25 fev - “Sunt bona mixta malis”. Há coisas que satisfazem os
gostos humanos, misturadas com outras que parecem más, se a razão não busca a
sua luz na fé. (L 167). São Jose
Marello
Marcos 9,2-10
"Seis dias depois, Jesus foi para um monte alto, levando consigo somente Pedro, Tiago e João. Ali, eles viram a aparência de Jesus mudar. A sua roupa ficou muito branca e brilhante, mais do que qualquer lavadeira seria capaz de deixar. E os três discípulos viram Elias e Moisés conversando com Jesus. Então Pedro disse a Jesus:
- Mestre, como é bom estarmos aqui! Vamos armar três barracas: uma para o senhor, outra para Moisés e outra para Elias.
Pedro não sabia o que deveria dizer, pois ele e os outros dois discípulos estavam apavorados. Logo depois, uma nuvem os cobriu, e dela veio uma voz, que disse:
- Este é o meu Filho querido. Escutem o que ele diz!
Aí os discípulos olharam em volta e viram somente Jesus com eles.
Quando estavam descendo do monte, Jesus mandou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse. Eles obedeceram à ordem, mas discutiram entre si sobre o que queria dizer essa ressurreição."
Meditação:
A
liturgia re-propõe um célebre episódio precisamente hoje, segundo domingo da
Quaresma. Jesus queria que os seus discípulos, em particular aqueles que teriam
a responsabilidade de guiar a Igreja nascente, fizessem uma experiência direta
da sua glória divina, para enfrentar o escândalo da cruz.
Com
efeito, quando chegar a hora da traição e Jesus se retirar para rezar no
Getsémani, terá próximos precisamente Pedro, Tiago e João, e pedir-lhes-á que
vigiem e rezem com Ele (Mt 26, 38). Eles não conseguiram fazê-lo, mas a graça
de Cristo sustentá-los-á e ajudá-los-á a acreditar na Ressurreição.
Hoje,
a teologia interpreta que o dom do Filho de Deus é a encarnação, com a
plenitude de amor revelada e comunicada por Jesus no convívio com os discípulos
e as multidões. Jesus, nascido de Maria, humano e divino, é portador da
imortalidade e da glória.
Somos
convidados a ter a experiência, já, da glória de Deus, no amor fraterno. "Nós vimos a sua
glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único" (Jo
1,14b).
O
Evangelho da Transfiguração liga-se à Paixão, pois tira os discípulos do
escândalo da Cruz, dando-lhes a visão da futura glorificação pascal. Refletindo
o tema da Aliança e Transfiguração participamos desta realidade. A obediência
de Jesus deu-lhe a vitória. A meta do cristão é a transfiguração de sua
fragilidade pela obediência da fé.
Com sua Transfiguração, Jesus mostra em síntese sua obra messiânica, mas também
suas perspectivas; os efeitos de seu messianismo não são um privilégio para um
grupinho fechado, imagem das três tendas; deve ser anunciado para o mundo todo,
mas somente quando Jesus o indicar.
Somos
transfigurados por Cristo a partir do Batismo e da presença do Espírito
Deus prova Abraão pedindo o sacrifício de Isaac. A Jesus é oferecida a Cruz.
Abraão e Jesus deram a resposta de aceitação da vontade de Deus.
Somos
instigados a responder com fé, mesmo tendo que sacrificar nosso Isaac, nossos
caprichos. Sem isso jamais teremos uma fé que seja redenção. Na Eucaristia
renovamos a aliança e somos transfigurados.
A tentação mais frequente nas tarefas da evangelização é nos sentirmos
satisfeitos quando tudo sai bem, quando uma comunidade empreendeu o caminho por
onde pensamos que deve andar; geralmente paramos aí, sem nos dar conta da
inércia a que estamos conduzindo a comunidade.
A
comunidade de Marcos tem que esclarecer este ponto; não pode viver da
satisfação de ter encontrado o sentido de sua vida ou de sentir-se já de acordo
com o querer de Jesus e seu Evangelho; quer dizer, não pode ficar fechada em
“três tendas”; a missão é grande e universal.
A
comunidade e cada fiel têm hoje que percorrer este mesmo caminho, esclarecendo
quem é Jesus, sem omitir que antes de sua glorificação definitiva, Jesus tem de
passar pela cruz; não esquecer que “o Ressuscitado é o Crucificado”.
Portanto
é preciso abandonar as comodidades e enfrentar o mundo que nos espera,
necessitado de amor, esperança, solidariedade, justiça e
paz.
O
episódio da transfiguração de Jesus deixa a mensagem que são Paulo em plenitude
viveu, tendo podido assegurar: Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim."
(Gl 2,20).
Trata-se
da mudança radical do cristão no modelo divino. Imitação perfeita do Filho de
Deus, cujo conhecimento não deve ser meramente especulativo e cujo amor tão
pouco não pode ser apenas afetivo.
Tanto
os estudos sobre a pessoa de Cristo como a fé no Redentor necessitam estar
unidos às obras nas quais se reflete a personalidade de cada um.
Conhecimento
prático, amor operativo. Ele é a causa eficiente da regeneração do batizado e a
causa exemplar de sua santificação, modelo de todos os que se dizem seus
discípulos.
Cristo se fez um modelo acessível e atraente, perfeito e abrangente. Os
cristãos podem transfigurar sua vida se identificando com Ele: pobres, ricos,
sábios e ignorantes e isto em qualquer circunstância dado que Ele a todos
resgatou, deu a vida sobrenatural e lhes comunica seus dons celestiais.
Ele
manifesta uma ética geral e uma disciplina universal de conduta para que se
proceda como Ele agia, para que se viva como Ele vivia, para que se sofra como
Ele sofria. Ele quer se fazer presente no mundo através de seus discípulos.
O
Apóstolo dizia: “Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo” (1 Cor 4,16).
Deste modo o fiel se torna a imagem viva do seu Senhor.
Jesus sempre presente nas palavras, nas obras, no coração e na mente de cada
um. Cristo o ideal da vida do batizado, o objeto de suas aspirações, o imã de
seus corações. Para isto é cada um se interrogar a cada instante: Que pensaria
Jesus neste momento? Como Ele faria esta tarefa? Que quer Ele de mim aqui e
agora? Como o posso agradar neste momento?
Dá-se então o vir a ser do fiel no seu Salvador numa total identificação com
Ele no gotejar da renúncia de cada minuto. O próprio Cristo afirmou: “Vós sois a luz do
mundo” (Mt 4,14).
O
grande significado da transfiguração é a revelação aos discípulos de que para
estabelecer o reino de Deus é necessário passar, com grande coragem, pelos
sacrifícios que a vida nos reserva.
Nunca
os discípulos teriam percebido este plano divino se não tivessem escutado o
Filho de Deus e fossem iluminados pela luz da Páscoa, pela experiência de Jesus
Ressuscitado.
Do
mesmo modo nós podemos iludir-nos de que a transição deste mundo - onde o
sofrimento, as contrariedades, as desilusões e as injustiças são constantes -
para a glória do Reino possa ocorrer sem a doação e sacrifício da própria vida.
Não
somos o fogo que deve arder nesta terra, mas devemos ser os propagadores de sua
chama de amor, dado que Ele é a fornalha ardente de caridade e veio para
colocar chama na terra (Lc 12,49).
Grandeza e responsabilidade do cristão! Depende de cada um fazer da vida uma
interrogação, um chamado sempre susceptível de ser ouvido por todos as
testemunhas que o vêem. É a imponderável ação de uma alma sobre a outra.
É
se transfigurando em Cristo que o cristão pode tornar os homens melhores. Com
seu exemplo, mesmo sem palavras, o verdadeiro seguidor de Cristo já torna seu
irmão melhor.
Onde
uma pessoa boa, submissa a Deus vive, reza, sofre, trabalha... há uma lareira
de calor sublime que aquece, arrasta nos eflúvios das mensagens celestes.
Fomos
convidados a procurar os sinais que nos apontam para a verdadeira vida.
Reconhecemos que a transfiguração é antecipação da ressurreição, mas que esta
pressupõe a morte.
Tenhamos
a força para enfrentar as dificuldades e tribulações desta vida e saibamos
ouvir Jesus, para nos podermos transfigurar na esperança de alcançarmos o Reino
de Deus.
Que a intercessão de Maria, nossa Mãe, nos ajude a percorrer com fé e generosidade o caminho desta Quaresma.
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