10 DE FEVEREIRO - Que Deus nos inspire e nos assista, pois, ai
de nós se formos soldados despreparados no campo de batalha. (L 15). São Jose Marello
Marcos 8,1-10
1Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinha o
que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: 2“Tenho compaixão
dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para
comer. 3Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo
caminho, porque muitos deles vieram de longe”.
4Os discípulos disseram: “Como poderia
alguém saciá-los de pão aqui no deserto?” 5Jesus perguntou-lhes:
“Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete”.
6Jesus mandou que a multidão se sentasse
no chão. Depois, pegou os sete pães, e deu graças, partiu-os e ia dando aos
seus discípulos, para que o distribuíssem. E eles os distribuíram ao povo.
7Tinham também alguns peixinhos. Depois
de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também. 8Comeram
e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram. 9Eram
quatro mil, mais ou menos. E Jesus os despediu. 10Subindo logo na
barca com seus discípulos, Jesus foi para a região de Dalmanuta.
Meditação:
Temos neste texto do evangelho de Marcos uma segunda narrativa da partilha dos
pães. A pratica de Jesus não consiste em gestos espetaculares, mas é uma
pratica educativa para a solidariedade e a promoção da vida. Assim, partilhando
com a multidão, todos aderiram ao seu gesto, e pela partilha todos foram
saciados.
A primeira partilha havia sido na Galiléia, onde havia alguma presença do judaísmo.
Esta segunda, por sua vez, ocorre em território de gentios. A proposta da
partilha é também aceita entre os gentios.
Na
narrativa destaca-se o número sete, que remete o leitor às sete nações gentias
que ocuparam a terra de Canaã e foram exterminadas pelos israelitas. Jesus
"dá graças" ("eukharistésas"- expressão típica da
eucaristia) sobre os Sete pães que são partilhados. Jesus nos ensina que o
Reino acontece na partilha que alimenta a vida.
Registremos
logo de entrada que as duas narrativas evangélicas da multiplicação utilizam em
boa parte um vocabulário tomado da liturgia da época; por conseguinte, o leitor
não podia enganar-se a respeito do significado de um milagre realizado no
“deserto” (v. 4), o que mostra claramente que o pão vinha a ser como o maná.
Mas o autor não se detém nos dois ritos da Eucaristia (v. 6); compila
igualmente uma série de dados destinados a fazer da Eucaristia o sacramento da
fé e da missão.
A
primeira das dimensões aparece, por um lado, no diálogo de Jesus com seus discípulos
(vv. 4-5), no qual salienta a falta de inteligência destes últimos; e por
outro, no contexto desta multiplicação, na que tudo concorre para explicar que
não se pode participar da Eucaristia senão depois de se ter trabalhado os
sentidos.
A
segunda característica da Eucaristia é a de ser o sacramento da missão. Esta
dimensão é encontrada em primeiro lugar na referência aos restos que sobram (v.
8), que são a prova de que os convidados previstos por Jesus não estavam todos
presentes.
Deus
Pai na Sua infinita bondade quis nos restituir a humanidade dando-nos o Seu
Próprio Filho Jesus Cristo nosso Senhor, o Pão Vivo descido do céu, que à cada
Eucaristia nos alimenta e nos dá novo alento e perdão.
Jesus partiu o pão. Se não tivesse rompido o pão, como é que as migalhas
chegariam até nós?
Mas ele partiu-o e distribuiu-o: « Distribuiu-o e deu-o aos pobres». Partiu-o
por amor, para quebrar a ira do Pai e a Sua. Deus tinha-o dito: ter-nos-ia
aniquilado, se o seu Único, «o seu eleito, não se tivesse posto diante dele,
erguido sobre a brecha para afastar a sua cólera». Ele colocou-se diante de
Deus e apaziguou-o; pela sua força indefectível, manteve-se de pé, não
quebrado.
Mas Ele próprio, voluntariamente, partiu e distribuiu a Sua carne, rasgada pelo
sofrimento.
Foi então que Ele «quebrou o poder do arco», «quebrou a cabeça do dragão»,
todos os nossos inimigos, com o Seu poder. Então, partiu de algum modo as
tábuas da primeira aliança, para que já não estejamos sob a Lei. Então quebrou
o jugo da nossa prisão.
Quebrou tudo o que nos quebrava, para reparar em nós tudo o que estava
quebrado, e para «enviar livres os que estavam oprimidos» (Is 58,6), Com
efeito, nós estávamos cativos da miséria e das correntes.
No sacramento do altar, o Senhor vem ao encontro do homem, criado à imagem e
semelhança de Deus (Gn 1, 27), fazendo-Se seu companheiro de viagem. Com
efeito, neste sacramento, Jesus torna-Se alimento para o homem, faminto de
verdade e de liberdade. Uma vez que só a verdade nos pode tornar
verdadeiramente livres (Jo 8, 36), Cristo faz-Se alimento de Verdade para nós.
Com agudo conhecimento da realidade humana, Santo
Agostinho
pôs em evidência como o homem se move espontaneamente, e não constrangido,
quando encontra algo que o atrai e nele suscita desejo. Perguntando-se ele, uma
vez, sobre o que poderia em última análise mover o homem no seu íntimo, o santo
bispo exclama: « Que pode a alma desejar mais ardentemente do que a verdade?
De fato, todo o homem traz dentro de si o desejo suprimível da verdade última e
definitiva. Por isso, o Senhor Jesus, « caminho, verdade e vida (Jo 14, 6),
dirige-Se ao coração anelante do homem que se sente peregrino e sedento, ao
coração que suspira pela fonte da vida, ao coração mendigo da Verdade. Com
efeito, Jesus Cristo é a Verdade feita Pessoa, que atrai a Si o mundo.
Jesus
é a estrela polar da liberdade humana: esta, sem Ele, perde a sua orientação,
porque, sem o conhecimento da verdade, a liberdade desvirtua-se, isola-se e
reduz-se a estéril arbítrio. Com Ele, a liberdade volta a encontrar-se a si
mesma.
No
sacramento da Eucaristia, Jesus mostra-nos de modo particular a verdade do
amor, que é a própria essência de Deus. Esta é a verdade evangélica que
interessa a todo o homem e ao homem todo.
Por
isso a Igreja, que encontra na Eucaristia o seu centro vital, esforça-se
constantemente por anunciar a todos, em tempo propício e fora dele (2Tm 4,2),
que Deus é amor. Exatamente porque Cristo Se fez alimento de Verdade para nós,
a Igreja dirige-se ao homem convidando-o a acolher livremente o dom de Deus.
Reflexão Apostólica:
O relato de hoje corresponde a uma segunda
versão da multiplicação dos pães, ainda que apresente algumas diferenças de
suma importância, especialmente em relação ao lugar em que ocorre. Talvez a
intenção de Marcos seja apresentar o mesmo milagre, tanto em território judeu
como em terras pagãs, confirmando assim o caráter universal do Evangelho.
Os números que aparecem neste novo relato da multiplicação assinalam essa universalidade:
são sete pães e sete cestos. Sete é o número da perfeição; 4000 (4 vezes 1000)
indica a idéia de universalidade, pois se vincula aos quatro pontos cardeais,
quer dizer, ao mundo inteiro.
Entendendo que a ação salvífica de Deus, presente em Jesus, seja um dom para
todos, significa que Deus compartilha com o mundo a realidade humana, por isso
Jesus oferece uma ceia na qual ninguém é excluído, pois as barreiras raciais,
sociais e religiosas foram eliminadas.
Agora, o princípio que vincula o ser humano com Deus e com seus irmãos é a misericórdia
e o serviço incondicional.
Olhando para aquele povo faminto Jesus teve compaixão e mandou que os Seus
discípulos o alimentassem. Hoje também Jesus, cheio de clemência, olha para o povo
que tem fome da Sua Palavra, da Sua presença e nos interpela: “quantos pães
tendes?”
Como fez aos Seus discípulos, Jesus quer que tenhamos consciência dos “bens”
que nós já possuímos, dos dons que nós já dispomos e das virtudes que podemos
colocar em Suas mãos para que Ele abençoe, multiplique e nos devolva a fim de
que nós possamos também alimentar a multidão ao nosso redor.
Muitas vezes nós nos sentimos impotentes diante das dificuldades e da carência
das pessoas necessitadas de “pão”. Porém, Jesus conhece essas necessidades, e
sabe que nós também podemos ser seus colaboradores na missão de salvar almas
para o reino dos céus.
Se olharmos para a nossa vida, para dentro de nós mesmos nós perceberemos que
também nós possuímos os “sete pães e alguns peixinhos” de que Jesus precisa
para saciar a fome do mundo.
Ele nos conscientiza e nos afirma: você tem algo, você não é de todo carente; o
que você tem eu abençôo e multiplico para que você distribua àqueles que têm
fome, até que sobre.
Os sete pães que nós temos, poderão ser: tempo, saúde, fé, paz, boa vontade,
amor, inteligência. Os peixinhos que nós possuímos também podem ser o
conhecimento da Palavra, o desejo de servir a Deus, disponibilidade, instrução,
dons artísticos, intuição, facilidade de comunicação.
Tudo nos foi dado por Deus e Ele sabe o que cada um de nós possui. Por nosso
intermédio Ele quer fazer o milagre do amor! Ele é poderoso para transformar o
pouco que nós temos em alimento de amor para muitos. Ninguém é carente de tudo.
Todos nós somos chamados a nos sentar e a partilhar com o nosso próximo os nossos
“sete pães e alguns peixinhos”. São dons que nós já os temos, porque Deus já
nos deu, precisamos apenas que reconheçamos a nossa realidade e que “sentados”,
isto é, firmes e confiantes, nós os ponhamos nas mãos de Jesus para
apresentá-los ao Pai. O milagre Ele o fará!
Você costuma partilhar com o próximo os bens que você tem? Você se acha uma
pessoa carente? Quantos pães você possui? Faça o cálculo e os ofereça a Jesus.
Ele vai multiplicá-los.
Propósito:
Pai, dá-me um coração sensível às carências
do meu próximo, fazendo-me solidário com ele, a ponto de me desapegar do que
tenho, para ajudá-lo em suas necessidades.
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