupar-se com a qualidade dos frutos gerados. A oposição entre frutos bons e
ruins deve ajudar o ouvinte e leitor a perceber as consequências de suas ações
e pensamentos, levando-os a uma reflexão mais profunda sobre a fonte de todo o
agir humano, conforme a mentalidade bíblica: o coração.
Como síntese conclusiva, Jesus apresenta uma
pequena parábola: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu
coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala
do que o coração está cheio” (v. 45). Assim, ele ensina que, além do agir,
também as palavras tem grande importância para a vida cristã, pois revelam a
qualidade da fonte que as origina: o coração humano. O coração como um tesouro
é uma imagem clássica na linguagem bíblica (cf. Eclo 29,11), pois é o que o ser
humano tem de mais precioso; é a sede do processamento de todos os sentimentos
e pensamentos. Se o comportamento e o agir são importantes e decisivos para o
bem da comunidade, cada um e cada uma devem estar atentos ao que origina tal
agir. Por isso, o cuidado com as disposições interiores, das quais dependem se
os frutos produzidos serão bons ou ruins.
Dia 02
Quando for
preciso corrigir alguém, seja paciente, principalmente com os mais simples e
humildes.
Aja com
muita caridade, tendo em vista a correção fraterna proposta por Jesus.
Lembre-se
de que todas as pessoas são passíveis de erros, pois são criaturas limitadas.
Jamais
faça aos outros o que não quer que lhe façam.
Toda e qualquer advertência deve ser feita com muito amor e respeito.
Tudo,
portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles.
Isto é a
Lei e os Profetas”. (Mt 7,12).
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