Jesus na Sagrada Eucaristia – Tradição milenar e
ininterrupta dos cristãos.
O primeiro anúncio da Eucaristia: No Evangelho de
São João, capítulo 6, Jesus após multiplicar pães e peixes, andar sobre as
águas e parar os ventos, mostrando aos apóstolos que tem poder sobre toda a
matéria, proclama:
Jesus
lhes disse: Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que
crê em mim nunca mais terá sede. (Jo 6, 35)
Alguns protestaram contra as palavras de Cristo:
Os
judeus murmuravam, então, contra ele, porque dissera: “Eu sou o pão descido do
céu”. (Jo 6, 41)
Mas Jesus reafirma:
Eu
sou o pão da vida. Vossos pais no deserto comeram o maná e morreram. Este pão é
o que desce do céu para que não pereça quem dele comer. Eu sou o pão vivo
descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a
minha carne para a vida do mundo. Os judeus discutiam entre si, dizendo: “Como
esse homem pode dar-nos a sua carne a comer?” Então Jesus lhes
respondeu: “Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne
do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no
último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu
sangue é verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o
meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e
eu vivo pelo Pai, também aquele que de mim se alimenta viverá por mim, Este é o
pão que desceu do céu. Ele não é como o que os pais comeram e pereceram; quem
come este pão viverá eternamente”. (Jo 6, 48-58)
Diante destas palavras do Senhor, narra o
Evangelho:
Muitos
de seus discípulos, ouvindo-o, disseram: “Essa palavra é dura! Quem pode
escutá-la?” (Jo 6, 60)
A
partir daí, muitos dos Seus discípulos voltaram atrás e não andavam
mais com ele. (Jo 6, 66)
Abandonaram Jesus, o sacramento sequer tinha sido
instituído e apenas os seus fundamentos já eram pedra de escândalo para os
primeiros seguidores de Cristo. Tal reação se estende até os dias de hoje,
quando se fala deste sacramento, as pessoas facilmente se escandalizam. Ficam
intrigadas que os católicos possam acreditar que em um pedaço de pão e em um
pouco de vinho esteja escondida a própria divindade, mesmo sabendo, muitas
vezes, que essa é a realidade que a Igreja vive desde o tempo dos apóstolos.
Como foi dito no início, um dia antes,
Jesus fez o milagre dos pães e dos peixes alimentando uma multidão – só os
homens eram cinco mil – com cinco pães e dois peixes; e depois que todos se
saciaram, os seus discípulos recolheram doze cestos de sobra. No dia seguinte,
esse milagre estava fresco na mente de todos que presenciaram (ou ao menos
deveria estar). Jesus tinha lançado os alicerces de sua promessa. Sabendo que
ia fazer uma tremenda exigência à fé dos seus ouvintes, preparou-os para ela.
Os
milagres da multiplicação dos pães – quando o Senhor disse a bênção, partiu e
distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão -,
prefiguram a superabundância deste pão único da Sua Eucaristia. (Catecismo da
Igreja Católica, CIC n. 1335)
Depois disso, a multidão saciada viu os discípulos
embarcarem sem Jesus, rumo a Cafarnaum, na única barca que havia. Nessa noite
Jesus andou sobre as águas e parou os ventos, atravessou andando as águas
tormentosas do lago e juntou-se aos seus discípulos na barca, e assim chegou
com eles a Cafarnaum.
Na manhã seguinte, a multidão não encontrou Jesus.
Desistiram de encontrá-lo e embarcaram também para Cafarnaum. Se surpreenderam
ao ver que Jesus havia chegado antes deles, sem ter subido à barca na noite
anterior! Foi outro milagre que Jesus fez para fortalecer a fé daquela gente (e
dos seus discípulos), pois ia pô-la à prova pouco depois.
Os discípulos e os que conseguiram entrar na
sinagoga de Cafarnaum, presenciaram ali, a promessa que hoje nos enche de
fortaleza e vida: Jesus prometeu a sua Carne e seu Sangue como alimento;
prometeu a Sagrada Eucaristia.
Se tinha poder para multiplicar cinco pães e com
eles alimentar cinco mil homens, como não havia de tê-lo para alimentar toda a
humanidade com um pão celestial feito por Ele?!
Se tinha poder para andar sobre as águas como se
fosse terra firme, como não havia de tê-lo para ordenar aos elementos do pão e
do vinho que lhe emprestassem a sua
aparência para utilizá-la como capa para a sua Páscoa?!
Apesar do “escândalo” da transubstanciação, que
atravessa os séculos, não é possível interpretar de outra maneira estas
palavras de Jesus: “A minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu
sangue é verdadeiramente uma bebida”. Apenas a leitura desta passagem
bíblica já é o suficiente para eliminar a hipótese de que Jesus estava “falando
em parábolas”, como insinuam os protestantes da modernidade, visto
que até mesmo os primeiros protestantes no século XVI não negavam inteiramente
a presença real de Jesus na Eucaristia.
O próprio Lutero não negou inteiramente a presença
real de Jesus na Eucaristia. Admitia que as palavras de Jesus eram demasiado
terminantes para que fosse possível explicá-las de outro modo. Mas
Lutero queria abolir a Missa, bem como a adoração de Jesus presente no altar.
Por isso, tratou de resolver o seu dilema ensinando que, embora o pão
continuasse a ser pão e o vinho, vinho, Jesus se faz presente juntamente com as
substâncias do pão e do vinho, mas sustentava que Jesus está presente apenas no
momento em que se recebe o pão e o vinho; não antes nem depois. Assim, Lutero
rejeitava a doutrina como um todo, da presença verdadeira e substancial de
Jesus em 100% da Eucaristia, doutrina que havia sido seguida firmemente por
todos os cristãos durante mil e quinhentos anos.
Mas no terreno adubado por Lutero brotaram outras
confissões protestantes que foram recusando mais e mais a crença na presença
real de Jesus na Eucaristia. Para os protestantes da modernidade, o “serviço da
comunhão” não passa de um simples rito comemorativo da morte do Senhor; o pão
continua a ser pão e o vinho continua a ser vinho.
Nos seus esforços por eludir a doutrina da presença
real, teólogos protestantes procuraram mitigar as palavras de Jesus, afirmando
que Ele não pretendia que as interpretassem em seu sentido literal, mas apenas
espiritual ou simbolicamente. Mas é evidente que não se podem diluir as
palavras de Cristo sem violentar o seu sentido claro e definido. Jesus não
poderia ter sido mais enfático: A minha carne é verdadeiramente comida
e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Não há forma de dizê-lo com
mais clareza. No original grego, que é a língua em que São João escreveu o seu
Evangelho, a palavra do versículo 55 que traduzimos por “comer” estaria mais
próxima do seu sentido original se a traduzíssemos por “mastigar” ou “comer
mastigando”.
Tentar explicar as palavras de Jesus como simples
modo de expressar-se, nos leva a outro beco sem saída. Entre os judeus, que
eram aqueles a quem Jesus se dirigia, a única ocasião em que a frase “comer a
carne de alguém” se utilizava figurativamente era para significar ódio a
determinada pessoa ou perseguir alguém com furor. De modo parecido, “beber o
sangue de alguém” queria indicar que esse alguém seria castigado com penas
severas. Nenhum desses significados – os únicos que os judeus conheciam – se
revela coerente se os aplicarmos às palavras de Jesus.
Outra prova de peso, que confirma que Jesus quis
verdadeiramente dizer o que disse – que o seu corpo e o seu sangue estariam
realmente presentes na Eucaristia – está em que alguns dos seus discípulos o
abandonaram por terem achado a ideia de comê-lo demasiado repulsiva. Não
tiveram fé suficiente para compreender que, se Jesus lhes ia dar a sua Carne e
o seu Sangue em alimento, o faria de forma a não causar repugnância à natureza
humana. Por isso o abandonaram, “e já não andavam com ele”.
Jesus nunca os teria deixado ir-se embora se
esse abandono fosse simples resultado de um mal-entendido. Se Jesus
tivesse querido usar estas palavras somente em um sentido metafórico, falando
do “pão da vida” apenas como um símbolo ou uma representação, Jesus, que
conhece os corações humanos, vendo que muitos saíam e o abandonavam, teria se
explicado. Ele certamente teria dado outro sentido à Sua pregação, explicando
que as coisas não eram da forma como eles tinham entendido.
Muitas vezes antes tinha-se dado ao trabalho de
esclarecer as suas palavras, quando disse que era preciso nascer de novo, e lhe
perguntaram como é que um adulto podia entrar de novo no ventre de sua mãe (cf.
Jo 3,3 e segs.); pacientemente, Jesus esclareceu-lhe as suas palavras sobre o
Batismo.
Mas agora, em Cafarnaum, Jesus não esboça o menor
gesto para impedir que os seus discípulos o abandonem, nem ao menos disse que o
haviam entendido mal. Não pode fazê-lo pela simples razão de que o tinham
entendido perfeitamente e por isso o deixavam. O que lhes faltou foi fé. Jesus,
tristemente, teve que resignar-se a vê-los partir, o Senhor não voltou atrás,
não retirou nada do que disse e limitou-se a perguntar aos Doze:
Então,
disse Jesus aos Doze: “Não quereis também vós partir?”. (Jo 6, 67)
Tudo isto faz com que a afirmação da doutrina da
presença real esteja ineludivelmente contida na promessa de Cristo, por que, se
não fosse assim, as suas palavras não teriam sentido, e Jesus não falava por
enigmas indecifráveis.
O
primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio da
Paixão os escandalizou: Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode escutar?
(Jo 6,60). A Eucaristia e a Cruz são pedras de tropeço. É o mesmo mistério e
continua a ser motivo de divisão. Também vós quereis ir-vos embora? (Jo 6,67).
Esta pergunta do Senhor ecoa através dos tempos, como convite do seu amor a que
descubramos que só Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6,68) e que acolher na
fé o dom da sua Eucaristia é acolhê-Lo a Ele mesmo (CIC n. 1336).
Por mais que pareça pesada esta doutrina, ainda que
muitos não queiram crer, Jesus não a muda e indaga: “Querem também ir embora?”.
Assim procedia o Filho de Deus diante da incredulidade de Seus discípulos, e
assim procede a Igreja de Cristo até os dias de hoje:
Não
minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente
para com as almas. (Papa Paulo VI, Carta Encíclica Humanae Vitae, 25 de julho
de 1968, n. 29.)
A Igreja em toda Santa Missa obedece o Nosso
Salvador Jesus Cristo, e assim o fez em seus 2000 anos de história.
No Novo Testamento, há quatro relatos da
instituição da Eucaristia. São os de Mateus (26, 26-28), Marcos (14, 22-24),
Lucas (22, 19-20) e Paulo (1 Cor 11, 23-29). São João, que é quem nos conta a
promessa da Eucaristia (Jo 6), não se preocupa de repetir a história da
instituição deste sacramento. Foi o último Apóstolo a escrever um Evangelho, e
conhecia os outros relatos. Em seu lugar, decide transmitir-nos as belíssimas
palavras finais de Jesus aos seus discípulos na Última Ceia.
Eis aqui o relato da instituição da Sagrada
Eucaristia segundo São Paulo:
Com
efeito, eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi
entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse:
“Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim”. Do
mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova
Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de
mim.” Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice,
anunciais a morte do Senhor até que ele venha. (1 Cor 11, 23-26)
As suas palavras não podiam ser mais claras. “Isto”
queria dizer “esta substância que tenho em minhas mãos e que agora que começo a
falar é pão, e ao terminar não será já pão, mas o meu próprio corpo”. “Este
cálice” queria dizer “este cálice que agora que começo a falar contém vinho, e
ao terminar não será mais vinho, mas o meu próprio sangue”.
“Isto é o meu corpo” e “este cálice … É o meu
sangue”. Os Apóstolos tomaram as palavras de Jesus literalmente. Aceitaram como
um fato que a substância que ainda parecia pão era agora o Corpo de Jesus; e
que a substância que continuava a parecer vinho era agora o Sangue de Cristo.
Essa foi a doutrina que os Apóstolos pregaram à
Igreja nascente. Essa foi a crença universal dos
cristãos durante mil anos. No século XI, um herege chamado Berengário pôs em
dúvida a verdade da presença real, e ensinava que Jesus tinha falado apenas em
sentido figurado e, assim, o pão e o vinho consagrados não eram realmente o seu
corpo e o seu sangue. A heresia de Berengário foi condenada por três concílios,
e Berengário retratou-se do seu erro e voltou atrás. A doutrina da presença
real permaneceu indiscutida por outros quinhentos anos, até que no século XVI
chegaram Lutero e a reforma protestante.
Como já foi dito, Lutero não negou inteiramente a
presença real de Jesus na Eucaristia, porém, outros reformadores protestantes
foram mais longe que Lutero e acabaram por negar completamente a presença real.
Tanto eles como os teólogos protestantes que lhes sucederam sustentaram que,
quando Jesus disse: “Isto é o meu corpo” e “Isto é o meu sangue”, lançou mão de
um recurso de linguagem, e que o que queria dizer era: “Isto representa o meu
corpo” ou “Isto é um símbolo do meu sangue”. Na sua tentativa de alterar as
palavras de Cristo, tiveram que valer-se de todo tipo de interpretações
inverossímeis, mas deixaram sem resposta as razões realmente sólidas que provam
que Jesus disse o que queria dizer e quis dizer o que disse.
Sendo Deus, Jesus sabia que, em consequência das
palavras que ia pronunciar, milhões e milhões de pessoas lhe prestariam culto
sob a aparência de pão. Se não tivesse querido estar realmente sob essas
aparências, os adoradores prestariam culto a um simples pedaço de pão e
incorreriam no pecado de idolatria, e isto, certamente, não é coisa a que o
próprio Deus quisesse induzir-nos, preparando o cenário e utilizando obscuros
modos de falar.
Que os Apóstolos tomaram literalmente as palavras de
Jesus, é evidente, pois os cristãos creram desde os primórdios na
presença real de Jesus na Eucaristia, como veremos mais a frente. De
ninguém mais, além dos Apóstolos, poderiam ter obtido essa crença. E quem
melhor do que estes nos poderia dizer o que Cristo quis dizer? Os Apóstolos
estavam lá; podiam ter perguntado a Jesus – e certamente o fizeram – todas as
questões que lhes ocorressem sobre o significado das palavras que acabavam de
ouvir. Às vezes, tendemos a esquecer que os Evangelhos registram apenas uma
pequena parte do que se passou entre Jesus e os Apóstolos. Compilar três anos
de diálogo, de perguntas e respostas, de ensinamentos, requereria um montão de
livros.
Quando, na noite da Quinta-feira Santa, Jesus
pronunciou as palavras: “Isto é o meu corpo” sobre o pão, e “Isto é o meu
sangue” sobre o vinho, os Apóstolos tomaram essas palavras ao pé da letra, como
se prova claramente pela sua conduta posterior. Se Jesus lançou mão de uma
metáfora, se o que na realidade quis dizer era: “Este pão é como que um símbolo
do meu corpo e este vinho significa o meu sangue; portanto, cada vez que os
meus seguidores se reunirem e participarem de um pão e um vinho como estes,
honrar-me-ão e representarão a minha morte”; se foi isto o que Jesus quis
dizer, então todos os Apóstolos o entenderam mal. E, através da sua
interpretação errônea, toda a cristandade passou a adorar um pedaço de pão como
se fosse Deus, até que chegassem os protestantes só no século XVI.
É totalmente insensato pensar que Jesus pudesse
permitir que os seus discípulos caíssem num erro tão grave. Em outras ocasiões,
em muitíssimas outras ocasiões, e tratando-se de matérias muito menos
importantes que esta, Jesus corrige os seus Apóstolos quando o interpretam mal.
Para citar um só exemplo, no Evangelho de São Mateus (16, 6-12), Jesus diz aos
seus Apóstolos que estejam prevenidos contra o fermento dos fariseus e dos
saduceus. Eles pensam que lhes está falando de pão real, e cochicham entre si
que não têm pão. Pacientemente, Jesus, esclarece-lhes que se refere aos
ensinamentos dos fariseus e saduceus, não ao pão que se come. Em outras
ocasiões, quando Jesus se serve de metáforas, o próprio escritor sagrado nos
esclarece o respectivo significado, como na ocasião em que Jesus disse: Destruí
este templo e eu o reedificarei em três dias, e João explica imediatamente que
Ele se referia ao templo do seu corpo (cf. Jo 2, 19-22). Encontramos incidentes
parecidos em grande abundância nos Evangelhos, e, no entanto, querem agora
fazer-nos crer que, no momento solene da Última Ceia, Jesus utilizou modos de
dizer novos e estranhos, sem se darem ao trabalho de explicar qual era o seu
significado.
Porque são modos de dizer novos e estranhos. Nem o
pão é um símbolo natural do corpo humano, nem o vinho um símbolo natural do
sangue. Se alguém cortasse uma fatia de pão e a oferecesse aos outros,
dizendo-lhe: “Isto é o meu corpo”, este pensaria logo que estava diante de um
gozador ou de um louco varrido. E é blasfemo tratar de aplicar a Jesus qualquer
das duas hipóteses.
Como recurso literário, só é válido lançar mão de
um modo de dizer quando o seu significado é claro. Esta clareza pode resultar
da natureza da afirmação, como quando mostro uma fotografia e digo: “É a minha
mãe”, ou digo de um cavalo veloz: “É um raio”; ou quando me ponho a explicar o
sentido da metáfora; por exemplo, quando coloco uns fósforos sobre a mesa e
digo: “Esta é a minha casa, e aqui está a sala de jantar”. Mas, nem pela
natureza da afirmação, nem por explicações dadas, as palavras “Isto é o meu corpo”
fazem sentido como metáfora.
A ideia de que Jesus teria falado em metáforas na
Última Ceia torna-se ainda mais incrível se tivermos em conta que se dirigia a
homens que, na sua maioria, eram uns pobres e incultos pescadores. Não tinham
sido educados nas sutilezas da retórica. Mais ainda, antes de o Espírito Santo
ter descido sobre eles, assombram-nos pelo seu lento entendimento das coisas.
Temos um exemplo na passagem da ressurreição de Lázaro. Lemos em São João (11,
11-14) que, quando Jesus disse: “O nosso amigo Lázaro dorme, mas vou
despertá-lo”, os discípulos replicaram: “Senhor, se dorme, curar-se-á”. Então
Jesus disse-lhes claramente: “Lázaro morreu”. Eram mentalidades difíceis para
lhes falar em metáforas!
Outra indicação de que Jesus não falava em metáforas
ao instituir a Eucaristia, vemos nas palavras com que São Paulo conclui o seu
relato da Ultima Ceia, nos advertindo sobre o perigo de tomar indignamente o
corpo e o sangue do Senhor:
Eis
porque todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor
indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Por conseguinte,
que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice,
pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a
própria condenação. (1 Cor 11, 27-29)
É duro dizer que um homem se torna réu do Corpo e
do Sangue do Senhor, que come e bebe a sua própria condenação, se o pão não é
mais do que pão, mesmo que seja pão bento, e o vinho não é senão vinho, mesmo
que seja um vinho sobre o qual se tenham pronunciado umas orações. Se
fosse um ato meramente simbólico ou representativo como dizem os protestantes,
por que de tal advertência tão séria de São Paulo quanto à condenação?
Nós, certamente, não necessitamos de provas como as
que aqui se esquematizaram para crer na presença real de Jesus Cristo na
Sagrada Eucaristia. Cremos nessa verdade não por provas racionais, mas,
primordialmente, porque a Igreja de Cristo, que não pode errar em matérias de
fé e moral, assim no-lo diz. Mas sempre é útil conhecer as dificuldades com que
tropeçam os que procuram interpretações pessoais nas palavras de Nosso Senhor.
Lembremos que fazer uso do livre exame das
escrituras e tirar conclusões pessoais – que contradizem a legítima
interpretação das escrituras ensinada pelo magistério da Igreja – é perigoso e
pode levar à ruína:
Isto
mesmo faz ele em todas as suas cartas, ao falar nelas desse tema. É verdade
que em suas cartas se encontram alguns pontos difíceis de entender, que
os ignorantes e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a
sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo-o de antemão,
precavei-vos, para não suceder que, levados pelo engano desses ímpios, venhais
a cair da vossa firmeza.(2 Pe 3, 16-17)
Nós preferimos seguir a regra da sensatez que diz
que, para conhecer o significado de uma coisa que se disse, não há melhor
caminho do que perguntar a quem a ouviu ou que estava lá. Os Apóstolos estavam
lá; os primeiros cristãos, os que escutaram a pregação dos Apóstolos, em certo
sentido estavam lá. Mesmo nós, que herdamos uma tradição ininterrupta,
em certo sentido estávamos lá. Independentemente de ser um dogma definido pela
Igreja, preferimos crer nos ensinamentos dos Apóstolos e na crença
unânime que tiveram os cristãos durante os primeiros mil e quinhentos anos,
em vez de prestar ouvidos aos ensinamentos desencontrados dos reformadores
protestantes que chegaram no século XVI. Homens como Lutero, Karlstadt, Zwingli
ou Calvino exigem demasiado quando nos pedem para crer que durante quinze
séculos os cristãos permaneceram no erro e que, de repente, eles, os
reformadores protestantes, encontraram a resposta certa.
Vejamos um pouco do que a Igreja sempre ensinou no
decorrer de toda sua história:
Esforçai-vos,
portanto, por vos reunir mais frequentemente, para celebrar a
Eucaristia de Deus e o seu louvor. Pois quando realizais frequentes
reuniões, são aniquiladas as forças de Satanás e se desfaz seu malefício por
vossa união na fé. Nada há melhor do que a paz, pela qual cessa a guerra das
potências celestes e terrestres. (Santo Inácio de Antioquia, †107,
bispo e mártir)
Os
fiéis bebem diariamente do cálice do Senhor,
para que possam também eles derramar o seu sangue por Cristo. (São Cipriano de
Cartago, †258, Epístola 56, n. 1, em tempo de perseguição aos
cristãos)
Na
Eucaristia está presente “in nuce”, de um
modo incoado, a realização do plano salvífico universal de Deus: com Cristo
ressuscitado faz-se presente a nova criação, os novos céus e a nova terra, a
nova humanidade. Com efeito, na transfiguração gloriosa de Jesus Cristo já se
havia inaugurado a renovação escatológica do mundo: no Senhor ressuscitado, o
“eschaton” – Aquele que representa as realidades últimas – já está presente o
oitavo dia, a eternidade que se manifesta no presente, fazendo com que saboreemos
já o que iremos encontrar na vida eterna. (São Basílio Magno, †379,
De Spiritu Sancto, 27, 66: SCh 17 bis, 237.)
Recebe
o corpo de Cristo; dize Amém e com zelo santifica os
olhos ao contato do corpo santo… Depois aproxima-te do cálice. Dize Amém
e santifica-te tomando o sangue de Cristo. (São Cirilo de
Jerusalém, †386)
O
Santíssimo Sacramento é fogo que nos inflama de modo que, retirando-o do altar,
espargimos tais chamas de amor que nos tornam terríveis ao inferno. (São
Gregório Nazianzeno, †389)
Deu-se
todo não reservando nada para si. Não comungar (tomar a Eucaristia)
seria o maior desprezo a Jesus que se sente “doente de amor”. (São
João Crisóstomo, †407, CT 2,4-5)
Nosso
Senhor nos concede tudo o que lhe pedimos na Santa Missa: o que mais vale é que
nos dá ainda o que nem sequer cogitamos pedir-lhe e que, entretanto, nos é
necessário. (São Jerônimo, †420)
A
Eucaristia é o pão de cada dia que se torna como remédio para a nossa fraqueza
de cada dia. (Santo Agostinho, †430)
A
virtude própria deste alimento divino é uma força de união que nos une
ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros a fim de que nos
transformemos naquilo que recebemos. (Santo Agostinho, †430)
Se
ele em pessoa declarou e disse do pão: “Isto é o meu corpo”, quem se
atreveria a duvidar doravante? E quando ele afirma categoricamente e
diz: “Isto é o meu sangue”, quem duvidaria dizendo não ser seu sangue? (São
Cirilo de Alexandria, †444, Quarta Catequese Mistagógica)
Outrora,
em Caná da Galileia, por própria autoridade, transformou a água em vinho. Não
será digno de fé quando transforma o vinho em sangue? Convidado às
bodas corporais, realizou, este milagre maravilhoso. Aos companheiros do esposo
não se concederá, com muito mais razão, a alegria de desfrutar do seu
corpo e sangue? (São Cirilo de Alexandria, †444, Quarta Catequese
Mistagógica)
Portanto, com
toda certeza recebemo-los como corpo e sangue de Cristo. Em forma de pão te é
dado o corpo, e em forma de vinho o sangue, para que te tornes, tomando o corpo
e o sangue de Cristo, con-corpóreo e consanguíneo com Cristo. Assim
nos tornamos portadores de Cristo (cristóforos), sendo nossos membros
penetrados por seu corpo e sangue. Desse modo, como diz o bem-aventurado Pedro,
“tornamo-nos participes da natureza divina”. (São Cirilo de
Alexandria, †444, Quarta Catequese Mistagógica)
Não
consideres, portanto, o pão e o vinho como simples elementos. São,
conforme a afirmação do Mestre, corpo e sangue. Se os sentidos isto te
sugerem, a fé te confirma. Não julgues o que se propõe segundo o gosto, mas
pela fé tem firme certeza de que foste julgado digno do corpo e sangue de
Cristo. (São Cirilo de Alexandria, †444, Quarta Catequese
Mistagógica)
Glória
ao remédio da vida. (Santo Efrém Sírio, †444)
A
comunhão reprime as nossas paixões: ira e sensualidade
principalmente. (São Bernardo, †1153, doutor da Igreja)
Fica
sabendo, ó cristão, que mais merece ouvir devotamente uma só missa do que
distribuir todas as riquezas aos pobres e peregrinar toda a terra. (São
Bernardo, †1153, doutor da Igreja)
Dos
sete Sacramentos da Igreja, o mais importante é a Eucaristia, porque
contém realmente o Cristo em pessoa, enquanto os outros contêm uma virtude
instrumental participada de Cristo. (Santo Tomás de Aquino, †1274, Suma
Teológica, III, q. 65, a. 3.)
O
martírio não é nada em comparação com a Santa Missa. Pelo martírio, o homem
oferece a Deus a sua vida; na Santa Missa, porém, Deus dá o seu Corpo e o seu
Sangue em sacrifício para os homens. Se o homem reconhecesse devidamente
esse mistério, morreria de amor. A Eucaristia é o milagre supremo do Salvador;
é o dom soberano do Seu amor. (Santo Tomás de Aquino, †1274)
A
Comunhão destrói a tentação do demônio. (Santo
Tomás de Aquino, †1274)
O
tempo passado diante do Sacrário (onde fica a hóstia consagrada, Eucaristia) é
o tempo mais bem empregado da minha vida. (Santa Catarina de Gênova, †1510)
Pela
consagração do pão e do vinho se efetua a conversão de toda a substância do pão
na substância do corpo de Cristo Nosso Senhor, e de toda a substância do vinho
na substância do seu sangue. (Concílio de Trento, de 1551 a 1552, Sessão XIII,
cap. 4, n. 877.)
Sem
a Santa Missa, que seria de nós? Tudo perecia neste mundo, pois somente ela
pode deter o braço de Deus. (Santa Teresa de Ávila, †1582)
A
devoção ao Santíssimo Sacramento e a devoção à Santíssima Virgem são, não o
melhor, mas o único meio para se conservar a pureza. Somente a comunhão é capaz
de conservar um coração puro aos 20 anos. Não pode haver castidade sem
a Eucaristia. (São Filipe Neri, †1595)
Duas
espécies de pessoas devem comungar com frequência: os perfeitos para se
conservarem perfeitos, e os imperfeitos para chegarem à perfeição. (São
Francisco de Sales, †1622, doutor da Igreja)
A
Missa é o sol da Igreja. (São Francisco de Sales, †1622, doutor da Igreja)
Jesus
Cristo na Santa Missa é médico e remédio. (Santo Afonso de Ligório, †1787)
Uma
alma não pode fazer nada que agrada a Deus mais do que comungar em estado de
graça. (Santo Afonso de Ligório, †1787)
Sem
a Missa, a terra já teria sido aniquilada, há muito tempo, por causa dos
pecados dos homens. (Santo Afonso de Ligório, †1787)
Cada
hóstia consagrada é feita para se consumir de amor em um coração humano. Se
conhecêssemos o valor do Santo Sacrifício da Missa, que zelo não teríamos em
assistir a ela. (São João Maria Vianney, †1859)
A
Sagrada Comunhão é a derradeira graça de amor, e nela Jesus Cristo se une
espiritual e realmente ao fiel, a fim de nele produzir a perfeição de sua Vida
e de sua Santidade. (São Pedro Julião Eymard, †1868)
Quereis
que o Senhor vos dê muitas graças? Visitai-o muitas vezes. Quereis que Ele vos
dê poucas graças? Visitai-o poucas vezes. Quereis que o demônio vos
assalte? Visitai raramente a Jesus Sacramentado (Jesus Eucarístico). Quereis
que o demônio fuja de vós? Visitai a Jesus muitas vezes. Quereis vencer o
demônio? Refugiai-vos sempre aos pés de Jesus. Quereis ser vencidos? Deixai de
visitar Jesus… (São João Bosco, †1888)
A
Eucaristia […] deve-se considerar como continuação e ampliação da encarnação.
(Papa Leão XIII, Carta Encíclica Mirae Caritatis, 28 de maio de 1902, n. 7.)
Eu
acredito que no Sacramento da Eucaristia está verdadeiramente presente Jesus
Cristo, porque Ele mesmo o disse, e assim no-lo ensina a Santa Igreja. (São Pio
X, †1914, Catecismo de São Pio X, n. 596.)
Jesus,
na Eucaristia, é penhor seguro da sua presença nas nossas almas; do seu poder,
que sustenta o mundo; das suas promessas de salvação, que ajudarão a que a
família humana, quando chegar o fim dos tempos, habite perpetuamente na casa do
Céu, em torno de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo: Santíssima
Trindade, Deus único. (São Josemaria Escrivá, †1975, Cristo que passa, n. 153.)
Cremos
que como o pão e o vinho consagrados pelo Senhor, na Última Ceia, foram mudados
no seu Corpo e no seu Sangue, que iam ser oferecidos por nós na Cruz, assim
também o pão e o vinho consagrados pelo sacerdote se mudam no Corpo e no Sangue
de Cristo glorioso que está no céu, e cremos que a misteriosa presença do
Senhor naquilo que misteriosamente continua a aparecer aos nossos sentidos do
mesmo modo que antes, é uma presença verdadeira, real e substancial. (cf.
Dz. Sch. 1651) […] Toda explicação teológica que procura
alguma inteligência deste mistério deve, para estar de acordo com a fé
católica, admitir que na própria realidade, independentemente do nosso
espírito, o pão e o vinho cessaram de existir depois da consagração, de
tal modo que estão realmente diante de nós o Corpo e o Sangue adoráveis do
Senhor Jesus, sobre as espécies sacramentais do pão e do vinho, conforme Ele
assim o quis, para se dar a nós em forma de alimento e para nos associar à
unidade do seu Corpo Místico. (cf. S. Th., III, 73, 3) […] A
única e indivisível existência do Senhor glorioso que está no céu não é
multiplicada, mas torna-se presente pelo Sacramento, em todos os lugares da
terra onde a Missa é celebrada. E permanece presente, depois do sacrifício, no
Santíssimo Sacramento, que está no Sacrário, coração vivo de cada uma das
nossas igrejas. E é para nós um dulcíssimo dever honrar e adorar na sagrada
Hóstia, que os nossos olhos vêem, o Verbo Encarnado, que eles não podem ver e
que, sem deixar o céu, se tornou presente no meio de nós. (Papa Paulo VI,
†1978, Profissão de Fé, Credo do Povo de Deus)
Este
pão é Jesus. Alimentar-nos dele significa receber a própria vida de Deus,
abrindo-nos à lógica do amor e da partilha. (São João Paulo II, †2005)
Esse
mesmo pão eucarístico, oferecido um dia por nós, é entregue sem interrupção
para que os homens, separados uns dos outros outrora mas chamados de novo
muitas vezes à unidade, em si descubram novo amor para com Deus e entre si novo
vínculo de fraternal amizade. (São João Paulo II, †2005)
Na
Eucaristia nós contemplamos o Sacramento desta síntese viva da lei: Cristo
entrega-nos em si mesmo a plena realização do amor a Deus e do amor aos irmãos.
Ele comunica-nos este seu amor quando nos alimentamos do seu Corpo e do seu
Sangue. (Papa Bento XVI)
A
Eucaristia é o nosso tesouro mais precioso. Ela é o sacramento por excelência;
introduz-nos antecipadamente na vida eterna; contém em si todo o mistério da
nossa salvação; é a fonte e o ápice da ação e da vida da Igreja. (Papa Bento
XVI)
Com
a comunhão Jesus nos dá forças […] aquilo que está sobre o
altar parece pão, mas não é propriamente pão, é o Corpo de Jesus. Jesus vem ao
nosso coração. Pensemos nisso, o Pai nos deu a vida, Jesus nos deu a salvação,
nos acompanha, nos guia, nos sustenta, nos ensina. O Espírito Santo, nos ama,
nos dá o amor. (Papa Francisco, 27 de Maio de 2013 – Paróquia de
Santa Isabel e São Zacarias, Roma – Santa Missa de Primeira Comunhão)
Ação
de graças é chamada de “Eucaristia” em grego. Por isso, o sacramento é chamado
de Eucaristia, é a ação de graças suprema ao Pai, que nos amou o
suficiente para nos dar o seu Filho. É por isso que o termo Eucaristia resume
aquele gesto, gesto que é de Deus e do homem juntos, um gesto de Jesus Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Por isso, a celebração da Eucaristia é
muito mais do que um simples banquete: é o memorial da Páscoa de Jesus, o
mistério central da salvação. “Memorial” não significa apenas uma
lembrança, uma memória simples, mas significa que, todas as vezes que
celebramos este sacramento, participamos do mistério da paixão, morte e
ressurreição de Cristo. A Eucaristia é o ápice da ação de salvação de
Deus, o Senhor Jesus fazendo-se o pão a cada um de nós, derrama toda a
sua misericórdia e seu amor, de modo a renovar os nossos corações, nossas vidas
e a forma com que nos relacionamos com Ele e com os outros. […] O
poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística, nos configura de
uma forma tão profunda com Cristo que nos faz saborear desde já aquela comunhão
plena com o Pai que caracteriza o banquete celestial, onde com todos os santos,
teremos a alegria de contemplar Deus face a face. Queridos amigos, nunca
será suficiente agradecer a Deus pelo dom que Ele nos deu na Eucaristia! É um
presente tão grande e por isso que é tão importante ir à missa no domingo. Ir à
missa não só para rezar, mas para receber a comunhão, este pão que é o Corpo de
Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa, que nos une ao Pai. (Papa Francisco, 5
de Fevereiro de 2014)
Que aconteceu exatamente quando Jesus disse na
Última Ceia (e os sacerdotes esta manhã na Missa): “Isto é o meu corpo” sobre o
pão, e “Este é o cálice do meu sangue” sobre o vinho? Cremos que a substância
do pão deixou de existir completa e totalmente, e que a substância do próprio
Corpo de Cristo substituiu a substância do pão, que ficou aniquilada. Cremos
também que Jesus, pelo seu poder onipotente como Deus, preservou as aparências
do pão e do vinho, apesar de as respectivas substâncias terem
desaparecido. Trata-se do milagre contínuo da transubstanciação.
Por “aparências” de pão e de vinho entendemos todas
as formas externas e acidentais que de um modo ou de outro podem ser percebidas
pelos sentidos da vista, do tato, do paladar, do ouvido e do olfato. A Sagrada
Eucaristia ainda parece pão e vinho, ainda tem o sabor do pão e do vinho e
cheira a pão e vinho, ainda é sensível ao tato como pão e vinho, e, se a
partíssemos ou derramássemos, espalhar-se-ia como o pão e o vinho. Mesmo que
fizéssemos um exame microscópico, eletrônico ou radiológico, só poderíamos
perceber nela as qualidades do pão e do vinho. Com efeito, a observação humana
só pode obter a aparência externa de qualquer coisa. A sua configuração, a sua
reação a determinadas circunstâncias, as leis físicas a que parece obedecer,
são as únicas questões que a ciência pode investigar. Mas a substância de uma
coisa, o que lhe está subjacente, a substância como substância, está fora do
alcance dos sentidos e dos instrumentos humanos.
Por fim, vejamos que para os céticos, Jesus não
deixou somente Sua palavra e os ensinamentos de Sua Igreja, mas, operando
vários milagres eucarísticos, os chamou de maneira ainda mais
incisiva à comunhão Consigo. Recomendamos a todos que pesquisem sobre os
milagres eucarísticos: Lanciano, Orvieto, Turim, Sena, Faverney, são os nomes
de apenas algumas localidades agraciadas com milagres portentosos, nos quais o
mistério da Eucaristia brilhou com toda sua força e majestade.
Não se pode, porém, com os belos relatos destes
milagres que a ciência não consegue explicar, descuidar da fiabilidade das
palavras de Jesus. Deve-se crer que Ele está presente na hóstia e no cálice
sagrados não simplesmente por causa dos milagres que ocorreram – que
merecem, claro, o respeito e a veneração dos fiéis. É preciso crer na
Eucaristia com aquela fé de um filho que dá todo o crédito às palavras de seu
Pai.
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