03 fevereiro - Armemo-nos e armemo-nos logo! A oração, o desapego das
coisas passageiras, o zelo pela glória do Senhor, a fome e a sede de justiça, o
ardor em socorrer os necessitados, o espírito de sacrifício, de mortificação e
de penitência. Estas são as armas que devemos afiar, abraçando todos a mesma
bandeira, prontos para a mesma
convocação. Este é o exército permanente da Igreja, que nos
chamou a defendê-la contra os poderosos e numerosos inimigos. (L 26) São Jose Marello
São Marcos 6,30-34
Os apóstolos voltaram e contaram a Jesus tudo o que tinham feito
e ensinado. Havia ali tanta gente, chegando e saindo, que Jesus e os apóstolos
não tinham tempo nem para comer. Então ele lhes disse:
- Venham! Vamos sozinhos
para um lugar deserto a fim de descansarmos um pouco.
Então foram sozinhos de
barco para um lugar deserto. Porém muitas pessoas os viram sair e os
reconheceram. De todos os povoados, muitos correram pela margem e chegaram lá
antes deles. Quando Jesus desceu do barco, viu a multidão e teve pena daquela
gente porque pareciam ovelhas sem pastor. E começou a ensinar muitas coisas.
Meditação:
Todos nós, cada qual a sua maneira, somos chamados a dar uma
resposta frente a uma pergunta fundamental: Quem
é Jesus? Marcos também se depara com este questionamento. Sua comunidade,
que vivia um momento difícil e conturbado da história de Israel - o período
anterior à grande guerra de 70 - esperava um Jesus glorioso, revestido de
poder. Acreditavam que Ele logo viria e acabaria com as suas dificuldades. Para
isto, era necessário que apenas orassem.
O evangelho de hoje nos dá uma boa pista de como
respondermos à inquietação apresentada. Vamos ao texto:
Lembremo-nos de que esta narração deve estar ligada aos textos
anteriores e posteriores, para que possamos compreender melhor seu sentido.
Antes dela, Mc 6,6-13, já se diz que Jesus havia enviado os discípulos à missão
para fazer o que Ele faz, trazendo vida e esperança aos pobres e
marginalizados.
A ação dos discípulos faz com que aqueles que viviam afastados da
sociedade, discriminados e excluídos por esta, devido a uma lógica de poder e
de pureza, sejam novamente trazidos ao centro (curam enfermos).
Para aqueles que se encontram divididos ou em situação de divisão,
eles trazem a unidade possibilitadora de voltar a ser criativo (expulsam
demônios), fazendo-os o centro do projeto de Deus, tornando-se eles também
discípulos e profetas do mestre, que denunciam estas mesmas situações de
corrupção, injustiça e marginalização. Devolvesse-lhes o direito a ser gente, ter
esperanças e serem protagonistas da história (Mc 6,13).
Em contraste a este panorama Mc 6,14-29, apresenta um banquete do
poder. Este banquete, que alimenta alguns sobre a fome de muitos, traz a morte
e a injustiça. Mata-se um dos líderes do povo tentando matar sua esperança:
João Batista. E agora, quem será o novo líder?
A pericote seguinte começa a delimitar o modelo da liderança
de Jesus e a maneira como podemos identificá-lo. O versículo 30 começa nos
informando que os discípulos contam a Jesus o que haviam realizado (Mc 6,13).
Pegando a frase do Evangelho: "viu
a multidão e teve pena daquela gente porque pareciam ovelhas sem pastor",
Jesus atrai para si o título de pastor. Este atributo a Jesus, recebe a sua
justificação na observação do evangelista ao interpretar os sentimentos do
coração do Senhor vendo as multidões que O seguiam, Jesus se compadeceu delas,
teve pena.
Mestre desde o início da Sua missão convida os discípulos, a todos
manifestarem aos homens o amor de Deus por eles. E, em poucas linhas, podemos
ter o quadro da vida de Jesus com os Apóstolos e a multidão do povo: a
intimidade do Senhor com o grupo dos Doze em ordem à formação dos mesmos, a
atividade intensa da vida pública de Jesus e dos Apóstolos, o entusiasmo do
povo pelo Senhor, a sua disponibilidade apesar da fadiga, por fim, os
sentimentos profundos de Jesus perante esse povo, errante e faminto.
É assim que Deus olha para mim e para ti bem como para toda a tua
família e os homens no mundo inteiro. Deus deseja e quer que todos O procuremos:
Havia ali tanta gente,
chegando e saindo.
Embora com o desejo e a vontade de atender a todos, Jesus com os
apóstolos ele ressalta a sua necessidade de descanso, depois as tarefas
apostólicas. Para dize que também o missionário precisa de descanso.
Um tempo de retiro, de recuperação das energias, de intimidade com
Deus. Foi por isso que quando voltam empolgados com os resultados da missão, a
primeira reação do Mestre é convidá-los para uma retirada, para que possam
refazer as forças. Jesus tem critérios que não correspondem com o grande
critério da sociedade nossa – o da eficácia!
Para ele, os apóstolos não eram máquinas, mas em primeiro lugar
pessoas humanas, que necessitavam de ser tratados como tais. O trabalho – mesmo
o trabalho missionário – não é o absoluto. Jesus reconhece a necessidade dum
equilíbrio entre todos os aspectos da vivência humana.
Aqui há uma lição para muitos cristãos engajados hoje – embora
devamos nos dedicar ao máximo pelo apostolado, não devemos descuidar das nossas
vidas particulares, da nossa saúde, do cultivo de valores espirituais, da saúde
e do relacionamento afetivo com os outros.
Caso contrário, estaremos esgotados em pouco tempo, meras máquinas
ou funcionários do sagrado, que não mostram ao mundo o rosto compassivo do Pai,
mas que por dentro seremos ocos.
A missão de Jesus deve ser continuada nos discípulos. A primeira
impressão que se tem é a de que se findou a missão. Faz-se necessário, agora,
descansar. Porém, diante de um povo necessitado e marginalizado pelas autoridades,
que estão mais interessadas e preocupadas com suas leis injustas e ineficazes,
com seus rituais sem vida, do que com a miséria deste povo. Jesus utiliza justamente
esta necessidade do povo como critério de julgamento para o que
"pode" ou "não pode" ser feito. Jesus assume a tarefa de
acolhê-los e alimentá-los.
Frente à situação latente de um deserto em que não se pode viver
ou estar só, por estar repleto das necessidades do povo, Jesus muda de atitude:
tem compaixão. Aproxima-se e sente com este povo sua miséria e desejo.
Compreende e rechaça a lógica que o explora e sacrifica, fazendo abrir os olhos
para uma nova possibilidade: a partilha que advém da nova organização social
(Mc 6,35-44).
Fazendo isso Jesus, se mostra como pastor para um povo sem líder e
sem rumo. Esta perspectiva tem valor fundamental para Marcos: o pastor é aquele
que defende a vida de suas ovelhas, está com elas e as dá identidade própria.
Frente a um povo sofrido, oprimido e marginalizado por falsas lideranças, Jesus
se mostra como o verdadeiro líder: aquele que tem por projeto a igualdade. Como
Deus é o bom pastor de Israel, Jesus é o Deus que caminha conosco.
Nota-se, ainda, que Marcos diz que Jesus ensina (v. 34), porém não
nos relata tais ensinamentos. Isto parece indicar que descobriremos os
ensinamentos de Jesus ao olharmos para sua prática: ensinou a partilhar o pão,
para que todos sejam saciados e possa sobrar.... A lógica atual do mercado
prega o comprar, guardar para saciar. A lógica cristã do Reino deve basear-se
justamente no contrário: doar para sobrar.
O banquete da vida é aprendido no encontro com o mais necessitado,
tirando-o desta situação rumo à fraternidade. Não mais exclusão, injustiça ou
marginalização, mas a justiça de Deus: a cada um conforme a sua necessidade.
Quem come o banquete com Jesus jamais vai querer sentar-se à mesa
com Herodes... Em qual mesa estamos?
Reflexão Apostólica:
Os discípulos de Jesus voltaram da missão para a qual haviam sido
enviados e reuniram-se com Ele para contar tudo que lhes havia acontecido. Com
certeza deviam estar cansados, pois Jesus convidou-os a descansar com Ele em um
lugar deserto. No entanto, a multidão sedenta os seguia em busca de ajuda.
Jesus teve compaixão deles pois eram como “ovelhas sem pastor e
começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.” Apesar de todo cansaço e da hora
avançada Jesus motivava os Seus discípulos a perceberem a necessidade daquele
povo que buscava cura, libertação e paz
Hoje também, a multidão precisa de ajuda e, mesmo sem saber, ela
busca alguma coisa que possa preencher o vazio do seu coração. Somos chamados a
enxergar as necessidades dessa multidão e para isso, Jesus também nos forma.
Assim como fez com os Seus discípulos Ele também nos atrai a um
lugar deserto a fim de nos preparar para que sejamos pastores (as) das pessoas
desanimadas e sem esperança que estão ao nosso redor.
Com Jesus nós encontramos refrigério para a nossa alma e
aprendemos muitas coisas que nos são úteis, tanto para a nossa felicidade
pessoal como também, comunitária e familiar. Ele nos ensina a arte de viver
melhor em qualquer circunstância enfrentando todas as dificuldades.
Desse modo nós poderemos ajudar aquelas pessoas que ainda não O
conhecem e não têm ainda intimidade para ficarem a sós com Ele. Os melhores
ensinamentos da nossa vida nós os recebemos quando passamos por experiências de
dor e de sofrimento, com Jesus!
Ser pastor é saber dar testemunho de fé, de confiança no plano de
Deus e, assim, ser luz para o irmão que também passa por necessidade. Jesus
também, hoje, nos leva a descansar, refrigera as nossas dores e nos consola
para que também, possamos ser pastores que aliviam e que amparam as ovelhas
transviadas.
Você se sente pastor (a) de alguém ou espera que alguém venha
pastoreá-lo (a)? Você tem testemunhado as suas experiências de dor para
ajudar a alguém? Jesus já o (a) levou para o deserto? O que você tem
aprendido com Jesus?
Todos os momentos são bons para evangelizar, Jesus não os
desperdiça e inclusive muda o programado para ensinar, tudo porque se deixa
interpelar pela condição das pessoas e por saber o motivo pelo qual veio.
Serve-nos como modelo. O pastoreio era para o povo de Israel um tema muito
importante. Desde Abraão até o rei Davi, muitos dos grandes personagens tinham
sido pastores.
E a imagem do bom pastor estava introduzida na mentalidade do povo. O próprio
Deus era considerado o "pastor de Israel". Pelo descuido de muitos
sacerdotes do templo, de falsos profetas e de mestres que só exploravam o povo
e viviam às custas dos pobres, Deus promete enviar um pastor, como Davi, que
apascentará o povo segundo o coração de Deus.
Esse é Jesus! Como bom pastor, é toda ternura para com seus cordeiros e suas
ovelhas (não tem tempo nem para comer ou descansar), e vai até o extremo quando
se trata de defender o rebanho, pelo qual entrega sua vida. Ser como Jesus, ter
seu perfil e atitudes fez muitas pessoas serem generosas e valentes a ponto de
se lançaram ao mundo para trabalhar pelos que estavam sozinhos, tristes e
abandonados, imitando Jesus e os apóstolos, não tendo tempo sequer para comer
ou descansar. Somos assim?
Como vimos, o texto ressalta a compaixão de Jesus para com o povo
com uma característica específica: era um povo muito sofrido, rejeitado e
desprezado pelos chefes político-religiosos de então, que nem tinha tempo para
comer. E quando ele se retirava, o povo ia atrás dele. O que atraía tanta
gente?
Com certeza não foi em primeiro lugar a doutrina, nem os milagres,
mas o fato de irradiar compaixão, de demonstrar duma maneira concreta o amor
compassivo de Deus. Jesus não teve “pena” do povo, não teve “dó” dos sofridos.
Teve “compaixão”, literalmente, sofria junto, e tinha uma empatia com os
sofredores, que se transformava numa solidariedade afetiva e efetiva.
Este traço da personalidade de Jesus desafia as Igrejas e os seus
ministros hoje, para que não sejam burocratas do sagrado, mas irradiadores da
compaixão do Pai.
Infelizmente, muitas vezes as nossas igrejas mais parecem
repartições públicas do que lugares do encontro com a comunidade que acredita
no amor misericordioso de Deus e na compaixão de Jesus!
A frieza humana freqüentemente marca as nossas atitudes, pregações
e cuidado pastoral. Num mundo que exclui que marginaliza e que só valoriza quem
consome e produz o texto de hoje nos desafia para que nos assemelhemos cada vez
mais a Jesus, irradiando compaixão diante das multidões que hoje como nunca
estão como ovelhas sem pastor.
Propósito:
Pai, dá-me as disposições necessárias para eu realizar
bem a missão recebida de Jesus, tendo-o sempre como modelo.
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