22 fev - Rezemos e curvemo-nos resignados diante da vontade do Deus Providência. (C 51). SÃO JOSE MARELLO
Mateus 16,13-19
17Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és
tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso,
mas o meu Pai que está no céu. 18Por isso eu te digo que tu és
Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno
nunca poderá vencê-la. 19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus:
tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares
na terra será desligado nos céus”.
No evangelho de Marcos, Jesus descarta este messianismo.
Mateus a valoriza diante da sua comunidade de discípulos oriundos do judaísmo.
Há também um destaque para a Igreja, o qual sugere que o texto tenha uma
redação tardia, quando a instituição eclesial já surgia e se consolidava. Mas a
narrativa adquire uma contradição no texto que a segue (Mt 16,20-23), com o
qual se articula.
Quando Jesus mostra-se humano e frágil, ameaçado pelas
perseguições, pelo sofrimento e morte em Jerusalém, Pedro o rejeita. Jesus lhe
dirige uma tripla censura: satanás, pedra de tropeço e não pedra da Igreja, e
ter em mente as coisas dos homens não as de Deus. Curiosamente, a tradição
marcada pela concepção de uma igreja imperial procura ocultar esta contradição.
Já
nas proximidades do final do ministério de Jesus na Galiléia, é obvio que sua
fama se havia estendido por toda a região; contudo, fica em Jesus uma dúvida: o
povo, as multidões que o tinham visto e ouvido, teriam compreendido quem ele
era na verdade? Onde estariam? Que teria sido feito deles? A que se estariam
dedicando tantas pessoas que o tinham escutado? Em que teriam influído sobre
cada uma delas a mensagem proclamada e os sinais realizados? E os Doze? O que
respondem?
Eles
estavam voltando de uma missão. Necessariamente deveriam ter ouvido as
diferentes opiniões e pareceres do povo. E, se não havia unanimidade de
opinião, ao menos os mais próximos, os mais íntimos de Jesus deveriam ter feito
já uma idéia exata sobre o que era seu Mestre. Pedro responde por todos. Para
eles, Jesus era o Messias de Deus, o Ungido.
A
pergunta é também feita a nós. Após 21 séculos de história de Jesus e do
cristianismo, freqüentemente o mundo dos fiéis ainda confunde sua figura,
mensagem e obra.
E
nós, cristãos comprometidos, que nos intitulamos seguidores próximos de Jesus,
temos a seu respeito uma imagem mais clara do que aquela feita pelo mundo, pela
sociedade, e até pela nossa Igreja?
O
Evangelho de hoje pertence a uma seção maior, que provavelmente se prolonga até
o v. 28. É dentro desse contexto que Pedro recebe a revelação de que Jesus é o
Messias.
Contudo,
o que Pedro vê em Jesus não é fruto de especulação, pois Jesus é o Messias
plenamente humano, a ponto de enfrentar a morte. Pedro, pedra sobre a qual
Jesus edificará a sua Igreja, torna-se pedra de tropeço (Satanás), porque não
pensa as coisas de Deus; ao contrário, está agarrado à mentalidade da sociedade
estabelecida, que espera um Messias glorioso e poderoso e, por isso mesmo,
rejeitará Jesus, levando-o à morte (vv. 21-23).
A
seguir, Jesus mostra as conseqüências para quem reconhece que ele é o Messias
(vv. 24-28). Em síntese, o reconhecimento de Jesus-Messias conduz ao testemunho
e à cruz.
O
processo de Pedro é um processo de conversão que o leva a identificar sua vida
com a do Mestre. O grande desafio é este: deixar de querer um Messias feito à
nossa imagem e semelhança para nos tornarmos discípulos à imagem e semelhança
de Jesus, Messias-servo (veja I leitura).
Jesus
e os discípulos estão no território de Cesaréia de Filipe, região habitada por
pagãos. Ela recorda o início da atividade de Jesus e seu objetivo primeiro
(4,12-17). Jesus leva seus discípulos para longe de Jerusalém, o centro do
poder político, econômico e ideológico.
Cesaréia
de Filipe é uma espécie de “periferia” e terra que espera um anúncio
qualificado acerca de quem é Jesus. É a partir dessa realidade, longe da
influên-cia ideológica do centro, que os discípulos são estimulados a dar uma
resposta plena sobre quem é Jesus. Grave pergunta: será que nós poderemos dizer
plenamente quem é Jesus se estivermos comprometidos com os centros de poder?
O
episódio tem dois momentos. No primeiro, Jesus pergunta aos discípulos o que as
pessoas dizem a respeito dele (v. 13). A resposta revela a diversidade de
opiniões, todas insuficientes para responder à pergunta: “Quem é Jesus?” Ele é
visto como simples precursor dos tempos messiânicos.
Percebe-se
que circula na sociedade uma imagem distorcida de Jesus, exatamente por causa
de sua humanidade. Ele se apresenta como “Filho do Homem”, título que o situa
no chão da vida de todos os mortais: ele é carne e osso como qualquer de nós.
Justamente
por isso é que começam as distorções: “Alguns dizem que é João Batista; outros,
que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias, ou algum dos profetas” (v. 14). De
acordo com essas opiniões – certamente importantes –, Jesus não ultrapassa a
barreira do velho, pois está simplesmente inserido na tradição profética.
No
segundo momento, Jesus interpela diretamente os discípulos que haviam visto sua
luta para implantar a justiça do Reino: “Para vocês, quem sou eu?” (v. 15).
A
resposta de Pedro mostra quem é Jesus: o Messias (Cristo), o Filho do Deus vivo
(v. 16). Essa resposta é um dos pontos altos do Evangelho de Mateus, cuja
preocupação é apresentar Jesus como o Emanuel (= Deus conosco) e o Salvador
(Jesus = Deus salva; 1,25).
Jesus
é a realização das expectativas messiânicas, o portador da justiça que cria
sociedade e história novas. Ele supera, portanto, a barreira do velho e
introduz a novidade.
Reconhecer
Jesus desse modo é ser bem-aventurado, porque assim o cristão mergulha no
projeto de Deus realizado em Jesus (v. 17). Ninguém chega a entender “quem é
Jesus” a não ser mediante o compromisso com suas propostas (a justiça do
Reino), que são as mesmas do Pai.
O
reconhecimento de Jesus não é fruto de especulação ou de teorias sobre ele, e
sim de vivência do seu projeto (prática da justiça). É com pessoas que o
confessam, como Pedro, que nasce a comunidade (v. 18a).
Essa
confissão é forte como a rocha. No entanto, não é fácil confessar. Jesus mostra
que a comunidade cresce e adquire corpo em meio aos conflitos (as portas do
inferno ou “o poder da morte”), nos quais forças hostis procuram derrubar o
projeto de Deus.
Jesus
confia grande responsabilidade de liderança a quem o confessa por Messias. Qual
é a função dessa liderança? Em primeiro lugar, conservar, em meio aos conflitos
decorrentes da prática da justiça, a firme convicção de que o projeto de Deus
vai triunfar (o poder da morte – a injustiça – não vai vencer).
A
primeira função do líder é, pois, manter de pé a esperança da comunidade em torno
da justiça que inaugura o Reino. E isso, evidentemente, não se faz só com
palavras.
Em
segundo lugar, mediante o contínuo processo de conversão-confissão, testemunhar
que a salvação e a vida provêm de Deus. O aspecto da conversão está bem
demonstrado nos vv. 21-23,
A
conversão de Pedro (e dos cristãos) consiste na conversão ao Cristo que sofre,
é rejeitado e morre por causa de sua luta pela justiça do Reino. Confessar é
aderir a ele, com todas as conseqüências que o testemunho acarreta.
Simão
Pedro – e com ele a maioria das pessoas – gostaria que Jesus fosse do jeito que
ele quer. O Mestre não é do jeito que nós imaginamos. Mais ainda, pelo fato de
ser o Mestre, quer que nós sejamos do jeito que ele é.
Jesus
realiza o projeto de Deus (é o Messias) num contexto de conflitos e violência,
passando pela morte e vencendo-a. Seu messianismo é uma luta constante em favor
da justiça do Reino e contra as injustiças que promovem a morte. E o cristianismo,
o que é? É o prolongamento da ação de Cristo que promove a justiça e a torna
possível.
O
poder de Jesus é um poder que comunica vida. Sua prática o demonstra. Seu nome
o comprova. Ora, ele quer como seus colaboradores aqueles que estão dispostos a
confessá-lo, pois com base nesse testemunho é que nasce a comunidade de Cristo
(“construirei a minha Igreja”). Jesus faz suas testemunhas participarem do seu
poder de vida (“darei as chaves do reino do céu”).
Os
projetos de morte têm poder, mas é um poder relativo. A comunidade de
testemunhas do Cristo, por seu lado, também possui poder, que é o mesmo do
Cristo. Quando o testemunho cristão é pleno, é o próprio Jesus quem age na
comunidade, permitindo-lhe ligar e desligar.
Contudo,
a comunidade não é proprietária do poder de Jesus. É ele quem construirá e dará
do que é seu. A comunidade administra esse poder mediante o testemunho que ela
vive e anuncia. Assim agindo, demonstra quem é a favor e quem é contra Jesus.
O
texto fala de Pedro e de sua liderança na comunidade. Qual é a função dessa
liderança? É ser o ponto de união da comunidade que Cristo edificou com sua
vida, morte e ressurreição. É organizá-la para que seja a continuadora do projeto
de Deus. É ser alguém que – à luz da prática do Mestre – leva a comunidade ao
discernimento e à aceitação daquilo que promove a vida e à rejeição de tudo o
que patrocina e provoca a morte.
Reflexão Apostólica:
O
centro do relato de hoje é a confissão de Pedro, afirmação de uma experiência
pessoal. Jesus dirige a seus discípulos uma dupla pergunta que tem como
objetivo fazê-los tomar uma posição sobre sua pessoa. A primeira pergunta diz
respeito ao que as pessoas pensam do Mestre. Isto é respondido sem dificuldade.
Entretanto, à segunda pergunta os discípulos não podem responder com os mesmos
critérios. Eles devem responder segundo sua própria experiência, segundo sua
convicção pessoal. Não se trata de uma simples opinião, mas uma verdadeira
resposta que expresse sua opção de vida.
Por isso a confissão de Pedro é importante, pois é uma confissão fruto de uma
revelação divina, quer dizer, de um processo de fé, de uma abertura à ação de
Deus através da Palavra anunciada pelo Mestre.
Esta abertura à ação divina de Deus (fé absoluta), representada na figura de
Pedro, é a base fundamental, é a pedra angular, o ponto de apoio da comunidade
de cristãos.
“E vós quem dizeis que eu sou?” Assim como nós, Jesus teve a necessidade de
saber quem era Ele para as pessoas, e, principalmente, para aqueles que com Ele
conviviam.
Ter
conhecimento de quem somos nós para o outro e principalmente para aquelas
pessoas que nos cercam é muito importante para a nossa realização pessoal.
Cada
um de nós tem uma missão muito especial aos olhos de Deus. Somos Seus
instrumentos na concretização do Seu Plano de Salvação. Simão foi aquele que,
inspirado pelo Espírito Santo, apontou a verdadeira identidade de Jesus. Foi
então que Jesus o conscientizou da sua missão aqui na terra, dando-lhe poder e
autoridade para ser chefe da Igreja fundada por Jesus Cristo. “Tu és Pedro”, no
nome, a missão.
Você
também diante de Deus tem um nome que designa uma missão muito especial. O que
poderá significar? Pergunte ao Espírito Santo! Você sabia que tudo o que você
fizer na terra, terá também repercussão no céu?
O verdadeiro discípulo deve ter clareza sobre a identidade de seu mestre. Pedro
respondeu sem vacilar, em nome dos companheiros, mas Jesus sabia que, embora
sua resposta fosse correta e Pedro merecesse felicitações por suas palavras,
contudo não tinha bem claro em que consistia o messianismo do Mestre.
Por
isso, a primeira coisa que Jesus faz é pedir a todos que não digam a ninguém
que ele é o Messias (Mateus 16, 20). Porque Pedro e os outros discípulos
achavam que o Messias teria de manifestar-se com as características
extraordinárias que a tradição judaica lhe tinha vindo atribuindo com o passar
dos anos.
Isso
pode ser comprovado pela reação que Pedro teve imediatamente após o anúncio
feito por Jesus a respeito de sua paixão e sofrimentos futuros em Jerusalém nas
mãos das autoridades judaicas (Mt 16, 21-22).
O
cristão que segue Jesus quer individualmente, quer na comunidade terá de
responder com freqüência à mesma pergunta de Jesus: Quem vocês pensam que eu
sou?
Movimentos
e grupos, ao longo do tempo, tiveram e continuam a ter diferentes aproximações
da experiência do Jesus histórico, das mais espiritualistas até as de um
materialismo absoluto. Tais extremos podem desumanizar Jesus, ao reduzi-lo a um
modelo unicamente espiritual e desencarnado, ou ao lhe aplicar características
aparentemente mais humanas, mas que não transcendem nem ajudam a transcender
aos homens e às mulheres de hoje.
Propósito:
Senhor Jesus, cria no meu coração o mesmo amor por ti e
por tua Igreja, que puseste no coração de Pedro e de Paulo, para que eu possa
sempre dizer: Creio na Igreja católica, una santa e pecadora, fundada por
Jesus Cristo para a nossa salvação. Quero sempre ser fiel à minha Igreja. Quero
servi-la, defendê-la, e respeitá-la, nunca fomentar a discórdia entre os seus
membros aos quais eu faço parte e pretendo assim continuar até o fim de minha
vida.
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