02 DE ABRIL - Trabalha, trabalha para o
melhoramento da juventude: também o pouco é alguma coisa e, em nossos dias,
barrar o mal já é um grande bem. (L 28).
São
Jose Marello
"Este era verdadeiramente Filho de Deus!” - Mt 26,14–27,66
A liturgia deste último
domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao
nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se Servo dos homens,
deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos.
Como antecipação à Semana
Santa que começamos, lemos hoje o relato completo da Paixão e Morte de Jesus
segundo o evangelista Mateus (26,14–27,66). Na Sexta-Feira Santa leremos o
relato segundo são João. É sabido que os quatro evangelistas nos contam este
mesmo fato embora não da mesma forma. Cada um busca dar-lhe sua própria
orientação teológica e pastoral, uma vez que cada evangelho é uma forma de
responder às inquietações diferentes de cada comunidade. Na Semana Santa se faz
a memória dos últimos dias do ministério de Jesus.
O Domingo de Ramos nos introduz na Semana da Paixão do Senhor. A
Liturgia de hoje nos oferece dois evangelhos de Mateus; um para a bênção dos
ramos e outro para a Liturgia da Palavra. A paixão de Jesus é paradoxalmente –
na narração de Mateus – a paixão do Filho do homem, do Senhor da glória, do
Juiz universal. Ele é o Deus-conosco que nos salva pelo caminho do Servo
sofredor, sendo crucificado “como cordeiro conduzido ao matadouro”.
O Evangelho central da
celebração convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus que, sendo fiel
até o fim, ao projeto do Pai, detona o "dia do julgamento" e começa a
era da ressurreição: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim
de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se
o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom
total. Aparentemente morto, algumas pessoas esperam para ver o que vai
acontecer... a morte que deveria trazer tranqüilidade aos poderosos, na
verdade provoca um grande desconforto.
O imenso e impressionante
texto da Paixão, mediante a qual o Rei manso e obediente purifica, santifica e
apresenta a Si mesmo a sua Igreja, tornando-a santa e irrepreensível, sem
mancha nem ruga, a Esposa bela. Nestes momentos decisivos, a Esposa fiel deve
seguir o Esposo passo a passo: a unção para a sepultura em Betânia, a Ceia
Primeira (e não última!), o abismo do Getsémani, onde Cristo, sendo embora o
Filho de Deus, Deus Ele mesmo, treme perante a morte, mas aceita-a, submetendo
a sua vontade humana à Vontade divina, à Vontade do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, a prisão "segundo as Escrituras", em que todos o
abandonam e fogem (Mt 26, 56) - Jesus fica sozinho: verdadeiro "Resto de
Israel" -, os processos e a condenação (Jesus afirma-se como "o
Cristo", "o Filho de Deus", "o Filho do
Homem-que-Vem-na-sua-Glória", "o Rei"), a entrega à morte de
cruz por Pilatos e por Judas, mas na verdade por Deus: paredídeto: passivo
divino!), a coroa de espinhos, Pedro disposto a morrer com Jesus, mas negando-O,
a Cruz Santa e Gloriosa, as três tentações por parte dos transeuntes, dos
chefes dos sacerdotes juntamente com os escribas e os anciãos, dos ladrões:
"salva-te a ti mesmo", "desce da cruz" (Mt 27, 39-44), a
oração do Salmo 21 (todo): começa "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?",
e termina "esta é a obra do Senhor"!, a agonia e a Morte precedida do
"grande grito" (Mt 27, 46.49) que indica a Vitória de Deus, a
sepultura... Proclamação da máxima Obra de Deus no mundo, a indizível Economia
divina na vida terrena do Filho de Deus! A proclamação deve seguir-se com a
conversão do coração, e, sobretudo, com o louvor no coração.
A Semana Santa que hoje nós,
cristãos, iniciamos com a comemoração da entrada “triunfal” de Jesus em
Jerusalém e sua aclamação como Messias e rei por parte do povo humilde e
simples deveria ser a ocasião mais propícia para realizar durante toda a semana
um ciclo de revisão dos fundamentos de nossa fé. É ocasião de pensar sobre a
maneira pela qual temos entendido e vivido nosso cristianismo e da renovação de
nosso compromisso que, como fiéis, somos convidados a vivenciar num mundo
realmente ávido de um testemunho e de uma mensagem como a de Jesus.
Isto significa aderir ao
Cristo, ou seja, mudar e cuidar para não assumirmos a mesma postura daqueles a
quem criticamos, e chamamos de assassinos. É bom lembrar que os mesmos que
exaltaram Jesus, também o condenaram. Mudar significa gritar a Boa Nova da
presença de Deus entre nós. É recusar ou aceitá-lo. Quem não muda e não assume
o compromisso batismal é como aquele que hoje estende o seu manto e grita
“Hosana! Hosana!” e que alguns dias depois, lá está, no meio da multidão e
gritando: “Crucifica-o! Crucifica-o!” O absurdo da humanidade, encarnada no
povo eleito, é que toda a vida se espera a salvação e na hora em que ela
aparece, mata-a: Vós acusastes o Santo e o Justo e exigistes que fosse
agraciado para vós um assassino, enquanto fazíeis morrer o príncipe da vida.
Os valores que marcaram a
existência de Cristo continuam a não ser demasiado apreciados no séc. XXI. De
acordo com os critérios que presidem à construção do nosso mundo, os grandes
“ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com
humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade,
com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não
olhar a meios para passar à frente dos outros.
Como nos assusta verificar
que em nosso mundo neo-liberal não existam mais líderes capazes de entusiasmar
as pessoas. A mídia se arroga o poder de criar ilusões que entorpecem e
somos "obrigados" a passar parte do nosso tempo de lazer, observando,
como que anestesiados, a vida de pessoas que se submetem, pela fama meteórica,
a se expor ao extremo nos programas chamados "reality shows", além de
nos apresentar seus amigos e familiares que sem qualquer qualificação declarada
passam a tarde ocupando os programas de variedades, discorrendo sobre nada,
como doutores de coisa alguma. Como pode um cristão (obrigado a viver inserido neste
mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?
"Vigiem e rezem, para
não caírem em tentação". A perseverança na oração, pedindo a Jesus a graça
de permanecermos fiéis, é aquilo que nos dará a força de segui-Lo, antes, com
alegria em Jerusalém, em seguida, com decisão e amor até ao Calvário. Lá,
então, saberemos entregar, até o fim, junto com Ele, toda a nossa vida nas mãos
do Pai. Em seguida experimentaremos também a sua Ressurreição!
Os acontecimentos que, nesta
semana, vamos celebrar, garantem-nos que o caminho do dom da vida não é um
caminho de “perdedores” e fracassados: o caminho do dom da vida conduz ao
sepulcro vazio da manhã de Páscoa, à ressurreição. É um caminho que garante a
vitória e a vida plena.
Estamos dispostos, nessa Semana
Santa, abrir o coração para acolher o mistério do infinito amor de Deus, que
doa sua vida por amor a nós? Ele quer um espaço em nosso coração...
Oração: Ó Pai, Deus de misericórdia e de perdão, olha com
piedade os teus filhos culpados de terem pregado numa cruz o teu amado Filho.
Ajuda-nos a descobrir, na morte de Jesus, um testemunho consumado de sua
liberdade, e de fidelidade a ti e ao teu Reino. Pelo seu sangue derramado na
solidão do abandono, lava todas as nossas culpas e rompe a dureza dos nossos
corações, para que, purificados pelas lágrimas do arrependimento, acolhamos o
dom da tua infinita compaixão, que é o único que nos pode tornar de novo
inocentes. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com
Ele em sua glória. Amém!
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