06 ABRIL - Uma boa palavra vale um tesouro e o Senhor jamais
deixa sem recompensa a mais insignificante ação feita para a sua glória em
favor do próximo. (L 28). SÃO JOSE MARELLO
João
13,1-15
"Faltava somente um dia para a Festa da
Páscoa. Jesus sabia que tinha chegado a hora de deixar este mundo e ir para o
Pai. Ele sempre havia amado os seus que estavam neste mundo e os amou até o
fim. Jesus e os seus discípulos estavam jantando. O Diabo já havia posto na
cabeça de Judas, filho de Simão Iscariotes, a idéia de trair Jesus. Jesus sabia
que o Pai lhe tinha dado todo o poder. E sabia também que tinha vindo de Deus e
ia para Deus. Então se levantou, tirou a sua capa, pegou uma toalha e amarrou
na cintura. Em seguida pôs água numa bacia e começou a lavar os pés dos
discípulos e a enxugá-los com a toalha. Quando chegou perto de Simão Pedro,
este lhe perguntou: - Vai lavar os meus pés, Senhor? Jesus respondeu: - Agora
você não entende o que estou fazendo, porém mais tarde vai entender! - O senhor
nunca lavará os meus pés! - disse Pedro.- Se eu não lavar, você não será mais
meu discípulo! - respondeu Jesus. - Então, Senhor, não lave somente os meus
pés; lave também as minhas mãos e a minha cabeça! - pediu Simão Pedro. Aí Jesus
disse: - Quem já tomou banho está completamente limpo e precisa lavar somente
os pés. Vocês todos estão limpos, isto é, todos menos um. Jesus sabia quem era
o traidor. Foi por isso que disse: "Todos menos um." Depois de lavar
os pés dos seus discípulos, Jesus vestiu de novo a capa, sentou-se outra vez à
mesa e perguntou: - Vocês entenderam o que eu fiz? Vocês me chamam de
"Mestre" e de "Senhor" e têm razão, pois eu sou mesmo. Se
eu, o Senhor e o Mestre, lavei os pés de vocês, então vocês devem lavar os pés
uns dos outros. Pois eu dei o exemplo para que vocês façam o que eu fiz.."
Meditação:
Esse evangelho de João é uma das peças mais
bonitas de nossa tradição cristã. Nessa página, ele quis nos ensinar talvez a
coisa mais difícil: não simplesmente amar, que quase todos nos acreditamos
capazes. Mas reparem que ele diz que Jesus amou os seus discípulos até o fim.
A força está nesta última expressão: até o fim. Os nossos amores acabam, são
frágeis, são como o amor de Judas, que começou entusiasmado por Jesus, era
talvez um dos mais inteligentes, sendo-lhe até confiada a administração dos
poucos recursos que tinham.
Aquele homem, que começou amando Jesus,
terminou traindo-o. Portanto, amar até o fim não é fácil. De doze escolhidos,
um deles não conseguiu. É uma proporção grande.
João continua querendo nos dizer o que nos faz amar até o fim e coloca quatro
coisas bonitas. Começa dizendo que é uma coisa solene, importante, um
ensinamento que Jesus queria deixar marcado no nosso coração ao tomar
consciência de que era a grande hora, de sua passagem para o Pai.
No evangelho de João, Jesus come a sua ceia com os discípulos um dia antes da
Páscoa dos judeus. A ceia é um momento de alegria e Jesus procura animar os
discípulos, diante do pressentimento da repressão que se aproxima.
Cinco dias antes desta ceia, em uma outra, em Betânia, Maria, amorosamente,
ungiu com perfume os pés de Jesus. Agora é Jesus que lava os pés dos
discípulos. A vida e o ministério de Jesus resumem-se no ato de servir. É o
serviço que liberta, gera e faz florescer a vida.
Não era um dia qualquer, um dia anódino, perdido na história, mas um dia único,
solene. É como um pai que, no seu leito de morte, reúne os filhos para lhes dar
uma última lição de alguém que parte desta vida.
Para que amemos até o fim é preciso que o Pai nos dê tudo. É dele que recebemos
essa força, essa graça. Jesus sabia que vinha do Pai e para Ele voltava.
Nós não amamos porque esquecemos que viemos de Deus e para Ele voltamos. Só a
consciência de nossa origem divina, de que Deus está na origem de nossa existência,
de que somos criados e amados por Ele é que nos possibilita amar. Quem nunca
descobriu que Deus está na sua própria origem não será capaz de amar até o fim,
porque lhe faltará força.
Jesus se reconhece como Senhor e Mestre para ensinar os discípulos o caminho do
desapego, da simplicidade e do serviço à comunidade. É este o caminho que leva
à glória do Pai.
Todo discípulo deve imitar o Mestre e mesmo que não compreenda bem o porque dos
seus ensinamentos, precisa obedecê-lo.
Somos discípulos de Jesus e sabemos que só Ele tem as palavras de vida eterna
para nós. Jesus aproveitou os últimos momentos antes de ser levado para o
Calvário para nos ensinar a vivenciar o verdadeiro amor. Ao pegar uma toalha e
aplicar-se a lavar e enxugar os pés dos seus discípulos
Ele nos mostrou que lavar os pés significa servir, estar à disposição,
solidarizar-se fraternalmente com as pessoas. Jesus despojou-se de si mesmo
quando tirou o manto da realeza, da autoridade e da dignidade de ser Filho de Deus
e abaixou-se para servir aos seus amigos.
Pedro, que não compreendeu o sentido da ação do Mestre tentou dissuadi-Lo do
Seu propósito de lavar os pés dos discípulos, porém, Jesus replicou com uma
afirmação que é muito importante para todos nós, hoje: “Se eu não te lavar, não
terás parte comigo.”
Os pés significam o nosso caminhar, nossas ações, nossas escolhas, nossas
preferências. Jesus deseja nos purificar e usa os nossos irmãos como Seus
instrumentos.
Portanto, nós também, quando acolhemos com humildade o auxílio de alguém que em
Nome de Jesus se oferece para nos ajudar nós estamos nos deixando lavar por
Jesus.
Quando nós não admitimos ser lavados é porque entendemos que somos muito
perfeitos e, por isso, não carecemos da ajuda de ninguém.
Da mesma forma, seguindo o exemplo do Mestre nós necessitamos lavar os pés das
pessoas que surgem no nosso caminho e precisam do nosso amor e da nossa
atenção.
Por meio do nosso próximo mais próximo Jesus nos ampara, nos lava e nos
purifica para que possamos também fazer o mesmo com outros.
Só quando nós nos deixarmos lavar nós iremos compreender a profundidade do
gesto de Jesus. Por isso, Ele nos deu a seguinte explicação: “compreendeis
o que acabo de fazer?… Se eu, o Senhor e mestre vos lavei os pés, também vós
deveis lavar os pés uns dos outros”.
O que você acha deste gesto de Jesus? Você tem deixado que as pessoas lavem os
seus pés? O que significa para você lavar os pés do irmão? O que para você é
melhor: “lavar os pés” de alguém ou deixar que alguém “lave os seus? ”
Reflexão Apostólica:
Para ser o maior é preciso ser pequeno de vaidades,
sem orgulhos e ambições desmedidas, é estar inserido numa caminhada que leva ao
encontro d'Aquele de onde viemos.
Que tipo de servo você é? Ou você pensa ser o mestre? Mestre só tem um, e Ele é
o Senhor da vida!
Num jardim, caminhavam tranquilamente vários insetos e cada um vivia sua vida
de acordo com suas funções e atribuições. Muitos olhavam na vida dos outros,
coisas que mereciam ser copiadas.
A minhoca queria ter as pernas do Sr. Gafanhoto, pois era tão difícil se
locomover apenas perfurando buracos; a D. Aranha gostaria de ter menos pernas
como a Srta. Pulga (que só tem uma), pois era muito caro comprar tantos tênis e
sandálias (…). Como nós, nunca estão satisfeitos com aquilo que tem.
“(…) O olhar do
invejoso é mau; ele desvia o rosto e despreza sua alma. O olhar do avarento é
insaciável a respeito da iniqüidade, só ficará satisfeito quando tiver
ressecado e consumido a sua alma. O olhar maldoso só leva ao mal; não será saciado
com pão, mas será pobre e triste em sua própria mesa “. (Eclo
14,8-10)
Nós caminhamos para Deus, estamos na história, num percurso, num itinerário que
nos conduz ao Pai. Se soubermos que viemos de Deus e caminhamos para Ele,
saberemos amar.
Se caminhamos para Deus, nenhum obstáculo poderá nos deter. Paulo mesmo é quem nos disse que nada poderá nos afastar do amor de Deus. Essa foi a experiência de Paulo, que já caminhava para o Pai.
Jesus é realista e tem medo das palavras bonitas, mas vazias, numa sociedade de
tanta exterioridade, de tanta propaganda, como a que vivemos.
Vestido como mestre, se levanta em meio aos apóstolos, que se espantam
imaginando o que Ele poderia fazer naquele momento. Ele tira o manto da sua
dignidade divina, de sua superioridade, do poder que tantas vezes assustara os
seus discípulos.
Troca o manto do mestre pela toalha do escravo e ainda vai mais longe ao
debruçar-se sobre os pés de cada um dos apóstolos, inclusive de Judas.
Lava-lhes os pés como o escravo lava os pés do seu senhor. Ele, o Senhor, se
fez pequeno, e depois nos dirá que é isso que também nós devemos fazer para
mostrar o nosso amor.
Se Jesus lavou os pés dos discípulos,
porque nós não podemos fazer o mesmo? Lavar os pés do outro é perdoar, é
acolher, é alimentar, é dar de si para que o outro viva melhor, na certeza de
que nada vai lhe faltar.
Há ainda um pormenor lindo de João, quando Pedro diz que Jesus não poderia
lavar-lhe os pés, e Ele retruca que Pedro só poderia ter parte com Ele se se
deixasse lavar. Pedro precisava entender que Ele se fizera servo para que o
imitasse.
Mantendo-se orgulhoso, não permitindo que Jesus se fizesse servo, Pedro não
poderia fazer parte do Cristo, pois também não aceitaria fazer-se servo.
Só aceitando que o Senhor se fez servo, Pedro, assim como nós, poderá se fazer
servo dos servos. E até os dias de hoje, ao assinar qualquer documento, o papa
assinala: servo dos servos de Deus. Quando assume o poder maior na Igreja, de
ser sumo pontífice, nos seus olhos reflete-se o exemplo de Pedro. Se valeu para
Pedro, vale para cada um de nós.
Nunca jogue a sua toalha, ao contrário, amarre-a junto à sua cintura como
exemplo de esforço por querer ser melhor e fazer a diferença neste mundo.
Que aprendamos estas quatro lições: Deus é a nossa força, dele viemos e para
Ele voltamos, renunciemos aos mantos do poder e vistamos a toalha do servo para
servir aos irmãos e só assim amaremos.
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