Quaresma: tempo de conversão
Conheça a origem do período da
Quaresma, por que é dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.
Autor: Redação MBC
Conheça a origem do período da Quaresma, por que é
dedicado à conversão e quais práticas orientam este tempo.
Cada tempo
litúrgico da Igreja convida-nos a dirigir nosso olhar para
Cristo e para a história da
nossa redenção. É fundamental recordar constantemente a presença de
Deus em nossas vidas e o imenso amor que Ele nos dedica. No entanto, responder
ao chamado divino demanda conhecimento e esforço; embora o desejo de eternidade
tenha sido inscrito em nós pelo próprio Deus, o pecado
original trouxe desordem, tornando desafiador alinhar esse
anseio ao que é bom.
A Quaresma, como tempo de conversão, representa a
oportunidade de mudar de rumo. Enquanto o Batismo marca
o primeiro momento dessa conversão, o pecado desvia-nos, tornando a conversão
um processo contínuo para toda a Igreja, “que contém pecadores no seu
seio.” 1 Neste artigo, exploraremos o significado da
Quaresma para os católicos, suas raízes bíblicas e as práticas que orientam
esse tempo litúrgico.
O que é a Quaresma?
O que é a quaresma para os católicos?
A Igreja, por meio do tempo litúrgico, guia os
fiéis pelo caminho de santidade, oferecendo a pedagogia necessária para que o
seu coração alcance o céu. Sendo assim, a Quaresma, para os católicos, é um
período de quarenta dias de preparação espiritual que antecede a celebração da
Páscoa — o ápice da nossa fé. O termo “Quaresma” deriva do latim quadragesima
dies, indicando o período de quarenta dias.
Este tempo sagrado é dedicado a práticas de
penitência, oração e caridade, possibilitando que os fiéis se aproximem mais de
Deus. O ideal é que nos dediquemos neste período a meditar ainda mais sobre a
Paixão de Nosso Senhor. Assim, por meio das práticas próprias deste tempo,
buscamos a morte do nosso homem velho. Isso quer dizer que lutamos para livrar
a nossa alma da desordem, do domínio do pecado. É, em resumo, o tempo oportuno
para a conversão.
Qual é a origem da quaresma?
A Quaresma teve seu início por volta do ano 350
d.C., quando a Igreja decidiu prolongar o período de preparação para a Páscoa,
originalmente de três dias, que permaneceram como o Tríduo da Semana Santa.
Reconhecendo a insuficiência desse curto tempo para a devida preparação, os
cristãos estenderam o período para 40 dias, inspirados por eventos
significativos nas Sagradas Escrituras associados ao número 40.
O povo hebreu vagou pelo deserto por 40 anos antes
de chegar à terra prometida. Nínive fez penitência por 40 dias antes de obter o
perdão divino. Tanto Elias quanto Jesus jejuaram por 40 dias, destacando a
importância desse período como uma intensa preparação para eventos marcantes na
História da Salvação. Assim, a Quaresma se fundamenta na tradição bíblica,
sendo um tempo especial de reflexão e conversão.
Quando começa a Quaresma?
A Quaresma começa oficialmente na Quarta-feira de
Cinzas, que ocorre 46 dias antes da Páscoa (40 dias de preparação mais os seis
domingos). Neste dia, os católicos participam da Santa Missa, e a imposição das
cinzas durante a liturgia serve como um sinal visível de humildade e
arrependimento. Além disso, este sinal recorda-nos da transitoriedade da vida e
da necessidade de voltarmos nossos corações para Deus.
Quando termina a Quaresma?
A Quaresma atinge seu ápice durante a Semana Santa,
que começa no Domingo de Ramos e culmina no Domingo de Páscoa. O Tríduo Pascal,
que compreende a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira Santa (Paixão do Senhor) e o
Sábado Santo (Vigília Pascal), é o coração desse período, enfatizando a paixão,
morte e ressurreição de Cristo. A Quaresma conclui-se oficialmente no Sábado
Santo, dando lugar à alegria da Páscoa, celebrando a vitória de Cristo sobre a
morte e o pecado.
Onde está a Quaresma na Bíblia?
Embora o termo “Quaresma” não seja explicitamente
mencionado na Bíblia, o período de 40 dias em preparação para a Páscoa tem
raízes bíblicas.
Antigo Testamento
No Antigo
Testamento, encontramos uma prefiguração da Quaresma nos 40 anos que
o povo hebreu passou no deserto antes de entrar na terra prometida. Este
período simboliza não apenas uma caminhada física, mas também uma jornada
espiritual de purificação e preparação.
Os israelitas comeram o maná durante quarenta anos,
até a sua chegada a uma terra habitada. Comeram o maná até que chegaram aos
confins da terra de Canaã. 2
Durante os 40 anos no deserto, o povo hebreu,
conforme descrito nos livros de Êxodo e Números, enfrentou desafios marcados
por murmurações 3 e desconfiança da liderança de
Moisés e das promessas de Deus. 4 Suas queixas resultaram algumas
vezes em punições da parte de Deus, a fim de que o povo se convertesse.
Mesmo diante da abundância do maná, a ingratidão
persistiu, revelando a importância de fazer penitência e retornar ao
Senhor. 5 Essas experiências moldaram a
caminhada espiritual do povo, destacando a necessidade constante de confiar em
Deus e se reconciliar com Ele.
O profeta Joel, também no Antigo Testamento, faz
referência à prática do rasgar o coração e não as vestes como um sinal de
arrependimento genuíno
“Rasgai os vossos corações, e não as vossas
vestes; voltai ao Senhor vosso Deus…” (Joel 2,13)
Esse gesto simboliza uma transformação interior
sincera, enfatizando que a verdadeira penitência vai além de atos
exteriores. Assim, no Antigo Testamento, vemos raízes profundas da Quaresma,
onde a peregrinação no deserto e o chamado à penitência se tornam lições
valiosas para os fiéis que, ao longo dos séculos, seguirão o caminho quaresmal
em preparação para a Páscoa.
Novo Testamento
No Novo
Testamento, a Quaresma encontra sua expressão máxima na narrativa da
tentação de Jesus no deserto. 6 Após seu batismo por
João Batista, Jesus retirou-se para o deserto, onde jejuou por 40
dias e 40 noites. Durante esse tempo, Satanás tentou desviá-lo do caminho da
obediência ao Pai.
Nessa ocasião, o demônio tenta o Cristo em três
ocasiões distintas. Primeiro, instiga Jesus a transformar pedras em pão para
satisfazer sua fome. Em seguida, sugere que Ele se lance do ponto mais alto do
templo, desafiando a proteção divina. Por fim, oferece a Jesus todos os reinos
do mundo em troca de adoração.
Estas tentações representam desafios fundamentais:
a busca por poder, a confiança em Deus e a resistência à sedução do mal. No
entanto, “Jesus repele esses ataques, que recapitulam as tentações de Adão no
paraíso e de Israel no deserto.” 7
Essa experiência simboliza a luta espiritual e a
renúncia característica da Quaresma. A resistência de Jesus à tentação destaca
sua vitória sobre o mal e serve como um modelo para nós durante este tempo. Ao
citar as Escrituras em resposta a cada tentação, Cristo revela a importância de
uma vida centrada na Palavra de Deus, indicando que a obediência e a confiança
nas Escrituras são fundamentais para resistir às tentações.
Assim, no Novo Testamento, encontramos não apenas a
origem, mas a exemplificação do propósito da Quaresma na preparação espiritual
e na vitória sobre as forças contrárias ao plano divino. Por isso, “Todos os
anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se
ao mistério de Jesus no deserto.” 8
Práticas espirituais durante a Quaresma
A penitência interior do cristão pode se manifestar
de diversas maneiras, com ênfase especial em três formas, de acordo com as
Escrituras e os Padres da Igreja: o jejum, a oração e a esmola, expressando a
conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. 9
Jejum
O jejum durante a Quaresma é um ato de renúncia
voluntária, fortalecendo a disciplina espiritual. Jejuar não é apenas abster-se
de alimentos, mas uma oportunidade para direcionar o foco para Deus,
alimentando a nossa alma. Jesus, ao jejuar por 40 dias no deserto, ensina sobre
a importância de “adquirir domínio sobre os nossos instintos e a liberdade
do coração.” 10
Além disso, a oração torna-se mais eficaz quando
acompanhada do jejum, pois esta prática contraria a nossa vontade e a educa,
contribuindo para fazer morrer o egoísta que há dentro de nós.
Esmola
Outra prática de caridade durante a Quaresma é a
esmola. Ela tem como base o princípio de ajudar os pobres e necessitados; é uma
das principais expressões de caridade fraterna e uma prática de justiça que
agrada a Deus. 11 No livro de Tobias, lemos que a esmola livra da
morte, apaga pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna. 12
Apesar de haver outros tipos de esmola, ela é
sobretudo material, podemos dar dinheiro, comida, roupa etc. Ela está ligada ao
jejum e à oração — próxima prática da qual falaremos. A esmola requer a renúncia
que obtemos pelo jejum e o desapego que vem da entrega a Deus na oração. Além
de ajudar o próximo, ela combate o pecado da avareza e fortalece as virtudes
teologais.
Oração
A oração, nosso elo direto com Deus, é uma prática
vital na vida cristã. Permanecer habitualmente na presença do Senhor é
fundamental. 13. Além de ser nosso guia, a oração eleva a alma a
Deus, buscando seu auxílio. 14 Todos os santos, cada um de maneira única,
cultivaram uma vida íntima com Deus por meio da oração.
A oração é ainda o alimento da alma, porque assim
como o corpo não pode sustentar sem alimento, assim, sem a oração, diz Santo
Agostinho, não se pode conservar a vida da alma. Como o corpo, pela comida,
assim a alma do homem é conservada pela oração. 15
Imaginar chegar ao céu sem uma vida de oração é
inconcebível, pois
quem reza, certamente se salva e quem não reza,
certamente será condenado. 16
Conclusão
Por fim, as práticas da oração, da esmola e do
jejum na Quaresma formam um elo inseparável, trazendo consigo grande
crescimento espiritual. Essas três práticas, quando caminham de mãos dadas,
tornam-se armas poderosas, orientando-nos não apenas durante a Quaresma, mas ao
longo de toda uma vida rumo à
santidade.
Boa coisa é a oração com o jejum, e melhor é a
esmola com a justiça do que a riqueza com iniquidade. 17
Que, ao adotarmos essas armas poderosas, nossa vida
espiritual seja marcada pela busca contínua da santidade e pela manifestação
prática do amor e da generosidade cristã.
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