13 de novembro - Nos
nossos tempos, dificilmente nos será pedido o sacrifício da vida como
testemunho da nossa fé, mas também para nós está reservada uma bela e gloriosa
palma de vitória. (S 352). São Jose
Marello
Leitura do santo Evangelho segundo
São Lucas 21,5-19
Naquele tempo, 5algumas pessoas comentavam
a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas.
Jesus disse: 6“Vós admirais estas
coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
7Mas
eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de
que estas coisas estão para acontecer?”
8Jesus
respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome,
dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9Quando ouvirdes falar de
guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas
aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”.
10E
Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro
país. 11Haverá
grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas
pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu.
12Antes,
porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis
entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e
governadores por causa do meu nome. 13Esta será a ocasião em que
testemunhareis a vossa fé.
14Fazei
o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15porque eu vos darei
palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater.
16Sereis
entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles
matarão alguns de vós.
17Todos
vos odiarão por causa do meu nome. 18Mas vós não perdereis um
só fio de cabelo da vossa cabeça.
19É
permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!
Nos evangelhos sinóticos encontramos conjuntos de
textos escatológicos, com estilo apocalíptico, que prenunciam o fim dos tempos,
de maneira trágica, com a volta do "Filho do Homem". Este estilo
literário reproduz a forma encontrada no Antigo Testamento, no qual, a partir
do "Dia de Javé", dia de terror para o mundo, porém, de glória para
Israel, se elaborou uma literatura apocalíptica. A presença destes textos no
Novo Testamento é o reflexo da antiga tradição das primeiras comunidades de
convertidos do judaísmo.
Tais textos são encontrados, em bloco, nos "discursos escatológicos",
em Mateus (cap. 24-25) e em Marcos (cap. 13), e em dois discursos
O discurso escatológico em Marcos prioriza o prenúncio da destruição de
Jerusalém, à qual é associada a vinda do Filho do Homem. No discurso
escatológico de Mateus, as sentenças sobre a destruição de Jerusalém e sobre a
vinda do Filho do Homem estão entremeadas.
Lucas, em um primeiro discurso, destaca o tema escatológico da vinda do Filho
do Homem (17,22-37) e, em outro, retoma este tema a partir do tema da
destruição de Jerusalém, incluindo também a perseguição contra os discípulos
missionários (21,5-36).
Estamos já no final do ano litúrgico e o tema das leituras deste domingo é
também o do “final dos tempos”, o final do mundo. De fato, no evangelho há
numerosas passagens que aludem ao este tema, como os famosos textos
“apocalípticos”, pois o gênero “apocalíptico” era uma espécie de moda dos
crentes daqueles tempos.
A liturgia deste domingo lança um olhar para o futuro. O futuro que está diante
de nós, escondido e desconhecido. Vivemos na esperança de que nos traga o bem e
que mude sempre para melhor nossa situação. Mas também é verdade que estamos
sujeitos a muitas coisas ruins: doenças, acidentes, morte de pessoas caras,
desemprego, perca da nossa casa, catástrofes naturais, etc.
É esta situação de insegurança que favorece o aparecimento das muitas
tentativas de saber o futuro; basta pensar no número de pessoas que diariamente
lêem horóscopos e recorrem a simpatias e outras práticas com o intuito de mudar
o seu destino.
O Evangelho de hoje é somente a primeira parte de um longo discurso onde Jesus,
recorrendo a uma linguagem cheia de imagens fortes e paradoxais (apocalíptica),
anuncia o fim do homem e do mundo, fim este que coincidirá com a vinda do
Cristo. Este discurso, que aparece antes do relato da paixão, é um verdadeiro
testamento: Jesus, conhecendo que estava próxima sua morte, revela o que nos
espera no final da história, quando ele vier na glória.
Em Lucas, este discurso, além dos discípulos, é dirigido também à multidão do
templo. É o discurso de despedida de Jesus a Jerusalém, da qual anuncia a
destruição. Jesus começa sua fala partindo do entusiasmo com que alguns dos
presentes se deleitam com a imponente construção do templo e a sua beleza. Para
os hebreus, o templo era motivo de orgulho e sinal de poder e segurança: quem
ousaria profanar um lugar sagrado e demolir uma semelhante obra de arte? Jesus
anuncia: o templo será reduzido a ruínas: não ficará pedra sobre pedra.
E isto aconteceu de fato pela ação das tropas romanas do general Tito no ano 70
d.C., quase 40 anos depois desta profecia. Jesus quer nos dizer que toda
grandeza artificial, todo símbolo e fortaleza de poder, mesmo sendo religioso,
onde somos tentados a por a nossa segurança, estão sujeitos a cair.
Os ouvintes pedem, indignados e sem acreditar, quando esta profecia seria
realizada e quais fossem os sinais que precederiam aquele trágico
acontecimento. Mas, Jesus não está interessado em falar nem sobre os sinais do
fim do mundo nem da sua vinda nem muito menos da queda de Jerusalém. Mas sim no
destino dos seus e como devem se comportar a conduta destes durante o tempo não
breve da espera.
Um perigo contra o qual Jesus adverte seus discípulos é com relação aos falsos
profetas que anunciam próxima a sua vinda. A fé dos discípulos desde o início
será sempre ameaçada por supostos libertadores da humanidade, por pretenciosos
representantes de Deus, sedutores de toda espécie. Basta lembrarmos as várias
seitas fundamentalistas que afirmam saber com certeza o dia exato do fim do
mundo.
É necessário vigiar para não se deixar enganar. O curso da história é marcado
por todas estas coisas terríveis. É perigoso interpretar todos estes
acontecimentos como sinais de um próximo fim do mundo, semeando alarmismos
infundados. Assim mesmo, a ruína de Jerusalém e do templo é considerada pelos
judeus como uma tragédia sem proporções, são inconformados até hoje. Para
Jesus, porém, tal acontecimento faz parte do desígnio de Deus, mas não tem uma
relação direta com o fim do mundo.
Jesus nos pede, por isso, aceitar com coragem o tempo em que vivemos. Ele quer
que saibamos olhar a realidade e enfrentá-la sem medo, mesmo se for dolorosa e
cheia de incógnitas. A coragem é requisito frente ao ódio e à perseguição que
acompanharão sempre os discípulos. É esta uma constante no caminho da Igreja e
na existência dos cristãos. Jesus quer que quando nos encontremos perseguidos,
não percamos a confiança e não nos deixemos sufocar pelo medo e pelas
preocupações.
Ele ainda nos motiva: este tempo difícil é ocasião para darmos testemunho. É
preciso perseverança: paciência, constância, coragem, confiança, e sobretudo
resistência de frente a todas as provas até o fim. Trata-se de permanecer fiéis
a Palavra e à vontade de Deus que nos pede de viver cotidianamente no amor.
Daquilo que o futuro traz Jesus leva em consideração somente aquilo que cria
dificuldade e pode colocar em perigo a fé nele e na sua palavra.
O mal continua a fazer parte da história humana e a atormentar os homens, mas
não devemos ficar desorientados por isto, nem devemos pensar que estes
acontecimentos como o aquecimento global é sinal de que o fim está próximo, mas
ter consciência que somente permanecendo firmes, no fim ele nos concederá a
plenitude da vida e da salvação.
Hoje estamos também num momento de mudança na história. A crise da religião
-paradigmática na Europa - leva a pensar em muitas disciplinas (sociologia,
antropologia cultural...) e também deve fazer pensar na teologia.
Não são poucos os analistas que crêem que estamos na presença de uma metamorfose de religião. Algo termina (um Templo está se desmoronando), e algo está nascendo (uma nova resposta religiosa).
Quem nos disse que em matéria de religião (ou
de religiões) não pode haver mais nada de novo debaixo do sol? Quem disse que
nossa geração não tem direito de criar uma nova tradição religiosa? Quem pode
garantir que não se está já criando essa nova tradição nos incontáveis
movimentos religiosos? Quem afirmaria hoje que Jesus queria fundar exatamente o
que de ato logo se construiu sobre seu testemunho e que não seria ele uma nova
fundação ou refundição do futuro...?
Hoje, com o avanço da ciência, a escatologia (ramo da ciência que trata do
“eskhatos, os últimos acontecimentos) não sabe onde colocar esses últimos
acontecimentos, nem como conectá-los com o que hoje todos sabem. E por isso
custa continuar falando das “últimas coisas” nas coordenadas teológicas
tradicionais: realidades últimas eram pensadas como conectadas diretamente com
a “prova” e o “juízo de Deus” sobre nós e a uma “vida eterna”, vista como o prêmio
ou castigo correspondente.
A vida, a morte e a possível continuidade ou não da vida... tudo isso era
considerado nas coordenadas daquela visão mítica (acima de tudo Deus, que
decide criar a humanidade e colocá-la à prova para levar os participantes à
vida eterna...).
A convicção mítica do “Deus que cria os humanos para uma vida provisória, com
uma prova para classificar os que poderiam chegar à vida eterna”. Ainda hoje,
muitos cristãos continuam pensando assim, como também não vêem a possibilidade
de que a vida, morte e o além da morte sejam dimensões da existência humana que
devam deixar de ser “utilizadas” com a idéia de prêmios e castigos de Deus aos
irmãos por sua conduta. Muitos pregadores terão hoje dificuldades para enfocar
em sua homilia a superação dessa interpretação tradicional.
Reflexão Apostólica:
Nestes domingos já finais do ano litúrgico, a liturgia nos faz refletir sobre o fim do mundo. É o tema clássico. Mas hoje devemos introduzir também o tema da crise de religiões, como o fim de muitas formas religiosas que estão realmente morrendo, o advento talvez de uma nova forma de religiosidade que todavia não podemos intuir...
O evangelho nos faz uma série de advertências quando confundimos a religião com os edifícios que temos para a celebração da fé. Para muitos, “igreja” é mais um templo que a comunidade dos fiéis.
Outros consideram a abundância ou a
magnificência dos templos como sintomas de desenvolvimento, prosperidade e “boa
situação” de uma religião, sem se dar conta de que uma valorização puramente
numérica ou sociológica não é prova conclusiva dos valores sobre os quais se
sustenta uma experiência religiosa.
Jesus põe-nos em guarda contra esse tipo de identificadores que tendem a
desvirtuar ou distorcer os verdadeiros fundamentos e o valor da religião. Os
templos poderão desaparecer, mas a Igreja fundada por Cristo como comunidade
daqueles que crêem nele e seguem seus ensinamentos, terá sua assistência e
proteção até o final dos tempos (Mt 28,20).
Guerras? Revoluções? Terremotos? Sustos variados? Epidemias? Fome? Terrorismo?
Tudo isso vivenciamos durante os últimos vinte séculos. Todavia existem alguns
loucos que se esforçam por pensar que o fim já aqui. E pretendem assustar-nos.
Mas não conseguirão. Porque a Palavra e o pão de cada dia nos confortam, nos
dão de cada dia nos dizem que o Deus da vida nos criou e não deixará que a vida
pereça.
Muitas seitas fundamentalistas anunciam a partir destes textos o fim do mundo e convidam à conversão para ser parte dos que vão se salvar. Outras pessoas, por suas múltiplas ocupações, não se preocupam nem sequer com o decorrer da história e o desenvolvimento dos acontecimentos.
A reflexão sobre a segunda vinda de Cristo provocou
continuamente na história preocupações, temores e angústias. A vinda do Senhor
não é uma ameaça, mas uma esperança. Por isso não pode produzir pânico, temor
ou medo, mas confiança absoluta.
Diante do conflito político-religioso da história é preciso viver em atitude de
discernimento dos sinais que nele encontramos para agir. A realidade que
vivemos está gerando desconcerto, desilusão e desesperança. Muitos cristãos
estão lutando para construir uma nova história e por isso são perseguidos,
caluniados e assassinados.
Que o senhor nos dê um espírito de Constancia durante a semana, vem em nosso
socorro nos momentos de provação e dificuldade, quando a perseverança se torna
difícil, um desafio.
Propósito:
Senhor e Pai da história, ensina-nos a transformar as
relações entre os seres humanos construindo uma história humana de amor, de
liberdade, de justiça e de paz, que nos leve à construção de uma humanidade
nova onde se explicite efetivamente o Reino de Deus. Espírito de constância,
vem em nosso socorro nos momentos de provação e dificuldade, quando a
perseverança se torna difícil, e a fidelidade, um desafio.
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