15 fev - Realizando as obras de Deus em silêncio, sem confiar nos homens e nem em nós mesmos, mas cheios de esperança nos auxílios sobrenaturais, tudo se encaminhará para o bem. (L 95). São Jose Marello
Lucas 9,22-25
"- O Filho do Homem terá de sofrer muito.
Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos
mestres da Lei. Será morto e, no terceiro dia, será ressuscitado.
Depois disse a todos:
- Se alguém quer ser meu
seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para
morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios
interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a
si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira. O que adianta alguém ganhar o
mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira e ser destruído?"
Meditação:
No Evangelho de hoje, Jesus tem uma mensagem muito séria. Primeiro
fala do sofrimento que Ele mesmo vai passar, por toda a rejeição, negação, humilhação,
morte, e por fim, ressurreição.
O centro do evangelho de Lucas, bem como o de Marcos, é marcado
pela revelação da identidade de Jesus. Jesus rejeita ser identificado com um
messias ("cristo") restaurador do reinado de Davi. É chegado o
momento de deixar isto claro.
O anuncio da paixão, por parte de Jesus a seus discípulos, não é
apenas um episodio pontual e passageiro, que fica no tempo e no espaço, mas um
verdadeiro itinerário de vida.
A entrega da vida não se faz de um momento para outro, mas implica
percorrer um caminho de fidelidade à missão do Pai. A morte de cruz é a plena
manifestação da missão cumprida, da vida entregue e do amor doado “até as
últimas conseqüências”.
Por isso, a proposta de Jesus é exigente, radical e sem meias medias. Não se
pode ser cristão, discípulo, missionário de Jesus se não se está disposto a
entregar a vida minuto a minuto para que a obra de Deus seja transparente no
mundo.
A salvação integral e total da humanidade passa, necessariamente, pela doação
oblativa da própria vida. Tampouco se trata de fazer ações espetaculares e
fantásticas.
Às vezes uma existência ofertada em silencio e na simplicidade de
vida ordinária fala mais forte e é mais efetiva para que o Reino de Deus se
faça presente na sociedade e no mundo. Você está disposto a percorrer este
caminho?
“Maldita seja a cruz!”
Esta frase, atribuída ao bispo Casaldáliga, é dirigida às cruzes impostas por
uma sociedade injusta sobre os ombros sobrecarregados do povo pobre. Denuncia a
injustiça, e também a resignação à qual foi levado o povo para justificar o julgo
que lhe impunham os poderosos.
Não é esta a cruz que Jesus nos convida a levar. Pela contrário, a cruz que
Jesus quer que abracemos é a sua própria cruz.
Ela nos é dada quando nos empenhamos a trabalhar para acabar com a
cruz dos crucificados pela maldita opressão e injustiça.
Por isso, o anúncio da paixão é acompanhado de uma proposta de
vida, realizada no seguimento de Jesus, que não termina na morte, mas na
ressurreição.
Quem não compreende o Messias crucificado não compreende a missão de Jesus.
Porém, quanto nos custa aceitar a cruz como força de vida!
A religião do poder e a facilidade da lei do menor esforço nos
atraem muito mais. Por elas deixar e só deixar-se levar comodamente observando
as normas de um culto estabelecido, no qual tramitamos sem sobressalto. Que o
evangelho nos ajude a despertar de nossa modorra espiritual e de nossa
indiferença!
A propósito, é sempre bom lembrar que Deus não nos tira em momento algum o
direito de escolhermos o que queremos para nossa vida. Mas o tempo passa e as
coisas do mundo ao qual muito vezes nos apegamos, também passam.
Então, chegará o momento em que nos restará o amor verdadeiro, o
primeiro amor, o amor de Deus e a única boa opção será a escolha pela vida
eterna, pela salvação e nossa santificação junto a Deus nos céus.
Aí, então, é que nos será concedido a vida que entregamos a Deus,
a vida que renunciamos pelas coisas do alto. Se a tivermos entregue sempre
a Deus, ela estará intacta e herdaremos o Reino, mas se ela tiver ficado o tempo
todo em nossas mãos e longe do alcance de Deus como é que nossa vida estará?
Quem assume o anúncio e a luta libertadora despertará,
necessariamente, a ira dos poderes constituídos, que procurarão destruí-lo.
Porém, Jesus revela que ao "humano" foi dada, por Deus, a vida
eterna.
Quem quiser unir-se ao destino de Jesus, renuncie ao sucesso e à
glória do status social e econômico. E não fuja das adversidades e dos
sofrimentos que os poderes político e religioso lhe imporão.
Renunciemos a tudo e a todos por Deus e nos entreguemos a
Ele, pois, sua promessa é CERTA e não falha.
Reflexão Apostólica:
Certa vez, um integrante da Pastoral Familiar trouxe-nos um
questionamento bastante pertinente, mais ou menos com estas palavras: “Por que estou fazendo jejum? O que
quero mudar? E o que preciso deixar Deus dominar, que não estou conseguindo? O jejum precisa transformar a vida,
submeter o corpo à oração, combater a gula, que é causa de muitas paixões
desordenadas (…)”. O
compromisso deve repercutir em algum tipo de mudança inclusive quando me
comprometo a abdicar de algo.
Na Quaresma, nossa igreja oferece e investe algumas formas de
meditar ou buscar nosso eu interior. O jejum, a mortificação, (…), que muitos
procuram desmerecer e até mesmo fazer chacotas, advém de três aspectos importantes:
o voto, o propósito e a
promessa.
Não é apenas deixar de comer algo ou diminuir a ingestão de alguma
coisa, mas abandonar-se. “(…) se alguém quer ser meu seguidor,
que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer
como eu vou morrer e me acompanhe”
Essa mortificação não visa maltratar o corpo, mas provar pra nós
que estamos aptos e dispostos a também nos sacrificar para que algo mude ou se
realize, pois encostar as nádegas na cadeira, sentado, apenas pedindo, é
extremamente cômodo. A Quaresma nos permite um reencontro com nosso próprio
batismo, um reencontro com nosso ser cristão.
“(…) Queridos
irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do
jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a
redescobrir o nosso Batismo”. (Bento XVI)
O que ainda não estamos preparados para fazer é ver que algo surge
de bom mesmo que o pedido não tenha dado certo. Quando fazemos uma nova
faculdade, a outra não ficou perdida, pois o conhecimento se integra ao novo
saber, portanto o sacrifício de hoje, mesmo aos olhos de alguns, desnecessário,
faz alicerçar em nós colunas de maturidade na fé.
O que ganho com a fé?
“(…) Então os
discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsar este
demônio? Jesus respondeu-lhes: Por causa de vossa falta de fé. Em verdade vos
digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha:
Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível. Quanto a
esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum”. (Mt
17,19-20)
Quaresma também me lembra coisas interessantes quem sempre
ocorrem:
Queremos fazer abstinência de carne e nos empanturramos de
bacalhau. Queremos abster de refrigerante e somos convidados para várias festas
de criança.
Queremos bater-papo com amigos (as), mas o tempo é propicio para o
silêncio, reflexão... Tentamos explicar, mas não dá certo! Já preciso
confessar de novo, pois meu pensamento não conseguiu ser domesticado ainda!
Quaresma é um tempo de respeito e sobriedade e não de tristeza e
cara fechada! É tempo de renovar o que é velho e fazer um homem (mulher) novo
(a) renascer. É fazer tudo isso sem pensar em si mesmo, mas no bem maior que
esse ser renovado pode ajudar a construir na sua comunidade, na sua Equipe,
no seu grupo, na sua pastoral, em sua casa (…).
Viver a Quaresma é poder relembrar que alguém, um inocente
galileu, deu sua vida por aqueles que correram, se amedrontaram, se esconderam,
lhe negaram, lhe aclamaram, que viram seus milagres, que provaram do seu amor e
aos quais chamou de “Filhinhos”
(Jo 13,33). Tudo isso em troca de sua conversão e salvação, ou como diria o
papa, com a aceitação do seu batismo.
Portanto: Faça força! Empenhe-se! Proponha algo nesse período! Que
tal deixar de fumar? Que tal ser mais ético, honesto, educado e cortez nas
relações com as pessoas? Que tal cuidar mais da sua saúde, de seus
familiares e de todos aqueles que lhe procuram em busca de ajuda?
A proposta acima é apenas uma sugestão…
Propósito: Esquecer-se de si, abrir mão da própria vontade, do próprio orgulho. Encarar sua responsabilidade de ser sal da terra e luz do mundo, apesar das dificuldades (cruzes). Ter a consciência tranqüila e estar pronto para seguir Jesus.
Como
é gostoso quando conseguimos realizar um sonho, por mais simples que seja. Quer
paguemos à vista ou parcelemos, nos traz alegria comprar um novo smartphone,
por exemplo.
Mas,
poucos dias depois, ele cai, a tela “já era” e o custo do conserto é semelhante
ao preço de um novo. A alegria então termina e, quem sabe, pensamos: “Ah! tudo
o que é bom dura pouco”.
O rei Davi tinha tudo o que alguém na sua época poderia desejar: palácio, riquezas, roupas e comida boa. Mas a alegria dele era outra: “Tu, ó Senhor Deus, és tudo o que tenho” (Sl 16.5) e era duradoura: “Por isso o meu coração está feliz e alegre; porque tu, ó Deus, me proteges do poder da morte” (Sl 16.9-10).
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