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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Evangelho quarta feira 19 fevereiro

19 Nós sabemos por experiência que, no momento oportuno, as dificuldades desaparecem, muda o ânimo de quem as provocava e a obra de Deus prossegue abençoada com novos favores. (L 253). SÃO JOSE MARELLO

Marcos 8,22-26
Naquele tempo, 22Jesus e seus discípulos chegaram a Betsaida. Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e pediram a Jesus que tocasse nele.
23Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele, e perguntou: “Estás vendo alguma coisa?”
24O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo os homens. Eles parecem árvores que andam”. 25Então Jesus voltou a por as mãos sobre os olhos dele e ele passou a enxergar claramente. Ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez. 26Jesus mandou o homem ir para casa, e lhe disse: “Não entres no povoado!”   
Meditação:
Marcos nos apresenta hoje um novo milagre de Jesus relatado em forma similar ao da cura do surdo-mudo que já tínhamos lido no capítulo 7, 31-37. Temos em primeiro lugar a apresentação do enfermo e o pedido de cura. Em seguida Jesus realiza a cura e pede silêncio a respeito do acontecido.
O que nos chama a atenção é que Marcos apresenta Jesus como uma espécie de curandeiro que utiliza uma substância determinada para curar, neste caso, como na cura do surdo-mudo que acabamos de mencionar, usa sua própria saliva.

Também devemos cair na conta de que Marcos atrasa um pouco o efeito milagroso das ações e das palavras terapêuticas de Jesus, como se para ele fosse difícil realizar o milagre, como se tivesse que vencer uma certa resistência.

Algo similar lemos no relato da cura do menino epilético (9, 14-29). Talvez o evangelista queira aumentar o suspense, captar melhor a atenção dos ouvintes ou dos leitores. O relato conclui com o certificado da cura total do cego e com a ordem de guardar silêncio imposta Jesus.

Este último aspecto constitui o que os estudiosos chamam de “segredo messiânico”: talvez seja uma explicação que a comunidade primitiva tenha feito ao fato, para ela misterioso e quase inexplicável, de que a maioria dos judeus não tivessem acreditado em Jesus.

Teria sido o resultado da sistemática ordem de guardar segredo imposto por Jesus aos beneficiários de seus milagres e dos destinatários de seus ensinamentos.

Por outra parte o milagre da cura do cego que acabamos de ler tem um nítido significado teológico: cegos são os fariseus que pedem um sinal a Jesus, como já foi lido há poucos dias.

Cegos são Herodes Antipas e seus cortesãos, que ouvindo falar de Jesus não conseguem compreendê-lo, nem valorizar a sua mensagem. Cegos são todos os que se aproximam dele e não aceitam sua mensagem, nem o testemunho de seus milagres.

Também nós podemos ser cegos, necessitados da misericórdia de Jesus que nos abra os olhos para reconhecer nele o enviado do Pai, aquele que anuncia a Boa Nova do Reino.

Temos neste texto uma narrativa bem característica do evangelista Marcos, rica em detalhes, destacando os toques, particularmente no uso da saliva.

Marcos a introduz como prefácio da caminhada de Jesus com os discípulos de Cesaréia de Filipe até Jerusalém. Nesta caminhada fica em destaque a falta de compreensão dos discípulos, principalmente por identificarem Jesus com o messias poderoso da doutrina do judaísmo. Betsaida é uma cidade no limite dos territórios gentílicos ao norte do Mar da Galiléia.

O cego da narrativa é totalmente passivo e é lento em recuperar a visão. Primeiro começa a ver as pessoas, porém sem iniciativa, como árvores andando.

É a insistência de Jesus que fará com que ele comece a enxergar perfeitamente, vendo tudo claramente. Jesus o tira do povoado e recomenda-lhe que não volte a ele.

A referência ao povoado sugere que este signifique a doutrina do judaísmo, com sua expectativa messiânica de poder e glória nacionalista, com a qual Jesus decididamente não se identificava.

Aqueles que passaram a ver a verdadeira missão libertadora de Jesus não devem retroceder a ver Jesus como um líder revestido de poder, distante do povo e opressor.

Na umidade interior da boca, a saliva é uma espécie de sêmen da palavra. Ela tem como a água, grande importância: une e dissolve os alimentos, pode curar ou corromper, suavizar ou insultar violentamente, como quando se transforma em cuspe. O órgão da saliva é a língua, como na relação entre a lágrima e os olhos.

A língua, como um pequeno leme, governa nossa embarcação. A língua é fértil, seu semem é a saliva e seu fruto maduro e criativo é o Verbo, a palavra. Para despertar a palavra, para libertar o Verbo, Jesus empregará sua saliva sob a boca e os ouvidos do surdo-mudo. Para impedir a palavra e aniquilar o Verbo, cuspiram sobre o rosto de Jesus.
Língua e saliva. Como órgão do paladar e do gosto, a língua é símbolo do discernimento. Ela separa o bom do ruim; ela distingue, ela aparta e isola como um chicote, uma faca ou uma espada. Como órgão da palavra, a língua é criadora do Verbo e identifica-se com ele.
A língua é considerada como uma chama, cuja forma e mobilidade é como o fogo que destrói e purifica. Como instrumento da palavra, a língua edifica e arrasa. Comparada ao fiel de uma balança, a língua julga.
Comparada a um pequeno leme, dirige o navio inteiro. A língua é como o fogo, o único animal que ninguém consegue dominar Tg 3,2-12. Na maioria das vezes o termo significa a própria palavra. Quando a palavra língua é empregada sem qualificativo, em geral designa a má língua. Como tens utilizada a tua língua?
Na Bíblia, a saliva evoca a vida, a cura e a salvação. Tocados pela saliva, os cegos vêem, surdos ouvem e mudos falam. Ao promover, com os dentes e a língua, uma intimização da pessoa com o alimento – por todos os critérios de reconhecimento derivados do paladar – a saliva fala do nosso desejo de alimentação espiritual, de alimentar-se do divino, de comer Deus. Na cavidade bucal, a saliva está associada às núpcias celestes, ao banquete celeste.
A saliva de Jesus é muito mais do que simplesmente um líquido transparente e insípido, segregado pelas glândulas salivares na base da língua que serve para fluidificar os alimentos, facilitar sua ingestão e digestão. A saliva de Jesus cura e liberta.
Associada aos alimentos, a saliva serve para uni-los e dissolvê-los, pode curar ou corromper, suavizar ou ofender. Ofender e insultar violentamente como quando cospe-se em alguém. Cuspir no rosto é um gesto grave em conseqüências, na tradição judaica. Quem cospe em alguém, não foi capaz de reter sua ira, seu ódio e transforma sua saliva luminosa em cuspe, em “não-luz”. Na Bíblia, cuspir no rosto de alguém é uma suprema vergonha, punida de lepra (Nm 12,14).
Falar de saliva é até certo ponto evocar a salivação que nos lembram sal e salvação. Elas falam do desejo de alimentação espiritual, de um saber que é sabor e sabedoria, de comer Deus, de alimentar-se do divino e saboreá-lo. A sabedoria leva a falar com sabor, com um sabor indestrutível como o do sal.
A saliva lembra a essência da purificação e da iluminação, o caminho terapêutico da intimidade com Deus, o banquete de núpcias, o encontro do Esposo com a esposa.
O tema da cegueira é bastante central na missão de Jesus. Não há dúvida que, entre as curas de Jesus, as mais relevantes devolveram a visão aos cegos.
Na tradição judaica, abrir os olhos era a cura messiânica por excelência, o sinal para a identificação do verdadeiro messias, segundo a tradição profética.
Ao apresentar-se na sinagoga de Nazaré, Jesus declara-se ungido – precisamente – para abrir os olhos aos cegos. Cristo vem abrir os olhos de todos para enxergarem o Invisível.
Como criaturas somos todos cegos de nascença. A matéria dela mesma não vê nada, não sabe nada. Nossa matéria só vê e sabe, se for tocada pela saliva e palavra de Jesus Cristo, pela fertilidade da água viva.
Somos vitimados pelas mais diversas cegueiras. Não vemos sequer a maior das certezas, a realidade da morte fruto do pecado. E vivemos muitas vezes como se fossemos imortais. O mistério da vontade divina é o seu desejo de salvação para todos (Ef 1,9).
Jesus vai em direção ao cego, sem distinção. E assim como na gênese do homem, Deus uniu sopro e saliva com o barro do terroso (Gn 2,7), assim Ele pega no barro e unta os olhos do cego.
Os padres da Igreja já viam nesse barro feito por Jesus, um sinal da sua encarnação. Jesus usa e sacraliza a natureza, o pó da terra e a terapêutica saliva, para curar. E faz da cura física um sinal da cura espiritual.
Somos cegos e devemos aceitar nossa condição humana: não vemos a luz. Aceitar também, sem contestação, que o sopro e a palavra de Jesus que está por detrás da saliva habitem nosso pó, sinais da presença de Cristo, de nossa divinização e da fonte da nossa salvação.
Jesus ao cuspir e passar a saliva nos olhos do homem, ao pôs a mão sobre ele e perguntar se ele via alguma coisa, nos convida a mergulharmos em nossa condição humana e suas racionalidades com uma nova consciência. Só n’Ele, por Ele e com Ele nós conseguimos enxergar o caminho que nos leva ao Pai.
Agora lavados com e pela salva de Jesus temos os nossos olhos abertos! Vemos, sabemos e conhecemos o que nos pode matar. E para tal já não podemos voltar para o povoado! Povoador quer dizer: voltar para a vida do pecado que gera a nossa morte e a dos nossos!  
Reflexão Apostólica:

O relato da cura do cego de Betsaida nos põe perante um milagre que enfatiza a graça do Reino como amor gratuito de Deus Pai. O amor de Deus Pai nunca excluiu os seguidores de seu Filho, mesmo que estivessem como cegos frente ao seu verdadeiro ser. A expressão milagrosa enfatiza no milagre a realidade de gratuidade. O cego é curado por iniciativa de outros e não por sua própria iniciativa.

Com este milagre se abre o grande relato do caminho de Jesus para Jerusalém, centro do poder político e religioso do judaísmo. E aí no centro onde Jesus sofre sua paixão, seu julgamento e sua morte.

Este caminho para a teologia de Marcos se converte no “caminho da cruz”; e seus discípulos, ou seja, aqueles que se identificam com seu projeto, terão como requisito indispensável reconhecer nele o Filho do Homem que será crucificado pelo poder judaico e ressuscitado pelo poder de Deus Pai.

Conhecer a Jesus como aquele que deve passar pela morte na cruz, é uma graça que somente se obtém pela ação de Deus. Esta ação de Deus fica clara no milagre da cura do cego de Betsaida: é uma ação repetida de Jesus sobre os olhos do cego, que somente pouco a pouco conseguirá ver.

O cego não consegue ver com total claridade desde o instante em que ocorre o milagre. Este acontecimento é uma expressão simbólica do processo dos discípulos. Assim como chegar a ver fisicamente é para o cego uma graça que Jesus lhe concede voluntária e misericordiosamente, assim também chegar a conhecer Jesus como “o Filho do Homem Crucificado e Ressuscitado”, é graça do Pai Celestial.

A ação repetida de Jesus para curar totalmente o cego, nos indica o processo longo e difícil que os discípulos seguem até alcançar o conhecimento pleno e correto da realidade de Jesus.

Pode-se chegar a ter um conhecimento humano perfeito e, entretanto, daí não se segue que se tenha um conhecimento espiritualmente perfeito de Jesus, o Cristo. Este conhecimento não somente é de outra ordem, mas é até contrária a ordem meramente humana. O que na ordem da sociedade é normal, não é a mesma coisa na ordem espiritual de Cristo. Jesus está dominado pela ignomínia da Cruz.

Seu seguimento exige coisas que não são lógicas, como por exemplo, crer num Deus crucificado, impotente, que comparte com os excluídos, crer num mundo igualitário. Tudo isto impossibilitava os discípulos de crer com clareza em Jesus de Nazaré. Será que não mudamos o Cristo da cruz por um Cristo de poder e de majestade e, portanto, vivemos um cristianismo sem maiores complicações?

Já dizia o ditado popular: o pior cego é aquele que não quer ver. Aquele cego que levaram para Jesus curar, por uns instantes via de forma confusa, embaçada, sem clareza alguma mesmo depois do milagre, foi preciso Cristo tocar novamente seus olhos para que ele pudesse ver perfeitamente.

Recebemos milagres todos os dias, do acordar ao dormir, mas não vemos com clareza; muitas vezes somos pessimistas, deixamos o mundo interferir no que de fato é importante enxergar, repetidas vezes preferimos resolver nossos próprios problemas a deixar na mão de Deus.

Somos cegos. E pior de tudo, cego que não quer ver, porque nossa cegueira vem do egoísmo, falta de fé, fraqueza e tantos outros sentimentos que nos afastam da Luz, que nos fazem caminhar cada vez mais nas trevas aumentando nossa dificuldade em enxergar.

Peçamos a Graça de também sermos levados ao encontro de Cristo, para curamos nossa cegueira, para que possamos enxergar nitidamente o mundo ao redor, que necessita de caridade, atenção, perdão. Que possamos reconhecer nossa falta de visão e humildemente deixar que Jesus toque com sua saliva salvadora nossos olhos e nossa vida.

Propósito:

Pai, abre meus olhos para que, pela fé, eu reconheça teu filho Jesus, e possa beneficiar-me da força libertadora que dele provém

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