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domingo, 18 de julho de 2021

EVANGELHO DO DIA 25 DE JULHO 2021 - 17º DOMINGO DO TEMPO COMUM

 25 julho - Ah, a obediência! (não aquela que, às vezes, pretende abrir um olho para olhar um pouquinho o seu interesse, mas aquela que se chama cega), quantas graças nos obtém do Céu, para não pormos os pés em falso e para atinarmos com segurança a meta! (L 234). São Jose Marello

 


Jesus alimenta uma multidão. - Jo 6,1-15

Depois disso, Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, ou seja, de Tiberíades. Uma grande multidão o seguia, vendo os sinais que ele fazia a favor dos doentes. Jesus subiu a montanha e sentou-se lá com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que vinha a ele, Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que estes possam comer[...] Jesus disse: “Fazei as pessoas sentar-se”. [...] Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. [...].

 Meditação:

 Os quatro Evangelhos seguem basicamente o mesmo fio da meada, com as divergências próprias a cada tradição e teologia. O enfoque mais “sacramental” ou “eucarístico” é do João, mostrando mais uma vez uma das características da comunidade do Discípulo Amado: a de ter uma teologia eucarística mais desenvolvida.

 É interessante observar que João, em seu Evangelho, ao narrar a última ceia de Jesus destaca o gesto do lava-pés como o exemplo maior do serviço, sem menção à partilha eucarística do pão e do vinho. No Evangelho de hoje (João 6,1-15), ele nos apresenta um Jesus completamente encarnado e comprometido com a íntegra realidade de seus seguidores. Ele é o paradigma do pregador para todos os tempos. Nosso serviço da Palavra inclui também o interesse e o empenho por tocar as dimensões todas da pessoa. Os ensinamentos que Jesus acaba de dar tiveram a ver certamente com o projeto do reino, que é antes de tudo amor, solidariedade, fraternidade, desprendimento, serviço de uns para com outros sem nenhum tipo de separação.

 Esta passagem do Evangelho é particularmente problemática porque implicaria que quem estivesse a serviço da Palavra teria também o compromisso de tirar a fome das pessoas. A situação de fome que o evangelista nos descreve é apenas uma das conseqüências que o povo sofre dentro de uma sociedade baseada em estruturas injustas e que descuida dos direitos fundamentais de seus membros. Frente a isto, que é o “pão nosso de cada dia”, poderíamos cair na tentação do assistencialismo, de fazer-nos simples intermediários entre os famintos/empobrecidos e os opulentos, conseguindo ajudas que tiram a fome de um dia, porém deixando intactas as estruturas injustas e, o que é pior, adormecendo tanto a consciência do opressor, castrador, ladrão, usurpador, como a do indigente. O assistencialismo poderia ser compreendido (não justificado) em pessoas ou grupos de voluntários (filantropos) não necessariamente crentes, não, porém, em quem se confessa cristão, seguidor de Jesus. Nada tão contrário ao Evangelho do Mestre!

 Porém, vejamos como foi o exemplo do Mestre. Jesus pergunta a seus discípulos sobre o que deve fazer para dar de comer a tanta gente. Os discípulos, contudo, crêem que a solução deve vir de fora. Entretanto, este é o momento no qual Jesus deve ensinar a conjugar a mensagem, a palavra, com a ação. A comunidade que recebe a mensagem deve aprender a aplicá-la a si mesma e a buscar dentro de si mesma os mecanismos e linhas de ação orientados à solução momentânea de suas dificuldades e problemas, porém ao mesmo tempo criando o impacto necessário orientado a atacar e destruir as estruturas injustas que regem a sociedade. Passa-se, pois, da mera filantropia ao compromisso realmente cristão.

 Este relato é identificado como o “milagre da multiplicação dos pães e dos peixes”. Sem embargo, creio que o título não se adapta ao conteúdo. Mais que multiplicação, aqui se fala de um problema tremendamente atual; tão atual que poderia dizer eterno: se fala de repartir o pão para que tenha para todos e sobre. Fala-se não de fazer o milagre da multiplicação de pães e peixes, dos alimentos necessários para a vida – milagre que muito tem feito à ciência moderna, pois há alimentos suficientes para todos os que habitam no planeta, senão, de um convite a repartir o que cada um tem entre todos, de modo que haja para todos e sobre; se fala de que todos possam exercer o direito de sentar-se a mesa e participar dos dons que Deus nos tem dado, de modo que se acabe com esta sociedade injusta em que uma minoria vergonhosa de famílias poderosas e países ricos retenha o capital necessário para que o resto tenha o suficiente, ao menos para viver. É o monopólio dos bens criados por parte de uns poucos, o sentido de propriedade privada insolidária tem se fixado em nossa sociedade criando a necessidade e a carência. Diante da sociedade injusta que provoca a miséria, Jesus propõe sua alternativa: a abundância se consegue rompendo com o egoísmo monopolizador e com a prática da solidariedade em partilhar.

 A partilha decorre da solidariedade. Alguém pôs seu pequeno farnel à disposição de todos. Então, sob as ordens de Jesus e a intermediação dos apóstolos, os grupos sentaram-se na relva. Depois, à medida que recebiam pão e peixe, também os partilhavam com os que estavam ao redor. Desta forma, todos puderam comer até ficarem saciados. E ainda sobraram doze cestos cheios. Quando existe partilha, existe abundância!

 "Cinco não é suficiente", é símbolo do incompleto, mas falta muito pouco para chegar à plenitude; e aí há também o número dois; o que é incompleto e insuficiente pode chegar a sê-lo e sobrepujar, e muito, a plenitude, se todos dermos, trouxermos, pusermos em comum o pouco ou muito quer tenhamos; dessa forma, ficamos todos satisfeitos e ainda sobra. Jesus não utiliza de meios divinos, senão de mediação puramente humana. Não há um maná caído do céu, procurado milagrosamente, senão pão terrestre, feito pelo próprio ser humano e distribuído por este. Tal episodio quer nos ensinar que, para resolver problemas humanos, não é necessário requerer uma extraordinária intervenção divina, bastando apenas à ação de uma pessoa humana coordenada com a de Deus.O povo captou muito bem o sinal, mas em seguida desvirtuou também sua essência, seu sentido último; maravilhado, pretendeu arrebatar Jesus para fazê-Lo rei. Por isso, Ele teve de se retirar para o alto da colina.

 Vale lembrar que este é o único “milagre” contado nos quatro Evangelhos, tanto pela tradição sinótica como da Comunidade do Discípulo Amado. Isso mostra claramente que, para as primeiras comunidades cristãs de diversas tradições, a história hoje relatada possuía um grande valor e uma mensagem muito importante.

 Embora seja este um dos relatos mais conhecidos dos Evangelhos, vale a pena sublinhar um elemento que talvez possa parecer estranho: embora nós sempre nos refiramos ao milagre da “multiplicação dos pães”, em nenhum dos quatro relatos usa-se o verbo “multiplicar”! Usa-se outros termos nos quatro Evangelhos :“pegar”, “distribuir”, “partilhar”! Não é o caso de discutir aqui o que foi que Jesus fez! Nem teríamos condições de descobrir. O enfoque é outro. Se os evangelistas tivessem colocado a ênfase sobre o “multiplicar”, ou seja sobre o estritamente milagroso, então a história não teria grandes conseqüências para nós hoje, pois nós não temos o poder de fazer milagres!! Mas, colocando a ênfase sobre a o “partilhar” e o “distribuir”, então os evangelistas nos desafiam hoje! Pois partilhar e distribuir está ao nosso alcance!

 Assim, podemos trazer este fato para a nossa realidade: No Brasil, no mundo assolado pela injustiça e miséria, não precisamos multiplicar nada! O Brasil não precisa multiplicar terras - somos um dos maiores países do mundo! Nem precisa multiplicar a renda – somos a oitava ou nona potência econômica do mundo! Não, o que precisamos é uma partilha e uma redistribuição das terras, e da renda. O que precisamos é uma mudança de mentalidade, de coração e das estruturas, e não milagres paliativos. Por outro lado, o que significa dar de comer diante da grande pobreza? Hoje ficamos perdidos perante o escândalo de tanta miséria. Na confusão, nasceram uma caridade e uma solidariedade esvaziadas, ideológicas, institucionalizadas, sem relação direta com o pobre. A história de João e dos outros evangelistas insiste que a solução para a carência se acha na solidariedade, na partilha e na redistribuição, a partir da nossa fé no Deus da Vida. A dificuldade está em muitos não quererem assumir sua parte de responsabilidade na tarefa comum. Preferem uma figura de poder que lhes assegure suas próprias vidas a solução da injustiça, sem apreensão, não se encontra em poder de um só, mas no amor e na solidariedade de todos.

 Ao concluir o texto, fica o eco das palavras de Jesus no Evangelho, que terão influído na decisão de Pedro: «As palavras que Eu disse são espírito e vida. Mas, entre vós, há alguns que não acreditam.» Para que a História da Aliança continue, só falta que nós, renovemos uma vez mais a nossa fé, atualizada pela escuta-aceitação da Palavra de Deus. O discípulo não é somente o que re-transmite a mensagem do mestre, mas o que procura por todos os meios possíveis re-atualizar as atitudes e gestos de seu mestre. Somos convidados a viver a eucaristia como partilha concreta, para que nada falte a ninguém.

 De acordo com o que acabamos de refletir, como fazer que uma necessidade geral se torne contribuição de todos para todos? Lá haviam cinco pães e dois peixes, números que são simbólicos; dão a entender que onde há sentido de desprendimento, de solidariedade de uns para com outros, por pouco que seja, alcança a todos. O dom de tudo o que se tem que aparece no episódio do Evangelho, é uma formulação extrema. Ao ensiná-la Jesus nos diz que o amor não se põe limites, expressa a disposição a procurar o bem da humanidade sem reservas. Jesus dá um exemplo de solidariedade ilimitada para estimular a solução generosa dos problemas do mundo. Por isso, devemos buscar através do conhecimento da Palavra, capacitação para vivermos uma vida cristã renovada, plena em unção e gozo da graça de Deus. Que Deus nos abençoe!

 Propósito: Ter um olhar de fé, para os outros, para as pessoas que encontrar no dia de hoje .

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