11 fevereiro - Nossa Senhora de
Lourdes
A humildade de Maria Santíssima é quase infinita e não podemos
sequer imaginá-la. Ela se rebaixou tanto na humildade que só um Deus feito homem
pode superá-la. E, depois de Jesus Cristo, a criatura mais humilde foi
certamente Maria. (S 358). São Jose
Marello
MARCOS 1,40-45 (ANO B)
Naquele tempo, 40um leproso chegou perto de Jesus, e
de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. 41Jesus,
cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica
curado!” 42No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado.
43Então Jesus o mandou logo embora, 44falando
com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e
oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”
45Ele foi e começou a contar e a divulgar
muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade:
ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
***
Com a liturgia deste sexto domingo do tempo comum, concluímos a leitura
do primeiro capítulo do Evangelho segundo Marcos. Estamos acompanhando ainda os
primeiros passos do ministério de Jesus. O texto evangélico proposto, Mc
1,40-45, apresenta continuidade com o episódio anterior e, ao mesmo tempo,
novidade, de modo que podemos perceber uma certa evolução na atuação de Jesus,
com uma abertura cada vez maior em relação aos destinatários da sua ação
libertadora.
Até então, a atuação de Jesus tinha se desenvolvido no âmbito do espaço
urbano, ou seja, dentro da cidade de Cafarnaum: pregação na sinagoga (cf.
1,21-28) e cura na casa de Simão (cf. 1,29-34). Isso levou os discípulos à
tentação do comodismo, propondo a centralização e a fixação da atividade de
Jesus em um espaço delimitado, devido o aparente sucesso inicial (cf. 1,28.37).
Diante da proposta ridícula dos discípulos, Jesus propôs o contrário: “Vamos
a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi
para isso que eu vim” (cf. Mc 1,38). O evangelho de hoje mostra,
portanto, a ação de Jesus “em outros lugares”, comunicando vida e libertando,
já que era impossível encontrar-se com um leproso dentro da cidade, uma vez que
a lei determinava o seu isolamento: “Enquanto durar a sua enfermidade,
o leproso ficará impuro e, estando impuro, morará à parte: sua habitação será
fora do acampamento” (Lv 13,46). Podemos, então, perceber como a ação
libertadora de Jesus vai ganhando novas dimensões: sinagoga – casa – terreiro
da casa – outros lugares; assim, o universalismo do Reino já pode ser sentido.
Dizendo não ao comodismo dos discípulos, Jesus propõe a coragem para
arriscar-se e a disposição para conviver com as diferenças e viver ao revés das
regras de comportamento convencionais impostas pela religião e adotadas pela
sociedade como normas. O evangelho de hoje deixa isso muito claro, ao narrar o
encontro de Jesus com o leproso.
Olhemos para o texto: “Um leproso chegou perto de Jesus, e de
joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me” (v. 40). De
acordo com esse primeiro versículo, já percebemos um encontro de duas pessoas
rebeldes. Ora, de acordo com a lei, tanto Jesus quanto o leproso deveriam
evitar-se mutuamente, cada um se distanciando o máximo possível do outro. Nem o
leproso deveria se aproximar, nem Jesus deveria permitir que o leproso chegasse
perto. Porém, os dois resolveram transgredir, praticando ambos um gesto de
grande rebeldia.
Ao permitir que o leproso se aproximasse de si, Jesus conquista a sua
confiança. Com muita liberdade, o leproso faz um pedido em forma de confissão.
Na verdade, ele nem sequer pede a cura, apenas sugere que Jesus pode
purificá-lo. Infelizmente, a tradução litúrgica distorce um pouco o sentido do
texto trocando o verbo purificar por curar. O que o leproso deseja é ser
purificado. A melhor tradução seria: “Se queres, podes me purificar”.
Como se vê, não é propriamente um pedido, mas um reconhecimento da força de
Jesus. Assim, o leproso se torna modelo do verdadeiro crente: aquele que
expressa a sua necessidade, sem forçar, sem querer determinar o agir de Deus,
mas respeitando a sua liberdade: “se queres”. Ser purificado,
naquele contexto, significava voltar a ser reconhecido como gente; era se
libertar de todos os estigmas excludentes e segregadores que a lepra
comportava; era ser admitido novamente na convivência e na vida da comunidade.
Jesus não resiste ao necessitado que vai ao seu encontro. Por isso, diz
o texto que “cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu
quero: fica purificado!” (v. 42). Jesus quer que o homem
seja “purificado”, ou seja, readmitido à convivência humana, que ele saia da
situação de morte em que se encontra. Compaixão é a resposta de Deus às
situações de negação do seu projeto de vida; é um amor tão profundo, a ponto de
fazer “contorcer as vísceras”, quer dizer um amor que mexe com o
mais profundo do ser. Essa resposta nunca é apenas sentimental, mas é ação. É
interessante a descrição da ação: “estendeu a mão, tocou nele”. O
gesto de estender a mão significa o cumprimento de uma ação salvífica por
excelência: é Deus doando sua força em benefício do seu povo, tirando-o da
opressão, de acordo com a linguagem do Antigo Testamento (cf. Ex 13,16; Is
41,13; Sl 136,12; etc.); é prova do amor e cuidado de Deus para com a humanidade.
Tocar num leproso era um gesto extremamente proibido pela lei. Com esse
gesto, Jesus transgride com muita liberdade, ensinando que o bem do ser humano
está acima de qualquer preceito e doutrina. Movido por compaixão, tendo tocado
com a mão, Jesus sentiu de fato a necessidade daquele homem, e expressou em
palavras: “Eu quero: fica purificado”. E como as palavras de
Jesus são cheias de vida e de amor, eis que “no mesmo instante, a lepra
desapareceu e ele ficou purificado” (v. 43). Jesus anuncia palavras de
vida e libertação. Dizer que o leproso ficou purificado é o mesmo que dizer que
ele ficou apto para a convivência, foi reintegrado à comunidade, teve sua
dignidade restituída. Livrou-se de um estigma condenatório. Aqui, mais uma vez,
o evangelista usa o verbo “purificar” (em grego: καταριζω - katarízo); aliás, de acordo com o original, em nenhum momento
vem mencionada a palavra “cura”, nem o verbo “curar” nesse texto. Isso
evidencia ainda mais o interesse do evangelista pela dimensão social e
comunitária da ação de Jesus. O mais importante é despertar na comunidade do
evangelista e na comunidade cristã de todos os tempos a necessidade de promover
ações de restauração, inclusão e promoção da dignidade humana.
Ao transgredir a lei de maneira tão escancarada, Jesus passa a correr
riscos, mas não se intimida com isso. Na verdade, ele pede silêncio ao homem
que fora purificado por precaução de má compreensão na sua mensagem: “Então
Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém!” (v.
44a). Jesus tem pressa com a libertação das pessoas, por isso mandou logo o
homem ir embora; ora, certamente aquele homem já havia perdido muito tempo
segregado, excluído da convivência. Por isso, devia voltar o quanto antes para
a comunidade.
Jesus também não queria ser confundido com um milagreiro. Queria evitar
concepções triunfalistas a respeito da sua imagem e do seu messianismo. Por
isso, pediu que o homem não contasse nada a ninguém. Aliás, o chamado “segredo
messiânico” é uma das principais características de Marcos; a comunidade deve
esforçar-se o máximo possível para não apresentar uma imagem equivocada de
Jesus.
Além do silêncio, Jesus dá uma segunda ordem ou homem
recém-purificado: “Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua
purificação, o que Moisés ordenou, como prova contra eles!” (v. 44b).
Ora, alguns comentadores veem aqui uma certa obediência de Jesus aos preceitos
da lei, mas isso é um grande equívoco. O sacerdote tinha o papel de atestar se
a pessoa estava purificada ou não; porém, a lepra era considerada um mal sem
cura, era praticamente impossível alguém livrar-se dela, de modo que o leproso
era um “morto vivo”. Com essa ordem, Jesus está, na verdade, provocando os
sacerdotes e a religião da época, mostrando que a palavra final sobre a vida
das pessoas já não é mais a deles, mas a sua! Portanto, Jesus está
ridicularizando aquela religião ultrapassada; inclusive, o próprio texto deixa
muito clara essa ironia: “como prova contra eles!”. Jesus quer que
eles mesmos, os sacerdotes, reconheçam que já não tem mais autoridade sobre a
vida; o poder daquele sistema começava a desmoronar.
O pedido de silêncio que Jesus faz nunca é atendido: “Ele foi e
começou a contar e a divulgar muito o fato” (v. 45a). Jesus pede algo
quase impossível: como silenciar diante de maravilhas tão grandes, coisas nunca
antes vistas? Como não irradiar a felicidade de contemplar o Reino de Deus
sendo instaurado? Apesar do risco de distorção, o anúncio fluía com
facilidade: “Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa
cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham
procurá-lo” (v. 45b). Sobre essa parte conclusiva do texto, alguns
comentadores, também de modo equivocado, vêem mais uma ação de obediência à lei
da parte de Jesus; segundo eles, Jesus não entrava mais nas cidades porque
tinha ficado impuro por ter se aproximado do leproso. Essa interpretação é absurda,
considerando a capacidade, a necessidade e a liberdade que Jesus tinha de
transgredir a lei.
É verdade que a lei declarava que quem tocasse num leproso também ficava
impuro, mas Jesus não se prendia aos pormenores da lei, pelo contrário, fazia
questão de transgredir. Ele evitava as cidades e procurava lugares desertos
porque sua fama aumentava cada vez mais, o que ele não queria; e sua vida
começava a correr perigo. Esse afastamento se tornava providencial: quanto mais
longe dos centros de poder, mais pessoas impuras poderiam aproximar-se dele.
Quanto mais afastado das pessoas consideradas puras, mais os considerados
impuros chegariam perto. A religião segregadora expulsava os impuros para os
lugares desertos e afastados. Propositadamente Jesus ia a estes lugares levando
vida, amor, acolhimento, justiça e libertação.
Assim como a comunidade de Marcos, também nós, cristãos de hoje, somos
interpelados pelo evangelho a promover libertação, a colocar o bem do ser
humano acima de qualquer norma e doutrina. Para isso, é necessário ir sempre
aos outros lugares, aos desertos de hoje, as periferias existenciais, onde
estão aqueles e aquelas a quem a religião e a sociedade disseram que não tem
mais jeito, já não servem mais para nada. São essas pessoas que mais precisam
conhecer o Deus amoroso que Jesus revelou, e somente quem tem intimidade com
esse Deus pode acolher e compreender essas pessoas.
Sob pressão
Tudo parece normal à sua
volta: os mesmos problemas, a mesma rotina, os mesmos desafios e alegrias. Mas,
sem motivo aparente, a sua mente sente uma pressão constante e uma ansiedade
crescente testa os seus limites e a sua capacidade de lidar com as emoções.
Jesus, que já está preparando um lugar para nós na casa do Pai, nos diz: “Não
fiquem aflitos. Creiam em Deus e creiam também em mim” (Jo 14.1). Ele, que
conhece nossas incapacidades, imperfeições e batalhas internas, já garantiu o
nosso futuro. Então, acalme-se: ele está cuidando de você.
Oração: Senhor Jesus, às vezes sinto que não vou
suportar as pressões e inseguranças. Obrigado porque em ti encontro o caminho,
a verdade e a vida. Em ti posso descansar seguro. Em teu nome. Amém.
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