19 janeiro
- Senhor,
inspirai-nos a melhor oração com que nos havemos de dirigir a Vós e depois
concedei-nos a graça de adorar sempre os decretos de vossa Vontade. (L 183). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São João 2,1-11
"No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava lá. Também Jesus e seus discípulos foram convidados para o casamento. Faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: "Eles não têm vinho!" Jesus lhe respondeu: "Mulher, para que me dizes isso? A minha hora ainda não chegou". Sua mãe disse aos que estavam servindo: "Fazei tudo o que ele vos disser!" Estavam ali seis talhas de pedra, de quase cem litros cada, destinadas às purificações rituais dos judeus. Jesus disse aos que estavam servindo: "Enchei as talhas de água!" E eles as encheram até a borda. Então disse: "Agora, tirai e levai ao encarregado da festa". E eles levaram. O encarregado da festa provou da água mudada em vinho, sem saber de onde viesse, embora os serventes que tiraram a água o soubessem. Então chamou o noivo e disse-lhe: "Todo mundo serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já beberam bastante, serve o menos bom. Tu guardaste o vinho bom até agora". Este início dos sinais, Jesus o realizou em Caná da Galileia. Manifestou sua glória, e os seus discípulos creram nele."
Embora simples do ponto de vista narrativo (uma história com trama,
cenário e personagens bem definidos), o texto apresenta uma grande complexidade
teológica. Por isso, preferiu-se, ao longo dos séculos, uma interpretação quase
literal, limitada a fundamentar a intercessão de Maria e, assim, fomentar a
devoção. Tem sido grande o esforço da exegese atual para restituir ao texto o
seu valor cristológico, praticamente ofuscado pela leitura devocionista
aplicada ao longo do tempo. O primeiro passo para isso é situar o texto no seu
devido contexto. Como acenamos acima, João introduz a vida pública de Jesus com
episódios distribuídos ao longo de uma chamada “semana inaugural”; o ponto alto
dessa semana é o episódio das bodas de Caná, o qual funciona como introdução e
porta de entrada para todo o Evangelho. Tudo o que será desenvolvido ao longo
do Evangelho, portanto, serão desdobramentos desse episódio.
O texto inicia com um dado importante, omitido pela liturgia: “No
terceiro dia”, substituído pela genérica e desnecessária expressão “Naquele
tempo”. Embora seja já o dia conclusivo da semana, o sexto dia, o evangelista
omite alguns dias de propósito, para que este episódio se realize no “terceiro
dia”. Ora, o último episódio narrado tinha sido o encontro de Jesus com Filipe
e Natanael (cf. Jo 1,43-51); as bodas de Caná, portanto, acontecem no “terceiro
dia” após esse episódio. Mais que um dado cronológico, a expressão “terceiro
dia” é um indicativo teológico: significa uma manifestação especial de Deus; de
imediato, pensamos na ressurreição de Jesus, o maior dos acontecimentos ao
“terceiro dia”, mas há outros episódios importantes na Bíblia que também
aconteceram no “terceiro dia”: foi no “terceiro dia” que Abraão subiu à
montanha para sacrificar Isaac, provando a sua fé (cf. Gn 22,4), e foi no
“terceiro dia” que Deus manifestou a sua glória no Sinai e entregou a Lei a
Moisés (cf. Ex 19,16ss). Ao apresentar o primeiro sinal de Jesus ao “terceiro
dia”, João sinaliza que toda a sua vida será manifestação e intervenção de Deus
na história, cujo ápice será a ressurreição, também no “terceiro dia”.
Portanto, “terceiro dia” é uma expressão teológica que indica o agir de Deus.
Eis, então, o que houve no “terceiro dia”: “um casamento em Caná
da Galileia. A mãe de Jesus estava presente” (v. 1). As festas de
casamento, na cultura semita, eram esperadas com muita ansiedade; normalmente,
duravam uma semana, mas a depender das condições dos noivos, poderia se
estender até por duas semanas. Além do seu sentido social, o matrimônio servia
como símbolo da relação entre Deus e o seu povo, Israel, desde o profeta Oséias
(século VIII a.C.). Com essa festa, portanto, o evangelista quer mostrar a
situação da aliança, como o povo de Israel estava se relacionando com Deus, e a
necessidade urgente de uma intervenção. A mãe de Jesus não é mencionada pelo
seu nome próprio nesse episódio, porque ela é uma personagem corporativa, ou
seja, representa uma comunidade, e não apenas a síngula pessoa de Maria. Quando
os profetas denunciavam as injustiças e a corrupção reinantes em Israel,
mencionavam também um “resto” fiel que veria a realização das promessas de
Deus. A mãe de Jesus é, nesse relato, a imagem do resto fiel de Israel que
nunca se distanciou de Deus. Por isso, ela já “estava presente” no casamento,
porque fazia parte daquela comunidade.
Ao contrário da mãe que já “estava presente”, o evangelista diz
que “Jesus e os discípulos foram convidados para o casamento” (v.
2); embora sutilmente, o evangelista faz uma distinção: Jesus e os discípulos
foram à festa, mas não faziam parte. Ao longo de todo o Evangelho, João mostrará
como Israel não aceitou Jesus, tratando-o como um estranho, inclusive no
prólogo já tinha antecipado: “Veio para os seus, mas os seus não o
acolheram” (Jo 1,11). Porém, para conhecer as reais necessidades e
problemas é necessário estar inserido e fazer parte da realidade; tampouco
basta conhecer as necessidades e os problemas; é preciso tomar iniciativa e
buscar soluções, como fez a mãe: “Como o vinho veio a faltar, a mãe de
Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho” (v. 3). A mãe de Jesus,
como imagem do Israel fiel, é a mais legítima conhecedora das carências e
falhas na relação de seu povo com Deus; ela não faz um pedido a Jesus, como
insinuam as interpretações devocionistas. Ela constata uma situação e faz uma
denúncia: a falta de vinho nessa festa de casamento é, na verdade, a falta de
amor e de alegria na antiga aliança. A mãe constata que Israel falhou em sua
relação com Deus e, portanto, a aliança fracassou. O vinho era essencial numa
festa e, na Bíblia, é sinal de alegria, amor e felicidade.
A mãe de Jesus é a primeira a perceber a esterilidade da relação de
Israel com Deus. Ora, o povo de Israel imaginava que entrava em comunhão com
Deus através de sacrifícios, purificações e ritos, independente da prática da
justiça e da conduta ética, sobretudo na relação com o próximo; praticava-se a
religião do mérito com muitas ofertas e sacrifícios. Foi isso que a mãe de
Jesus constatou ao lhe dizer que não havia mais vinho na festa. Não havia mais
amor e alegria na maneira do povo relacionar-se com Deus. Ela percebeu também
que somente Jesus poderia contornar aquela situação. A proposta de vida de
Jesus, fundamentada no amor, era a única saída para Israel reencontrar-se
consigo mesmo e com Deus, e continua sendo, para toda a humanidade. Como a mãe,
nesse episódio, representa toda a comunidade do resto fiel de Israel, a sua
relação com Jesus carrega uma certa formalidade: “Jesus respondeu-lhe:
“Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou” (v.
4). Jesus não a chama de mãe, apenas de mulher, e esclarece que não depende
somente dele, ao dizer que a sua hora ainda não chegou; depende do Pai,
sobretudo.
Mesmo sem receber uma resposta positiva, a mãe confia na providência,
como modelo de crente. Como conhecedora da situação, ela vê como urgente a intervenção
de Deus, através de Jesus; por isso, ordenou aos que estavam servindo: “Fazei
o que ele vos disser” (v. 5). Ora, a antiga aliança foi concluída com
a resposta solene do povo a Moisés: “Sim, nós faremos tudo o que Iahweh
disse!” (Ex 24,7). A história mostra que Israel falhou e não fez a
vontade de Deus. A antiga aliança fracassou exatamente porque o povo não
cumpriu essa promessa, e a mãe de Jesus sabia disso; por isso a recomendação
para fazer o que ele disser, de agora em diante. O evangelista prossegue
denunciando ainda mais a esterilidade da religião de Israel: “Estavam
seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam
fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros” (v. 6).
Essas talhas (jarros) de pedra simbolizam a lei; estavam vazias; através delas,
os judeus faziam ritos de purificação, mas não se encontravam verdadeiramente
com Deus.
Jesus se solidariza com seu povo: nem tudo está perdido. Na figura da
mãe, ele vê um sinal de esperança no seu povo; por isso, toma a
iniciativa: “Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de
água”. Encheram-nas até a boca” (v. 7). “Os que estavam servindo” (em
grego: διακονος = diáconos)
prefiguram a comunidade ideal de discípulos e discípulas que devem agir conforme
“tudo o que Jesus disser”; são esses que devem preencher o vazio de amor em
Israel e, posteriormente, em toda a humanidade, enchendo as talhas até a boca,
quer dizer, servindo e amando sem medidas. Jesus dá mais uma ordem: “Agora
tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram” (v. 8). O mestre-sala
era o responsável pela organização e coordenação da festa; era ele quem deveria
vigiar e ficar atento se estava faltando alguma coisa. Porém, negligenciou
completamente o seu papel, não percebeu que o vinho tinha acabado. Nesse
episódio, ele representa os anciãos e sacerdotes (a classe dirigente de Israel)
que tinha se distanciado de suas responsabilidades, não conheciam mais as
necessidades do povo, estavam alheios à vida cotidiana das pessoas.
Distante da realidade, o mestre-sala não sabia sequer que o vinho tinha
acabado, menos ainda de onde tinha surgido o vinho novo: “O mestre-sala
experimentou a água que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde
vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois era eles que tinham tirado a
água” (v. 9); porém, ficou surpreso com o seu sabor: “O
mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o
vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos
bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” (v. 10). Aqui, o
evangelista ironiza e denuncia o distanciamento dos chefes de Israel em relação
ao cotidiano das pessoas. Mesmo sem conhecer a origem, o mestre-sala reconhece
a qualidade do vinho. Pela primeira vez no relato, o evangelista faz referência
ao noivo, quem deveria ser o verdadeiro protagonista da festa. Esse noivo é o
próprio Deus; a missão de Jesus, fornecendo amor em abundância, representado
pelo vinho, é reatar os laços entre o Deus, o noivo-esposo, e a humanidade
inteira, a noiva-esposa.
Como esse episódio é a verdadeira porta de entrada de todo o Evangelho
segundo João, esse “este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o
realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória e seus discípulos creram
nele” (v. 11). Um sinal, como sabemos, não é um fim em si mesmo, mas
aponta para uma realidade muito mais profunda. O sinal da mudança da água em
vinho preconiza muitas transformações que Jesus irá fazer e propor ao longo de
todo o evangelho. A principal transformação, a primeira e mais necessária, diz
respeito à maneira de relacionar-se com Deus. De uma relação servil e
ritualista, ele nos convida a uma relação de amor, cuja imagem mais visível e
clara é a do matrimônio, pois pressupõe um amor recíproco, com liberdade e
confiança. O vinho novo, de qualidade superior, representa essa nova relação. É
nisso que a sua glória se manifesta, e o que fortalece a fé.
Para ser autenticamente discípulo e discípula é necessário ser como a
mãe e os servidores, ao mesmo tempo: perceber as reais necessidades do próximo,
tomar iniciativas concretas e fazer tudo o que Jesus disser. A abundância do
vinho, imagem do amor, depende unicamente da disposição de fazer o que Jesus
disse.
Reflexão
O livro de
Isaías traz palavras confortadoras.
“Não
tenhas medo, que fui eu quem te resgatou, chamei-te pelo próprio nome, tu és
meu!
Se tiveres
de atravessar pela água, contigo estarei e a inundação não te vai submergir!
Se tiveres
de andar sobre o fogo, não te vais queimar, as chamas não te atingirão!
Pois eu
sou o Senhor, o teu Deus, o Santo de Israel, o teu Forte!” (Is 43,1b-3a).
Meditação
Jamais
tenha medo de nada!
Deus está
sempre a seu lado.
Confirmação
“Quando,
então, buscares o Senhor vosso Deus, o encontrarás, se o buscares com todo o
teu coração e com toda a tua alma.
Na tua
angústia, quando tiverem acontecido contigo todas as coisas que foram preditas,
nos últimos tempos
voltarás
para o Senhor teu Deus, e ouvirás a sua voz”.
(Dt
4,29-30).
São Canuto - 19 de Janeiro
Homem de
Deus, um sinal para o povo, ele contribuiu para a evangelização. Primeiro, com
o seu exemplo, pois acreditava que a melhor forma de educar uma nação é o bom
exemplo. Ele viveu para sua esposa e para seu filho Carlos, que mais tarde se
tornaria também um santo. Pai santo, esposo santo, um governador, um homem de
poderes; mas que usou esses poderes para servir, a modelo de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
São
Canuto, amado por muitos e odiado também como Nosso Senhor, foi vítima de
artimanhas por pessoas fechadas para Deus e para o bem, porque ele tinha muita
sensibilidade com as viúvas, os órfãos e os mais necessitados. Nele, batia um
coração que se assemelhava ao de Jesus. Como rei, possuiu muitos desafios e, ao
perceber os inimigos se armando, participou de uma Eucaristia como era de
costume. Nela, ele não só recebeu o Nosso Senhor, mas, em nome de Jesus,
perdoou todos os seus inimigos. Foi então assassinado.
São Canuto, rogai por nós!
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