22 novembro
- A
humildade é absolutamente necessária para manter a pureza. Dai-me uma alma pura
como um anjo e dizei-me que ela é arrogante, e eu vos responderei que ela não
conservará a sua candura por muito tempo e cairá. (S 358). São Jose Marello
Leitura do santo Evangelho segundo São Lucas 21,5-11
Naquele tempo, 5algumas pessoas comentavam
a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas.
Jesus disse: 6“Vós
admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo
será destruído”. 7Mas
eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de
que estas coisas estão para acontecer?”
8Jesus
respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome,
dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9Quando ouvirdes falar de
guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas
aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”.
10E
Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro
país. 11Haverá
grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas
pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu”.
Meditação:
A partir de hoje e até o sábado desta semana, a
vinda do Reino, da Nova Jerusalém na qual Deus aparece como o soberano da
História e a ênfase é posta na justiça de Deus.
O advento do Reino é o advento da justiça para aqueles que nunca a tiveram, para as vítimas que não foram ouvidas, para aqueles que lutaram e foram derrotados, para aqueles que foram capazes de resistir até o final.
O Apocalipse retoma hoje a imagem do ser humano que aparece no livro de Daniel
(7,13-14) e a aplica ao Cordeiro, a Jesus Cristo triunfante. É Ele que fará
justiça, que fincará a foice para a ceifa e para a vindima.
Acostumados às ideias do Deus de amor e misericórdia, pode causar espanto a
expressão final relativa a que todo o produto da colheita e da vindima da terra
será lançado “no lagar da ira de Deus” .
A misericórdia de Deus não exclui a justiça, pelo contrário, a pressupõe. Fazer
justiça àqueles que jamais a receberam é um dos aspectos da misericórdia de
Deus. Os poderosos do mundo acreditam que são onipotentes e impunes. O profeta
de Patmos anuncia a justiça de Deus.
Esta mesma ideia é proclamada no salmo 95: Deus é o rei "que governa os
povos retamente" que "vem para governar a terra: governará o mundo
com justiça, e os povos com lealdade".
Justiça de Deus para aqueles que padeceram de fome, de mal tratos, de torturas,
justiça para as mulheres abusadas e maltratadas, cujos direitos foram
considerados ilegítimos pelos regimes patriarcais que sucederam ao longo da
história.
Justiça para os milhões de seres humanos que morreram de fome ou por
enfermidades previsíveis ou que tinham cura. Justiça para os que viveram na
amargura e no desamparo.
Hoje cabe-nos meditar sobre o capítulo 21, 5–11. Em primeiro lugar temos a
introdução a todo o discurso: vv 5–7. Os discípulos estavam admirados com a
construção do Templo.
Na verdade era uma maravilha. Mas os discípulos não
tinham entendido os gestos e oráculos proféticos de Jesus quando chegaram a
Jerusalém. Primeiro, o discurso de 19, 41–44,
Quando de repente Jesus repete agora de novo que do Templo não restará pedra sobre pedra, os discípulos lhe perguntaram sobre o “quando” e sobre os “sinais” anunciadores de tal desastre. A resposta de Jesus foi só para uma parte da pergunta. Jesus falará de todo o tempo futuro, muito embora no capítulo 21, 20–24 se referirá à destruição de Jerusalém
Nos Evangelhos sinóticos encontramos conjuntos de textos escatológicos sobre a
vinda do referências à destruição de Jerusalém. Eles integram os
"discursos escatológicos" de Mateus (caps. 24-25) e Marcos (cap. 13),
e dois discursos em Lucas: o primeiro (Lc 17,22-37) destaca a vinda do Filho do
homem, e o segundo (Lc 21,5-11) destaca o prenúncio da destruição de Jerusalém
e do Templo. Neste, Jesus inicia sua fala aludindo à destruição do Templo,
passando, em seguida, aos sinais que a precederão: guerras e perseguições.
"Não ficará pedra sobre pedra que não seja destruída" disse Jesus no
Evangelho de hoje referindo-se às belíssimas pedras do Templo de Jerusalém.
A justiça de Deus abarcará toda injustiça, nada ficará impune. E Jesus realça o
castigo a toda forma de falsificação religiosa que intenta fazer do Deus
libertador uma ideologia para legitimar a opressão.
No capítulo 21, 8–11, Jesus fala de todas as “dores” da história durante o
tempo da Igreja: falsos messias, guerras e revoluções, terremotos, pestes e
fome em diversos lugares, coisas espantosas e grandes sinais no céu. A mensagem
de Jesus é clara: não tenham medo e nem se alarmem, estejam tranquilos. Tudo
isto tem que acontecer, mas não é ainda o fim.
“Virão muitos usurpadores em meu nome". Estamos usurpando também em nossas
igrejas o Nome Santo para amparar sistemas opressores? Estamos sendo também
cúmplices, com nossas ações, palavras ou silêncios? Serão também derrubadas as
pedras dos nossos templos?
Jesus chama a atenção daqueles que se deixam impressionar pela majestosa e
imponente arquitetura do Templo de Jerusalém. Ele deveria representar a fé, a
ligação com Deus e, no entanto, já não consegue criticar a estrutura de morte e
marginalização que existe por detrás desses muros. A resposta que Jesus dá a
esta atitude tem um tom escatológico, projeta para o futuro o destino da
humanidade.
É uma resposta que surge da esperança na pronta vinda do reino de Deus, quer
dizer, da espera em uma nova forma de vida na qual Deus, com sua misericórdia e
sua justiça reinará, destruindo todas aquelas estruturas que produzem
violência, fome, marginalização e morte.
Não se devem usar estes discursos apocalíptico de Jesus para fazer medo às
pessoas ou para calcular o fim do mundo. Isto vai contra a intenção de Jesus.
O que o Mestre quer é que estejamos tranquilos e sem medo em meio às adversidades, porque sabemos que “finalmente” (quer dizer, quando chegar o fim) nos encontraremos com Cristo na construção do Reino de Deus. O fim do mundo é um dia bonito e não catastrófico. Toda a história está orientada para a manifestação de Jesus e a chegada do Reino.
As palavras relativas ao destino reservado ao templo sintetizam o material
procedente de Marcos. Por outra parte, o Jesus de Lucas não está sentado no
monte das Oliveiras, frente ao templo, mas está dentro do templo.
A perícope referida aos sinais antes do fim estabelece um claro contraste entre
o que deve ocorrer “primeiro” e o “final”. Desta maneira, à diferença de
Mateus, Lucas não se refere ao final do mundo, mas à destruição do templo de
Jerusalém”.
Hoje podemos nos deter na consideração dos “sinais enganosos”. Há muitas
pessoas angustiadas por causa de pessoas e grupos que se aproveitam da
religiosidade (e, com frequência, da credulidade) de muitas pessoas simples.
Não faltam em alguns meios de comunicação mensagens aterrorizantes que interpretam alguns acontecimentos atuais como sinais da cólera divina e antecipação do fim do mundo.
Há alguns anos se falava da AIDS como castigo de Deus. Qualificativos parecidos
receberam o fenômeno meteorológico “EL NIÑO” e outros. A necessidade de se ver
livres dessas ameaças provoca uma febre de fenômenos pseudomilagrosos: falsas
aparições marianas, ritos de desagravo e proliferação de líderes carismáticos
com propostas extravagantes. Estes “terrores”, induzidos às vezes de maneira
diabólica, não respondem a uma leitura cristã da Palavra de Deus.
O final é um acontecimento de graça, um triunfo do Deus da Vida sobre todas as
forças da morte. Os verdadeiros sinais são aqueles que nos ajudam a despertar,
a tomar consciência da graça do Senhor que já está entre nós e a nos dispor
para acolhê-la com alegria e confiança.
Os discípulos de Jesus estão assombrados pela majestosa construção do Templo. Eles não entenderam as palavras e os gestos proféticos de Jesus a respeito do Templo. Dele não ficará pedra sobre pedra.
O templo tinha sido transformado pelos dirigentes de Israel em um foco de corrupção e exploração dos pobres. Os discípulos perguntaram, intrigados e confusos, quando ocorreria a destruição do Templo.
A beleza e a suntuosidade do Templo davam àqueles que o observavam a sensação de firmeza e perenidade. Como se poderia destruir aquela maravilha?
Além disso, dava a sensação de poder e solidez aos que a administravam. Contudo, Jesus não teme afirmar a fragilidade e a finitude do projeto que se sustenta no Templo. Esta afirmação inquieta aos que não somente admiram a riqueza da construção, mas que vêem no Templo o fundamento de sua vida e de sua cultura.
A afirmação de Jesus seguramente traz a suas mentes a pergunta sobre o final dos tempos, inquietação presente no povo e tema de diversos debates religiosos. Jesus chama a atenção para se manter o olhar para o essencial: nem a grandeza do Templo nem as ameaças dos falsos profetas podem oferecer um caminho seguro.
A história mesma, cheia de contradições, é o lugar no qual o fiel deve buscar a vontade de Deus e manter-se fiel, apesar das dificuldades e perseguições. Com esta atitude de vida, não há por que “entrar em pânico”.
Seja hoje a oportunidade de
refletirmos sobre nossas contínuas tentações de triunfalismo, que nos impedem
de acolher a novidade misericordiosa de Deus.
Aceitar a finitude, a contradição e a conflitividade que o seguimento de Jesus acarreta, fará de sua Igreja sinal de humildade e de autêntica proximidade da vida humana em todas as suas realidades.
Jesus Cristo não nos prometeu nenhum sinal especial para nos livrar dos
acontecimentos que tiram a normalidade da nossa vida, porém, ele nos adverte
que estejamos atentos (as) em relação às coisas que têm significado para nós.
O valor que as coisas têm é inerente a maneira como nós as enxergamos, ou seja,
elas valem para nós conforme a nossa visão interior e subjetiva. O que é valioso
para um poderá não ser para o outro dependendo do amadurecimento que eles
tenham em relação ao valor das coisas criadas.
As pessoas que admiravam o Templo pela sua beleza exterior, tinham uma visão
superficial do mundo e das coisas que as atraíam. Jesus fez ver a elas que o
material que enfeita o Templo e até mesmo, aquele que o construiu pode ser
facilmente destruído. “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra.”
“O sinal das coisas que estão para acontecer”, nós o percebemos, justamente
pelas “coisas que já estão acontecendo”, no mundo, em nós e nas pessoas ao
nosso redor. Guerras, revoluções, terremotos, fome, peste, miséria, dissensões,
separações, homicídios, uns se voltando contra os outros etc etc..
Não é fácil ver com clareza estas mensagens sensacionais. São numerosos os
agoureiros que anunciam; seu grande número contagia e sugestiona. Disfarçam-se
com as palavras de Jesus. Sua mensagem soa como o “Sou Eu; aproxima-se o
tempo”. Reúnem, como ele, discípulos a seu redor. Estes os seguem.
Nesse jogo desconcertante da fraude brilha com sua admoestação a palavra do Senhor: essas pessoas são impostoras, e acabam em apostasia e perdição. As palavras de Jesus começam e terminam com uma gravidade que nos põe em defesa: “Não se deixem enganar; não vão atrás deles”.
Na literatura apocalíptica dos judeus se prediziam, para o tempo final, guerras, revoluções e rumores desconcertantes a este respeito. A pergunta pelo tempo e os sinais da ruína de Jerusalém ficam sem resposta.
Aos cristãos que aguardam com ansiedade a vinda de Cristo dirige palavras de orientação, pois o desejo impaciente de ver realizado este sonho leva a prestar ouvidos a falsos rumores.
Para Jesus o tempo presente e o futuro se abriam como esperança; era o tempo definido da salvação. Por isso deveria de ser tomado a sério o momento presente e interpretá-lo com um sinal de Deus que nos chama a fazer deste mundo de morte, um mundo de vida.
Apesar de atentos, nós necessitamos de serenidade e prudência para atravessar esse campo minado e não podemos nos apavorar. O nosso testemunho deve ser de confiança absoluta nas palavras de Jesus: “é preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas, não será logo o fim”.
Enquanto as coisas acontecem e enquanto não chega o fim, nós ainda temos chance
para uma mudança radical na nossa mentalidade medíocre que valoriza somente o
que é atrativo e nos encanta.
Os grandes sinais que serão vistos no céu já se manifestam dentro de nós quando entramos em comunhão com Deus, e, pelo poder do Espírito Santo, acolhemos os ensinamentos de Jesus e temos intimidade com Ele.
A Palavra de Jesus nos recomenda a que não sejamos enganados (as) dando ouvido
aos “arautos” do terror, portanto, escutemos atentamente ao que o Senhor nos
revela e façamos tudo de acordo com o que Ele nos disser.
Ao analisarmos Mateus 24,7-8 e Lucas 21,11 mais cuidadosamente, o Senhor Jesus diz que as guerras serão seguidas de fomes, de pestes, de terremotos em vários lugares. O versículo nos diz que não necessariamente as epidemias, as fomes e os terremotos acontecem por causa da guerra, mas, são vários eventos que acontecem sucessiva e simultaneamente.
Hoje vivemos um momento de agitação semelhante. Estamos inundados de visões catastróficas que nos anunciam um futuro obscuro e terrível para todos os seres viventes. Mas o importante não é o fato que o mundo se acabe – se tal coisa ocorrer, o importante é perguntamos qual é a finalidade do mundo e da humanidade, qual é a utopia? Qual futuro nós poderemos e deveremos construir? O que Deus quer de nós aqui e agora?
Os tempos difíceis chegarão, isso não se pode evitar; mas Jesus previne a seus seguidores para que em tempos de dificuldade estejam muito atentos, com os olhos abertos e uma consciência bastante clara e definida para não crer em qualquer um que diga “sou eu” ou “ o momento está próximo”.
Não há por que se preocupar tanto pelo “quando” (v. 7) sucederá o que Jesus acaba de vaticinar. O que realmente importa é manter a capacidade de distinguir sempre com critérios de justiça os sinais dos tempos.
Jesus não anuncia apenas
tragédias, também oferece esperança. Senhor reitera muitas vezes que não é para
ter medo nem se alarmar, porque esse não será o fim. O que Jesus pretende
realçar é que, em meio às dificuldades e conflitos em que vivemos, não podemos
nos deixar dominar pelo medo, porque a ultima palavra provém de Deus.
As palavras que Jesus emprega para referir-se à novidade de Deus podem parecer
sem esperança, trágicas e violentas; entretanto é uma linguagem que tem como
finalidade exortar seus seguidores a interpretar a realidade a partir dos
valores do reino, sem deixar-se convencer nem desalentar-se por falsos profetas
nem pelas promessas dos poderes opressores.
Somos chamados a viver na vigilância, em constante esperança em Deus, vivendo em nossas comunidades os valores do reino, construindo assim espaços alternativos de vida.
Nós cristãos devemos nos manter firmes na esperança de que a vida triunfará sobre todas as formas de morte, e para quem vive com a esperança na ressurreição, a morte tem outro papel, de menor importância, porque a vida está acima dela. Já não tememos mais as estruturas que geram morte, porque temos nossos olhos fixos no Senhor da vida.
Deus está sempre presente na vida de seus filhos e filhas: no início, durante o seu desenvolvimento e até o fim. Ninguém e nenhum fica fora do alcance da salvação.
Propósito:
Ó Deus, que não temeis os poderosos desta terra, ajudai o
vosso povo a avistar o amanhã com clarividência, confiante na vossa
Provindência. Pai, vosso Filho Jesus é sinal de tua presença no meio da
humanidade. Que eu saiba acolhê-lo como manifestação de vossa misericórdia, e
só nele colocar toda a minha segurança.
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