14 fev - Ainda que o corpo seja perseguido por mil perturbações, a alma deve estar sempre na presença de Deus, a quem devemos recorrer a cada momento para renovar as forças. (L 23). São Jose Marello.
Mateus 6,1-6,16-18
"- Tenham o cuidado
de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos
pelos outros. Se vocês agirem assim, não receberão nenhuma recompensa do Pai de
vocês, que está no céu.
- Quando você der alguma
coisa a uma pessoa necessitada, não fique contando o que fez, como os
hipócritas fazem nas sinagogas e nas ruas. Eles fazem isso para serem elogiados
pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua
recompensa. Mas você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isso de tal
modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo do que você fez. Isso
deve ficar em segredo; e o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará
a recompensa.
- Quando vocês orarem, não
sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas
esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é
verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando orar, vá para o
seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu
Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.
- Quando vocês jejuarem,
não façam uma cara triste como fazem os hipócritas, pois eles fazem isso para
todos saberem que eles estão jejuando. Eu afirmo a vocês que isto é verdade:
eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando jejuar, lave o rosto e
penteie o cabelo para os outros não saberem que você está jejuando. E somente o
seu Pai, que não pode ser visto, saberá que você está jejuando. E o seu Pai, que
vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa."
Meditação:
Começamos
o tempo da Quaresma. Tempo da Quaresma é tempo de conversão. Esta conversão
se dá por uma mudança profunda nos nossos valores, assumidos na sociedade
discriminatória em que vivemos, com sua compreensão do mundo. Supõe novos valores
e uma nova prática em vista de promover a vida plena para todos.
Em
alguns templos católicos talvez se faça longas filas para a imposição da cinza.
Talvez para muitas pessoas seja a única ocasião de participar de uma cerimônia
ou de um ato religioso, que pode durar pouco tempo e não passar de um gesto.
Para outros pode ser um motivo de superstição ou de costume tradicional de
família ou de ambiente social. E para você, o que significa esse gesto das
cinzas?
Vejamos o que diz a Palavra de Deus: Parece que para Jesus, segundo o evangelho
de Mateus, os sinais externos não tem nenhum sentido se não nascem do coração,
de uma “reta intenção”, de uma autêntica atitude de conversão, de um
compromisso real com o Reino de Deus.
A esmola, a oração e o jejum devem estar intimamente conectados com um
compromisso de vida que contribua para transformar o ambiente em que vivemos.
A solidariedade, a justiça, a honradez e o trabalho em favor da paz são expressão
de uma autêntica conversão que nasce do profundo do ser humano.
Em todo caso, tradicionalmente foi considerado, dentro do ano litúrgico, um
“tempo forte”, junto com o Advento e o tempo pascal. Um tempo com sua
peculiaridade própria, seu sentido de preparação da Páscoa, centro do ano
litúrgico.
O que há de diferente na Quaresma? O que deve representar em nós
esse tempo tão propício de reflexão e conversão? Que sentido devo adotar em
minha conduta nesses próximos quarenta dias? “Rasgar o coração e não as
vestes”!
Os Judeus, no tempo de Cristo, possuíam diversos métodos de
purificação da alma e da expiação dos pecados que ao longo do tempo foram se
modificando.
No entanto muitos chefes da lei tornavam esse momento de
purificação um “show a parte”, ou seja, uma vitrine de si mesmo. “(…) Tenham o cuidado de não praticarem
os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros”.
Jesus chamava a atenção para que esse tempo, costume e momento não
se desvirtuassem e que o verdadeiro motivo fosse preservado. O que fazemos da
quaresma hoje? Como a tratamos? O sentido dela ainda vive em nossa casa?
É importante frisar que viver a quaresma é também sentir na pele o
quanto Ele nos faz bem e não somente a resumindo em suprimir algum tipo de alimento
ou gosto. A quaresma só terá valor se ao final acontecer uma tomada de atitude
interior. Repare a Campanha da Fraternidade: que adianta tantas reflexões se ao
fim não haver uma mudança de pensamento?
E as cinzas? Como nossa liturgia é repleta de símbolos! Elas
também têm um significado.
Ao recebermos esse sinal em nossas testas, a igreja nos lembra que
tudo isso que vivemos passará, e um dia voltaremos a ser pó. Que nossas vidas
poderiam ser melhor aproveitadas em relação as pessoas e com nós mesmos. Que o
tempo e a juventude, hoje desprezados com coisas que pouco ou nada edificam,
poderá nos fazer falta um dia.
Andamos muito depressa para agora se preocupar com isso. Nem nosso
corpo consegue acompanhar nossos pensamentos. Estou aqui, mas minha cabeça já está
em outro lugar; acordo, tomo banho e minha cabeça já está no serviço; no
trabalho, já estou pensando na hora de buscar os filhos na saída da escola;
lendo isso, já estou imaginando o que farei em seguida (…).
Na Quaresma somos convidados a diminuir o ritmo para que
corpo e mente se encontrem. Entender que em paralelo a isso, caminha o reino de
Deus e a renovação da esperança, que esperam por aqueles que, na velocidade
certa, consigam vê-lo e apreciá-lo.
“Convertei-vos e crede no evangelho”! Esse é um tempo favorável!
Reflexão Apostólica:
Lembram-se desse ditado: "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento…
"? Ele se refere a pessoas que são supérfluas, que não são sinceras, que
aparentam ser uma coisa, mas são outra na realidade.
Ninguém gosta de pessoas que têm essa conduta, nem Jesus, por isso ele exorta
seus discípulos a não se deixarem levar pelo Velho Farisaísmo que se preocupa
muito com aquilo que as pessoas vão pensar a meu respeito, e que por isso,
sempre querem posar de “bonzinhos”, cristãos exemplares, só que aqui há um
problema muito sério. As pessoas só nos vêm por fora, mas Deus nos vê por dentro.
Vende-se uma imagem falsa, daquilo que não se é,
Isso chama-se propaganda enganosa, e na relação com as pessoas até que a gente
consegue, mas com Deus não tem jeito, somos o que somos….
Qualquer prática religiosa deve exteriorizar algo que está no mais íntimo de
nós, lá em nosso coração, aliás, isso é o mais importante, diz esse evangelho,
pois um salmo muito bonito diz que Deus nos conhece quando estamos sentados ou
em pé, de frente e por trás, no alto da montanha ou no fundo do abismo, estamos
sempre diante dele.
Deus nos pede sinceridade e coerência naquilo que fazemos, principalmente em
nossas práticas religiosas, tudo tem que sair do coração, a oração, o jejum e a
esmola, feitos para Deus e não para os homens.
Claro que hoje em dia os cristãos não ficam nas praças públicas rezando em alta
voz para que todos o vejam, mas há certas orações bem arrogantes, aquelas nas
quais determinamos a Deus o que e como queremos.
Quanto a esmola, o problema é o modo como a damos, se não sabemos o nome da última
pessoa que ajudamos, nem quem é ela, nem como chegou aquela situação, pode ter
certeza de que Deus nem tomou conhecimento dessa esmola, “Eu estava no pobre e você não me
reconheceu”, há certas esmolas que damos apenas para nos vermos
livres de quem pede.
E o Jejum, há algo que possamos hoje em dia dizer sobre ele? Sim, o jejum que
agrada a Deus é aquele em que, afirmamos com a nossa atitude, que nossa maior
necessidade é TER DEUS em nossa vida, o resto a gente pode se virar… e um
segundo ponto, quando o nosso jejum é solidário com quem nada tem, sendo
precedido de uma obra de caridade na promoção humana, aliás, se o Jejum não
estiver ligado á oração e a esmola, de nada valerá…. sendo um puro Farisaísmo…
Em
todas as circunstâncias façamos então a opção singela pelo silêncio. Seria essa
a síntese do evangelho do dia de hoje?
Ao
rezar, que nossa oração chegue ao céu como a fumaça do incenso que sobe; ao
construir um prédio, não esperemos ganhar um apartamento para lá morar. Ao dar,
não esperar pelo “obrigado”. No sofrimento, buscar um aprendizado…
Jesus,
mais uma vez, demonstra ter razão ao afirmar, em outro momento, que não estamos
ainda preparados para conhecer a verdade sobre a vida.
Sim, AINDA não suportaríamos hoje viver assim. Somos seres sociais, adoramos
contar o que acontece conosco e por vezes abusamos e nos vangloriamos; gostamos
de chamar atenção para nós; precisamos que o mundo e as decisões tomadas
gravitem ao redor dos nossos quereres e vontades…
Somos seres sociais e não gostamos de ficar sozinhos, detestamos o isolamento.
Alguns
chamam de auto-afirmação a necessidade que temos de sermos vistos; amamos
“tapinhas nas costas”. Precisamos ser lembrados até compramos presentes pra nós
mesmos por medo que ninguém se lembre do nosso aniversário.
Se nós, normais, sociais e sem medos, vivemos assim e ainda precisamos aprender
a fazer as coisas em silêncio, como será que é viver tendo medo do silêncio?
Uma criança que teme o escuro dorme com um abajur ou a TV ligado; um jovem
sozinho a noite em casa deixa o máximo de luzes acesas tentando não deixar
espaços escuros onde possam habitar fantasmas de sua própria imaginação.
Pessoas
que temem o silêncio não conseguem se afastar após longos anos liderando; não
conseguem ver o correto, para sempre ser necessária a sua opinião; quando
adoecem “publicam” o tamanho SUPER do que ela tinha; em suas orações aumentam
palavras e não dizem nada.
Temerosos do silêncio! Louvem sempre a Deus no tom que quiser e que sua
intimidade permitir, mas saiba que Ele não é surdo! NOSSA dor TALVEZ não seja a
metade da do vizinho; NOSSA fé TALVEZ seja a décima parte daquele que em
silêncio roga. NOSSA angústia DE REPENTE não é NADA perto daquele que realmente
tem um problema.
Se temos a Deus por que nos apegamos a recompensa? Por que ainda somos tão
imaturos na fé? Pagamos por um milheiro de uma graça alcançada, mas colaboro
concretamente com uma só palavra para que um irmão se salve. Se vendessem velas
de cem dias tenho certeza que seria um tremendo sucesso, mas como não se
indignar com quem toparia com isso, mas não consegue passar (em silêncio) uma
hora escutando a palavra numa missa dominical?
Aí do padre que não ler a intenção de dez anos e cinco dias pelo falecimento do
fulano de tal! Como diz um padre amigo: "Oh povo de chagas abertas!"
Deixemos no silêncio, que insistimos em NÃO fazer, Deus agir. “(…) Dizia também: O REINO DE DEUS é como um homem que lança a semente à terra. Dorme, levanta-se, de noite e de dia, e a semente brota E CRESCE, SEM ELE O PERCEBER. Pois a terra por si mesma produz, primeiro a planta, depois a espiga e, por último, o grão abundante na espiga. Quando o fruto amadurece, ele mete-lhe a foice, porque é chegada a colheita”. (Mrc 4, 26-29)
Oração: Pai, só te agradam as ações feitas na simplicidade e no escondimento. Que eu procure sempre agradar-te, enveredando por este caminho.
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