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sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

EVANGELHO DO DIA 03 DEZEMBRO 2023 - 1º DOMINGO DO ADVENTO

 

03 dezembro - Deus faz sempre o que é melhor para nós. (S 176). São Jose Marello

 


Marcos 13:33-37

Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo.
Será como um homem que, partindo em viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos, indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie.
Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã,
para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo.
O que vos digo, digo a todos: vigiai!


*Neste domingo, a Igreja inicia mais um ano litúrgico, convidando-nos a, mais uma vez, percorrer o caminho de Jesus Cristo, contemplando e vivendo o mistério da sua vida, morte e ressurreição. Advento é a palavra que designa a primeira etapa do ano litúrgico, cujo sentido literal é a vinda ou visita. Trata-se de um tempo especial que a Igreja dedica à preparação para a magnífica celebração do Natal do Senhor, expressão maior da visita definitiva de Deus à humanidade.

Com o início do novo ano litúrgico, iniciamos também a leitura do Evangelho segundo Marcos, porém, não do seu início, mas do seu final, precisamente do seu pequeno discurso escatológico, comparado ao de Mateus. Por isso, o texto proposto para hoje é Mc 13,33-37. O discurso escatológico está presente nos três evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), e trata das realidades últimas e finais da história, antecedendo as narrativas da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

 A princípio, parece até paradoxal que a preparação para o natal seja iniciada com palavras sobre as realidades últimas. Porém, é necessário compreender o advento como uma oportunidade de preparação para a vinda constante do Senhor na vida de cada pessoa, tornando essa vinda uma presença, ao invés de apenas alimentar uma expectativa futurista e preparar para uma única data ou evento. É importante também perceber a continuidade do tempo: como nos últimos domingos do ano litúrgico anterior refletimos, a partir do discurso escatológico de Mateus, o tema da vigilância, é também com esse tema que abrimos o novo ano.

 O Evangelho proposto consiste nas últimas palavras de Jesus antes do relato da paixão: Mc 13,33-37. É necessário fazer uma pequena contextualização para uma compreensão mais adequada do mesmo. Jesus se encontrava em Jerusalém e, ao sair do templo, os discípulos expressaram admiração a respeito da magnitude do templo; à essa admiração, Jesus respondeu: “não restará pedra sobre pedra”. Então, os discípulos perguntaram: “Quando estas coisas acontecerão?” (cf. Mc 13,1-4). Portanto, o Evangelho de hoje é a conclusão da resposta de Jesus a essa pergunta dos discípulos.

Ainda a respeito do contexto, é necessário recordar o versículo que precede de imediato o nosso texto: “Ora, a respeito daquele dia ou hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mc 13,32). Como sabemos, passados alguns anos após a ressurreição, os cristãos começaram a inquietar-se, pois esperavam com muita ansiedade pela segunda vinda do Senhor e, como essa não acontecia, muitos desanimavam, sobretudo quando começaram as perseguições. Por isso, explorou-se bastante a pregação sobre a imprevisibilidade dessa vinda, enfatizando que o importante é manter vivo o espírito de vigilância, sem preocupação com o dia ou a hora.

Foquemos, pois, em nosso texto: Mc 13,33-37. A palavra-chave desse pequeno texto evangélico é o imperativo “vigiai”; a mesma ocorre três vezes (vv. 33.35.37) embora a versão litúrgica omita uma delas, infelizmente: “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento” (v. 33). Ao invés de “Cuidado! ficai atentos”, seria mais adequado: “abri os olhos e vigiai”, por corresponder melhor à expressão grega “blépete agrípneite”. Diante da indefinição, não há outra saída para a comunidade a não ser a vigilância. Esse versículo prepara o leitor/ouvinte para a pequena parábola que vem a seguir, mostrando como deve ser feita essa vigilância.

Eis a continuação: “É como um homem que, ao partir, para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados, distribuindo a cada uma sua tarefa. E mandou o porteiro ficar vigiando” (v. 34). Em apenas um versículo, Marcos consegue transmitir uma parábola extraordinária, modificada e ampliada por Mateus e Lucas (cf. Mt 25,14-30 = parábola dos talentos // Lc 19,11-28 = parábola das dez minas). A partida do homem para o estrangeiro equivale ao intervalo temporal entre a ascensão e a tão esperada, porém desconhecida, segunda vinda do Senhor.

O evangelista quer ensinar à sua comunidade que, ao invés de preocupar-se com questões relativas ao tempo em que o Senhor virá, o importante é trabalhar para a sua mensagem manter-se viva e atuante na vida das pessoas, uma vez que Ele nunca se ausentou da comunidade que nunca deixou faltar o amor. Para isso, é importante que cada membro sinta-se responsável, como servo bom e fiel, ao bem-estar da casa. Surpreende o uso da imagem da casa: sinal de universalidade, ao contrário da vinha, por exemplo, imagem exclusiva do povo de Israel, e ao mesmo tempo, sinal das pequenas comunidades, nas quais todos se conhecem e devem viver em comunhão, a partir de relações movidas pelo amor, a justiça e a solidariedade. Na casa, enquanto, família, todos são iguais: empregados e porteiros, com a mesma responsabilidade de não deixar faltar o amor e a concórdia, bem como o pão material, tão necessário para o dia-a-dia.

O perigo de esfriamento na vivência da fé era tão grande, a ponto de ser necessário insistir no imperativo “vigiai”; assim, prossegue o versículo seguinte: “vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer” (v. 35). Sendo o Senhor o dono da casa, aos servos compete apenas vigiar. Porém, é necessário ressaltar, mais uma vez, a natureza dessa vigilância tão cara ao Senhor; não se trata de busca por segurança ou conforto, mas simplesmente de manter o evangelho vivo e atuante na vida das pessoas. A comunidade vigilante é aquela na qual os sinais do Reino se manifestam: amor e justiça em abundância. Onde esses valores abundam, o que menos tem importância é o tempo. Inclusive, quanto mais tardar o Senhor, mais frutos a casa/comunidade terá gerado; por isso, o cristão só pode ter pressa em uma coisa: em fazer o bem!

O motivo da vigilância é muito claro: “Para que não suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo” (v. 36). É claro que o texto não se refere ao dormir como a necessidade natural do ser humano, pois dessa ninguém pode privar-se, mas como a indiferença e a omissão em relação aos valores do evangelho. Nesse caso, dormir significa deixar de praticar a mensagem de Jesus Cristo, abandonar seu ensinamento. Mais que triste, é até trágico quando uma comunidade abandona a mensagem libertadora do evangelho, deixando de praticar o amor, a justiça e a solidariedade, ou seja, quando não tem mais a fraternidade como sinal distintivo. Por isso, o convite é novamente reforçado e, agora, com a sua dimensão universal mais explícita ainda: “O que vos digo, digo a todos: Vigiai!” (v. 37). Todos da comunidade, e em todos os tempos, são convocados à vigilância da prática do amor.


Não importa quando o Senhor virá pela segunda vez. Procuremos celebrar a sua primeira vinda, ou seja, o natal, como certeza de que Ele já veio e conosco está; porém, sua presença constante não será percebida enquanto não assumirmos a nossa responsabilidade na casa que Ele nos confiou: a família, a comunidade, o universo como “casa comum”. Para celebrarmos bem a certeza de que Ele já veio, só nos resta mantermo-nos acordados, ou seja, praticando o amor, acima de tudo. Vigiar é isso!

 

O pescador e seu riacho

Padre Geraldo Orione de Assis Silva

 Numa cidade bem distante daqui, vivia um homem cuja atividade preferida era pescar. Sua fama como pescador era conhecida na região e causava inveja em pescadores antigos que, em tempos de crises das águas, já não conseguiam trazer peixe para o jantar. Mas esse pescador, não. Sua habilidade era tal que nunca voltava pra casa com a cesta de peixes vazia. Conhecedor dos rios, das águas, dos peixes e seus hábitos, das iscas e dos anzóis, o pescador seguia de rio em rio, trazendo quantidade generosa de peixes para casa, cada vez que se aventurava a sair para pescar.

Passado algum tempo, o pescador foi envelhecendo e ficou sem forças para pescarias mais ousadas. Não queria pegar o barco para atravessar o rio; não queria ir até rios mais distantes; só queria pescar na curva de um rio bem pertinho de sua casa, lá onde uma árvore tombada formava um confortável assento pra ele descansar.

Toda tarde, o velho pescador pegava seus apetrechos e ia para o rio. Assentava-se confortavelmente no galho tombado, pendurava sua matula num galho ao lado e passava horas pescando. Já não interessava mais se pegava peixes pequenos ou grandes; acostumou-se àquele lugar e pescar ali tornara-se seu passatempo preferido.

Certa vez, uma tempestade se abateu sobre a região. Uma enchente enorme fez transbordar as águas do rio, mudando o seu curso para um ou dois metros dali. Bem lá na curva do rio onde o pescador pescava, formou-se uma banca de areia com um filete minúsculo de água sobre ela. A árvore com seu galho tombado continuava ali, bem no lugar de sempre, oferecendo ainda seu confortável assento ao hóspede de todos os dias.

Passados os dias da enchente e recuperada a normalidade da vida, nosso pescador juntou as malas e foi pescar, afinal a rotina se estabelecera de novo com o baixar das águas. Para surpresa de toda a comunidade, o pescador foi direto para a curva do rio, onde formara um banco de areia. Assentou-se em seu galho preferido, pegou a vara, colocou anzol na isca e ficou dando banho em minhoca num filete de água sobre o amontoado de areia que ali se ajuntara. Nenhum peixe, é claro! Mas contam seus contemporâneos que o pobre pescador fez a mesma coisa todos os dias, até o fim de seus dias. Acostumado como estava à sua zona de conforto não foi capaz de inovar, mesmo com toda a sua experiência pregressa.

Por isso, fique firme nos bons hábitos, mas esteja sempre atento ao novo. Passam-se os anos, mudam-se os tempos. Somos chamados a inovar para manter a vida fluindo...

 

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