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sábado, 16 de fevereiro de 2019

EVANGELHO DO DIA 17 DE FEVEREIRO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM



17 fevereiro- Aniversário da Sagração Episcopal de São José Marello (Roma, 1889).
Nenhum crédito deve ser concedido às riquezas, às proteções, à estima e aos incentivos do mundo. (L 76).


Evangelho segundo São Lucas 6,17.20-26

"Naquele tempo, Jesus desceu da montanha com os discípulos e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judéia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. E, levantando os olhos para seus discípulos, disse:
"Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Bem-aventurados, vós que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir! Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem! Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas.
Mas ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas! Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas"."

Meditação:

As Bem-aventuranças – que têm os pobres como protagonistas - e os “ai de vocês” – que têm os ricos como destinatários -, dão prosseguimento ao plano programático de Jesus no evangelho de Lucas.

As Bem-aventuranças são uma forma literária conhecida desde a antiguidade no Egito, Mesopotâmia, Grécia, etc. Em Israel temos vários testemunhos na Bíblia, especialmente na literatura sapiencial e profética. Nos salmos e na literatura sapiencial em geral, se considera bem-aventurada uma pessoa que cumpre fielmente a lei: “Bem-aventurado o homem que não vai a reunião de malvados nem segue o caminho dos pecadores... mas o que anda conforme a lei do Senhor e medita sua lei de dia e de noite” (Sl 1,1); “Bem-aventurados os que são íntegros em seu caminho e caminham segundo a lei do Senhor” (119,1).

As mal-venturanças ou os “ai de vocês” são mais comuns nos profetas, em momentos em que se quer expressar a dor, desespero, luto ou lamentação por alguma situação que conduz à morte: “Ai daqueles que procuram esconder-se de Javé para ocultar seus próprios projetos” (Is 29,15); “ai de vocês filhos de rebeldes! Vocês fazem planos que não nascem de Yahvé, mas acordes sem a minha inspiração de maneira que amontoam erros e mais erros” (Is 30,1). Também para chamar a atenção dos que se apropriam: “ai daqueles que juntam casa com casa, e emendam campo a campo até que não sobre mais espaço e sejam os únicos a habitar no meio do país!” (Is 5,8); “Ai daqueles que fazem decretos iníquos, e daqueles que escrevem apressadamente sentenças de opressão para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos pobres do meu povo!” (Is 10,1). As Bem-aventuranças e as maldições de Jesus com relação às do AT têm diferenças fundamentais. Na literatura sapiencial do AT insiste-se num comportamento de acordo com a lei para poder ser bem-aventurado, e no evangelho pelo contrário, Jesus não exige nenhum comportamento ético determinado, como condição para ser declarado bem-aventurado. Simplesmente os pobres (anawin), os que choram, os perseguidos... são bem-aventurados.

Comparando as bem-aventuranças de Lucas com as de Mateus encontramos alguns dados interessantes. O lugar do discurso segundo Mateus é a montanha, com a intenção de reler a figura de Jesus à luz da figura de Moisés no monte Sinai. Segundo Lucas o discurso é feito numa planície. Muitos os diferenciam chamando-os de “sermão da montanha” ou “sermão da planície”. Nas primeiras bem-aventurança Mateus tem uma a mais: “bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra em herança” (Mt 5,5). No total, Lucas tem quatro que são equivalentes às nove de Mateus. Em Mateus há uma inversão em relação a Lucas, pois aparecem os “famintos” atrás dos “aflitos”. Em Mateus estão escritas na terceira pessoa enquanto que em Lucas todas estão escritas na segunda pessoa. Mateus sublinha atitudes interiores com as quais se deve acolher o Reino, por exemplo, a misericórdia, a justiça, a pureza de coração, e Lucas por sua vez, se preocupa em querer mostrar a situação real e concreta da pobreza, da fome, da tristeza.

A bem-aventurança chave é a dos pobres, já que as outras são entendidas em relação a esta. São os pobres os que têm fome, os que choram ou são perseguidos. Lucas recorda a promessa do AT de um Deus que viria agir em favor dos oprimidos (Is 49,9.13), os que têm a Deus como único defensor (Is 58,6-7) que clamam constantemente a Deus (Sl 72; 107,41; 113,7-8). Todas estas promessas vão ser realizadas em Jesus, que desde o princípio definiu seu programa missionário em favor dos pobres e oprimidos (Lc 4,16-21. Cf. Is 61,1-3).

A última bem-aventurança (vv. 22-23) tem como destinatários os cristãos que são perseguidos e excluídos por causa de seu fé. Sua felicidade não consiste em padecer, mas na consciência de serem chamados a possuir uma “recompensa grande no céu”. Deus, então, nos quer pobres? E que tipo de pobres? Os pobres não são bem-aventurados porque são pobres, mas porque assumindo tal condição, por situação ou solidariedade, tentam lutar contra a pobreza.

A pobreza cristã está ligada à promessa do reino de Deus, isto é, procurar ter Deus como rei. Este reino se converte em maior riqueza, porque é ter Deus de nosso lado, é ter a certeza de que Deus está aqui, na terra de injustiças e desigualdades, encarnado no rosto de cada pobre, convidando-nos para assumir sua causa. A causa é também a causa do Reino. E desfrutaremos do Reino quando não houver mais pessoas empobrecidas, carentes de suas necessidades básicas, mas sim «pobres no Senhor» que são todos os que mantêm a riqueza de um povo baseada no amor, na justiça, na fraternidade e na paz. Em outras palavras, “Pobres não são os miseráveis mas sim os que livremente renunciam a considerar o dinheiro como valor supremo -um ídolo- e optam por construir uma sociedade justa, eliminando a causa da injustiça, a riqueza. São os que se dão conta de que aquilo que eles consideravam um valor - o êxito, dinheiro, eficácia, posição social, poder - de fato vai contra o ser humano. O reino de Deus é a sociedade alternativa que Jesus se propôs levar a cabo. A proclamação do reino não é feita lá de cima do monte, mas sim a partir da «planície», no mesmo plano em que se encontra a sociedade construída a partir dos falsos valores da riqueza e o poder.

Em Lucas as bem-aventuranças são seguidas de quatro “ais” ou maldições contra os ricos. As duas primeiras são diretamente contra os ricos e satisfeitos por sua indiferença perante a situação dos pobres. As duas últimas se dirigem aos que riem e os que têm boa fama. A oposição entre pobres e ricos está claramente manifestada no Magnificat: “Aos famintos encheu de bens e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,53). E na parábola do pobre Lázaro (Lc 16,19-31). Está claro para Lucas que toda confiança posta na riqueza é enganosa (Lc 12,19).

Reflexão Apostólica:

As pessoas que buscavam Jesus eram o retrato dum povo que sofre as conseqüências duma sociedade injusta - pobre, abandonado, sem saúde. Mas, além de buscar a cura, Lucas salienta que eles foram "ouvir Jesus". Foram porque a sua mensagem falava aos seus corações, as animava, dava-lhes coragem, fazia que elas se sentissem valorizadas e sentissem de perto a presença do Deus que ama os pobres. Acostumadas com o desprezo, o abandono, o legalismo religioso, achavam em Jesus um aconchego, uma aceitação, a dignidade, o ânimo. Hoje, será que se acha esses elementos em nossas celebrações e pregações?

Lucas é mais contundente do que Mateus. Não dá trégua - quer que fique claro que o seguimento de Jesus exige opção pelos pobres e marginalizados, independentemente da sua condição moral, religiosa ou legal, e o desligamento da sociedade materialista e consumista, que procura esconder a realidade da opressão e exclusão, anestesiando a consciência. Ai de nos, os discípulos, se isso acontecer! Teria eu coragem para proclamar este trecho diante de pobres - e diante de ricos? Como diz a Bíblia Pastoral: "Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza".
Lucas, de modo diverso de Mateus, coloca as bem-aventuranças num plano, e contrapõe as lamentações às bênçãos. Diz Lucas que havia muita gente ouvindo Jesus. E, em sua versão, sublinha a verdadeira felicidade para os pobres, os aflitos, os necessitados e os perseguidos. 

É com eles que se inaugura uma nova etapa de salvação: o reino, que é satisfação, gozo, alegria, plenitude. Ao mesmo tempo, assinala as “mal-aventuranças” para os ricos, os satisfeitos, os que levam uma vida de prazer e bem-estar, os que gozam de boa fama e privilégios. Para eles, serão o pranto, a necessidade, a tristeza e a desolação. Não porque Deus queira a desgraça de alguém. É que os satisfeitos se fecham com demasiada freqüência à novidade do reino e se “encerram” em seu próprio egoísmo, sua cobiça e ambição. Para entrar no reino necessita-se, pelo contrário, de despojamento, abertura e a disponibilidade para o serviço dos outros.

Lamentavelmente, em nossa sociedade “light”, de duas caras, tíbia e sem cor, esvaziamos o espírito e a força das bem-aventuranças e das denúncias de Jesus. Parece-nos, então, que o Senhor não pode ser tão exigente e radical em sua pregação e prática. Preferimos dar-lhes sabor mais doce e coloração desbotada a essas passagens cheias de vigor profético, que assinalam com tanta clareza e sem ambigüidades a opção de Jesus pelos excluídos e empobrecidos da história.

Como experimentamos as bem-aventuranças e as mal-aventuranças em nossa vida pessoal e comunitária? Quem são hoje em nosso redor, social e eclesial, os bem-aventurados?

Propósito:

Senhor, nosso Deus, que em Jesus nos comunicais um espírito novo, mostrado nas Bem-aventuranças. Queremos seguir esse modelo como um caminho de ecumenismo universal para uma Nova Humanidade reconciliada com o Amor, a Justiça e a Paz. 


Bem-aventuranças da Conciliação Pastoral

Bem-aventurados os ricos, 
porque são pobres em espírito. 

Bem-aventurados os pobres, 
porque são ricos em Graça. 

Bem-aventurados os ricos e os pobres, 
porque uns e outros são pobres e ricos. 

Bem-aventurados todos os humanos, 
porque em Adão, todos são irmãos. 

Bem-aventurados, enfim, 
os bem-aventurados
que, pensando assim, 
vivem tranquilos…,
porque deles é o reino do limbo. 

Pedro Casaldáliga

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