20 agosto – As
grandes inteligências de nada valem. São os homens de caráter que abalam o
mundo. (L 10). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Mateus 19,23-30
"Então Jesus disse aos
discípulos: "Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino
dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma
agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus". Ouvindo isso, os
discípulos ficaram perplexos e perguntaram: "Quem, pois, poderá
salvar-se?" Jesus olhou bem para eles e disse: "Humanamente isso é
impossível, mas para Deus tudo é possível". Em seguida, Pedro tomou a
palavra e disse-lhe: "Olha! Nós deixamos tudo e te seguimos. Que haveremos
de receber?" Jesus respondeu: "Em verdade vos digo, quando o mundo
for renovado e o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, também vós,
que me seguistes, havereis de sentar-vos em doze tronos... E todo aquele que
tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do
meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna. Ora,
muitos que são primeiros serão últimos, e muitos que são últimos serão
primeiros."
Meditação:
É
tão grande o perigo que apresentam as riquezas e a ambição delas na vida do ser
humano, que podem chegar a deslocá-lo de seu próprio sentido.
O
homem situa então ali o grande deus que fabricou para si mesmo a partir das
posses que supostamente lhe dão segurança, mas que o afastam do outro,
sobretudo do mais necessitado, do que sofre de fome, da miséria, da exclusão.
Oxalá
as riquezas, como origem frequente de tão lamentáveis situações, não impeçam
nosso seguimento de Cristo nem nos arrebatam o sentido original que têm de
satisfazer as necessidades vitais de todos os seres humanos.
Deus
não condena a riqueza que pode ajudar o ser humano a construir seu bem estar; o
que condena é o uso que alguém faça dela, favorecendo a uns poucos e pondo à
margem a grande maioria.
Deus
destinou as riquezas para que o ser humano as use para desenvolver o mundo e
para construir uma sociedade melhor e mais humana em justiça, solidariedade e
caridade autêntica.
Para
fazer um emprego justo das riquezas no âmbito da fé, este uso há de ter por
centro o verdadeiro amor a Deus e ao próximo como a si mesmo.
Os discípulos perguntam a Jesus qual será a paga de seu desprendimento, uma vez
que eles tinham abandonado tudo para o seguir. Para eles Jesus oferece a
garantia de obterem, como recompensa, muito mais do que aquilo que
deixaram; para quem verdadeiramente o principal é a instauração do reino e de
sua justiça, haverá abundância sem limite.
Em
Mateus esta recompensa é prometida como evento escatológico, no fim dos tempos.
Em Marcos a recompensa é o usufruto dos bens criados por Deus, "agora,
durante esta vida" e a participação na vida eterna.
Depois de Jesus nos ter falado sobre o jovem rico, um estudioso da Lei, cumpre
todos os parágrafos, não é desonesto, nem mentiroso, nem violento, nem
adúltero, nos propõe hoje o texto que fala do perigo das riquezas.
Vendo o homem, Jesus acha-o não longe do Reino do Céu por isso faz-lhe um
convite a vender tudo e distribuí-lo aos pobres: se você quer ser perfeito, vá,
venda tudo o que tem, e dê o dinheiro aos pobres, e assim você terá riquezas no
céu. Depois venha e me siga.
Porém, o conceito que ele tinha de riqueza diverge do conceito do Mestre. Para
Este a Lei é o varal da fraternidade, é resposta à Aliança gratuita e generosa
oferecida por Deus. É partilha, é comunhão.
Assim, se os bens não forem entendidos como dons que devem ser partilhados com
os pobres não teremos direito a herdar o Reino do Céu. Veja que Jesus indica
uma dificuldade real, uma necessidade de esforço penoso e não uma
impossibilidade.
Ao jovem que já era fiel observante dos mandamentos, Jesus faz uma proposta
radical: vender tudo, distribuir o dinheiro aos pobres e segui-lo.
O jovem se retirou triste, porque era muito rico. Não teve coragem para
desvencilhar-se de tudo, tornar-se discípulo e aderir ao compromisso de
construir o Reino. E Jesus adverte sobre o perigo que a riqueza pode significar
para a liberdade e o desenvolvimento pleno da pessoa.
O Eclesiástico lembra que ela pode se tornar um forte obstáculo para a
integridade (Eclo 32, 1-11). Certamente, a palavra de Jesus: Em verdade vos
digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus. É mais fácil um camelo
entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus (Mt
19, 23-24), além de alertar para o risco que corre o rico em ordem à sua
salvação, alude à dificuldade para um seu engajamento mais pleno na construção
do Reino, que é vida para todos, no aqui e no agora de nossa existência.
Os Padres da Igreja, dos primeiros séculos pós-catacumba, explicam que a razão
da dificuldade tem a ver com minha relação com Deus, comigo mesmo, com os
outros. O que entendem por rico e riqueza, não é quantidade absoluta de bens,
mas situação na sociedade. Quem tem 10% dos bodes da tribo de criadores
primitivos, é rico; não importa se dispõe de menos bens do que hoje vemos.
Riqueza é condição material concreta adequada do poder. Mas como o poder em si
mesmo, ela em si não é má. O Senhor não condena nem os ricos nem as riquezas;
mas adverte os seus discípulos do perigo que correm, se lhes entregarem o
coração.
Em contrapartida, a atitude desprendida de Pedro e dos outros Apóstolos é caminho
certo para entrar no reino de Deus.
O mundo novo que o Filho de Deus nos revelou na sua morte e ressurreição
inaugurou a regeneração do Universo, em que tudo é julgado por outros
critérios.
A graça de Deus pode fazer gente profundamente evangélica: Henrique II
imperador da Alemanha, Luis IX rei da França, Isabel rainha de Portugal e a
duquesa Edwiges, cujo fundo rotativo de ajuda ao camponês encalacrado a fez
padroeira de todos os endividados. Mas ser rico é risco. Risco em nossa relação
com Deus, exposta a duas variantes da mesma tentação: o ateísmo prático e a
idolatria.
A riqueza ameaça minha relação comigo. Os bens são nossos servos, para nossa
vida e vida plena, nossa e de todos ao nosso redor, para nossa realização como
pessoas, também diante de Deus. No momento em que eles não mais nos servem, mas
nós servimos a eles, começa o desvio.
A riqueza me separa dos outros, afasta-me deles. Os bens deste mundo em si são
bons, presentes carinhosos do Deus que quer que todos os seres humanos tenham
vida e vida plena.
Seguindo Jesus nos libertamos da ambição da riqueza para a partilha e a
comunhão de vida com os irmãos, particularmente com os mais necessitados,
entrando assim em comunhão eterna com Deus.
Que a verdade proferida por Jesus me ensine a ter um coração mais desapegado
dos bens terrenos e mais rico da presença de Deus. Pois, o desapego dos bens
terrenos é um caminho de sincera humildade e confiança em Deus. Pai, desapega
meu coração das coisas deste mundo, livrando-me da ilusão de buscar segurança
nos bens acumulados. E reforça minha fé na Providência!
Podemos
confiar hoje no ensinamento de Jesus? Claro que sim. Numa sociedade como a
nossa, a mensagem de Jesus tem que ressoar com maior intensidade; nós que por
profissão somos servidores do Evangelho, mas também nossas estruturas de
Igreja, temos que deixar o medo para anunciar com maior força o evangelho do
Reino.
Reflexão Apostólica:
Na
reflexão de ontem, que consequentemente tem sua continuidade no evangelho de
hoje, vimos uma colocação pertinente “(…) Quanta gente aproveita esse
ensejo político para lograr êxito através de “favores” nada legais e muitas
vezes imorais, tentando “arrebanhar” gente, mas no dia-a-dia cristão não tem a
mesma dedicação?”.
Qual
é o empenho que apresentamos em buscar nossa própria conversão?
Nossa
vida é como aquele letreiro que vemos em lojas e supermercados tentando se
desculpar com os clientes pelas reformas que acontecem e precisam ser feitas:
“DESCULPE OS TRANSTORNOS. ESTAMOS EM OBRAS PARA MELHOR ATENDE-LO”. Sim são
obras necessárias e periódicas que visam unicamente não perder você.
Será
que o salário pago pelas campanhas eleitorais é mais atraente que a paga dada
por Deus por um filho que volta ao lar?
Aonde
estão nossas obras de fé? O que temos feito de fato para não perder as
pessoas?
Não deixamos de enxergar que precisamos do dinheiro para por comida em casa e
assim poder viver com dignidade, mas também não mentimos para nós
mesmo que de fato muitas vezes estamos passando longe de sermos bons cristãos.
O nosso empenho é o mesmo?
Vemos todas as manhãs pessoas descendo de caminhonetes e caminhões, retirando
pilhas e pilhas de cartazes de madeira e ao final da noite os recolhendo para
serem novamente postos no outro dia. Quantos de nós estamos dispostos a chegar
um pouco mais cedo a missa dominical e ajudar a preparar a celebração? Não! Não
temos tempo!
Também é verdade que nosso tempo ficou cada vez mais escassos e as jornadas
triplas sendo no mesmo dia pai(mãe), esposo (a), funcionário, empregado tem
tomado nosso tempo e servem como um perfeito argumento para justificar nosso
afastamento, nosso sumiço, nosso atual descompromisso… O que é de fato
importante? Pelo que vale a pena se empenhar tanto assim?
Deus
realmente entende nossos “argumentos” e por vezes faz uma proposta irrecusável:
“PELO TEMPO QUE FICAR LONGE, FAÇA O FAVOR DE PELO MENOS NÃO PERDER”.
Talvez
também seja um grande desperdício ver alguém tão capacitado por Ele se
empenhando em enganar, ludibriar, assediar, corromper outras pessoas por aquilo
que é de césar. “(…) É verdade: é muito difícil um rico entrar no Reino do
Céu. É mais difícil um rico entrar no Reino de Deus do que um camelo passar
pelo fundo de uma agulha”. Estudiosos no assunto chamam isso de hipocrisia.
Que
compromisso temos com a instauração do reino de Deus se só nos preocupamos
com a limpeza do nosso lote no céu? Se somos novos em Jesus, por que ainda
aceitamos essa atitude velha em nossas vidas?
Precisamos
mudar o mundo a começar em nós.
Propósito:
Pai,
desapega meu coração das coisas deste mundo, livrando-me da ilusão de buscar
segurança nos bens acumulados. E reforça minha fé na Providência!
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Nos momentos de dor, Deus nunca
abandona seus filhos. “Não tenhas medo, que eu estou contigo. |
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