02 Dezembro - Humilhemo-nos ao considerar os nossos
defeitos, mas por outro lado alegremo-nos com a bondade e a misericórdia de
Jesus que nos quer perdoar: alegremo-nos com as dívidas de gratidão que nos
unem cada vez mais intimamente a Ele. (S 234). São jose Marello
Mateus 9,27-31
"Jesus saiu daquele lugar, e no caminho dois cegos começaram a segui-lo, gritando:
- Filho de Davi, tenha
pena de nós!
Assim que Jesus entrou
em casa, os cegos chegaram perto dele. Então ele perguntou:
- Vocês crêem que eu posso
curar vocês?
- Sim, senhor! Nós
cremos! - responderam eles.
Jesus tocou nos olhos
deles e disse:
- Então que seja feito
como vocês crêem!
E os olhos deles
ficaram curados. Aí Jesus ordenou com severidade:
- Não contem isso a
ninguém!
Porém eles foram embora
e espalharam as notícias a respeito de Jesus por toda aquela região."
Meditação:
A justiça do Reino liberta os homens para o discernimento (ver) e expulsa a alienação (demônio) que impede de dizer a palavra que transforma a realidade.
A justiça libertadora, porém, provoca a oposição daqueles que querem apossar-se da salvação, para restringi-la a pequeno grupo de privilegiados.
Esta narrativa da cura de dois cegos é uma duplicata, com algumas adaptações,
da narrativa de Mt 20,29-34.
Aqui, Mateus a insere no bloco de dez milagres, narrados em vista de iluminar e fortalecer a fé dos discípulos, preparando-os para o discurso apostólico, apresentado em seguida.
Os cegos seguem Jesus e pedem-lhe compaixão. Dirigem-se a Jesus como "filho de Davi". A tradição da volta de um descendente de Davi, messias, ou cristo, para restaurar a glória de Israel tem um caráter ideológico e foi elaborada pelas elites do Judaísmo que surgiu a partir do exílio. Vemos, agora, dois pobres cegos impregnados por esta ideologia do poder.
Aí está a sua verdadeira cegueira. Jesus provoca nos cegos sua confissão de fé,
tendo resposta afirmativa. Tocando-lhes nos olhos, atende-lhes o pedido feito com
fé, e seus olhos se abrem.
Abrir os olhos aos cegos é um dos sinais da chegada da salvação e da
libertação, anunciados pelos profetas.
A advertência final para manter segredo, um tanto quanto impossível, sugere a prática de Jesus em não exacerbar a imaginação popular, ansiosa por um messias grandioso e glorioso.
Somos como os cegos que seguiam Jesus! Freqüentamos os lugares onde Ele está e
vamos com Ele até a sua casa. Clamamos pela sua piedade, suplicamos e
imploramos pela Sua assistência e pelo Seu socorro.
Porém, muitas vezes não temos certeza do que pedimos e, nem mesmo acreditamos
que Ele seja capaz de realizar o milagre que nós buscamos.
Os “milagres” que precisam acontecer na nossa vida estão condicionados à
convicção que tenhamos de que eles constituem para nós uma necessidade vital.
Quando nos damos conta das nossas carências, da nossa cegueira e da necessidade
de “enxergar” as coisas, nós também precisamos ir a busca d'Aquele que é capaz
de realizar em nós muito mais do que nós mesmos esperamos.
A partir da nossa fidelidade e da nossa perseverança, da nossa firmeza de
propósitos, Deus vai abrindo os nossos olhos e nos conscientizando de que tudo
acontece a partir do desejo do nosso coração.
Por isso, também Jesus nos pergunta: “Você
crê que Eu posso fazer isso que você deseja?”? Tudo poderá
acontecer de acordo com a nossa fé e da necessidade real das coisas que nós
pedimos ao Pai.
Como está a sua fé em relação às coisas que você tem clamado ao Senhor? Você
sabe do que você está precisando? Isto que você pede lhe é necessário? Você
precisa abrir os olhos para enxergar alguma coisa que não está vendo?
Os dois cegos dão prova de uma autêntica fé: confiam no poder que tem Jesus
para libertá-los. Mas o Senhor evita curá-los publicamente porque não quer que
se confunda a finalidade de sua vinda.
Como o reitera na despedida, uma vez em casa, Jesus repete, como em outras vezes: “que seja feito como vocês crêem!”, ou “vai, sua fé o salvou”, pondo em primeiro lugar nossa fé e confiança no poder salvífico de Deus.
A resposta clara e segura dos cegos é a mesma que nos pede hoje; e temos que entregá-la com a mesma força e segurança: “Sim, Senhor, creio. Creio que és meu Deus e salvador, que me amas e perdoas!”
Depois desta manifestação de fé, vamos sair pelos caminhos a proclamar que o Senhor é bom, como procedeu o cego.
Reconheçamos, pois, nossa cegueira e entreguemo-nos confiantes nas mãos do Senhor, porque ele é a Luz que nos ilumina; graças à sua luz tudo nos parece claro e transparente.
Reconheçamos também nossa capacidade de ver, para assim poder ajudar aos que ainda andam por diferentes caminhos da escuridão. Digamos, portanto, como os dois cegos: “Tem compaixão de nós, Filho de Davi!”.
Essa pedagogia de Jesus além de ser intrigante é fascinante. Ele
espera o momento certo, o local e a condição certa e age.
Ele poderia realizar mais esse prodígio aos olhos de todos,
mas prefere “entrar em casa” e lá, longe dos olhos e dos julgamentos dos
fariseus, reabre os olhos dos cegos que insistiram, ou melhor, persistiram em
segui-lo.
Jesus reabre os olhos dos que persistem. Talvez seja esse o maior
dos milagres ordinários do Senhor. Ninguém que procurou a Jesus deixou de ser
visto, tocado, lembrado. Ninguém o confundia, todos sabiam o quanto aquele
profeta era repleto de graça.
A própria samaritana do poço teve a nítida impressão que aquele
homem que lhe pedia água já lhe conhecia. Talvez sim Jesus já tivesse “entrado
em sua casa”. Pode até parecer um trocadilho de mau gosto, mas aqueles dois
cegos confiaram “sem ver”.
Uma analogia: Quando pedimos a interseção de algum santo, o pedido
vem pelo correio; quando pedimos a interseção de Maria, vem por SEDEX e por
fim, como canta Celina Borges, “rasgo o céu com minhas orações” e toco ao
Senhor, o pedido, o consolo, a mão amiga vem por DRIVE-THRU. Mal fizemos o
pedido, o clamor, o conforto, (…) já temos a resposta.
Quantas vezes o Senhor esperou o pedido puro e verdadeiro antes de
realizar o milagre? Assim aconteceu também com os dois cegos: “(…) vocês crêem que eu posso
curar vocês?”.
Em nós, o que precisa ser revisto? O que de fato precisa ser feito
para reconhecermos a face do Senhor em nossas vidas? O que ainda nos impede de
reconhecer seus sinais na nossa vida, no nosso trabalho, na nossa família? Será
que precisamos sempre ficar cegos ou chegar ao fundo do poço para encontrar a
mão de Deus? Será que o sofrimento é necessário a todos?
Existe um dizer popular que afirma que só encontramos Deus pelo
amor ou pela dor, mas um fato é crucial no entendimento do amor de Deus: Todo
encontro de DEUS conosco é SEMPRE por AMOR.
Talvez seja por isso que ele prefira um local e momento reservado,
onde
dois ou três estejam reunidos em Seu nome (…). Reparemos que dessa
vez não foram os gritos dos cegos que chamaram a atenção, foi o doce
atrevimento.
Rasgar o céu com nossa oração vem precedido de uma vitória, pois
só chegam ao céu as orações que saem de um coração puro como de uma criança,
sendo assim vitorioso todo aquele que se despoja nos pés do senhor e consegue
entrar em sua casa.
Diferentemente do que muitos pensam, nossa qualidade de fé ou
oração não é medida pelo quanto conseguimos, mas pelo quanto abrimos nossos
olhos e vemos a luz.
Uma pessoa de fé busca a conciliação, a paz e fraternidade. A que
tem oração terá paz interior, discernimento, paciência e sabedoria.
Esses são milagres ordinários que às vezes não damos conta. Uma
pessoa não muda quando consegue parar de fumar, mas quando RESOLVE parar; o
alcoólatra passa a uma nova vida quando DESCOBRE no que se transformou e o que
deixou de fazer e PEDE ajuda, pois quando o coração muda, os olhos se abrem.
Notem, por fim e como exemplo, o acontecido com os discípulos de
Emaús: “(…) Neste momento, seus olhos se
abriram, e eles o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles. Então
um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava
pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” Naquela mesma hora, levantaram-se
e voltaram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e os outros
discípulos. E estes confirmaram: ‘Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a
Simão’!” (Lc 24, 31-34)
Dê o primeiro passo… deixe-o falar e os olhos se abrirão!
Propósito:
Pai, cura-me da cegueira
que me impede de reconhecer a presença de tua salvação na minha vida, realizada
pela ação misericordiosa de teu Filho Jesus.
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