23 - Antes de mais nada, se quisermos possuir a potência e a fortaleza necessárias para o nosso propósito, deveremos buscar a nossa força no Céu. (L 9). São José Marello
Mateus 13,44-46
Primeira
Leitura (2Cor 10,17-11,2)
Leitura
da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios.
Irmãos,
quem se gloria, glorie-se no Senhor. Pois é aprovado só aquele que o Senhor
recomenda e não aquele que se recomenda a si mesmo. 11, oxalá pudésseis
suportar um pouco de insensatez, da minha parte. Na verdade, vós me suportais.
Sinto por vós um amor ciumento semelhante ao amor que Deus vos tem. Fui eu que
vos desposei a um único esposo, apresentando-vos a Cristo como virgem pura.
–
Palavra do Senhor.
–
Graças a Deus.
Evangelho Mateus 13,44-46
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus.
—
Glória a vós, Senhor.
Naquele
tempo, disse Jesus à multidão: “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no
campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai,
vende todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus também é como
um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de
grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola”.
—
Palavra da Salvação.
—
Glória a vós, Senhor.
Imaginem, por um momento,
que você está caminhando por um campo comum, talvez voltando para casa após um
longo dia de trabalho. Seus pés estão cansados, sua mente está ocupada com as
preocupações do dia-a-dia. De repente, seu pé esbarra em algo duro. Você se
abaixa para investigar e, para sua surpresa, descobre um pequeno baú enterrado.
Com o coração acelerado, você o abre e se depara com um tesouro além de seus
sonhos mais ousados.
Esta é a cena que Jesus
pinta para nós na primeira parábola do Evangelho de hoje. “O Reino dos céus é
semelhante a um tesouro escondido no campo.” Mas o que significa realmente este
tesouro? E o que tem a ver com a mensagem de Paulo aos Coríntios que acabamos
de ouvir?
Vamos desembrulhar este
tesouro juntos, camada por camada.
Primeiro, notemos a
reação do homem que encontra o tesouro: “Na sua alegria, vai, vende tudo o que
tem e compra aquele campo.” Há uma urgência, um abandono total nesta ação. Ele
reconhece imediatamente o valor incomparável do que encontrou e está disposto a
sacrificar tudo para obtê-lo.
Mas Jesus não para por
aí. Ele nos dá outra imagem: “O Reino dos céus é também semelhante a um
negociante que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande
valor, vai, vende tudo o que possui e a compra.”
Observem a diferença
sutil, mas significativa. No primeiro caso, o homem tropeça no tesouro por
acaso. No segundo, o comerciante está ativamente buscando. Alguns de nós podem
ter tido um encontro repentino e inesperado com Deus – um momento de graça que
mudou tudo. Outros podem ter passado anos buscando, pesquisando, ansiando por
algo mais.
O ponto crucial é que,
uma vez que reconhecemos o valor do Reino de Deus, nada mais se compara. Tudo o
mais parecer insignificante em comparação.
Agora, voltemos à carta
de Paulo aos Coríntios. Paulo está abordando uma comunidade que está sendo
seduzida por falsos apóstolos, pessoas que se gabam de suas próprias
realizações e status. E o que Paulo diz? “Quem se gloria, glorie-se no Senhor.”
Paulo está ecoando as
palavras do profeta Jeremias: “Não se glorie o sábio em sua sabedoria, nem o
forte em sua força, nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se
nisto: em compreender-me e conhecer-me.” (Jeremias 9:23-24)
Veem
a conexão com as parábolas de Jesus? O
tesouro, a pérola de grande valor – estes não são símbolos de riqueza material
ou status. Eles representam o conhecimento e o amor de Deus. É este o
verdadeiro tesouro que supera tudo o mais.
Paulo continua com uma
imagem poderosa: “Eu os desposei com um único esposo, Cristo, e quero
apresentá-los a ele como uma virgem pura.” Aqui, Paulo está falando da igreja
como a noiva de Cristo. É uma imagem de intimidade, de compromisso total, de
amor exclusivo.
Pensem nisso por um
momento. O Deus do universo, o Criador de tudo o que existe, deseja um
relacionamento tão íntimo conosco que é comparado a um casamento. Este é o
tesouro escondido no campo. Esta é a pérola de grande valor.
Mas
como isso se aplica a nossas vidas diárias?
Primeiro, isso nos
desafia a reavaliar nossas prioridades. Se realmente acreditamos que conhecer e
amar a Deus é o maior tesouro, isso deveria se refletir em como gastamos nosso
tempo, nossa energia, nossos recursos. Não se trata de abandonar nossas responsabilidades
ou relacionamentos, mas de reorientá-los à luz deste tesouro supremo.
Segundo isso nos chama a
uma nova identidade. Paulo estava preocupado que os Coríntios fossem “desviados
da sincera e pura devoção a Cristo”. Em um mundo que constantemente nos diz
para nos definirmos por nosso trabalho, nossas conquistas, nossa aparência ou
nosso status social, somos chamados a encontrar nossa identidade primária em
Cristo.
Terceiro, isso nos
convida a uma nova perspectiva sobre o sofrimento e as dificuldades. Se o Reino
de Deus é realmente um tesouro que supera tudo o mais, então mesmo nossas lutas
podem ser vistas sob uma nova luz. Como Paulo escreve em outra parte:
“Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a
glória que em nós será revelada.” (Romanos 8:18)
Mas talvez o aspecto mais
desafiador e libertador desta mensagem seja o chamado à entrega total. Tanto o
homem que encontrou o tesouro quanto o comerciante que encontrou a pérola
venderam tudo o que tinham. Não guardaram nada para si mesmos.
Isso não significa
necessariamente que devemos vender todas as nossas posses materiais (embora
para alguns, esse possa ser o chamado). Mas significa que somos desafiados a
entregar tudo a Deus – nossos medos, nossas esperanças, nossos sonhos, nossas
feridas, nossos talentos, nossas fraquezas. Tudo.
É assustador?
Absolutamente. É contraintuitivo em uma cultura que valoriza a autossuficiência
e o controle? Sem dúvida. Mas é também incrivelmente libertador. Porque quando
entregamos tudo a Deus, descobrimos que Ele é mais do que suficiente.
Descobrimos, como escreveu C.S. Lewis, que “Quem tenta manter sua vida vai
perdê-la, e quem perde sua vida vai salvá-la… nada que você não tenha dado está
realmente seguro; nada que você tente reter para si mesmo está realmente seu.”
Então, meus queridos
irmãos e irmãs, eu os desafio hoje. Onde está o seu tesouro? O que você
considera sua “pérola de grande valor”? Se sua vida fosse um campo, onde Deus
encontraria o tesouro enterrado de sua devoção?
Talvez para alguns de
vocês, este seja um momento de redescoberta. Talvez você tenha conhecido o amor
de Deus no passado, mas as preocupações da vida, as decepções ou o simples
passar do tempo tenham obscurecido esse tesouro. Hoje é o dia para
desenterrá-lo novamente, para limpar a poeira e redescobrir seu valor
inestimável.
Para outros, talvez este
seja um momento de encontro pela primeira vez. Talvez você tenha vindo aqui
hoje por hábito, ou para agradar a alguém, ou por mera curiosidade. Mas talvez,
justamente hoje, você tenha tropeçado em um tesouro que nunca soube que
existia. Se for esse o caso, não hesite. O tesouro está diante de você,
esperando para ser reivindicado.
E para aqueles que já
conhecem e valorizam este tesouro, que já experimentaram a alegria de encontrar
a pérola de grande valor, o desafio é continuar vivendo nessa realidade todos
os dias. É fácil esquecer o valor do que temos, é fácil ser distraído pelas
preocupações e tentações do mundo. Mas somos chamados a viver cada dia com a
mesma urgência e alegria daquele primeiro momento de descoberta.
Lembrem-se sempre: o
tesouro não é algo que ganhamos ou merecemos. É um presente, oferecido
livremente pelo amor incompreensível de Deus. Nossa resposta é simplesmente
recebê-lo com gratidão e vivê-lo com alegria.
Que possamos, como Paulo,
gloriar-nos apenas no Senhor. Que possamos, como o homem no campo e o
comerciante de pérolas, reconhecer o valor incomparável do Reino de Deus. E que
possamos, como a noiva de Cristo, viver em devoção sincera e pura a Ele.
Que o Senhor abra nossos
olhos para ver o tesouro que está diante de nós, que Ele abra nossos corações
para recebê-lo plenamente, e que Ele fortaleça nossas mãos para compartilhá-lo
generosamente com o mundo ao nosso redor.
Amém.
A parábola do tesouro escondido no
campo Mateus 13,44-46
No evangelho de hoje, por mais que se procure algo extraordinário, a
mensagem é bem simples para quem já é familiarizado com as metáforas de Jesus.
Ele foi um excelente contador de histórias. E nessa narrativa, imagino
Jesus prendendo a atenção da multidão contando detalhes... "Era uma vez um
homem que passeava no campo, até que, nesse passeio, ele encontrou um baú
escondido sob um arbusto. Quando esse homem foi ver o que tinha no baú, se deparou
com um grande tesouro! Então ele fechou o baú, escondeu novamente no mesmo
lugar, e voltou para casa. Ele desejou ardentemente aquele tesouro, pois seria
a salvação da sua vida! Só que aquele campo era muito caro. Sendo assim, aquele
homem vendeu tudo o que possuía, para poder comprar aquele campo e ficar com o
tesouro. Então foi isso o que ele fez: vendeu tudo o que tinha e comprou o
campo. E esse homem viveu feliz para sempre... Pois bem, meus filhinhos, o
homem dessa história é cada um de nós, e esse tesouro é o Reino dos Céus. Vocês
estão conhecendo esse tesouro agora, eu estou aqui mostrando para vocês. Os
meus discípulos já se desfizeram de tudo o que tinham e compraram o campo para
eles, porque reconheceram o tesouro. Vocês também podem fazer o mesmo... Reconheçam
o tesouro do qual estou falando... Reconheçam o Reino dos Céus, acreditem nesse
tesouro! No momento em que vocês perceberem que não existe nada mais
importante, vocês irão pensar: é isso que eu quero para a minha vida! E irão
fazer o que for preciso, para ter esse tesouro!"
O jovem rico que ficou triste quando Jesus disse a ele que vendesse os
seus bens e o seguisse, não reconheceu o tesouro que estava escondido no campo.
Aquele jovem era muito apegado às coisas do mundo. E nós, a que nós somos apegados?
O que nós não deixaríamos para trás, para poder comprar o campo com o tesouro
escondido? O que nos prende a esse mundo? Se nós fôssemos levados para um lugar
onde não pudéssemos levar nada nem ninguém, do que sentiríamos falta?
É inquietante pensar na resposta para essa pergunta... Principalmente
quando o nosso apego não é material, mas às pessoas com quem convivemos. Não
suportamos a ideia de perder aquela pessoa... E chegamos a fazer aquela pessoa
ser a mais apegada e dependente possível, a nós. E também ficamos extremamente
dependentes dela. Como se fosse possível suprir todas as necessidades... Às
vezes chegando a limitar e até impedir o crescimento pessoal do(a) outro(a).
A mensagem de hoje, portanto, é pensar nos nossos apegos... O verdadeiro
apego é aquele que prende, e limita o crescimento pessoal. O que me prende? O
que me limita? O que me faria falta em uma ilha deserta?
Dia 23
Procure
desfrutar os bons momentos da vida com alegria e intensidade.
No
entanto, não se deixe influenciar por passatempos ou pessoas que somente lhe
causarão prejuízo.
Seja
suficientemente maduro para diferenciar o que é bom do que não é.
No
equilíbrio, está a paz verdadeira e duradoura.
“Quanto
àquela que se entrega aos prazeres, já morreu, embora esteja ainda viva”. (1Tm
5,6).
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