07
abril - São muitos os tipos de pregação: em nossa casa às visitas; na casa dos
doentes às pessoas sadias; pelas ruas às crianças; aos adultos onde possível; a
todos em toda parte, com os olhos, com a boca, com a pessoa toda, com o
infalível "imitatores mei estote” sede meus imitadores e "luceat lux
vestra” resplandeça a luz de vossas boas obras. (L 23). São Jose Marello
João
20,19-31 SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA
"Naquele
mesmo domingo, à tarde, os discípulos de Jesus estavam reunidos de portas trancadas,
com medo dos líderes judeus. Então Jesus chegou, ficou no meio deles e disse:
- Que a paz esteja com vocês!
Em seguida lhes mostrou as
suas mãos e o seu lado. E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor. Então
Jesus disse de novo: - Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou,
eu também envio vocês.
Depois soprou sobre eles e
disse: - Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados de alguém,
esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados.
Acontece que Tomé, um dos
discípulos, que era chamado de "o Gêmeo", não estava com eles quando
Jesus chegou. Então os outros discípulos disseram a Tomé: - Nós vimos o Senhor!
Ele respondeu: - Se eu não vir o sinal dos pregos nas mãos dele, e não tocar
ali com o meu dedo, e também se não puser a minha mão no lado dele, não vou
crer! Uma semana depois, os discípulos de Jesus estavam outra vez reunidos ali
com as portas trancadas, e Tomé estava com eles. Jesus chegou, ficou no meio
deles e disse: - Que a paz esteja com vocês! Em seguida disse a Tomé: - Veja as
minhas mãos e ponha o seu dedo nelas. Estenda a mão e ponha no meu lado. Pare
de duvidar e creia! Então Tomé exclamou: - Meu Senhor e meu Deus!
- Você creu porque me viu? -
disse Jesus. - Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!
Jesus fez diante dos
discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes
foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E
para que, crendo, tenham vida por meio dele."
***
A exemplo do primeiro Domingo de
Páscoa, também no segundo domingo o evangelho é o mesmo para todos os anos: Jo
20,19-31. Este texto narra a continuação dos eventos envolvendo a comunidade de
discípulos no dia mesmo da ressurreição, e a sua quase repetição uma semana
depois. Para compreendê-lo melhor, é necessário recordar alguns elementos do
texto da liturgia do domingo passado, que apresentava a comunidade
completamente desnorteada, não apenas porque o Senhor e mestre fora morto, mas
porque até mesmo o seu cadáver parecia ter sido roubado (Jo 20,1-3). Naquela
ocasião, o evangelista dava sinais de uma nova criação, embora ainda estivesse
na fase do caos, simbolizado pelo escuro da madrugada (Jo 20,1). Três
personagens protagonizaram aquele relato: Maria Madalena, Pedro e o Discípulo
Amado; ambos fizeram a constatação do sepulcro vazio, mas somente um deles
interpretou, de imediato, a ausência do corpo como sinal da ressurreição: o
Discípulo Amado (Jo 20,8). Maria Madalena foi a segunda a acreditar, mas já
durante o dia, após confundir o Senhor com o jardineiro (Jo 20,16-18), porém
esse episódio já não constava no texto que fora lido no domingo.
Da madrugada do primeiro dia, a
liturgia de hoje passa para o anoitecer, como diz o texto: «Ao anoitecer
daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as
portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no
meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco’» (v. 19). Não obstante as
frustrações e decepções com o final trágico de seu líder, condenado e morto na
cruz, a reunião dos discípulos mostra que a comunidade está se recompondo, após
uma normal dispersão. Certamente, o anúncio de Maria Madalena – «Eu vi o
Senhor!» (Jo 20,18) – influenciou nesse processo de recomposição, junto à
fé do Discípulo Amado, ao constatar o sepulcro vazio em companhia de Pedro,
ainda na madrugada daquele dia. Embora se recompondo, a comunidade continuava
em crise, o que se evidencia pela situação de medo informada pelo evangelista.
Por “medo dos judeus” entende-se o medo das lideranças religiosas que
condenaram Jesus em conluio com o império. É típico de João usar o termo
“judeus” em referência aos líderes, e não a todo o povo. O medo é preocupante,
é um impedimento à missão; é fruto da angústia, da desilusão e do remorso de
alguns. O principal motivo do medo era a possibilidade clara de perseguição; os
discípulos temiam ter o mesmo final trágico do mestre, ou seja, a condenação à
morte de cruz.
Manifestando-se no meio dos discípulos,
o Ressuscitado inicia neles um processo de transformação, oferecendo o primeiro
antídoto ao medo: o dom da paz, que, nesse texto, não significa apenas típica
saudação dos judeus (shalom), mas o cumprimento de uma promessa que, por sinal,
responde às necessidades reais da comunidade acuada pelo medo. Ora, durante a
ceia, vendo seus discípulos angustiados (Jo 14,1), Jesus encorajou-os e
prometeu-lhes a paz: «Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz» (Jo
14,27a). Na verdade, todo este relato deve ser lido na perspectiva da dinâmica
promessa–cumprimento: a própria manifestação (aparição) do Ressuscitado à
comunidade é cumprimento de uma promessa: «Vou e volto a vós» (Jo
14,28), como também é a doação do Espírito Santo. O Ressuscitado não retorna ao
mundo para fazer um julgamento ou prestação de contas, mas para continuar a sua
obra, cumprindo suas promessas. O encontro com a paz de Jesus levanta o ânimo
da comunidade que parecia fracassada. Ele comunica a sua paz e, ao mesmo tempo,
reforça o modelo de comunidade ideal: uma comunidade igualitária e livre, tendo
um único centro: o Cristo Ressuscitado. É esse o significado do seu colocar-se
no meio deles. Para uma comunidade viver realmente os propósitos do Evangelho é
necessário, antes de tudo, que no centro do seu existir esteja o Ressuscitado;
é Ele o único ponto de referência e fator de unidade.
Na continuidade da experiência, diz o
texto que Jesus «mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se
alegraram por verem o Senhor» (v. 20). Ao mostrar as mãos e o lado, Jesus
mostra a continuidade entre o Ressuscitado e o Crucificado: trata-se da mesma
pessoa. Geralmente, esse gesto é interpretado apenas como uma demonstração
física da ressurreição: as chagas do Crucificado continuam no Ressuscitado. No
entanto, aqui, as mãos e o lado não são apenas as marcas da paixão; são os
sinais da identidade de Jesus de Nazaré que continuam no Cristo Ressuscitado,
porque é a mesma pessoa. E os principais traços da identidade de Jesus são o
serviço e o amor; foi isso que ele demonstrou em toda a sua vida terrena.
Portanto, Jesus diz, com esse gesto, que continua servindo e amando, e sua
comunidade deve também viver dessa forma. As mãos são sinais do serviço, e o
lado é sinal do amor, pois representa o coração. E a certeza da presença do
Ressuscitado faz a comunidade superar definitivamente o medo, passando à
alegria.
Já estabelecido como centro da
comunidade, «novamente Jesus disse: ‘A paz esteja convosco’» (v. 21a). A
paz é novamente oferecida, porque a passagem do medo à alegria poderia
tornar-se uma simples euforia nos discípulos; por isso a paz é doada novamente
para enfatizar a serenidade e o equilíbrio que devem existir na comunidade. Só
é possível acolher os dons pascais estando realmente em paz. Aqui, a paz não
significa alívio ou tranquilidade, mas sinal de liberdade e vida plena; é a
capacidade de assumir livremente as consequências das opções feitas. Tendo
plenamente comunicado a paz como seu primeiro dom, o Ressuscitado os envia,
como fora ele mesmo enviado pelo Pai: «Como o Pai me enviou, também eu vos
envio» (v. 21b). Ao contrário de Mateus e Lucas que determinam as nações e
até os confins da terra como destinos da missão (Mt 28,19; Lc 24,47; At 1,8),
em João isso não é determinado: «Como o Pai me enviou, também eu vos envio».
Jesus simplesmente os envia. Sem diminuir a importância da missão em sua
dimensão universal, João pensa na comunidade, em primeiro lugar. É essa a
primeira instância da missão, porque é nessa onde estão as situações de medo,
de desconfiança, de falta de entusiasmo, por isso é a primeira a necessitar da
paz do Ressuscitado.
O texto mostra, como sempre, a
coerência de Jesus: «E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
Recebei o Espírito Santo» (v. 22). Ora, ele tinha prometido o Espírito Santo
aos discípulos durante a ceia (Jo 14,16.26; 15,26). Ao soprar sobre eles, o
Espírito é comunicado e a promessa é cumprida. O evangelista usa o mesmo
verbo/gesto do relato da primeira criação do ser humano (Gn 2,7). O Evangelho
do domingo passado mostrava a nova criação em sua primeira fase; hoje, essa
criação chega ao seu ponto alto com o sopro de vida comunicado pelo
Ressuscitado. Nessa nova criação, o “Criador” já não age como um vigilante,
olhando de cima, mas se faz presente no meio da comunidade, deixando-se tocar,
vivendo como um igual entre as pessoas. O verbo soprar (em grego: έμφυσάω –
emfysáo) significa doação de vida. Assim, podemos dizer que Jesus recria a
comunidade e, nessa, a humanidade inteira. Ao receber o Espírito, a comunidade
se torna também comunicadora dessa força de vida. E é o Espírito quem mantém a
comunidade alinhada ao projeto de Jesus, porque é Ele quem faz a comunidade
sentir, viver e prolongar a presença do Ressuscitado como seu único centro. E
isso se faz através do amor e o serviço. Ao contrário da perspectiva de Lucas,
que aguarda para o dia de Pentecostes (cinquenta dias após a páscoa), em João o
Espírito Santo é doado no dia mesmo da ressurreição, o que parece mais lógico,
tendo em vista a situação da comunidade paralisada pelo medo. A força do
Espírito Santo era uma necessidade urgente para animar a comunidade.
O dom do Espírito Santo fortalece a
comunidade e lhe confere uma grande responsabilidade: «A quem perdoardes os pecados
eles lhes serão perdoados; a quem não perdoardes, eles lhes serão retidos» (v.
23). Por muito tempo, essa passagem foi usada apenas para fundamentar o
sacramento da penitência. Mas Jesus não está dando um poder aos discípulos, e
sim confiando-lhes uma responsabilidade: reconciliar o mundo, levar a paz e o
amor do Ressuscitado a todas as pessoas, de todos os lugares em todos os
tempos. Não se trata, portanto, de poder para determinar se um pecado pode ser
perdoado ou não. É a responsabilidade da obrigatoriedade da presença cristã
para que, de fato, o mundo seja reconciliado com Deus e, assim,
humanizado. Os discípulos têm a missão de ser comunicadores desse
Espírito em todas as realidades. Ora, Jesus fora definido pelo Batista como o
«Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1,29); para isso fora enviado
pelo Pai. E é à maneira do Pai que ele envia seus discípulos em todos os
tempos: «Como o Pai me enviou, também eu vos envio» (v. 21). Portanto, os
pecados são perdoados à medida em que o amor de Jesus vai se espalhando no
mundo, pelo testemunho dos seus discípulos e pela força do Espírito Santo.
Ficam pecados sem perdão, portanto, quando há omissão dos discípulos, quando
eles deixam de amar e servir à maneira de Jesus.
A comunidade não estava completa
naquele primeiro dia: assim como Judas não fazia mais parte do grupo, também
«Tomé, chamado Dídimo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus
veio» (v. 24). É necessário destacar algumas características desse discípulo,
considerando que ele foi bastante rotulado negativamente ao longo da história.
Ora, o motivo pelo qual os discípulos estavam reunidos com portas fechadas era
o medo. Provavelmente, Tomé não estava trancado com eles porque não tinha medo.
A evidência maior da coragem de Tomé aparece no relato da reanimação de Lázaro.
Jesus estava ameaçado de morte, e quando decidiu ir à Judeia, onde ficava
Betânia, a cidade de Lázaro, Tomé foi o único que se dispôs a ir para morrer
com ele: «Tomé, chamado Dídimo, disse então aos condiscípulos: ‘Vamos também
nós, para morrermos com ele!’» (Jo 11,16). Por isso, ele não tinha nenhum
motivo para esconder-se. Essa sua coragem foi ofuscada pelo rótulo de
incrédulo. Quanto à fé no Ressuscitado, a diferença de Tomé para os demais
deve-se ao intervalo de uma semana. Não estava reunido no primeiro dia e não
acreditou no testemunho da comunidade: «Os outros discípulos contaram-lhe
depois: ‘Vimos o Senhor!’. Mas Tomé disse-lhes: ‘Se eu não vir a marca dos
pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a
mão no seu lado, não acreditarei’» (v. 25). Não dar credibilidade ao testemunho
da comunidade foi o grande erro de Tomé, mas ao exigir evidências da
ressurreição, ele agiu como os demais. Ora, à exceção do Discípulo Amado, o qual
viu e acreditou logo ao contemplar o sepulcro vazio (Jo 20,8), os demais também
só acreditaram após a manifestação do Senhor entre eles.
E mesmo sem acreditar ainda na
ressurreição pelo primeiro anúncio dos companheiros, Tomé se reintegrou à
comunidade. Assim, «Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente
reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus
entrou, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco’» (v. 26). Embora
a reunião ainda aconteça às portas fechadas, o medo não é mais mencionado;
certamente, fora superado, graças à paz e ao Espírito Santo comunicados pelo
Ressuscitado comunicados no primeiro dia. Também é importante indicativo
temporal «oito dias depois»; essa expressão significa uma semana depois; é
explícita a referência ao domingo – o qual pode ser contado como o primeiro ou
o oitavo dia da semana – como dia de reunião dos discípulos, como sinal de que
a comunidade cristã já não está mais presa aos esquemas do judaísmo, e não
necessita mais do sábado para fazer a sua experiência com o Senhor. Temos aqui
um dado claro de ruptura entre a comunidade cristã e a sinagoga, embora nas
primeiras décadas, por falta de clareza, muitos cristãos frequentavam as duas
reuniões: a da sinagoga, no sábado, e a da comunidade de discípulos no domingo,
na casa de um dos membros da comunidade. Mas o texto deixa claro que, no final
da última década do primeiro século, dada provável da redação deste evangelho,
o domingo já estava consolidado como o dia de reunião e encontro da comunidade.
O Senhor se pôs de novo no meio dos
discípulos, com a presença de Tomé, conferindo novamente o dom da paz, sem o
qual a comunidade não se sustenta. Assim como fez com os demais, uma semana
antes, também a Tomé Jesus dá os sinais da sua identidade de
Ressuscitado-Crucificado, que só sabe servir e amar: «Depois disse a Tomé: ‘Põe
o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu
lado. E não sejas incrédulo, mas fiel!’» (v. 27). Quando, assim como os demais,
Tomé teve certeza da ressurreição, superou aos demais na intensidade e na
convicção da fé; provavelmente, não tocou as mãos e o lado, como aparece na
maioria das pinturas. Certamente, não precisou disso. É mais provável que tenha
se jogado aos pés de Jesus, com essa solene declaração de fé: «Tomé respondeu:
‘Meu Senhor e meu Deus!’» (v. 28). Essa é a mais profunda profissão de fé de
todos os evangelhos. Jesus já tinha sido reconhecido como Mestre, como Messias,
Filho de Davi, Filho do Homem e Filho de Deus, mas como Deus mesmo, essa foi a
primeira vez. Com isso, o evangelista ensina que não importa o tempo em que
alguém adere à fé; o que importa é a intensidade e a convicção dessa fé. Neste
sentido, Tomé é o discípulo modelo.
Ainda sobre Tomé, diz o evangelista que
ele era chamado Dídimo (em grego: Δίδυμος – dídimos), cujo significado é gêmeo.
No entanto, o evangelista não apresenta o irmão gêmeo de Tomé, mas deixa no
anonimato. E os personagens anônimos do Quarto Evangelho têm função
paradigmática para a comunidade e os leitores de todos os tempos. Na verdade, o
primeiro gêmeo de Tomé é o próprio Jesus, não biologicamente, mas
teologicamente. Daí o convite aos leitores e discípulos de todos os tempos a
também tomarem Tomé como irmão gêmeo: questionador, corajoso, atento, sincero,
perspicaz e convicto. É claro que se ele estivesse com a comunidade logo no
primeiro dia, teria antecipado a sua profissão de fé. Mas é importante ser
prudente e esperar, principalmente nos tempos atuais, com tantas visões, aparições
e falsas certezas imediatas. Se muitos(a) videntes dos tempos atuais,
assumissem a sua consanguinidade com Tomé, ou seja, se o reconhecessem como
gêmeo, teríamos um cristianismo mais evangélico e autêntico, com mais convicção
e menos fantasia.
A bem-aventurança proclamada por Jesus:
«Bem-aventurados os que creram sem terem visto» (v. 28), reflete a preocupação
do evangelista com as novas gerações de discípulos, após a morte dos apóstolos
e das demais testemunhas de primeira hora. Os novos membros da comunidade
joanina eram muito questionadores e chegavam a duvidar do anúncio, exigindo
provas concretas da ressurreição. Por isso, o evangelista quis responder a essa
realidade, mostrando que não há necessidade de visões e aparições; basta
integrar-se a uma comunidade de fé para experimentar a presença do
Ressuscitado. Na verdade, o evangelista usou Tomé como personagem simbólico da
transição entre duas fases distintas na vida da comunidade: a geração dos que
viram pessoalmente o Senhor, e a dos que aderiram a ele pela fé e o
anúncio-testemunho. E não há supremacia de uma sobre a outra. O que importa é
crer, o que significa plena adesão ao Evangelho. A presença do Ressuscitado
pode ser verificada quando uma comunidade tem o serviço e o amor como sinais distintivos;
a ausência desses sinais significa que o Ressuscitado não é o centro da
comunidade.
Os versículos finais mostram que esse
texto é a conclusão original do Evangelho de João: «Jesus realizou muitos
outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Mas
estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus,
e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome» (vv. 30-31). Aqui está também a
chave de leitura para todo o Evangelho: a promoção da vida; vida que para ser
plena de sentido necessita do encontro com Jesus, o Cristo, o Ressuscitado que
foi crucificado. O objetivo do Evangelho, portanto, é despertar a fé de pessoas
e comunidades no Cristo que viveu para servir e amar. Animada pelo dom do
Espírito Santo, a Igreja, em todos os tempos só pode se apresentar como
pertencente a Jesus Cristo, o Filho de Deus Ressuscitado, com mãos abertas para
servir e um coração capaz de sangrar por amor à humanidade. O capítulo seguinte
(c. 21) é um acréscimo posterior da comunidade para responder a uma outra
necessidade: o resgate da imagem de Simão Pedro, que tinha ficado bastante
comprometida na comunidade devido à negação e outras incoerências; e para
mostrar que sempre há a possibilidade de reabilitação e admissão à comunidade,
não obstante os momentos de infidelidade e incoerência.
A comunidade reunida é o lugar
privilegiado de manifestação do Ressuscitado. Não importa o tempo e o lugar da
adesão à fé; o que importa é acolher a paz que o Ressuscitado oferece e viver animado(a)
pelo Espírito que ele transmite. E que o esse mesmo Espírito ajude a
reconhecê-lo nos crucificados de sempre, ao longo da história: os pobres,
feridos e marginalizados nas mais diversas situações. A fé no Ressuscitado é
autêntica, de fato, quando há disponibilidade para de amar e servir, como ele
fez. A exigência de Tomé foi, na verdade, uma advertência do evangelista: o
seguimento de Jesus exige que se toque em feridas. Tocar as feridas das pessoas
necessitadas, sanando suas dores, é fazer experiência com o Ressuscitado.
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