domingo, 29 de setembro de 2024

EVANGELHO DO DIA 06 OUTUBRO 2024 - 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

06/10 – São Bruno

São Bruno, fundador da Ordem dos Cartuxos, considerada a mais rígida de todas as Ordens da Igreja, e que atravessou a história sem reformas.

Filho de família nobre da Alemanha, nasceu em 1032. Foi chamado pelo Senhor ao sacerdócio na juventude e se encantou. Bruno, inteligente e piedoso, começou a dar aulas na escola da Catedral do Arcebispo de Reims e aos cinquenta anos amadureceu na inspiração de servir a uma Ordem religiosa.

Frequentou pouco tempo no mosteiro beneditino e retirou-se para uma região chamada Cartuxa com a aprovação e bênção de São Hugo, Bispo de Grenoble, o qual lhe ofereceu um lugar. Isto se deu graças a um sonho que São Hugo teve. Neste sonho, apareciam-lhe sete estrelas que caíam aos seus pés para, logo em seguida, levantarem-se e desaparecerem no deserto montanhoso. Após este sonho, o Bispo recebeu a visita de Bruno que estava acompanhado por seis companheiros monges. Ao ver os sete homens, Bispo Hugo reconheceu imediatamente neles as sete estrelas do sonho e concedeu-lhes as terras onde São Bruno iniciou a Ordem gloriosa da Cartuxa com o coração abrasado de amor por Jesus e pelo Reino de Deus. Com os monges companheiros, observava-se absoluto silêncio, a fim do aprofundamento na oração e à meditação das coisas divinas, ofícios litúrgicos comunitários, obediência aos superiores, trabalhos agrícolas, transcrição de manuscritos e livros piedosos.

Um dos discípulos de São Bruno tornou-se Papa (Urbano II), e queria que Bruno fosse seu assessor, mas recusou ser Bispo e pediu  com insistência ao Sumo Pontífice para voltar a vida religiosa que tinha e fundar com seus amigos de Roma no sul da Itália o Mosteiro de Santa Maria da Torre, onde veio a falecer no dia 6 de outubro de 1101.

Últimas palavras de São Bruno:

“Eu creio nos Santos Sacramentos da Igreja Católica, em particular, creio que o pão e o vinho consagrados, na Santa Missa, são o Corpo e Sangue, verdadeiros, de Jesus Cristo”.

São Bruno, rogai por nós!

 


06 Outubro - Sede monges em casa e apóstolos fora de casa. (M 9/94/19).  São Jose Marello

 


EVANGELHO - Marcos 10,2-16 06 out 2024

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova
e perguntaram-Lhe:
«Pode um homem repudiar a sua mulher?»
Jesus disse-lhes:
«Que vos ordenou Moisés?»
Eles responderam:
«Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio,
para se repudiar a mulher».
Jesus disse-lhes:
«Foi por causa da dureza do vosso coração
que ele vos deixou essa lei.
Mas, no princípio da criação, 'Deus fê-los homem e mulher.
Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa,
e os dois serão uma só carne'.
Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu».
Em casa, os discípulos interrogaram-no de novo
sobre este assunto.
Jesus disse-lhes então:
«Quem repudiar a sua mulher e casar com outra,
comete adultério contra a primeira.
E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro,
comete adultério».

Apresentaram a Jesus umas crianças
para que Ele lhes tocasse,
mas os discípulos afastavam-nas.
Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes:
«Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis:
dos que são como elas é o reino de Deus.
Em verdade vos digo:
Quem não acolher o reino de Deus como uma criança,
não entrará nele».
E, abraçando-as, começou a abençoá-las,
impondo a mão sobre elas.


 Neste vigésimo sétimo domingo do tempo comum, a liturgia oferece Marcos 10,2-16 para o Evangelho. Como se trata de um texto bastante longo, não comentaremos versículo por versículo, mas procuraremos colher a sua mensagem central. O contexto continua sendo o caminho de Jesus com seus discípulos para Jerusalém, onde acontecerão os eventos da sua paixão e morte. É importante recordar que, durante esse caminho, Jesus sofre uma contínua e sistemática oposição, o que serve de preparação para o confronto final em Jerusalém com as autoridades religiosas e políticas que o levarão à morte na cruz.

O texto de hoje marca uma nova etapa no caminho: tendo atravessado o rio Jordão, Jesus já está no território da Judéia (cf. Mc 10,1) e, portanto, cada vez mais perto de Jerusalém. Até então, a oposição encontrada ao longo do caminho tinha sido somente dos próprios discípulos: desde Pedro, que o repreendeu ao ouvi-lo da própria morte (cf. Mc 8,27-35 – Evangelho do vigésimo quarto domingo), até João que proibiu um homem de agir em nome de Jesus, simplesmente por não fazer parte do grupo dos Doze (cf. Mc 9,38-48 – Evangelho do vigésimo sexto domingo). Essa observação é importante para lembrar que a mensagem de Jesus nunca encontra facilidade no seu anúncio; o Evangelho sempre encontra obstáculos, pois possui uma proposta de transformação de vidas e de mudança nas estruturas da sociedade. Propostas assim, tendem a incomodar, tanto as instituições, quando as pessoas a elas conformadas.

Os opositores que confrontam Jesus no Evangelho de hoje são os fariseus, por sinal, os mais tradicionais adversários, desde o início do seu ministério (cf. Mc 2,16; 3,6; 7,1). Com esses adversários, o confronto é sempre no campo doutrinal, sobretudo na maneira de compreender e interpretar a lei. Dessa vez, o confronto diz respeito à legitimidade do divórcio: “Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher” (v. 2). De início, o evangelista já denuncia a malícia dos fariseus: “pôr Jesus à prova”, ou seja, tentá-lo, para posteriormente acusa-lo. Como fiéis observadores da lei, os fariseus já tinham consciência formada e conhecimento a respeito desse tema. Por isso, “Jesus perguntou: o que Moisés vos ordenou?” (v. 3), uma vez que os fariseus tinham Moisés como autoridade máxima, ou seja, a lei.  

Os fariseus respondem a Jesus, de acordo com a lei: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la” (v. 4). Está claro que a lei permitia o divórcio, mas Jesus recorda o motivo pelo qual a lei foi dada: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne” (vv. 5-7). Ora, a lei não corresponde aos propósitos originais da criação, mas foi dada como um paliativo, diante do mal enraizado no mundo. Jesus não veio ao mundo para conformá-lo nem conformar-se à lei, mas para recuperar o ideal da criação, instaurando definitivamente o Reino de Deus sobre o mundo.

Como a lei permitia o divórcio, na época de Jesus o debate girava em torno dos motivos para o mesmo. Havia duas correntes rabínicas de interpretação na sua época de Jesus: uma delas, afirmava que o divórcio só podia ser dado em caso de um erro muito grave por parte da mulher; para a outra, podia ser dado por qualquer motivo, inclusive se o marido desaprovasse uma comida preparada pela mulher, uma vez que a lei deuteronômica, na qual os fariseus se baseavam, dava essa liberdade (cf. Dt 24,1-4). Para Jesus, essa lei era absurda, pois legitimava a submissão e marginalização da mulher. Em todas as questões relativas à lei, a preocupação de Jesus é com os abusos que podem ser praticados e fundamentados a partir dela. Quem se prejudicava sempre era a mulher, pois o homem poderia repudiá-la a qualquer momento, mandando-a embora de casa. Essa lei legitimava a família patriarcal e mantinha a mulher marginalizada. Por isso, Jesus se distancia dessa lei e convida a sua comunidade a manter-se alinhada aos propósitos da criação: “Deus os fez homem e mulher” para serem “uma só carne”, ou seja, uma unidade, formando uma comunhão indissolúvel e sem hierarquia. Prender-se à lei, para Jesus, é negar o projeto original de Deus e fechar-se ao seu Reino, por consequência.

O embate com os fariseus tinha sido no caminho. É típico da pedagogia de Jesus aprofundar em casa, com os discípulos, o tema discutido no caminho. Mais uma vez, o evangelista evidencia caminho e casa como lugares prediletos da catequese de Jesus. Por isso, diz que, “em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto” (v. 10). De fato, se tratava de um assunto importante, muito relacionado ao cotidiano das pessoas. Também os discípulos seriam abordados sobre o mesmo; por isso, o interesse em aprender ainda mais com o Mestre. Aos discípulos, “Jesus respondeu: ‘Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar de seu marido e se casar com outro, cometerá adultério” (vv. 11-12). Nessa resposta, Jesus reafirma seu compromisso com os propósitos da criação: o divórcio não deveria existir e, ao mesmo tempo, traz uma grande novidade: coloca a mulher em condição de igualdade com o homem, ao afirmar que também o homem comete adultério ao divorciar-se e casar-se com outra. De acordo com a lei, fundamento da família patriarcal, a culpa e as consequências, em caso de divórcio, iam somente para a mulher; das consequências, a maior delas era a discriminação, o que gerava segregação e apedrejamento. A grande lição de Jesus aqui, além de remeter à humanidade ao plano da criação, é a proteção da mulher e a sua igualdade nas relações, combatendo uma lei que discriminava e excluía.

Na parte final, o evangelista coloca, novamente, em cena personagens tão caros para seção do caminho: as crianças. “Depois disso, traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam” (v. 13). A ênfase de Jesus e do evangelista às crianças tem uma função didática muito específica, sobretudo para a formação dos discípulos. Ora, quanto mais se aproximavam de Jerusalém, mais os discípulos alimentavam projetos de poder e sonhos de grandeza, imaginando a restauração do império davídico-salomônico e, com isso, a ocupação de cargos de honra na administração. Diante disso, o evangelista insiste em apresentar as crianças como modelo, considerando a insignificância que lhes era atribuída na época. O fato de os discípulos repreenderem as crianças, mostra o quanto eles ainda estavam distantes da mentalidade de Jesus.

Essa atitude de impedir que as crianças se aproximassem revela a incoerência e incompreensão dos discípulos com o projeto de Jesus de construir um mundo novo, o Reino de Deus, no qual os últimos e mais frágeis são a opção preferencial. Na controvérsia sobre o divórcio, Jesus elevou a mulher à condição de igualdade; agora, com as crianças, elevará todas as categorias de pessoas excluídas à condição de preferidos e preferidas do Reino.

Com a atitude escandalosa dos discípulos – no Evangelho, causa escândalo quem atrapalha alguém de se aproximar de Jesus – o evangelista diz que “Jesus se aborreceu e disse: ‘Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas” (v. 14). Embora outros evangelistas também narrem esse episódio, somente Marcos diz que “Jesus se aborreceu”; esse detalhe é importante por dois motivos: primeiro, porque demonstra a importância que Jesus dava às crianças (como imagem de todas as categorias de pessoas vulneráveis e marginalizadas da sociedade); segundo, porque denuncia o quanto era absurda a atitude dos discípulos; e, terceiro, porque mostra a preocupação do evangelista em revelar a humanidade de Jesus (um homem de sentimentos). Revelar os traços humanos de Jesus era muito importante para Marcos, o que os outros evangelistas pareciam esconder. A ordem de Jesus para que os discípulos não proíbam que as crianças se aproximem dele comporta um grande compromisso para a Igreja de todos os tempos: facilitar o máximo possível o encontro com os mais vulneráveis e excluídos da sociedade. A comunidade cristã não pode criar obstáculo algum para que as pessoas, sobretudo as mais necessitadas e excluídas, se aproximem do amor de Jesus.

As crianças são apresentadas como modelo, e para pertencer ao Reino de Deus é necessário tornar-se como elas (cf. v. 15). Para os discípulos, principalmente, essa comparação é muito importante. A criança é exemplo de quem necessita aprender, de quem não trama maldade nem alimenta ambições, de quem não se sente autossuficiente. Para o Reino de Deus, como uma sociedade alternativa, igualitária e justa, é imprescindível ter tais características para nele inserir-se. O gesto de abraçar, abençoar e impor as mãos sobre as crianças, no último versículo (cf. v. 16), enfatiza o amor acolhedor de Jesus pelas pessoas mais necessitadas e que a sociedade considera insignificantes.  

 

Na bíblia, o verbo que resulta na tradução tentar ou provar é o mesmo. Deus não tenta nem prova ninguém. Engana-se quem, numa situação difícil, diz: Deus está provando minha fé. Deus tem mais o que fazer: amar, cuidar, amparar, suster a vida... A provação vem de nossos próprios desejos desordenados, nem sempre apaziguados pelo Espírito. Já é hora de assumir nossas próprias fraquezas e deixar de culpar Deus – ou até mesmo o diabo – por nossos infortúnios. Tg 1, 13

 


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