12 janeiro - Todas as vezes que cairmos em algum pecado, pediremos perdão ao Senhor e diremos: Odiando o mal eu o destruí. O Senhor me ensina o modo de renovar-me em qualquer momento. Agora começo. Sim Senhor, mesmo na última hora, o operário pode tornar-se merecedor da recompensa (na última hora). Agora começo: ainda tenho tempo. (S 33). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 3,15-16.21-22 " Como o povo estivesse na
expectativa, todos se perguntavam interiormente se João era ou não o Cristo, e
ele respondia a todos: "Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais
forte do que eu. Eu não sou digno de desatar a correia das suas sandálias. Ele
vos batizará com o Espírito Santo e com fogo". Enquanto todo o povo era
batizado e Jesus, batizado, estava em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo
desceu sobre ele, em forma corpórea, como uma pomba. E do céu veio uma voz:
"Tu és o meu filho amado; em ti está o meu agrado"."
O fato de estar presente nos quatro evangelhos – de modo explícito nos
sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e implícito em João – não significa que os
evangelistas narraram o batismo de modo igual; cada um narrou à sua maneira,
conforme as informações recebidas de suas fontes e as necessidades de suas
respectivas comunidades. A pregação de João estava gozando de um grande êxito
(cf. Lc 3,1-14); ele pregava um batismo de conversão (cf. v. 3) e proponha um
jeito novo de viver, incentivando o povo a produzir frutos (cf. v. 8), já que a
religião judaica se encontrava em plena esterilidade, com a decadência ética,
moral e espiritual dos dirigentes do templo de Jerusalém. A mensagem de João
foi além do esperado: até mesmo cobradores de impostos e soldados, pessoas
abomináveis para o judaísmo da época, se interessaram pela sua mensagem (cf.
vv. 12-14). A pregação de João, portanto, sinalizava que um novo tempo estava
surgindo.
O povo vivia sufocado pela dupla exploração: do império romano e do
templo de Jerusalém; Roma cobrava impostos em excesso e o templo exigia ofertas
e dízimos também em excesso, em nome de Deus. Por isso, a expectativa pela
vinda do messias libertador aumentava cada vez mais. Dessa expectativa do povo,
muitos se aproveitavam, se passando pelo messias, para roubar e explorar ainda
mais. Por isso, as dúvidas em relação a João. O povo já estava certo de que ele
era, realmente, um enviado de Deus, imaginando até que já fosse o messias, como
inicia o evangelho de hoje: “O povo estava na expectativa e todos se
perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias” (v. 15). Porém,
João tinha plena consciência do seu papel e da sua missão. De acordo com o
evangelista, ele mesmo tratou de esclarecer que não era o messias: “Por
isso, João declarou a todos: Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais
forte do que. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Eles
vos batizarão no Espírito Santo e no fogo” (v. 16). Esse
esclarecimento era muito necessário, tanto para os ouvintes diretos da
pregação, quanto para a comunidade do evangelista e os futuros leitores de sua
obra, como nós; o próprio Lucas registra, em seu outro livro (os Atos dos
Apóstolos) que, mesmo quando João não era mais confundido com o messias, o seu
batismo continuava sendo realizado como se fosse o batismo cristão, pois as
pessoas não compreendiam a diferença, e isso gerava confusão em algumas
comunidades, como em Éfeso, por exemplo (cf. At 19,1-7). Por isso, a
necessidade de fazer a distinção, usando algumas imagens.
Na distinção entre o seu batismo e o que Jesus iria inaugurar depois,
João esclarece a natureza do seu: batiza com água, como um sinal externo de
purificação e penitência; a água não penetra no íntimo da pessoa; embora
importante, permanece na exterioridade. Por isso, é necessário que venha “aquele
que é mais forte” para batizar “no Espírito Santo e no fogo”;
assim, o batismo de Jesus, praticado pelas comunidades cristãs, inclusive a do
evangelista, terá uma outra dimensão. “No Espírito Santo” significa
que esse batismo penetra no íntimo da pessoa e realmente transforma, como o
efeito do fogo. Embora o fogo seja também um elemento externo, usado nos ritos
cristãos posteriores (junto com a água), possui uma força transformadora mais
forte que a água. Se ambos os batismos permanecessem no plano simbólico, o de
Jesus ainda seria superior, considerando o efeito visível do fogo. A verdadeira
distinção entre os dois batismos, no entanto, está no conferimento do Espírito
Santo, e esse só pode ser conferido por aquele no qual o Espírito Santo
realmente desceu, como mostra a sequência do texto de hoje.
Com a expressão “Eu não sou
digno de desamarrar a correia de suas sandálias”, João está
fazendo alusão a Israel (e a
humanidade inteira) como a esposa e Jesus como o noivo que vem ao seu encontro;
por isso, além de um gesto de humildade, por reconhecer o seu papel, a
expressão também contém um alto teor teológico. Aqui, ele cita a lei judaica do
levirato: o gesto de tirar a sandália era um rito que significava apropriar-se
do direito de tomar a mulher viúva como esposa, para lhe dar descendência (cf.
Dt 25,5-10; Rt 3,5-11). Ora, quando uma mulher ficava viúva sem filhos, um de
seus cunhados ou outra pessoa do clã, conforme a ordem de idade, tinha o dever
e o direito de tomá-la como esposa, para gerar descendência com ela; em caso de
recusa ou de negociação, a passagem desse direito para um outro cunhado ou
pessoa próxima, era feita com o rito do “descalçamento”: o novo pretendente
desamarrava as sandálias do titular, assumindo o direito de casar-se com aquela
mulher. Assim, João deixa claro que não é ele o esposo, porque essa missão não
lhe compete. O direito de fecundar Israel é exclusivo de Jesus, para tornar
novamente fértil aquela esposa explorada e tornada estéril, como uma viúva,
pela elite sacerdotal de Jerusalém e pelo poder romano.
Infelizmente, a liturgia de hoje salta alguns versículos (vv. 17-20),
privando-nos de uma informação importante para compreender o batismo de Jesus
no contexto da catequese de Lucas: a prisão de João Batista (cf. vv. 19-20).
Para combater equívocos e confusões a respeito dos papéis de João e Jesus, e os
efeitos de seus respectivos batismos, Lucas faz questão de tirar João de cena
para poder colocar Jesus em evidência; por isso, antes de apresentar Jesus indo
ao batismo, ele diz que João foi preso; os discípulos de João continuaram
batizando, mesmo após a sua prisão. A obra toda de Lucas (Evangelho e Atos dos
Apóstolos) tem as características de uma peça de teatro com as cenas e os
personagens bem delimitados. Nessa engrenagem, ele nunca coloca Jesus e João na
mesma cena, exceto na visitação, quando ambos ainda estavam nos ventres de suas
respectivas mães, Maria e Isabel (cf. Lc 1,39-56); tudo isso para deixar claro
à sua comunidade que, embora contemporâneos, eles fazem parte de tempos
diferentes no conjunto da história da salvação, como afirmará mais na
frente: “A lei e os profetas até João! Daí em diante, é anunciada a Boa
Nova do Reino de Deus” (Lc 16,16). Tudo isso reflete o cuidado do
evangelista com a catequese da sua comunidade, para não confundir João com
Jesus. João é um personagem da antiga aliança, embora faça parte do processo de
transição para a nova aliança. Em outras palavras, para Lucas, ele ainda faz
parte do Antigo Testamento, como o último representante da lei e dos profetas.
Na continuação do texto temos a confirmação do batismo de Jesus: “Quando
todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto
rezava, o céu se abriu” (v. 21). É importante a forma como passa essa
informação: Jesus está junto com o povo, não se separa. O povo estava lá por
necessidade de conversão e de sentido para a vida; Jesus não tinha necessidade
disso. No entanto, por solidariedade, ele se junta a esse povo; com isso, o
evangelista antecipa a dinâmica da atuação de Jesus: ele não pregará de
púlpitos ou tronos, mas no meio do povo, olhando no rosto das pessoas, tocando
nas suas chagas, abraçando, dando a mão aos necessitados; seu ministério será
acessível a todos e todas. Um dos traços característicos de Jesus apresentado
por Lucas é a sua assiduidade na oração, desde o batismo até a cruz (cf. Lc
22,46). Nesse intervalo, entre o batismo e a cruz, são frequentes e significativos
os momentos em que Lucas apresenta Jesus em oração: enquanto cura (cf. 5,16),
antes de escolher os doze apóstolos (cf. 6,12), antes de fazer o primeiro
anúncio da paixão aos discípulos (cf. 9,18), antes e durante a transfiguração
(cf. 9,28-29), e ainda ensina seus discípulos a orar (cf. 11,1-2); na paixão, a
oração será ainda mais intensa (cf. 22,32; 22,39-46; 23,34.46). Com isso, Lucas
revela a intimidade de Jesus com o Pai e apresenta um modelo para a sua
comunidade viver em constante oração, como é demonstrado em diversas passagens
do livro dos Atos dos Apóstolos (cf. At 1,14; 1,24; 6,6; etc).
Através da oração se cria intimidade com o Pai e abre caminho para o
Espírito Santo se manifestar: “E o Espírito Santo desceu sobre Jesus em
forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: Tu és o meu Filho amado, em
ti ponho o meu bem-querer” (v. 22). A imagem do Espírito Santo
assumindo a “forma corpórea” é uma novidade na linguagem bíblica; embora a
tradução litúrgica traduza por “visível”, o mais correto é “forma corpórea”, de
acordo com o termo grego usado pelo evangelista (σωματικω = somatikô); embora alguns estudiosos tenham
tentado conciliar essa imagem com o “pairar” do Espírito de Deus sobre as águas
no princípio da criação (cf. Gn 1,2), ou com a pomba que Noé soltou da arca
durante o dilúvio (cf. Gn 8,8), essas interpretações já não são mais
convincentes. O acontecimento é inovador em tudo, até mesmo na simbologia. Ora,
as imagens mais usadas para o Espírito de Deus na Bíblia são o fogo e o vento,
inclusive, o próprio Lucas os aplica no episódio de Pentecostes (cf. At
2,1-13). Porém, tanto o fogo quanto o vento, simbolizam o Espírito Santo pela
força e capacidade de criação e transformação; em Jesus essas imagens não
teriam sentido, pois o Espírito não desceu sobre ele para transformá-lo, mas
apenas para confirmá-lo como o Filho amado do Pai, e para tornar pública essa
confirmação. O Espírito preenche e transforma quem é carente dele; em quem já o
possui em plenitude, como Jesus, apenas confirma. Desde a sua geração na
eternidade e encarnação no ventre de Maria, Jesus já possuía o Espírito Santo
em plenitude. A pomba evoca serenidade, tranquilidade, paz e consolo; não causa
assombro algum; é esse o sentido da manifestação do Espírito com essa forma no
batismo de Jesus: ele não foi transformado pelo Espírito naquele momento,
porque já era fruto desse mesmo Espírito.
Mais importante que a forma corpórea da pomba, assumida pelo Espírito, é
a comunicação restabelecida entre a humanidade e Deus, não passando mais pela
mediação das lideranças religiosas de Jerusalém, mas somente pela pessoa de
Jesus. O céu se abre, Deus fala e afirma que o “seu bem-querer”, ou seja, a sua
satisfação, não está nos inúmeros sacrifícios oferecidos no templo de Jerusalém,
mas no seu Filho Amado. Mesmo com ecos antico-testamentários (cf. Is 42,1; Sl
2,7), a afirmação de Deus aqui é completamente nova de significado, superando
todas as expectativas e promessas: “Tu és o meu Filho amado, em ti
ponho o meu bem-querer”. O messias que povo esperava era apenas um
servo de Deus e filho de Davi, o que seria um mediador a mais. Deus envia o seu
próprio Filho como único mediador. A voz que sai do céu significa Deus falando
diretamente com a humanidade. Isso é realmente a inauguração de um novo tempo.
Que a recordação do batismo de Jesus reforce em nós a necessidade de
estarmos em sintonia com o Pai, ouvido a sua voz com sensibilidade aos impulsos
do Espírito Santo que se manifesta nas diversas situações cotidianas. Que
sejamos confirmados como filhos e filhas de Deus, em seu amor, para viver como
irmãos e irmãs.
Reflexão
“Pelos
frutos, conhecemos a árvore”, diz Jesus. E continua: “Frutos bons, árvore boa.
Frutos ruins, árvore ruim”. (cf. Mt 7,16ss)
Se seu
coração estiver pleno de amor e paz, sua boca vai emitir palavras boas e
edificantes; mas, por outro lado, se estiver pleno de mágoa e rancor, dirá
coisas menos positivas.
Meditação
A palavra
é como uma flecha: uma vez lançada, não retorna aos lábios de quem a proferiu.
Confirmação
“Ou a
árvore é boa, e o fruto, bom; ou a árvore é má, e o fruto, mau.
É,
portanto, pelo fruto que se conhece a árvore.
Víboras
que sois!
Como
podeis falar coisas boas, sendo maus?
A boca
fala daquilo que o coração está cheio”.
(Mt 12,33-34).
Por que Jesus teve de ser batizado? Neste artigo, saiba
o que é a festa do Batismo do Senhor, o que celebramos nela e o que ela nos
ensina.
Você com certeza já deve ter se perguntado sobre o significado do batismo
do Senhor, o porquê Ele quis ser batizado e o que diferencia o batismo de João
Batista, o percursor de Cristo, e o batismo de Jesus.
Neste artigo, explicaremos os significados e os detalhes que estão por
trás do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo, festa que encerra o tempo do
Natal. Continue lendo para se surpreender com a beleza teológica desta festa da
Igreja.
O que é a
festa do Batismo do Senhor?
A festa do batismo do Senhor é a festa que encerra o tempo do Natal.
Nela, recordamos o dia em que o próprio Deus feito homem humilhou-se e
deixou-se ser batizado por João Batista, o seu precursor. O batismo simbolizava
a purificação dos pecados e transformação de vida. Por isso, mesmo não tendo
pecados, Cristo submeteu-se a ele a fim de se aproximar do homem e purificar o
pecado de toda a humanidade, o que se concretiza na sua morte e
ressurreição.
Quando o Batismo do Senhor é celebrado?
O dia do Batismo do Senhor é tradicionalmente celebrado na
segunda-feira após o domingo da festa da Epifania do Senhor, dia em que lembramos da
manifestação de Deus ao mundo através da visita dos três Reis Magos. O Batismo
do Senhor encerra o tempo do Natal.
Onde o
batismo do Senhor está na Bíblia?
“Eu vos batizo com água, em
sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que
eu e nem sou digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito
Santo e em fogo.” 1
O evangelista São Mateus descreve para nós como foi a ida de Jesus
até São João Batista, e uma das primeiras coisas que ele narra é sobre o
batismo de João, que era feito com a água e simbolizava penitência e mudança de
vida, e sobre o anúncio de João de que um dia viria Aquele que batizaria as
pessoas com o Espírito Santo, introduzindo a Graça divina na alma dos
batizados.
“Da Galileia foi Jesus ao Jordão
ter com João, a fim de ser batizado por ele. João recusava-se: ‘Eu devo ser
batizado por ti e tu vens a mim!’.” 2
Em seguida, São Mateus nos mostra a humildade de João Batista, que
antes havia dito que não era digno nem de desamarrar as sandálias de Cristo,
mas de repente recebe dele o pedido para que O batizasse.
“E do céu baixou uma voz: ‘Eis
meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição’.” 3
O batismo de Jesus abriu uma verdadeira ponte entre o Pai e o ser
humano. Cristo, não tendo nenhum pecado, escolheu livremente colocar-se na
posição dos pecadores a fim de os purificar e os aproximar do Pai.
Por que
Jesus teve de ser batizado?
Primeiramente, Cristo quis ser batizado a fim de igualar-se a nós,
pecadores. Ainda que ele não tivesse nenhum pecado, ele quis colocar-se na
mesma condição humana, a fim de nos aproximar d’Ele e nos dar a redenção. O
batismo de Jesus mostra a sua humildade e também evidencia a sua missão, de
salvar os pecadores.
Outro fato que está por trás do Batismo de Cristo é que Ele nos
aproximou do Pai ao ser batizado, quebrou as barreiras ao colocar-se num lugar
que os pecadores ocupavam. Jesus se faz nosso irmão e nós nos tornamos filhos
do Pai.
Por fim, a tradição também menciona que o Batismo de Jesus Cristo se
deu para purificar as águas que seriam utilizadas no batismo cristão, que nos
confere a purificação dos pecados e a graça que vem do Espírito Santo e nos
conduz rumo à santidade.
A
diferença entre o batismo de João e o batismo de Jesus
No início do Evangelho de São Mateus, já mencionado neste artigo, João
Batista explica que o seu batismo é feito com água e simboliza penitência e
conversão, mas que viria alguém muito maior do que ele, que batizaria as
pessoas com o Espírito Santo.
O Batismo de Cristo não apenas nos purifica de nossos pecados, mas nos
dá a graça que vem do Espírito Santo de Deus para que consigamos persistir na
conquista da santidade e continuemos fazendo aquilo que realmente agrada ao
Senhor. Não se trata apenas de uma conversão humana, mas impulsionada e movida
pelo Espírito que vivifica.
O que o
Batismo do Senhor nos ensina?
O Batismo do Senhor nos mostra a Sua misericórdia e o Seu amor para
conosco, Ele foi capaz de humilhar-se inteiramente para se aproximar de nós e
nos dar a vida, o que se concretiza inteiramente na sua morte na cruz e
ressurreição.
E por fim, após ser batizado, Jesus começa a sua vida pública. Tal
fato nos ensina e nos inspira a também, pelo batismo, começarmos uma vida de
testemunho e de apostolado, convidando todas as pessoas a participarem da graça
divina que é alcançada no batismo e na vivência dos sacramentos.
Referências
São Mateus 3, 11[↩]
São Mateus 3, 13-14[↩]
São Mateus 3, 17[↩]
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