13 -
Renovemos o espírito a cada instante e repousemos na misericórdia de
Deus, que absorve todas as fraquezas da nossa natureza doentia. (L 19).
São Jose Marello
Marcos 7,24-30
Jesus
saiu dali e foi para a região que fica perto da cidade de Tiro. Ele
entrou numa casa e não queria que soubessem que estava ali, mas não pôde
se esconder. Certa mulher, que tinha uma filha que estava dominada por
um espírito mau, ouviu falar a respeito de Jesus. Ela veio e se ajoelhou
aos pés dele. Era estrangeira, de nacionalidade siro-fenícia, e pediu
que Jesus expulsasse da sua filha o demônio. Mas Jesus lhe disse:
- Deixe que os filhos comam primeiro. Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorros.
-
Mas, senhor, - respondeu a mulher - até mesmo os cachorrinhos que ficam
debaixo da mesa comem as migalhas de pão que as crianças deixam cair.
Jesus disse:
- Por causa dessa resposta você pode voltar para casa; o demônio já saiu da sua filha.
Quando a mulher voltou para casa, encontrou a criança deitada na cama; de fato, o demônio tinha saído dela.
Meditação:
Os
destinatários do evangelho de Marcos são, em sua maioria, comunidades
pagãs, por isso o autor se empenha em mostrar a fé firme e simples
daqueles que não são judeus. A mulher que recorre a Jesus representa
toda essa comunidade que não seria herdeira direta da salvação de Deus.
Ela deveria contentar-se com as “migalhas”, pois a promessa de Deus era
unicamente para o povo judeu.
Jesus, em um primeiro momento,
assume esta maneira de compreender a salvação. Entretanto, a mulher
Cananéia, graças à sua fé sincera e forte, faz com que Jesus realize
sinais de salvação em terras pagãs. É importante a confissão de fé dessa
mulher. Ela chama Jesus de “Senhor”, reconhece-o como salvador.
A
salvação trazida por Jesus não é privilégio de um povo determinado, mas
é para todos os que acreditam nele e na sua missão, mesmo que sejam
considerados como cães, isto é, estrangeiros. Não é mais a raça e o
sangue que unem as pessaos a Deus, mas a fé em Jesus e no mundo novo e
transformado que ele desperta.
A mulher, protagonista do
evangelho, representa uma síntese de todas as marginalizações possíveis.
Antes de tudo é mulher, desde o ponto de vista religioso é pagã, não
aparece um homem que a represente, é estrangeira e tem uma filha
enferma, só falta falarmos que também era pobre e viúva. O quadro é
completo no sentido de uma leitura a partir dos marginalizados. E nesse
contexto nos encontramos com Jesus, que se o analisarmos, bem nos
parecerá um pouco estranho.
Está buscando privacidade para
afastar-se da multidão, só quer trabalhar primeiro pelos seus, os de seu
povo e, ademais, é grosseiro no trato com a mulher, não tem receio em
comparar os que não são judeus com os cães, beirando ao complexo de
superioridade.
Vemos um Jesus muito humano, quase "limitadamente
humano" nesta história. Mas a resposta astuta desta mulher o deixa sem
outra opção a não ser conceder-lhe o milagre solicitado em favor da sua
filha.
A mulher aceita a resposta de Jesus, mas a discute
reivindicando o direito dos cachorrinhos de comer, ainda que migalhas.
Ela se conforma com as migalhas.
Aquela mulher humilde denuncia,
de uma maneira sutil, os preconceitos de Jesus e reclama seus direitos. E
o faz com sua palavra, porque não fica calada diante da negativa de
Jesus.
Aquela mulher evangelizou e deu uma lição a Jesus: a
situação social não pode ser obstáculo para fazer o bem a quem
necessita. E Jesus aprendeu e foi capaz de mudar, foi seu processo de
mudança e conversão. Também nisso temos Jesus como modelo.
O
exemplo de fé da mulher pagã nos leva a refletir sobre o tamanho da
nossa confiança de cristãos e cristãs, batizados (as) na força e no
poder do Espírito Santo.
Jesus admirou-se com a fé daquela mulher
que se ajoelhara aos seus pés pedindo simples migalhas para a sua filha
doente. A sua fé era tamanha que ela não se importava de ficar com o que
sobrasse dos outros para a sua filha.
Ser filho de Deus e irmão
de Jesus Cristo, pela Fé, nos credencia a que, mesmo reconhecendo a
nossa fraqueza e a nossa impotência nós nos apoderemos de tudo quanto
Ele veio nos trazer, isto é, vida e santidade.
Jesus veio nos dar
tudo, mas às vezes, nós vivemos à espera apenas de migalhas. Jesus fez
um teste com aquela mulher: na verdade Ele queria dar a ela a vida
plena, mas ela estava se contentando apenas com a cura da sua filha.
Muitas
vezes também nós nos bitolamos nos pequenos pedidos quando Ele nos quer
dar muito mais. Porém, precisamos estar conscientes de que não
necessitamos ter a atenção de Jesus voltada somente para nós e os nossos
problemas pessoais.
Muitas vezes, porque estamos servindo a Deus,
ou porque oramos muito, nós queremos a atenção Dele só para nós.
Desconfiamos quando a oração não é feita somente pelas nossas
necessidades, queremos prioridade, exigimos muito, quando Deus pode
fazer grandes coisas em nós somente pela nossa fé e confiança Nele.
Aquela mulher não era de dentro da “Igreja”, mas sua súplica foi
atendida por causa da sua humildade e fé no poder de Jesus.
O que
você tem suplicado a Jesus para a sua vida? Você se contenta com as
migalhas que sobrarem para você na obra de Deus? Será que Ele não pode
dar a você muito mais ainda? Reveja agora os pedidos que você tem feito
ao Senhor!
Reflexão Apostólica:
Com
esta narrativa Marcos dá início a uma série de episódios em territórios
gentílicos, região de Tiro, depois Decápolis e Betsáida, inserindo
também uma narrativa da partilha do pão entre os gentios. Nestas regiões
fica manifesta a acolhida de Jesus pelas populações locais. Fica assim
bem caracterizada a dimensão universal da encarnação como a comunicação
da vida divina a todos os povos e nações.
Aqui, com a linguagem e o
estilo do evangelista Marcos, percebe-se como a confiança e a humildade
da mulher siro-fenícia moveu Jesus a atendê-la. Jesus liberta não
somente os corpos adoentados pela situação de exclusão mas também o
espírito submisso às falsas ideologias dos opressores. A humanidade de
Jesus é solidária e partilhada com a nossa humanidade. Deus respeita e
acolhe nossas iniciativas humildes a favor da vida.
A intenção de
Marcos é clara: também os pagãos têm direito ao pão da salvação, porque
também eles se beneficiam da piedade do Senhor. A intenção de Marcos é
exortar a comunidade eclesial a abrir as portas ao mundo, pois a
mensagem de salvação é para todos, sem exclusão.
Até o momento de
seu encontro com a mulher pagã, provavelmente Jesus não tinha ainda
plena consciência de sua missão universal: como judeu que era, seguia
ainda as normas da educação e instrução de seus compatriotas.
Foi
preciso o aparecimento inesperado (mais inesperado, por certo, na versão
de Mateus que na de Marcos) de uma pagã, para impulsionar Jesus a abrir
o horizonte da consciência que tinha de sua missão e incorporar à sua
função uma perspectiva verdadeiramente missionária.
Seria
necessária uma circunstância aparentemente casual para que o apóstolo
Pedro se decidisse, por sua vez, na pessoa do pagão Cornélio, a sair do
reduzido círculo da simples presidência da comunidade judeo-cristã para
chegar até os pagãos.
Fatos como o da cananeia e o de Cornélio
manifestam que a missão não é tão-somente centrífuga: a vocação
missionária não procede de um apego à propaganda ou à difusão, mas do
encontro entre o cristão e o incrédulo, entre a Igreja e o mundo; da
acolhida que os primeiros dispensam aos segundos, e da atitude de escuta
em que se colocam para receber antes de dar.
A cananéia manifesta
fé, diferente de outras pessoas que viam nele um fazedor de milagres. A
mulher conseguiu ver em Jesus alguém que verdadeiramente pode trazer a
salvação.
Ela foi sincera e breve. O momento não era para usar
muitas palavras, mas para dizer apenas a razão que a levara à presença
de Jesus.
“Não é pelo muito falar qie somos ouvidos” (Mat. 6:7). O
publicano que Jesus citou como exemplo, também fez uma oração curta: “ Ó
Deus, sê propício a mim pecador”. (Lucas 18:13). E foi justificado, não
pela quantidade de palavras, mas pela sinceridade.
Foi humilde. O
evangelista Marco declara que ela prostrou-se aos pés de Jesus. Ela
estava em público e não se importou com os que a presenciavam naquele
seu gesto de tão profunda humildade.
Foi fervorosa. A mulher
cananéia fez a súplica com fé, com a certeza de que Jesus podia todas as
coisas e não deixaria de atender aos rogos de uma mãe que desejava
ardentemente a cura de sua filha. A ciência médica é impotente para
expelir demônios, mas onde termina o limite humano, começa a ação
sobrenatural de Deus na vida dele. Ela sabia que só Jesus poderia
valer-lhe naquela situação.
Ela foi modesta. Limitou-se a pedir a
Jesus o que mais necessitava naquele momento. Nenhuma outra coisa a
preocupava mais que a cura de sua filha.
Foi reverente, quando usou a expressão “Filho de Davi”, chamando-o de Rei.
Ela
creu. Essa expressão, que talvez pra nós não diga nada, mas para o
contexto dela ( em que todos esperavam a chegado do Messias) estava
dizendo: “eu creio que Tu és o Messias, filho de Davi, enviado por Deus,
e que tens poder para libertar minha filha”.
Mostrou conhecer a
misericórdia divina. Reconheceu seu Demérito, mas confiou nos méritos de
Cristo Jesus, quando disse: “Tem misericórdia de mim”.
Foi
perseverante. Não obstante o aparente desinteresse do Mestre pelo seu
pedido, ela insistiu, permaneceu perseverante, crendo que seria
atendida. Ficamos pensando porque Jesus não a atendeu logo?
Será
porque era gentia? Não!. É porque a conhecendo profundamente, Quis
dar-lhe a oportunidade de publicamente revelar sua grande fé, no imenso
poder Dele, para que hoje nos servisse de lição.
Quando Cristo lhe
disse: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-los aos cachorrinhos”,
ela disse: “...mas os cachorrinhos também come das migalhas que caem da
mesa de seu Senhor”. Diante disso Jesus disse: “Ó mulher, grande é a
tua fé. Faça-se contigo como queres”. A bíblia diz que desde aquele
momento a filha dela ficou sã.
Será que temos esses predicados da mulher cananéia? Peçamos agora ao Senhor que nos ajude através de Seu Santo Espírito.
Propósito:
Pai,
cria em meu coração uma fé profunda como a da mulher pagã que
demonstrou total confiança em Jesus. Por isso, foi atendida por ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário