09
de janeiro - Aniversário de recepção da batina por São José Marello (1864).
Mortifiquemos
com ânimo generoso este nosso espírito briguento, esta nossa carne rebelde,
esta nossa natureza corrupta! Eduquemo-nos ao sacrifício daquilo que o nosso
coração possui de mais precioso. ( L 27).
Naquele tempo, Jesus foi da Galileia
ao rio Jordão, para ser batizado por João Baptista. João, porém, negava-se a
isso dizendo: "Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu é
que vens ter comigo?!" Mas Jesus respondeu: "Deixa lá! É bom cumprirmos
deste modo a vontade de Deus." E João concordou em o batizar. Assim que
foi batizado, Jesus saiu da água. Nesse momento, abriram-se os céus e ele viu o
Espírito de Deus a descer sobre ele, como uma pomba. E uma voz do céu dizia:
"Este é o meu Filho querido. Tenho nele a maior satisfação!"
O Batismo de
Jesus por João Batista é o ato inaugural do ministério de Jesus. Pode-se dizer
que seja a Epifania histórica do Senhor. Atraído pela mensagem de João Batista,
Jesus abandona sua rotina de vida em Nazaré da Galiléia, procura o Batismo de
João na região do além Jordão e começa a formar seu próprio discipulado para, a
seguir, iniciar seu próprio ministério, assumindo elementos do anúncio de João
Batista.
O Evangelho
desta segunda feira apresenta o encontro entre Jesus e João Batista nas margens
do Rio Jordão. Na circunstância, Jesus foi batizado por João.
João Batista
foi o guia carismático de um movimento de cariz popular, que anunciava a
proximidade do “juízo de Deus”. A sua mensagem estava centrada na urgência da
conversão. Pois, na opinião de João, a intervenção definitiva de Deus na
história, para destruir o mal, estava iminente e incluía um rito de purificação
pela água.
O “Batismo”
proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O judaísmo
conhecia ritos diversos de imersão na água, sempre ligados a contextos de
purificação ou de mudança de vida. Era, inclusive, um rito usado na integração
dos pagãos que aderiam ao judaísmo na comunidade do Povo de Deus.
Na perspectiva
de João, provavelmente, este “batismo” é um rito de iniciação à comunidade
messiânica, quem o aceitava, renunciava ao pecado, convertia-se a uma vida nova
e passava a integrar a comunidade do Messias.
O que é que
Jesus tem a ver com isto? Que sentido o faz apresentar-se a João para receber
este “batismo” de purificação, de arrependimento e de perdão dos pecados?
O texto que
hoje nos é proposto faz parte de um conjunto de três cenas iniciais (cf. Mc
1,2-8; 1,9-11; 1,12-13) nas quais Marcos apresenta Jesus como o Messias, Filho
de Deus. Nesse tríptico, fica desde logo definida a missão específica e a
verdadeira identidade de Jesus. Estas indicações iniciais irão depois ser
desenvolvidas e completadas ao longo do Evangelho.
Em Mateus (Mt
3,13-15), Jesus vem da Galiléia ao encontro de João Batista para ser batizado
por ele. Ao pedir o batismo, Jesus diz que “é assim que devemos cumprir toda a
justiça”. Depois de ser batizado, o gesto de Jesus é confirmado pelo Espírito
Santo e pelo Pai com a proclamação: “Este é o meu Filho amado; nele está meu pleno
agrado”.
O testemunho
de João não oferece dúvidas: Jesus é esse Messias anunciado pelos profetas que
Deus vai enviar para libertar o seu Povo e para lhe dar a vida definitiva.
O testemunho
de João irá, logo, ser confirmado pelo testemunho do próprio Deus. Na cena do
batismo, Mateus faz referência a uma voz vinda do céu que apresenta Jesus como
“o meu Filho muito amado”. Esse Messias esperado é também o Filho amado de
Deus, enviado aos homens para os “batizar no Espírito” e para inserí-los numa
dinâmica de vida nova – a vida no Espírito.
O testemunho
de Deus é acompanhado por três fatos estranhos que, no entanto, devem ser
entendidos em referência a fatos e símbolos do Antigo Testamento.
Assim, a
abertura do céu significa a união da terra e do céu. A imagem inspira-se,
provavelmente, em Is 63,19, onde o profeta pede a Deus que “abra os céus” e
desça ao encontro do seu Povo, refazendo essa relação que o pecado do povo
interrompeu. Desta forma, Mateus anuncia que a atividade de Jesus vai
reconciliar o céu e a terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.
O símbolo da
pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de uma alusão à
pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais provável
que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no
início, pairava sobra as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que terá
lugar a partir da atividade que Jesus vai iniciar.
Temos,
finalmente, a voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para
expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa
voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e fá-lo com uma fórmula tomada desse
cântico do “Servo de Jahwéh” que vimos na primeira leitura de hoje (cf. Is
42,1). Afirma-se, de forma clara, que Jesus é o Filho de Deus, mas a referência
ao servo de Jahwéh sugere que a missão de Jesus não se desenrolará no
triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e
prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não
gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a
torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).
Ao receber
este batismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não precisava,
porque Ele não conheceu o pecado), Jesus solidarizou-se com o homem limitado e
pecador, assumiu a sua condição, colocou-se ao lado dos homens para ajudá-los a
sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da libertação, o
caminho da vida plena. Esse era o projeto do Pai, que Jesus cumpriu
integralmente.
A cena do
batismo de Jesus revela, portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho de Deus,
que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em favor dos
homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do
Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-se com eles, assume as
suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens
que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude.
Da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará
uma nova criação, uma nova humanidade.
No episódio do
batismo, Jesus aparece como o Filho amado, que o Pai enviou ao encontro dos
homens para libertá-los e para inseri-los numa dinâmica de comunhão e de vida
nova. Nessa cena revela-se, portanto, a preocupação de Deus e o imenso amor que
Ele nos dedica. É bonita esta história de um Deus que envia o próprio Filho ao
mundo, pede a e Ele que se solidarize com as dores e limitações dos
homens e que, através da ação do Filho, reconcilia os homens consigo e fá-los
chegar à vida em plenitude. Aquilo que nos é pedido é que correspondamos ao
amor do Pai, acolhendo a sua oferta de salvação e seguindo Jesus no amor, na
entrega, no dom da vida. Ora, no dia do nosso batismo, comprometemo-nos com
esse projeto. Temos, depois disso, renovado diariamente o nosso compromisso e
percorrido, com coerência, esse caminho que Jesus nos veio propor?
A celebração
do batismo do Senhor leva-nos até um Jesus que assume plenamente a sua condição
de “Filho” e que se faz obediente ao Pai, cumprindo integralmente o projeto do
Pai de dar vida ao homem. É esta mesma atitude de obediência radical, de
entrega incondicional, de confiança absoluta que eu assumo na minha relação com
Deus? O projeto de Deus é, para mim, mais importante do que os meus projetos
pessoais ou do que os desafios que o mundo me faz?
O episódio do
batismo de Jesus coloca-nos frente a frente com um Deus que aceitou
identificar-se com o homem, partilhar a sua humanidade e fragilidade, a fim de
oferecer ao homem um caminho de liberdade e de vida plena. Eu, filho deste
Deus, aceito ir ao encontro dos meus irmãos mais desfavorecidos e estender-lhes
a mão? Partilho a sorte dos pobres, dos sofredores, dos injustiçados, sofro na
alma as suas dores, aceito identificar-me com eles e participar dos seus
sofrimentos, a fim de melhor os ajudar a conquistar a liberdade e a vida plena?
Não tenho medo de me sujar ao lado dos pecadores, dos marginalizados, se isso
contribuir para promovê-los e para lhes dar mais dignidade e mais esperança?
No batismo, Jesus tomou consciência da sua missão
(essa missão que o Pai Lhe confiou), recebeu o Espírito e partiu em viagem
pelos caminhos poeirentos da Palestina, a testemunhar o projeto libertador do
Pai. Eu, que no batismo aderi a Jesus e recebi o Espírito que me capacitou para
a missão, tenho sido uma testemunha séria e comprometida desse programa em que
Jesus se empenhou e pelo qual ele deu a vida? Renovemos o nosso Batismo!
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