06/10 – São Bruno
São Bruno, fundador da Ordem dos Cartuxos,
considerada a mais rígida de todas as Ordens da Igreja, e que atravessou a
história sem reformas.
Filho de família nobre da Alemanha, nasceu em
1032. Foi chamado pelo Senhor ao sacerdócio na juventude e se encantou. Bruno,
inteligente e piedoso, começou a dar aulas na escola da Catedral do Arcebispo
de Reims e aos cinquenta anos amadureceu na inspiração de servir a uma
Ordem religiosa.
Frequentou pouco tempo no mosteiro
beneditino e retirou-se para uma região chamada Cartuxa com a aprovação e
bênção de São Hugo, Bispo de Grenoble, o qual lhe ofereceu um lugar. Isto se
deu graças a um sonho que São Hugo teve. Neste sonho, apareciam-lhe sete
estrelas que caíam aos seus pés para, logo em seguida, levantarem-se e
desaparecerem no deserto montanhoso. Após este sonho, o Bispo recebeu a visita
de Bruno que estava acompanhado por seis companheiros monges. Ao ver os sete
homens, Bispo Hugo reconheceu imediatamente neles as sete estrelas do sonho e
concedeu-lhes as terras onde São Bruno iniciou a Ordem gloriosa da Cartuxa com
o coração abrasado de amor por Jesus e pelo Reino de Deus. Com os monges
companheiros, observava-se absoluto silêncio, a fim do aprofundamento na oração
e à meditação das coisas divinas, ofícios litúrgicos comunitários, obediência
aos superiores, trabalhos agrícolas, transcrição de manuscritos e livros
piedosos.
Um dos discípulos de São Bruno tornou-se Papa
(Urbano II), e queria que Bruno fosse seu assessor, mas recusou ser Bispo e
pediu com insistência ao Sumo Pontífice para voltar a vida religiosa que
tinha e fundar com seus amigos de Roma no sul da Itália o Mosteiro de Santa
Maria da Torre, onde veio a falecer no dia 6 de outubro de 1101.
Últimas palavras de São Bruno:
“Eu creio nos Santos Sacramentos da Igreja
Católica, em particular, creio que o pão e o vinho consagrados, na Santa Missa,
são o Corpo e Sangue, verdadeiros, de Jesus Cristo”.
São Bruno, rogai por nós!
06 Outubro - Sede monges em casa e
apóstolos fora de casa. (M 9/94/19).
São Jose Marello
EVANGELHO - Marcos 10,2-16 06 out 2024
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
Aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova
e perguntaram-Lhe:
«Pode um homem repudiar a sua mulher?»
Jesus disse-lhes:
«Que vos ordenou Moisés?»
Eles responderam:
«Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio,
para se repudiar a mulher».
Jesus disse-lhes:
«Foi por causa da dureza do vosso coração
que ele vos deixou essa lei.
Mas, no princípio da criação, 'Deus fê-los homem e mulher.
Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa,
e os dois serão uma só carne'.
Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, não separe o homem o que Deus uniu».
Em casa, os discípulos interrogaram-no de novo
sobre este assunto.
Jesus disse-lhes então:
«Quem repudiar a sua mulher e casar com outra,
comete adultério contra a primeira.
E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro,
comete adultério».
Apresentaram a Jesus umas crianças
para que Ele lhes tocasse,
mas os discípulos afastavam-nas.
Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes:
«Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis:
dos que são como elas é o reino de Deus.
Em verdade vos digo:
Quem não acolher o reino de Deus como uma criança,
não entrará nele».
E, abraçando-as, começou a abençoá-las,
impondo a mão sobre elas.
O texto de hoje marca uma nova
etapa no caminho: tendo atravessado o rio Jordão, Jesus já está no território
da Judéia (cf. Mc 10,1) e, portanto, cada vez mais perto de Jerusalém. Até
então, a oposição encontrada ao longo do caminho tinha sido somente dos
próprios discípulos: desde Pedro, que o repreendeu ao ouvi-lo da própria morte
(cf. Mc 8,27-35 – Evangelho do vigésimo quarto domingo), até João que proibiu
um homem de agir em nome de Jesus, simplesmente por não fazer parte do grupo
dos Doze (cf. Mc 9,38-48 – Evangelho do vigésimo sexto domingo). Essa
observação é importante para lembrar que a mensagem de Jesus nunca encontra
facilidade no seu anúncio; o Evangelho sempre encontra obstáculos, pois possui
uma proposta de transformação de vidas e de mudança nas estruturas da
sociedade. Propostas assim, tendem a incomodar, tanto as instituições, quando
as pessoas a elas conformadas.
Os opositores que confrontam
Jesus no Evangelho de hoje são os fariseus, por sinal, os mais tradicionais
adversários, desde o início do seu ministério (cf. Mc 2,16; 3,6; 7,1). Com
esses adversários, o confronto é sempre no campo doutrinal, sobretudo na
maneira de compreender e interpretar a lei. Dessa vez, o confronto diz respeito
à legitimidade do divórcio: “Alguns fariseus se aproximaram de Jesus.
Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua
mulher” (v. 2). De início, o evangelista já denuncia a malícia dos
fariseus: “pôr Jesus à prova”, ou seja, tentá-lo, para posteriormente acusa-lo.
Como fiéis observadores da lei, os fariseus já tinham consciência formada e
conhecimento a respeito desse tema. Por isso, “Jesus perguntou: o que
Moisés vos ordenou?” (v. 3), uma vez que os fariseus tinham Moisés
como autoridade máxima, ou seja, a lei.
Os fariseus respondem a Jesus,
de acordo com a lei: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio
e despedi-la” (v. 4). Está claro que a lei permitia o divórcio, mas
Jesus recorda o motivo pelo qual a lei foi dada: “Foi por causa da
dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. No entanto,
desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem
deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne” (vv. 5-7).
Ora, a lei não corresponde aos propósitos originais da criação, mas foi dada
como um paliativo, diante do mal enraizado no mundo. Jesus não veio ao mundo
para conformá-lo nem conformar-se à lei, mas para recuperar o ideal da criação,
instaurando definitivamente o Reino de Deus sobre o mundo.
Como a lei permitia o divórcio,
na época de Jesus o debate girava em torno dos motivos para o mesmo. Havia duas
correntes rabínicas de interpretação na sua época de Jesus: uma delas, afirmava
que o divórcio só podia ser dado em caso de um erro muito grave por parte da
mulher; para a outra, podia ser dado por qualquer motivo, inclusive se o marido
desaprovasse uma comida preparada pela mulher, uma vez que a lei deuteronômica,
na qual os fariseus se baseavam, dava essa liberdade (cf. Dt 24,1-4). Para
Jesus, essa lei era absurda, pois legitimava a submissão e marginalização da
mulher. Em todas as questões relativas à lei, a preocupação de Jesus é com os abusos
que podem ser praticados e fundamentados a partir dela. Quem se prejudicava
sempre era a mulher, pois o homem poderia repudiá-la a qualquer momento,
mandando-a embora de casa. Essa lei legitimava a família patriarcal e mantinha
a mulher marginalizada. Por isso, Jesus se distancia dessa lei e convida a sua
comunidade a manter-se alinhada aos propósitos da criação: “Deus os fez homem e
mulher” para serem “uma só carne”, ou seja, uma unidade, formando uma comunhão
indissolúvel e sem hierarquia. Prender-se à lei, para Jesus, é negar o projeto
original de Deus e fechar-se ao seu Reino, por consequência.
O embate com os fariseus tinha
sido no caminho. É típico da pedagogia de Jesus aprofundar em casa, com os
discípulos, o tema discutido no caminho. Mais uma vez, o evangelista evidencia
caminho e casa como lugares prediletos da catequese de Jesus. Por isso, diz
que, “em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o
mesmo assunto” (v. 10). De fato, se tratava de um assunto importante,
muito relacionado ao cotidiano das pessoas. Também os discípulos seriam
abordados sobre o mesmo; por isso, o interesse em aprender ainda mais com o
Mestre. Aos discípulos, “Jesus respondeu: ‘Quem se divorciar de sua
mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher
se divorciar de seu marido e se casar com outro, cometerá adultério” (vv.
11-12). Nessa resposta, Jesus reafirma seu compromisso com os propósitos da
criação: o divórcio não deveria existir e, ao mesmo tempo, traz uma grande
novidade: coloca a mulher em condição de igualdade com o homem, ao afirmar que
também o homem comete adultério ao divorciar-se e casar-se com outra. De acordo
com a lei, fundamento da família patriarcal, a culpa e as consequências, em
caso de divórcio, iam somente para a mulher; das consequências, a maior delas
era a discriminação, o que gerava segregação e apedrejamento. A grande lição de
Jesus aqui, além de remeter à humanidade ao plano da criação, é a proteção da
mulher e a sua igualdade nas relações, combatendo uma lei que discriminava e
excluía.
Na parte final, o evangelista
coloca, novamente, em cena personagens tão caros para seção do caminho: as
crianças. “Depois disso, traziam crianças para que Jesus as tocasse.
Mas os discípulos as repreendiam” (v. 13). A ênfase de Jesus e do
evangelista às crianças tem uma função didática muito específica, sobretudo
para a formação dos discípulos. Ora, quanto mais se aproximavam de Jerusalém,
mais os discípulos alimentavam projetos de poder e sonhos de grandeza, imaginando
a restauração do império davídico-salomônico e, com isso, a ocupação de cargos
de honra na administração. Diante disso, o evangelista insiste em apresentar as
crianças como modelo, considerando a insignificância que lhes era atribuída na
época. O fato de os discípulos repreenderem as crianças, mostra o quanto eles
ainda estavam distantes da mentalidade de Jesus.
Essa atitude de impedir que as
crianças se aproximassem revela a incoerência e incompreensão dos discípulos
com o projeto de Jesus de construir um mundo novo, o Reino de Deus, no qual os
últimos e mais frágeis são a opção preferencial. Na controvérsia sobre o
divórcio, Jesus elevou a mulher à condição de igualdade; agora, com as
crianças, elevará todas as categorias de pessoas excluídas à condição de
preferidos e preferidas do Reino.
Com a atitude escandalosa dos
discípulos – no Evangelho, causa escândalo quem atrapalha alguém de se
aproximar de Jesus – o evangelista diz que “Jesus se aborreceu e disse:
‘Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos
que são como elas” (v. 14). Embora outros evangelistas também narrem
esse episódio, somente Marcos diz que “Jesus se aborreceu”; esse detalhe é
importante por dois motivos: primeiro, porque demonstra a importância que Jesus
dava às crianças (como imagem de todas as categorias de pessoas vulneráveis e
marginalizadas da sociedade); segundo, porque denuncia o quanto era absurda a
atitude dos discípulos; e, terceiro, porque mostra a preocupação do evangelista
em revelar a humanidade de Jesus (um homem de sentimentos). Revelar os traços
humanos de Jesus era muito importante para Marcos, o que os outros evangelistas
pareciam esconder. A ordem de Jesus para que os discípulos não proíbam que as
crianças se aproximem dele comporta um grande compromisso para a Igreja de
todos os tempos: facilitar o máximo possível o encontro com os mais vulneráveis
e excluídos da sociedade. A comunidade cristã não pode criar obstáculo algum
para que as pessoas, sobretudo as mais necessitadas e excluídas, se aproximem
do amor de Jesus.
As crianças são apresentadas
como modelo, e para pertencer ao Reino de Deus é necessário tornar-se como elas
(cf. v. 15). Para os discípulos, principalmente, essa comparação é muito
importante. A criança é exemplo de quem necessita aprender, de quem não trama
maldade nem alimenta ambições, de quem não se sente autossuficiente. Para o
Reino de Deus, como uma sociedade alternativa, igualitária e justa, é
imprescindível ter tais características para nele inserir-se. O gesto de abraçar,
abençoar e impor as mãos sobre as crianças, no último versículo (cf. v. 16),
enfatiza o amor acolhedor de Jesus pelas pessoas mais necessitadas e que a
sociedade considera insignificantes.
Na bíblia,
o verbo que resulta na tradução tentar ou provar é o mesmo. Deus não tenta nem
prova ninguém. Engana-se quem, numa situação difícil, diz: Deus está provando
minha fé. Deus tem mais o que fazer: amar, cuidar, amparar, suster a vida... A
provação vem de nossos próprios desejos desordenados, nem sempre apaziguados
pelo Espírito. Já é hora de assumir nossas próprias fraquezas e deixar de
culpar Deus – ou até mesmo o diabo – por nossos infortúnios. Tg 1, 13
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