09 março -
Pediremos a Santa Teresa, a predileta de São José, que faça também de nós os
seus prediletos. (L 163). São Jose Marello
Lucas 16.19-31
A PARÁBOLA DO RICO E DO LÁZARO
Havia um homem rico que se vesti a de
luxuoso tecido vermelho e linho finíssimo, dando esplêndidos banquetes
diariamente. Um pobre, chamado Lázaro, todo coberto de feridas, estava atirado
junto ao seu portão. Bem que gostaria de se alimentar com o que caía da mesa do
rico! Até cães vinham lamber suas feridas.
Aconteceu que o pobre veio a morrer.
E foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico também morreu e foi
sepultado.
No meio das torturas do mundo dos
mortos, o rico viu Abraão de longe. E Lázaro estava junto a ele. Então
gritou:
— Pai Abraão, tenha pena de mim!
Mande que Lázaro molhe a ponta do dedo e me refresque a língua, pois estas
chamas me atormentam!
— Meu filho, respondeu Abraão,
lembre- se que já recebeu seus bens em vida. Lázaro teve males e agora encontra
consolo aqui. Você está padecendo.
Aliás, é grande o abismo entre nós e
vocês. Os que quiserem passar daqui para lá, não conseguem. Nem se pode vir de
lá até cá.
— Pai, insistiu o rico, peço-lhe
então que ao menos envie Lázaro até minha casa paterna. Tenho ainda cinco
irmãos. Lázaro poderá adverti-los para que não acabem também neste lugar de
tormentos!
Mas Abraão replicou:
— Eles tem Moisés e os profetas. Que
os ouçam, portanto!
— Não, Pai Abraão, disse-lhe ainda o
rico, se algum dos mortos fosse a procura deles, por certo se converteriam.
Mas Abraão concluiu:
— Se não dão ouvidos a Moisés e os
profetas, ainda que algum ressuscite dos mortos não se deixarão convencer.
Céu e inferno: prêmio e castigo?
Não estamos, porém, diante de uma
profecia. No se trata de previsão. A história que Jesus conta, é uma parábola.
E essa parábola não se refere, apenas, a coisas que estão por vir ou acontecer.
A parábola fala de uma realidade presente, de uma atualidade cotidiana. Tanto
assim que está construída em torno de duas cenas: antes da morte e depois da
morte. Mas as duas cenas tratam de uma coisa chamada vida. Por isso, como
muitas vezes acontece num romance, no cinema ou no teatro, a segunda parte vai
esclarecer muita coisa da primeira.
E então pode acontecer uma surpresa:
a gente nota como faz parte de toda a história...
É impressionante observar como inicia
a parábola: Era uma vez um homem rico. Quase que só isso descreve essa
criatura. Além de alguns detalhes a respeito de roupas e banquetes, o que se
fica sabendo é apenas isso: o homem era rico. Viveu, morreu e foi sepultado. E
era rico.
Existe outra coisa que impressiona: à
primeira vista, o homem rico nem é criticado. Não se mencionam vícios, defeitos
ou atitudes condenáveis. Não se afirmar que ele explorasse trabalhadores ou que
fosse agiota ou qualquer coisa, de semelhante. Pelo contrário: num primeiro
momento, o homem é tão vazio como todas as pessoas diariamente mencionadas nas
colunas sociais dos jornais. Ele gostava de vestir-se bem e oferecia
constantemente banquetes e festas e recepções esplêndidas. Resumindo: um dos
dez mais elegantes, que sabia receber bem... Nem mais nem menos. Era rico. E
ponto final.
Lázaro é uma questão aberta, uma
pergunta sem resposta, na vida do rico. Novamente chama a atenção o fato de que
Jesus não é demagógico. Jesus não diz nem sugere que o rico deveria ceder um
lugar à mesa para Lázaro. Jesus não diz que Lázaro deveria morar na mesma casa
do rico. Para começo de conversa, Jesus apenas conta como Lázaro não tinha o
que comer, não tinha casa e era perturbado por cães vadios. Só isso.
Para os primeiros ouvintes dessa
parábola, a introdução nem apresentava surpresa. Os escribas e fariseus tinham
ideias e teorias prontas, a esse respeito: Deus é quem reparte a felicidade e a
infelicidade, a riqueza e a pobreza, o êxito e o fracasso, o bem-estar e a
desgraça (confira o que argumentam os amigos de Jó, no Livro; de Jó, cap. 4, 5,
8, 11, 15, 18, 20, 22). A tranquilidade desse tipo de pessoas ( a quem Jesus
conta essa parábola) se reflete no fato de terem elaborado toda uma doutrina a
respeito de come dar esmolas. . .
Existirá ainda hoje esse tipo de
pessoas? Parece que sim. Em todo caso, Jesus coloca diante dos ouvintes de
ontem e de hoje uma pergunta diferente: Qual é a relação que existe entre o
rico e Lázaro?
A tentativa de responder a essa
pergunta de Jesus mostra que a relação tem muitos aspectos. Antes de mais nada,
o rico imagina que pode viver sem Lázaro. Nada lhe falta. Não precisa de
ninguém. O rico imagina que pode viver sem o irmão. Que não precisa do irmão. E
quem lhe dá essa certeza? Sua riqueza.
Parece que Jesus propõe uma resposta
simples e imediata: Lázaro é aquele que precisa do homem rico, porque é pobre.
Lázaro é aquele que precisa de alguém para viver, para sobreviver. Lázaro não
pode viver sem um amigo, um irmão. E donde vem essa certeza? De sua miséria.
Que relação existe entre os dois?
Cada um é o que é — por causa do outro. Só existem ricos porque existem pobres.
Pode- se dizer também que só existem pobres porque existem ricos? Na segunda
cena, em todo caso, acontece uma estranha inversão de papéis. Mais ainda: a
segunda cena procura mostrar se existe ou não uma ponte entre ri cos e
Lázaros.
Ricos e pobres morrem, neste mundo.
Na parábola de Jesus também. E então vem a primeira descoberta: ambos são
filhos de Abraão”, são judeus. Ambos esperam pelo juízo, pela ressurreição. Só
que essa espera acontece em lugares e condições diferentes. Lázaro pode ficar
reclinado à mesa dos justos e patriarcas ( Cf. Mateus 8. 11 ), enquanto que o
rico aguarda seu futuro no lugar da punição, no mundo dos mortos ( cf. Salmo 6.
6) . Para que o contraste ainda se torne maior, Jesus descreve uma situação bem
especial: o homem rico pode observar a bem-aventurança de Lázaro de modo quase
palpável.
Também a segunda cena está isenta de
revoltas e paixões .0 rico sabe que só lhe resta assumir e suportar os
desígnios de Deus. (Não tinha sido essa a sua fé em vida? )
Mas não há atenuantes. Existe um
tempo para que alguém descubra sua relação para com o outro, para com o
próximo: hoje. Tempo é oportunidade. E a chance se oferece agora. Quem é você?
Quem é o próximo?
Dentro do tempo, hoje, alguém está
dizendo uma palavra que nos informa de duas coisas importantes quem é o próximo
e quem somos nós. Jesus faz isso. Através dessa parábola, por exemplo.
A segunda cena da parábola nos mostra
como é crítica a relação entre o rico e Lázaro. Através de sua presença,
através de sua pobreza, Lázaro põe em questão, destrói, torna impossíveI
qualquer tentativa nossa de viver sem ele. A miséria de Lázaro descobre e
revela a miséria fundamental do homem rico. A verdade de Lázaro comprova a
mentira do homem rico. A distância entre ricos e Lázaros torna-se a mesma
distância, o mesmo abismo entre ri cos e Deus. Existe uma ponte?
Sempre que alguém descobrir essa
relação, terá descoberto a relação o entre o rico e o Lázaro (Mateus 25.31-46).
Terá descoberto a ponte. Sem essa relação, porém, desaparece também a ponte. O
fim de nosso tempo, o fim de nossa oportunidade, e também o fim da ponte.
Mas ainda existe um aspecto final de
nossa relação com a parábola. Somo s todos personagens desta história, por
causa de um Cristo que coloca ricos e pobres sob um critério diferente de julgamento.
Não está excluída a hipótese de o pobre se tornar amargurado, descrente e,
derrotado, devido a condição de Lázaro, sob a qual padece. Assim sendo, a
parábola não se limita à crítica simplificada da riqueza e ao elogio exagerado
da pobreza. Pelo contrário: a separação “após” a morte está intimamente ligada
à separação antes” da morte. O que está em questão na parábola, é a vida no
mundo das discriminações, das “diferenças”, das separações.
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